terça-feira, 25 de dezembro de 2018

30 ANOS SEM CHICO E AGORA SEM O PORÃO DO LHÉ




O “Porão do Lhé” – O retorno.

Por: Marcos Inácio Fernandes*

“A política é quase tão excitante quanto a guerra e tão perigosa quanto ela. A diferença é que na guerra, você só morre uma vez.”  Winston Churchill (1874-1965)

O ano era de 1988. O PT saía do “porão do Lhé” e se estabelecia numa sede mais estruturada na Cadeia Velha. Não se tratava simplesmente de uma mudança física de local, mas, fundamentalmente, de uma mudança de postura política do partido. Esse ano é muito emblemático na vida do PT. Ele marca “o ponto de inflexão do PT rumo à instItucionalidade e a uma inserção social mais ampla, que se expressaria nos resultados eleitorais daquele ano onde a estrela de Marina começava a brilhar com intensidade”. (FERNANDES,1991)

Naquele pleito, Marina se elegia a vereadora mais votada, com apoio formal do PV e informal do PCB. Registre-se que os “santinhos” da candidata trazia no verso a temida foice e o martelo, símbolo dos comunistas, e mesmo assim ela foi entre todos os candidatos eleitos, a mais votada.
O PT também elegia vereadores nos polos mais avançados do sindicalismo rural acreano, Raimundo Mendes (Raimundão), Júliio Nicácio e Elídio Maffi, se elegiam em Xapuri e Orides Rigamonte e Ademir Machado, em Brasiléia.

Naquele tempo o partido adotava um rígido critério para a escolha de seus candidatos, conforme registro na minha tese sobre o PT:  “A primeira medida à apreciação do  seu nome na convenção, cada pretenso candidato terá que levar o apoio de mais 15 filiados do partido (...) Além de apresentar 15 apoiadores, o candidato será submetido a apreciação da convenção mediante os seguintes critérios:
. Militância comprovada no movimento popular organizado;
. Integridade moral comprovada (não esteja envolvido em nenhum escândalo no Estado);
. E que tenha convicção das propostas e objetivos do partido. E a direção municipal advertia: o PT não estar disposto a lançar candidatos que não consigam sequer defender as propostas do partido em praça pública ou nas conversas de pé-de-ouvido com os eleitores”. (FERNANDES, 1991)

Em 1988, o partido começava a estabelecer um diálogo mais construtivo, tanto com suas tendências internas como com outras forças políticas, no sentido de uma composição mais ampla para os embates eleitorais. Uma política exitosa que premiou o partido com os 20 anos ininterruptos no governo do Estado e igual período, de forma intermitente, na Prefeitura Municipal de Rio Branco.
Ainda em 88, o partido vivenciou outras passagens trágicas, que lhe acompanham desde sua  formação no Acre. Em 18 de junho é assassinado, numa emboscada, o delegado sindical, Ivair Higino, que era candidato a vereador pelo PT de Xapuri. Em 22 de dezembro era consumado o assassinato, tantas vezes anunciado, da figura mais expressiva do partido, um de seus fundadores e seu 1° presidente regional – CHICO MENDES – a quem estamos reverenciando nessa semana pelos “30 ANOS DE LUTA”, que não cessou com a sua morte. Como disse o poeta: “lutar para nós é um destino”.

Chico Mendes, talvez se constitua na história do Brasil, um dos raros casos onde, mandante e executor de assassinatos de líderes rurais, são presos, julgados, condenados e cumpriram suas penas na prisão.

O nosso querido e reverenciado Chico, não viveu para comemorar as nossas sucessivas vitórias eleitorais e usufruir com o povo acreano das políticas que implementamos, em especial, em relação a floresta e o meio-ambiente. Ele certamente se alegraria com o slogan do 1° governo de Jorge Viana – GOVERNO DA FLORESTA – com a criação da Reserva Florestal, que leva o seu nome, com a fábrica de preservativos e de tacos, em Xapuri, do manejo florestal do seringal Cachoeira, palco de seus EMPATES e tantas outras conquistas.

Pois bem Chico, no ano em que se celebra os 30 anos de sua partida, talvez cumprindo o nosso destino trágico, as comemorações alusivas à sua memória, se realizam após fragorosa derrota eleitoral e política do nosso partido – uma tragédia equivalente ao seu assassinato. Você foi poupado dessa “balsa” e de presenciar outros fatos lastimáveis, que certamente lhe entristeceria. Marina nos deixou e fundou um novo partido; Lula, seu amigo, está preso e um representante do fascismo, se elegeu presidente do Brasil. Tempos sombrios nos aguardam.

Saiba Chico que o seu exemplo e seu martírio como de outros líderes do PT, nos ensinam e nos inspiram a continuar empunhando a nossa bandeira vermelha e a lutar. Faremos isso em sua memória.
Em 2018, retornamos ao “porão do Lhé” em sentido figurado.  Mas agora nem temos mais porão prá se instalar e nem podemos recorrer a generosidade do Lhé.  Mesmo assim haveremos de renascer das cinzas.

 O Brasil e o Acre não terminam em outubro e na política, ao contrário da guerra, como nos lembra Churchill, se morre mais de uma vez.

*Marcos Inácio Fernandes, é Presidente do DM/PT – Rio Branco

Rio Branco (AC), 22 de dezembro de 2018