BREVES ANOTAÇÕES DA QUARENTENA
Por Marcos Inácio Fernandes*
“Nada do que foi será / De
novo do jeito que já foi um dia / Tudo passa tudo sempre passará...”
(Como Uma Onda – Lulu Santos
& Nelson Mota)
Nessa quarentena, que o CORONA-19
está nos impondo, venho cumprindo, rigorosamente, o meu isolamento social por
ser do grupo de risco (idade e hipertenso). Tenho ouvido muita música, atualizado
minhas leituras, vendo filmes e séries da Netflix e arrumando minhas coisas do
escritório. Tenho tentado me preservar e manter a “minha saúde emocional”
conforme fui alertado por uma psicóloga, num desses vídeos que compartilham nas
redes. Ela diz que devemos nos desligar um pouco do noticiário da TV, prá que
não entremos em pânico com tantas notícias tristes e desoladoras. Diz também
que devemos evitar os jornais televisivos quando for dormir e ao amanhecer.
Considero que faz sentido.
Com essa percepção, só tenho
compartilhado nos grupos do PT e para os familiares e amigos da minha rede
social da internet, textos de análises e coisas engraçadas, que a nossa
capacidade criativa e de humor tem produzido com o tema do vírus e da
quarentena. É impressionante a nossa capacidade de rir das nossas desgraças e
das alheias, além das desgraças coletivas. São charges, memes, caricaturas,
vídeos e muitas outras coisas engraçadas que nos ajudam a enfrentar esse
confinamento com o astral elevado.
Como disse Zé Lezin da Paraíba: “não
quero nem saber quem morreu porque não sou dono nem de funerária nem de cemitério”.
Mas nessa época, onde as notícias sobre mortes são recorrentes e parecem
banais, elas não deixam de nos impactar, principalmente, quando se trata de
pessoas de nosso relacionamento, que nem sabíamos que estavam doentes. Nesses
últimos dias perdi quatro amigos e nem pude fazer minha despedida deles e
prestar minhas condolências a família e amigos comuns. Um, foi o nosso querido
Piola, companheiro do PT e os outros três eram amigos da EMATER, com os quais
trabalhei muitos anos, Rizoleta, Maria Santos e Jozelino Batista. Eles não
faram vítimas do virus mortal e nem farão parte dessa sinistra estatística dos
óbitos em decorrência da epidemia. Eles passam a integrar o rol dos amigos que
partiram antes do combinado deixando saudades em nossos corações. Que descansem
em paz.
Passo agora a elencar as coisas
que me chamam atenção nessa crise sanitária.
1 – A pandemia provocou um
colapso em todo o mundo capitalista. Derrubou as bolsas, fechou fronteiras e em
muitas cidades impôs o “lockdown” (Bloqueio total das atividades econômicas),
apenas funcionando as atividades essenciais. Ela desmoralizou as políticas
neoliberais e seus mantras do “Estado mínimo”, ajustes fiscais e supremacia dos
mercados como regulador da vida social. Agora se recorre as instituições
estatais (Executivo e Congresso) e se decreta “Estado de Calamidade Pública”
com as respectivas ações emergenciais para debelar a crise.
2 – Aqui no Brasil, a crise
sanitária se somou a uma crise econômica e social, que já estava em curso. A
pandemia nos pegou de calças curtas com o SUS desidratado, programa do “Mais
Médicos”, praticamente, desativado e problemas socioeconômicos de toda ordem,
que se torna supérfluo listar. Daí o pavor das autoridades sanitárias de que por
aqui se repita a experiência da Itália e Espanha, com o colapso da rede
hospitalar, que leva os médicos a um desgaste físico e emocional para decidir quem deve viver ou
morrer.
3 – Daí, me parece ser o cúmulo
da ironia, quando vejo o Ministro, Luíz Henrique Mandetta, nas suas coletivas
de imprensa, vestido com o jaleco do SUS. Logo ele e todo os “Democratas”do
DEM, que deram 25 votos favoráveis a chamada “PEC da Morte” (PEC 241 /EC 95),
que congela recursos para saúde e educação por 20 anos. Caso inédito no mundo, mesmo
entre os neoliberais. Aqui considero importante avivar a memória das pessoas
daquela votação na Câmara Federal e no Senado.
Na Câmara a EC foi aprovada por
366 votos a favor e 111 contra, conforme quadro abaixo:
PARTIDOS
|
SIM
|
NÃO
|
ABST.
|
TOTAL
|
BANCADA/AC
|
PT
|
-
|
54
|
01
|
55
|
Angelim, Léo de Brito. Sibá estava licenciado para secretariar a
SEDENZ.
|
PSOL
|
-
|
06
|
-
|
06
|
|
REDE
|
-
|
03
|
-
|
03
|
|
PC do B
|
-
|
10
|
-
|
10
|
|
DEM
|
25
|
-
|
-
|
25
|
Inclusive o Mandetta.
|
PDT
|
06
|
11
|
-
|
17
|
|
PHS
|
07
|
--
|
-
|
07
|
|
PEN
|
02
|
01
|
-
|
03
|
|
PMB
|
01
|
01
|
-
|
02
|
|
PMDB/MDB
|
64
|
-
|
-
|
64
|
Flaviano Melo e Jéssica Sales
|
PP
|
41
|
02
|
-
|
43
|
Partido do Governador.
|
PPS
|
04
|
03
|
-
|
07
|
|
PR
|
38
|
01
|
01
|
40
|
O “Não” foi de Clarisse Garotinho (PR/RJ)
|
PRB
|
20
|
-
|
-
|
20
|
Inclusive Alan Rick
|
PROS
|
04
|
03
|
-
|
07
|
|
PSB
|
22
|
10
|
-
|
32
|
César Messias votou “NÃO”
|
PSC
|
06
|
-
|
-
|
06
|
|
PSD
|
34
|
01
|
-
|
35
|
|
PSDB
|
47
|
-
|
-
|
47
|
Inclusive o Major Rocha
|
PSL
|
02
|
-
|
02
|
|
|
PTB
|
15
|
-
|
-
|
15
|
|
PT do B
|
02
|
01
|
-
|
03
|
|
PTN
|
11
|
-
|
-
|
11
|
|
PV
|
06
|
-
|
-
|
06
|
|
SOLIDARIEDADE
|
12
|
01
|
-
|
13
|
O ‘não’ foi do Major Olímpio (SD/SP)
|
Total
|
366
|
111
|
04
|
481
|
|
No Senado Federal, o placar foi
de 53 “SIM” e 16 “NÃO” em votação de 2º turno e a Emenda da morte foi aprovada
com os votos favoráveis dos Senadores Gladson Cameli (PP/AC), hoje Governador
do Estado, e Sérgio Petecão (PSD/AC), enquanto que Jorge Viana (PT/AC), votou “Não”.
Do quadro acima pode-se, tranquilamente, rebater a afirmação do senso comum que
diz: “todos os partidos e os políticos são iguais”, que é tudo “farinha do
mesmo saco”. Os números acima expostos e muitos outras votações e fatos
políticos desmentem a assertiva popular. Com a Emenda aprovada a Saúde deixou
de receber, desde então, recursos da ordem de cerca 20 bilhões/ano, que vai
fazer muita falta nesse momento de crise sanitária.
Relembre-se, ademais, que quando
em 2007, o Presidente Lula quis prorrogar a CPMF (Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira),diminuindo a alíquota do imposto e destinando-o,
exclusivamente, para a saúde, sofreu um impiedoso combate do empresariado
brasileiro capitaneado pela FIESP de Paulo Skaf e o imposto, que foi aprovado
na Câmara, não passou no Senado, por 53 votos contrários e 16 a favor e foi
rejeitado. Naquela votação, os Senadores do PT/AC, Tião Viana e Sibá Machado,
votaram pela prorrogação da CPMF, enquanto que Geraldinho Mesquita, que ganhou
um mandato nas nossas costas, votou contra. Lembrando ainda que a CPMF foi instituída
por FHC em 1977, e que Bolsonaro, então Deputado, considerava uma “desgraça
maldita” e votou contra a prorrogação. Com isso a saúde perdeu um aporte de
recurso de cerca de 40 bilhões de reais/ano.
4 – Outra coisa que me
impressiona e estarrece é como ainda tem gente que vai na onda do capitão/farmacêutico
e coloca em risco suas vidas e a dos outros, quando não cumprem o isolamento social.
Será que eles não veem na televisão o que se passa na Itália e no Equador?
5 – Também é deprimente constatar,
que além de nos proteger do vírus também temos que nos proteger dos vermes
humanos, que se aproveitam da pandemia para lucrar mais e enganar, com golpes
diversos, os mais incautos e desinformados. A Polícia já identificou mais de 20
plataformas falsificadas da Caixa Econômica, para sacar os 600 reais do auxílio
emergencial. Aqui quero louvara iniciativa do companheiro Sid Farney, que se
propôs ajudar gratuitamente quem não sabe fazer no celular ou no computador o
seu cadastro para receber o benefício. Estão cobrando 50 reais por esse
serviço.
6 – Deplorável da mesma forma é o
oportunismo de alguns que querem surfar na onda da pandemia e “fazer cortesia com
o chapéu dos outros”. Alguns deles falam em usar o fundo eleitoral e partidário
no combate a pandemia. Ao meu juízo não passa de uma proposta demagógica para “jogar
para a platéia”. O governo ainda dispõe de reservas cambiais robustas, que os
governos de Lula e Dilma deixaram. Em vez disso o Guedes e os burocratas do
Banco Central estão torrando as nossas reservas para segurar o dólar. Também
tem os juros da dívida, que abocanha quase 50% do orçamento. É se mirar no
exemplo da Argentina, que declarou uma moratória e suspendeu o pagamento da
dívida. Chegou a hora dos bancos e agiotas financeiros darem a sus cota de
sacrifício. São os únicos que tem gordura ($$$$$) prá queimar.
7 – Nos cenários que se vislumbram
para a pós-pandemia, economistas do FMI e de outras agências estão prevendo uma
queda acentuada no PIB mundial e uma depressão econômica maior do que a dos
anos 30 do século passado. Todos os analistas da geopolítica dizem que o pior vem depois com a ressaca da pandemia.
Com isso se configurando, talvez não haja clima para se cumprir a risca o
calendário eleitoral de 2020.
8 – A pergunta que nos resta
fazer e se o capitalismo vai sai mais forte dessa crise, como historicamente
tem acontecido, ou se uma nova configuração de sociedade está se gestando? Como
a história mostra, o capitalismo, só supera as suas crises através da guerra.
Já está em curso uma guerra híbrida entre Estados Unidos e China, que pode ter
desdobramentos bélicos.
9 - Depois dos escombros que essa
crise deixar na economia mundial é bem provável que se recorra ao velho e bom Estado
para se implantar algo semelhante ao New Deal,(Novo Trato) dos anos 30 e um equivalente
Plano Marshall do pós-guerra. E nesse cenário todos os analistas são unânimes
em considerar a China como o principal player no tabuleiro da geopolítica
mundial.
Rio Branco (AC), 11 de abril
(Sábado de Aleluia) de 2020.
*Marcos Inácio Fernandes é professor aposentado e Secretario
de Formação do DM/PT de Rio Branco
/Acre.
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