De
revolução, de barbas e coisas amenas.
Por: Marcos Inácio Fernandes*
"Se saio, chego; se chego, entro; se entro,
triunfo" (Fidel Castro)
E assim aconteceu. Depois
de 22 meses de isolamento nos cárceres de Fulgêncio Batista, em 1953/54; do
exílio no México até a chegada em Sierra Maestra, em 1956; em 1º de janeiro de
1959, Fidel e seus revolucionários, entram triunfantes em Havana.
Com as roupas de combate
e as barbas crescidas, as imagens dos revolucionários ganhou o mundo em plena
vigência da guerra fria.
Desde então a barba e a
boina do Che se tornaram adereços e símbolos dos sentimentos libertários,
revolucionários, de contestação, de insubordinação e, de forma até mais
prosaica, de irreverência.
Também cultivei uma barba
rala e um bigode ridículo lá pelos meados dos anos 80. Lembro que numa das
minhas férias em Natal, cheguei em casa barbado e meu pai censurou: “prá onde
vai esse Fidel Castro,” “parece um velho” e coisas desse tipo. Passado uns dias,
resolvi atender meu pai e fui fazer cabelo e barba num salão de barbeiros que
tinha em frente ao Cine Nordeste, no centro de Natal. Cortei o cabelo, fiz a
barba e quando chegou no bigode, o
barbeiro perguntou: - O bigode, deixa? Eu retruquei – o que o senhor acha? –
Ele respondeu: - eu já fiz pior do que esse! Eu disse; - então pode tirar.
Nunca mais usei barba.
O barbeiro de Natal, com
sua gafe indiscreta, sepultou definitivamente, a única coisa que me ligava ao
comandante - a barba (pelo menos na visão do meu pai).
Entretanto, há um
sentimento mais forte, que são comuns a “nosotros”- o otimismo. O otimismo era
uma das características marcantes de Fidel. Ele sempre dizia: “para ser
revolucionário, não se pode ser pessimista”.
Considero que só a capacidade de luta, aliada a
resistência e com uma grande dosagem de otimismo, e porque não dizer, de sorte,
que alguns revolucionários como Prestes, Apolônio de Carvalho, João Amazonas e
agora o Fidel, conseguem morrer de velhos, natural e suavemente. Eles tiveram a
“virtude e a fortuna” de que fala Maquiavel, como as duas qualidades
necessárias a um príncipe par manutenção do Estado.
O comandante Fidel fez uma revolução e conseguiu
mantê-la viva por quase seis décadas, até essa 6ª feira (25-11), quando a morte
foi ao seu encontro. Ele resistiu a toda sorte de infortúnios pessoais e
políticos.
Resistiu a prisão e a tortura; resistiu a invasão da Baía dos
Porcos, em 1961; resistiu a crise dos mísseis, em 1962; resistiu a 637
atentados; e resistiu, principalmente, ao criminoso bloqueio econômico imposto
a ilha pelo Império americano, que vigora desde 1960, e que já causou mais de
100 bilhões de dólares de prejuízo à economia cubana.
Este embargo a Cuba, que
chegava ao extremo de impor barreiras à França
de não poder exportar para os EEUU uma geléia que contivesse açúcar cubano, foi
condenado, por 25 vezes, pela ONU. Agora no governo Obama há um indicativo para
a extinção desse embargo com o reatamento das relações diplomáticas entre os
dois países.
Pois
bem, Fidel resistiu a tudo isso e transformou sua ilha de cabaré e cassino,
praticamente um balneário dos Estados Unidos, em um país soberano, com
indicadores invejáveis nas áreas de educação, saúde e, como consequência, nos
esportes, que transformou a pequena ilha numa potência olímpica.
Ademais,
além de otimista, Fidel tinha fair-play, tinha humor. Lembro que no Pan
Americano de 1991, em Havana, na final de basquete feminino entre Brasil e
Cuba, Fidel compareceu ao ginásio e se comportou como torcedor (na juventude
ele foi jogador de basquete, não sei se era bom, mas pelo menos tinha altura),
ele fez a “OLA” e tudo. Nesse jogou o Brasil ganhou de 97 a 76 das Cubanas e
ficou com o ouro. As jogadoras Paula e Hortênsia arrebentaram e acertaram tudo
que foi arremesso. Na hora da premiação, o comandante fingiu que não ia
entregar as medalhas merecidas das duas, por terem sido as “carrascas” das
compatriotas. As duas receberam suas medalhas acompanhadas dos gracejos e do
beijo do comandante.
Numa
entrevista, perguntado qual era seu pior inimigo? Ele respondeu: “Acho que não tenho
inimigos piores, porque acredito que todos os inimigos podem ser vencidos.”
E ele venceu a todos.
No julgamento de sua prisão pelo ataque fracassado
ao quartel de Moncada, em 1953, ele fez a sua própria defesa no Tribunal:
“Condene-me, não importa, a história me absolverá."
A história, não só o absolverá, como o colocará no
panteão dos heróis libertários de toda a humanidade.
Descanse em paz comandante Fidel Alejandro Castro Ruz
(Birán, 13 de agosto de 1926 —
Havana, 25 de novembro de 2016)
*Marcos Inácio Fernandes é professor
aposentado e militante do PT.
Fidel na juventude praticava o basquete
Quando eu tinha barba, Aqui ao lado de Chico Mende e Pedro Rocha (I Encontro de Lideranças Rurais do Acre-1987)
Minha foto da carteira da Emater/AC
Camilo Cienfuegos e Fidel Castro
No Pan de 1991 em Havana. Fidel brincando e entregando as medalhas de ouro a Paula e Hortênsia
Fidel Alejandro Castro Ruz
(Birán, 13 de agosto de 1926 —
Havana, 25 de novembro de 2016)
Justa homenagem a um homem que fez o que eu adoraria ter feito, mas não tenho coragem de fazer. Fico me divertindo com as pétalas, com medo dos espinhos. É preciso ter coragem. É preciso otimismo e às vezes eu fraquejo. Bravo, Mestre Marcão.
ResponderExcluirBravo!
ExcluirQue narrativa professor. Uma viagem no tempo para se ter mais admiração desse cara que revolucionou ( digam o que for)Cuba e é exemplo de coragem e perseverança frente a esse capitalismo violento e selvagem. Viva Fidel e sua bravura!
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