segunda-feira, 2 de março de 2020

AS ÁGUAS DE MARÇO




As Águas de Março


Por: Marcos Inácio Fernandes.

“Todas as artes produziram maravilhas, apenas a arte de governar só produziu monstros.”  Saint-Just (1767-1794)

Embora a frase comporte controvérsias, pois “a arte de governar” também produziu maravilhas, com bons exemplos no mundo, no Brasil e no Estado, ela se encaixa, a perfeição, para classificar o (des)governo Bolsonaro.

Um governo que faz constantemente a apologia da tortura, da violência, da ditadura e da mentira e agride, um dia sim e outro também, a Constituição as instituições, a imprensa e a liturgia do cargo que ocupa é de uma monstruosidade que escandaliza, até mesmo, as nossas elites, a plutocracia, que viabilizaram sua ascenção a presidência da República.

Nesse primeiro ano de (des)governo, o capitão coleciona dezenas de motivos jurídicos, por falta de decoro, que ensejariam abertura de processo de impeachment. Da mesma forma, coleciona um estrondoso fracasso na política econômica e social pois só tem dois projetos para o Brasil – CORTAR e VENDER!! Como ele próprio verbalizou: veio para DESCONSTRUIR. Está tendo êxito nesse sentido.

Ademais as “âncoras” de seu governo que seriam o Moro, da Justiça e Segurança, e o Guedes, da Fazenda/Economia se revelaram uma decepção. As âncoras são de isopor. O primeiro se transformou em “jagunço de milícia” (na expressão do Deputado Eduardo Braga) e o segundo, o ministro “tchutchuca” (segundo o Deputado Zeca Dirceu). Pode-se dizer do Ministro da Economia que é o “Ministro 5 reais” (Dólar de 5, gasolina de 5, e 100 gramas de carne, com osso, 5 reais).

Para a “tempestade perfeita”, faltando apenas o povo nas ruas para demonstrar sua insatisfação com esse (des)governo. Então as condições jurídicas e políticas estariam dadas para o impedimento do Presidente que, a cada dia, fica mais isolado e vai ficando cristalina sua inaptidão para exercer o mandato que o povo lhe outorgou.

Agora uma coisa que fique claro. O capitão não enganou ninguém. Até mesmo o mundo mineral (como diz o Mino Carta), sabia do seu histórico, como militar, como parlamentar e como cidadão. O seu desapreço pela democracia e, por outros valores humanitários, ele sempre verbalizou com a virulência que lhe é peculiar. De uma coisa não se pode acusar o capitão. De INCOERÊNCIA. O que ele falou está tentando fazer e vive a soltar “balões de ensaio” e as Instituições vão contemporizando, desde sempre, como agora no caso da convocação conclamando o povo para se manifestarem contra o Congresso e o Supremo e em sua defesa.

Apesar da tibieza das notas do Congresso e do Supremo, a sociedade civil reagiu com firmeza, inclusive o Ministro decano do STF, Celso de Melo. Ademais os “barões da mídia” reagem em editoriais da Folha, Globo e Estadão e liberaram suas penas amestradas (Merval Pereira, Miriam Leitão, Monica Bergamo, Vera Magalhães, Eliane Castanhede, entre outros) a exporem as vísceras do (des)governo do capitão. Talvez seja um pouco tarde, mas não percamos a esperança.

Como se dizia no Nordeste. “Eles que pariram Mateus que o embale” E que o castigue, digo eu. Considero que a direita da mídia e da economia/finanças tem condições sozinhas de defenestrar o capitão do cargo. Ele já demonstrou que não resiste a 2 Jornais Nacionais e alguns domingos seguidos no Fantástico e alguma capas da Veja e da “Quanto E” (Isto É). Agora as esquerdas nas ruas, mobilizando os trabalhadores, seria funcional prá eles.

Digo isso prá dizer, que compartilho do sentimento da Socialista Morena, Cynara Menezes, que se diz constrangida de participar de uma frente ampla para estar junta com quem viabilizou o golpe contra Dilma e viabilizaram a eleição do capitão. Realmente não tem nada mais constrangedor do que um aliado que por acaso está do nosso lado e por motivos diferentes dos nossos.

Por mim, que tenho uma situação de professor universitário aposentado (antes dessa Reforma), relativamente confortável. O capitão tiraria todo seu mandato prá gente contabilizar o estrago no final. O Brasil suportaria, que é grande e forte demais, minha dúvida é se a classe trabalhadora que enfrenta o desemprego e a uberização da economia, teria a mesma capacidade de resistência.

Daí que irei prá rua no dia 8 (ato das mulheres) no dia 12 (aniversário de 2 anos do assassinato da Mariele e Anderson) e dia 18 (manifestação pela educação e pelo emprego, puxado pelas centrais e UNE). No dia 15 acompanharei pela TV a “marcha da insensatez” dos que querem destruir as Instituições que são pilares da democracia.

As águas de março da política tendem a ser turbulentas a exemplo das torrenciais águas que inundam as grandes cidades nesse verão. Tomara que os versos do poeta brasileiro Tom Jobim, nos alente um pouco. Que as águas de março tragam “a promessa de vida em nossos corações”.

Rio Branco (AC), 02 de março de 2020.

*Marcos Inácio Fernandes, é professor aposentado e Secretário de Formação do DM/PT de Rio Branco




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