Moro e Bolsonaro
O 24
Floreal de Moro e Bolsonaro
(Relendo
“O 18 Brumário de Luís Bonaparte”)
Por: Marcos Inácio Fernandes*.
“Hegel observa em uma de suas obras que todos
os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por
assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como
tragédia, a segunda como farsa”.
O 18 Brumário de Luís Bonaparte – Karl Marx
(1818-1883)
“Nunca
concedas privilégios e graças irrevogáveis, porque virá um tempo necessário
para mudá-las, e não poderás fazê-lo.”
Breviário dos Políticos - Cardeal
Mozzarino (1602-1661)
Na última 6ª feira (24/04)
as placas tectônicas da política brasileira se movimentaram e causaram um
tremor de mais de 8 pontos de magnitude sísmica na escala “Richter”. Um
verdadeiro terremoto, cujo epicentro foi em Brasília, mas que reverberou por
todo país.
O primeiro abalo deu-se as
11 horas com a saída do super Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio
Moro, que entregou o cargo, em coletiva de imprensa. Ele saiu atirando, fazendo
graves denúncias ao seu ex-chefe, dando mais munição para a oposição e mais
argumentos para um processo de impeachment. A “farofa jogada no ventilador”
também atingiu o próprio Moro, que confessou ter pedido uma “pensão” para a
família, sem que haja previsão legal para tal, o que configura corrupção
passiva.
O segundo abalo, foi as 17
horas num pronunciamento patético do Presidente Jair Bolsonaro que, nas suas
palavras, “pretendia repor a verdade”. O que os demais Ministros e os
telespectadores foram obrigados a ouvir foi um alinhavado de lamúrias por ter
sido traído, um constrangimento, em rede nacional, para seu próprio filho, que
ele chama de “04” e não pelo nome, que passou a ser ridicularizado na redes
sociais como o novo ”Brad Pitt” do Condomínio Vivendas da Barra. No meio das
“perfumarias” fez uma acusação grave ao seu ex-Ministro de barganhar uma
indicação para o STF, que o Jornal Nacional já se encarregou de desmentir indo
em socorro do Moro e deixando a Deputada Carla Zambelli, que intermediou a
barganha, numa situação muito desconfortável. De concreto é que a cisão no
campo bolsonarista se amplia e se intensifica e o capitão vai ficando, cada vez
mais, isolado.
Se o capitão tivesse lido o
Breviário dos Políticos do Cardeal Mozzarino, jamais teria convidado um
Ministro, que ele não poderia demitir e, se o fizesse, arcaria com um custo
político devastador. Por sua vez, se Moro tivesse um pouco de dignidade, jamais
devia ter aceito o convite para ser Ministro do Presidente, que ele enquanto
magistrado, ajudou a eleger, alijando da disputa seu principal oponente.
Agora algumas considerações
sobre os atuais acontecimentos políticos do Brasil e o processo revolucionário
da França no último quartel do século XIX, que me parecem guardar algumas
similitudes com fatos e personagens nos dois momentos históricos em ambos os
países.
O título desse texto é uma
alusão ao calendário que foi instituído pela Revolução Francesa, cujos meses se
relacionavam com ciclos da natureza. O 24 Floreal, refere-se ao mês das flores
que ia de 20 de abril a 19 de maio, enquanto que o Brumário, alusivo a bruma ou
nevoeiro, ia de 22 de outubro a 20 de novembro na estação do outono.
A epígrafe que encabeça o
texto, foi pinçado da abertura que Marx faz, logo na abertura do 1° capítulo do
seu “18 Brumário de Luís Bonaparte”, uma obra clássica da literatura Marxista.
Quando Marx refuta Hegel,
dizendo que a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como
farsa, ele se referia a tragédia que foi o golpe de Napoleão Bonaparte, tio do
Luís Napoleão, no 18 Brumário de 1799, quando se proclamou Consul da França.
Após ser eleito Presidente da França com
expressiva votação (assim como Bolsonaro no Brasil), Marx relata que Luís
Napoleão desejava a ampliação de seus poderes e passou a perseguir qualquer
pessoa ou partido, inclusive o seu próprio que pretendesse limitar sua
autoridade. (Qualquer semelhança com Bibiano e seu PSL, não é mera
coincidência).
'Diz Marx: “Napoleão, por meio de surpresas
constantes, isto é, ante a necessidade de executar diariamente um golpe de Estado
em miniatura, Napoleão lança confusão em toda a economia burguesa, viola tudo
que parecia inviolável”. (Muito parecido com o comportamento do capitão e
seu clã familiar) E de balões de ensaios de “miniaturas de golpe”, em 2 de
dezembro de 1851, com a França atravessando um processo recessivo, Luís
Napoleão Bonaparte, chamado também de “o pequeno”, dissolve a Assembleia
Legislativa e consuma seu golpe de Estado, também se proclamando Cônsul. Era a
história se repetindo como farsa que Marx analisaria na sua obra “O 18 Brumário
de Luís Bonaparte.” Marx indica que o golpe dado por Napoleão III (Luís
Napoleão) era apenas uma cópia daquele que fora dado antes por seu célebre tio,
Napoleão Bonaparte.
Luís Napoleão chefiou um grupo chamado
“Sociedade 10 de Dezembro”, cujo nome era em homenagem ao dia de sua eleição à
presidência. “Ela era constituída de amigos do Presidente, todos
inescrupulosos e envolvidos em negociatas com o dinheiro público”. Foram
eles que ajudaram ao Presidente dá o golpe do 18 Brumário. Aqui o Presidente
arma suas milícias para formar seu “exército particular” e o Exército, por sua
vez, está se transformando na “Sociedade 10 de Dezembro” protegendo o seu
capitão.
No Prefácio da 2ª edição do 18 Brumário, Marx
assinala que “a luta de classes na França cria circunstâncias e condições
que possibilitaram a uma personagem medíocre e grotesco desempenhar um papel de
herói.” Tanto na França do século
XIX, como no Brasil do século XXI, todas as classes se uniram contra o
proletariado e o derrotaram. Lá elegeram uma figura grotesca, Luís Napoleão, e
aqui, um medíocre parlamentar do “baixo clero”, que se elegeu com o status de
“mito” e “salvador da pátria”. É a história se repetindo como tragédia, farsa,
drama e comédia. Todos os gêneros da representação teatral, que a arte, com
toda a sua criatividade imaginação, não consegue retratar.
Encerro com outra passagem de Marx do seu 18
Brumário de Luís Bonaparte: “Não se perdoa a uma nação ou a uma mulher o
momento de descuido em que o primeiro aventureiro que se apresenta as pode
violar.”
Portanto, sociedade civil organizada e
instituições do Estado, não nos deixemos violar. FORA BOLSONARO!!
Rio Branco (AC), 26 de abril de 2020
*Marcos Inácio Fernandes é professor aposentado
e Secretário de Formação do PT/DM de Rio Branco.