O “Porão do Lhé” – O retorno.
Por: Marcos Inácio Fernandes*
“A política é quase tão excitante
quanto a guerra e tão perigosa quanto ela. A diferença é que na guerra, você só
morre uma vez.” Winston Churchill
(1874-1965)
O ano era de 1988. O PT saía do
“porão do Lhé” e se estabelecia numa sede mais estruturada na Cadeia Velha. Não
se tratava simplesmente de uma mudança física de local, mas, fundamentalmente,
de uma mudança de postura política do partido. Esse ano é muito emblemático na
vida do PT. Ele marca “o ponto de
inflexão do PT rumo à instItucionalidade e a uma inserção social mais ampla,
que se expressaria nos resultados eleitorais daquele ano onde a estrela de
Marina começava a brilhar com intensidade”. (FERNANDES,1991)
Naquele pleito, Marina se elegia
a vereadora mais votada, com apoio formal do PV e informal do PCB. Registre-se
que os “santinhos” da candidata trazia no verso a temida foice e o martelo,
símbolo dos comunistas, e mesmo assim ela foi entre todos os candidatos
eleitos, a mais votada.
O PT também elegia vereadores nos
polos mais avançados do sindicalismo rural acreano, Raimundo Mendes
(Raimundão), Júliio Nicácio e Elídio Maffi, se elegiam em Xapuri e Orides
Rigamonte e Ademir Machado, em Brasiléia.
Naquele tempo o partido adotava
um rígido critério para a escolha de seus candidatos, conforme registro na
minha tese sobre o PT: “A primeira
medida à apreciação do seu nome na convenção,
cada pretenso candidato terá que levar o
apoio de mais 15 filiados do partido (...) Além de apresentar 15 apoiadores, o
candidato será submetido a apreciação da convenção mediante os seguintes
critérios:
. Militância comprovada no movimento popular organizado;
. Integridade moral comprovada (não esteja envolvido em nenhum escândalo
no Estado);
. E que tenha convicção das propostas e objetivos do partido. E a
direção municipal advertia: o PT não estar disposto a lançar candidatos que não
consigam sequer defender as propostas do partido em praça pública ou nas
conversas de pé-de-ouvido com os eleitores”. (FERNANDES, 1991)
Em 1988, o partido começava a
estabelecer um diálogo mais construtivo, tanto com suas tendências internas
como com outras forças políticas, no sentido de uma composição mais ampla para
os embates eleitorais. Uma política exitosa que premiou o partido com os 20
anos ininterruptos no governo do Estado e igual período, de forma intermitente,
na Prefeitura Municipal de Rio Branco.
Ainda em 88, o partido vivenciou
outras passagens trágicas, que lhe acompanham desde sua formação no Acre. Em 18 de junho é
assassinado, numa emboscada, o delegado sindical, Ivair Higino, que era
candidato a vereador pelo PT de Xapuri. Em 22 de dezembro era consumado o
assassinato, tantas vezes anunciado, da figura mais expressiva do partido, um
de seus fundadores e seu 1° presidente regional – CHICO MENDES – a quem estamos
reverenciando nessa semana pelos “30 ANOS DE LUTA”, que não cessou com a sua
morte. Como disse o poeta: “lutar para nós é um destino”.
Chico Mendes, talvez se constitua
na história do Brasil, um dos raros casos onde, mandante e executor de
assassinatos de líderes rurais, são presos, julgados, condenados e cumpriram
suas penas na prisão.
O nosso querido e reverenciado
Chico, não viveu para comemorar as nossas sucessivas vitórias eleitorais e
usufruir com o povo acreano das políticas que implementamos, em especial, em
relação a floresta e o meio-ambiente. Ele certamente se alegraria com o slogan
do 1° governo de Jorge Viana – GOVERNO DA FLORESTA – com a criação da Reserva Florestal,
que leva o seu nome, com a fábrica de preservativos e de tacos, em Xapuri, do
manejo florestal do seringal Cachoeira, palco de seus EMPATES e tantas outras
conquistas.
Pois bem Chico, no ano em que se
celebra os 30 anos de sua partida, talvez cumprindo o nosso destino trágico, as
comemorações alusivas à sua memória, se realizam após fragorosa derrota
eleitoral e política do nosso partido – uma tragédia equivalente ao seu
assassinato. Você foi poupado dessa “balsa” e de presenciar outros fatos lastimáveis,
que certamente lhe entristeceria. Marina nos deixou e fundou um novo partido;
Lula, seu amigo, está preso e um representante do fascismo, se elegeu
presidente do Brasil. Tempos sombrios nos aguardam.
Saiba Chico que o seu exemplo e
seu martírio como de outros líderes do PT, nos ensinam e nos inspiram a
continuar empunhando a nossa bandeira vermelha e a lutar. Faremos isso em sua
memória.
Em 2018, retornamos ao “porão do
Lhé” em sentido figurado. Mas agora nem
temos mais porão prá se instalar e nem podemos recorrer a generosidade do
Lhé. Mesmo assim haveremos de renascer
das cinzas.
O Brasil e o Acre não terminam em outubro e na
política, ao contrário da guerra, como nos lembra Churchill, se morre mais de
uma vez.
*Marcos Inácio Fernandes, é
Presidente do DM/PT – Rio Branco
Rio Branco (AC), 22 de dezembro
de 2018
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