domingo, 21 de abril de 2019

EM HOMENAGEM AO MÁRTIR DA CONJURAÇÃO MINEIRA - TIRADENTES.


Sentença contra Tiradentes.


“Que seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca e ali morra morte natural para sempre e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e pregada em poste alto até que o tempo a consuma: e seu corpo será dividido em quatro quartos e pregado em postes pelo caminho de Minas, onde o réu teve suas infames práticas. Declaram o réu infame, e seus filhos e netos, sendo seus bens confiscados. A casa em que vivia será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique.” 
(Autos da Devassa da Inconfidência Mineira)

Romance LIX ou da Reflexão dos Justos


“Foi trabalhar para todos...
- E vede o que lhe acontece!
Daqueles a quem servia,
Já nenhum mais o conhece.
Quando a desgraça é profunda,
Que amigos se compadece?

Tanta serra cavalgada!
Tanto palude vencido!
Tanta ronda perigosa,
Em sertão desconhecido!
- E agora é um simples Alferes
Louco – sozinho e perdido.

Talvez chore na masmorra.
Que o chorar não é fraqueza.
Talvez se lembre dos sócios
Dessa malograda empresa.
Por eles, principalmente,
Suspirará de tristeza.

Sábios, ilustres, ardentes,
Quando tudo era esperança...
E, agora, tão deslembrados
Até da sua aliança!
Também a memória sofre,
E o heroísmo também cansa.

Não choram somente os fracos.
O mais destemido e forte,
Um dia também pergunta,
Contemplando a humana sorte,
Se aqueles por quem morremos
Mereceram nossa morte.

Foi trabalhar para todos...
Mas, por ele, quem trabalha?
Tombado fica seu corpo,
Nessa esquisita batalha.
Suas ações e seu nome,
Por onde a glória os espalha?

Ambição gera injustiça.
Injustiça, covardia.
Dos heróis martirizados
Nunca se esquece a agonia.
Por horror ao sofrimento,
Ao valor se renuncia.

E, a sombra de exemplos graves,
Nascem gerações opressas.
Quem se mata em sonho, esforço,
Mistérios, vigílias, pressas?
Quem confia nos amigos?
Quem acredita em promessas?

Que tempos medonhos chegam,
Depois de tão dura prova?
Quem vai saber, no futuro,
O que se aprova ou reprova?
De que alma vai ser feita
Essa humanidade nova?”

(Cecília Meireles – Romanceiro da Inconfidência)




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