Os quatro cavaleiros do Apocalipse (Peste, guerra, fome e morte)
O APOCALIPSE, O
MANIFESTO E ASSIS VALENTE
Por: Marcos Inácio Fernandes*
“Ele enxugará dos seus
olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor,
pois a antiga ordem já passou.” (Apocalipse 21:4)
“Tudo que é sólido se
desmancha no ar” (Manifesto do Partido Comunista de 1848 – Marx & Engels)
”Anunciaram e garantiram
que o mundo ia se acabar...” (Samba-choro de 1938, E o Mundo Não Se Acabou -
Assis Valente)
O mundo vai se acabar, mas, não é
agora. Isso se dará, segundo os astrofísicos, daqui a mais ou menos 5 bilhões
de anos. Por essa época a nossa estrela Anã Amarela, o sol, terá esgotado o seu
estoque de hidrogênio e se expandirá engolindo os planetas mais próximos de sua
órbita, Mercúrio, Vênus e a Terra. Não nos preocupemos com isso por enquanto.
Entretanto, a vida na terra, pode
ser extinta bem muito antes que o sol nos engula na sua bola de fogo. O
extermínio da vida pode se dá através de uma outra colisão com a Terra de um
grande meteoro, como aconteceu com o que dizimou os Dinossauros há 60 milhões
de anos. O asteroide, de 15 km de diâmetro, com o impacto, dispendeu uma
energia equivalente a 10 bilhões de bombas atômicas de Hiroshima.
Por sua vez, se escaparmos de outro meteoro (há
previsões de outros choques) A vida pode ser extinta pela ação de um
agente biológico - o homem - com seus vírus, seus vermes e suas bombas atômicas
e nucleares... E suas políticas.
Falando em política, nesses dias
de isolamento social, tenho feito algumas releituras dos clássicos da política
e tenho achado muitas semelhanças e considero algumas analogias pertinentes
entre o que diz o Manifesto do Partido Comunista de 1848 e o que acontece pela
Europa e pelo resto do mundo com a crise do capitalismo em face do COVID-19, em
2020.
O Manifesto abre assim: “Um
fantasma ronda a Europa. É o fantasma do comunismo.” Nos dias atuais é o
fantasma do vírus. Ninguém vê a olho nu, mas faz um estrago mortal. Mata
pessoas, faz despencar as Bolsas, fecha os comércios e indústrias, os templos
do “Deus/Mercado”, os shoppings e as Catedrais Góticas e templos de outras seitas
como os “Armazéns/Igrejas” dos Petencostais aqui no Brasil. Fronteiras fechadas,
voos cancelados, confinamento social, colapso nas redes hospitalares e
perspectivas de, em breve, colapso no abastecimento.
Quando Marx e Engels disseram no
Manifesto “que tudo que é sólido se desmancha no ar”,
referindo-se ao regime Feudal, poderia, da mesma forma, ser dito agora do
regime Capitalista que vive uma de suas crises cíclicas. Tudo se desmoronando.
Um caos!!
Pode ser que o Capitalismo
sobreviva a mais uma de suas crises, entretanto, o mundo depois do vírus não
será o mesmo. É bem provável que alguma coisa nova esteja nascendo depois dessa
crise e que o calendário dos novos tempos tenha uma nova datação – AV e DV – (Antes
e depois do vírus). Torço para que a profecia do Apocalipse de que a “antiga
ordem esteja passando” leve consigo seus 4 cavaleiros e seus cavalos: peste,
guerra, fome e morte.
No Brasil vivemos tempos apocalípticos
e temos 4 cavaleiros do Apocalipse em
postos chaves da República. Temos esses cavaleiros nas diversas séries do
campeonato nacional. Na “Série A”, o núcleo duro do poder político temos o “00”
(0 capitão), o “01” (o Senador Flávio das rachadinhas), o “02” (Deputado
Federal Eduardo Bananinha) e o “03” (o vereador Carluxo); na “Série B”, as
bestas ministeriais. Sérgio Moro, na Justiça e Segurança; Paulo (Posto
Ipiranga) Guedes, na Economia; Ernesto Araújo, na Chancelaria; e o General
Heleno, no GSI. Na “Série C”, os chefes dos outros poderes. Davi Alcolumbre,
presidente do Senado; Rodrigo Maia, presidente da Câmara Federal; Dias Toffoli,
presidente do STF; e Augusto Aras, Procurador Geral da República. Eles e suas
instituições foram coniventes e cúmplices com o golpe de 2016 e são pusilânimes
com as barbaridades que o capitão tem feito, antes, durante e depois da posse
como Presidente.
Na “Série D” nós temos as 4
bestas do Apocalípse, que fazem a cabeça do nosso povo mais humilde e desesperançado.
São os “pastores caça-níqueis” Edir Maccêdo, Silas Malafaia, R.R. Soares e Valdemiro
Santiago. São os mercenários da fé. Todos milionários, que abusam da fé e da
vulnerabilidade econômica e cultural do nosso povo. Eles fazem de seus púlpitos
de pregação tribunas políticas e todos apoiaram o capitão. Suas Igrejas viraram
“currais eleitorais” no pleito de 2018.
Esses “pastores” estão indóceis
porque tiveram que fechar suas igrejas nessa quarentena, entretanto, pregam
virtualmente a necessidade de seus fiéis continuarem a pagar o “dízimo” em que
pese a crise a que todos estamos submetidos e com perspectivas de se aguçar e se
prolongar.
Estou apreensivo, mas sem pânico,
com essa situação caótica que reúne uma crise econômica, que já estava
desenhada, com a crise sanitária que nos pegou despreparado e com líderes
políticos mais despreparados ainda. Agora o que mais me angustia e escandaliza são
empresários e políticos que querem surfar nesse tsunami.
Uns aumentando preços de produtos abusivamente,
outros fazendo proselitismo político de suspender as eleições e usar o fundo
partidário e eleitoral para aportar recursos para combater o vírus, como Aécio
Neves e o representante do seu partido aqui no Estado. Salvo melhor juízo considero,
no mínimo, precipitadas essas propostas. Por sua vez os que são responsáveis
desde sempre, inicialmente com Collor, passando por FHC e seu PSDB, Temer e seu
PMDB/MDB e Bolsonaro, sem partido, são os grandes responsáveis pela
implementação das políticas neoliberais do Estado Mínimo com todas as suas
consequências nefastas. Sucateamento dos serviços públicos, privatizações, ajustes
fiscais, desindustrialização e precarização das relações do trabalho, entre
outras.
Agora com COVID-19 e o VIRUS-17, o
velho e bom ESTADO com o SUS, alguns Centros de Pesquisa nas Universidades, as
reservas cambiais que o PT deixou, poderão minimizar a pandemia por aqui. Se
tem uma coisa positiva desse vírus é que ele desmoralizou o sistema capitalista
e está lhe impondo lições dolorosas que, infelizmente, respingarão em milhares
de seres humanos por onde passar sem escolher classe social. Talvez por isso se
descubra logo uma vacina e remédios para combate-lo. Será que com a dor
aprenderemos a lição?
O mais é cumprir o isolamento
social e tomar os demais cuidados para que não se repita por aqui situação
idêntica a da Itália. O nosso povo pela sua criatividade e senso de humor (que
ri até das tragédias) e pelas crises e vicissitudes históricas que tem passado
está mais apto a enfrentar e superar mais uma crise.
De minha parte já tenho rido
muito das piadas, memes, charges, que fazem sobre essa pandemia e a quarentena
que ela nos impôs. Vou continuar no isolamento social lendo, relendo e ouvindo
uns sambas antigos dos meus CDs e LPs. Com certeza o mundo não se acabará agora,
como não se acabou em 1938, como Assis Valente relata no seu samba.
Sigamos.
Rio Branco (AC), 24 de março de
2020
*Marcos Inácio Fernandes, 72 anos
(do grupo de risco) é professor aposentado e Secretário de Formação do PT de
Rio Branco.