terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

O SONHO NÃO ACABOU E A ESTRELA VOLTA A BRILHAR!!

 



O SONHO NÃO ACABOU E A ESTRELA VOLTA A BRILHAR

(CONSIDERAÇÕES DE UM MILITANTE OTIMISTA)

Por: Marcos Inácio Fernandes*

“O jogador astuto nunca move a peça que seu oponente espera, e muito menos ainda a que ele deseja”. Baltasar Gracián (1601 -1658). Capítulo: Variar o Modo de Agir.

“Considero seja melhor ser impetuoso do que dotado de cautela”. Nicolau Maquiavel (1469 -1527) Cap. XXI de O Príncipe.

 

Quadro das Eleições Presidenciais no Acre – (1989/2018)

ANO

PRESIDENCIÁVEIS

1º Turno

(Votos e %)

2º Turno

(Votos e %)

1989

Collor (PRN)

49.862 (38,55%)

89.103 (69,18%)

 

Lula (PT)

22.954 (17,93%)

39.695 (30,82%)

 

 

 

 

1994

FHC (PSDB)

90.132 (54,01%)

              -

 

Lula (PT)

39.656 (23,76%)

              -

 

 

 

 

1998

FHC (PSDB)

90.363 (46,80%)

              -

 

Lula (PT)

59.690 (30,91%)

              -

 

 

 

 

2002

Lula (PT)

123.999 (46,81%)

140.363 (59,94%)

 

José Serra (PSDB)

  50.250 (18,97%)

  93.803 (40,06%)

 

 

 

 

2006

Lula (PT)

133.221 (42,62%)

151.584 (52,36%)

 

Alckmin (PSDB)

161.889 (51,79%)

137.911 (47,64%)

 

 

 

 

2010

Dilma (PT)

  82.733 (23,92%)

  96.969 (30,33)

 

José Serra (PSDB)

180.252 (52,12%)

222.766 (69,67%)

 

 

 

 

2014

Dilma (PT)

111.610 (27,98%)

138.922 (36,32%)

 

Aécio Neves (PSDB)

116.015 (29,08%)

243.539 (63,68%)

 

 

 

 

2018

Bolsonaro (PSL)

262.508 (62,24%)

294.899 (77,22%)

 

Haddad (PT)

  78.170 (18,53%)

  86.977 (22,78%)

 

Considerações eleitorais.

Desde a primeira eleição presidencial, em 1989, que o PT disputa o 1º ou o 2º lugar do pleito, tanto na Acre como no Brasil. Foi para o 2º turno com Collor; teve a segunda maior votação nas duas derrotas no 1º turno para FHC e, a partir de 2002, começou a sua trajetória vitoriosa de 4 eleições presidenciais consecutivas. Em cinco, das oito eleições presidenciais, o nome e a foto do LULA estavam na urna eletrônica a disposição do povo brasileiro. Ademais, só não esteve pela 6ª vez disputando o pleito e, com chances de vitória, porque o condenaram e o prenderam sem provas. O golpe de 2016 se consumava com essa ação contra Lula.

As eleições presidenciais aqui no Acre nunca foram fáceis para os candidatos do PT. É bom lembrar que em 2006, quando Lula foi para a reeleição, aqui estávamos no 2º governo bem sucedido do Jorge Viana, elegemos Binho logo no 1º turno e, paradoxalmente, o Lula perdeu para Alckmin no 1º turno. O Jorge quase que dava um “xilique” e, na ocasião, reuniu todo Secretariado exigindo mais empenho no 2º turno. Sou testemunha, ocular e auricular, dessa reunião na qual levamos um pito do Jorge. Conseguimos reverter o quadro no 2º turno. Lula ganhou colocando 13.673 votos na frente do Alckmin, uma vitória apertada como os números registram.

Em 2010 e 2014, a luz amarela se acendeu, alertando o nosso partido aqui no Acre. Na primeira eleição, Dilma perdeu para Serra no 1º e 2º turno e em 2014, perdeu também para Aécio Neves nos dois turnos. Cumpre assinalar que em 2014, Marina Silva, dissidente do PT, foi a candidata presidencial mais votada no Acre, com 167.493 votos (42%).

No último pleito presidencial, de 2018, não quero nem lembrar dessa tragédia política e eleitoral que se abateu sobre o PT do Acre. Fomos soterrados pelos votos e perdemos quase tudo. Estamos ainda lambendo as feridas e tentando dá a “volta por cima” mas, como disse o compositor dessa música, Paulo Vanzoline, mais importante de que a “volta por cima” é reconhecer a queda e não desanimar. Estamos fazendo isso.

Os “tsunamis” que se abateu sobre o PT em 2018 e 2020, dão sinais de arrefecimento. A conjuntura mundial e nacional está mudando e apresentam indícios mais favoráveis ao campo democrático e de esquerda. Lula está livre, leve e solto e na frente, disparado, nas sucessivas pesquisas de intenção de votos. Lula foi inocentado e seu principal algoz, o quinta-coluna, Sérgio Moro, agora seu adversário no pleito presidencial foi considerado Juiz incompetente e parcial pelo Supremo. Em português braçal – um Juiz ladrão.

O que ainda me espanta na conjuntura nacional é o capitão/presidente despontar como 2º colocado nas pesquisas, bem a frente dos demais candidatos, apesar do “desastre ferroviário” do seu governo, como dizia o Mino Carta. Também fico perplexo, que um quadro político experiente e qualificado como Ciro Gomes, com partido nacional (PDT) e experiência como governador e parlamentar ser ultrapassado na pesquisa por um neófito corrupto como o Moro.

Aqui no Acre, o PT está unido e volta a respirar sem aparelhos. O partido oxigenado pela candidatura do Lula se prepara para participar do pleito de 2022, apresentando candidatos majoritários e chapas proporcionais completas. Como dizem no Nordeste: “quanto mais cabras mais cabritos”. Para tanto, o PT/AC, começou nesse sábado (19/02) a discussão de tática e estratégia eleitoral e análise de conjuntura. Nosso Diretório Estadual e Diretórios Municipais reuniram, virtualmente, 97 companheiros de todos o Estado por mais de 5 horas de reunião.

O que é pacífico no PT/AC:

1 – Começar a trabalhar os Comitês Populares de Apoio à Lula por todo Estado. A meta é criar, até abril, em todo país 5.000 Comitês. A intenção é manter esses Comitês para além das eleições. Seria uma rede de apoio para eleger Lula e garantir a governabilidade;

2 – Colocaremos o nosso quadro mais expressivo, Jorge Viana, para a disputa majoritária. Ainda em aberto se será para Governo ou o Senado;

3 – Independente da formação e composição da Federação de partidos, ir trabalhando os quadros e lideranças do PT para comporem as chapas proporcionais para Deputados Estadual e Federal, que sejam competitivas. Nesse momento tão decisivo, espera-se que nenhum militante do partido, que já tiveram cargos e mandatos se esquivem a uma convocação do partido;

Feitas essas considerações, quero externar a minha opinião pessoal, que no meu sentir (como dizem os data-vênia) é a posição que predomina no partido e na sociedade. Nesse momento estou propenso a ser mais ousado como ensina Maquiavel. Defendo a candidatura majoritária de Jorge Viana ao Governo do Estado. As razões:

a)   O Jorge está no imaginário do povo como o governador que mudou a história do Acre. Mostrou uma capacidade administrativa no Executivo Municipal de Rio Branco e nos dois mandatos de Governo. Todos sabem o que o Jorge fez e lembram com saudade do seu slogan “O ACRE TEM JEITO”!. Já no Senado, onde também teve uma atuação de destaque, apenas poucos militantes partidários e um nicho muito reduzido da sociedade conhecem o seu desempenho no Parlamento;

b)   Considero que uma candidatura ao Governo empolga mais o partido e amplos setores sociais, que podem ser atraídos, pela expectativa de poder. No momento as pesquisas apontam que o Jorge estaria no 2º turno com o atual governador;

c)    Por sua vez uma candidatura ao governo, ajuda melhor na construção das chapas proporcionais para concorrer a Assembleia Estadual e a Câmara Federal;

d)   O Governo Camelli, a exemplo do tio do mesmo nome, que já governou o Estado, não tem realizações a mostrar. Mas o governo tem se mostrado um bom “maquiador” pintando os prédios públicos e veículos de azul. A sua política habitacional foi construir uma casa de madeira em frente ao Palácio para hospedar Papai Noel pelo Natal. Ademais, sua base de sustentação política está muito fragmentada e o núcleo duro do poder (Governador e vice) num racha e clima de hostilidade, que me parecem irremediáveis. Fidelidade canina ao atual projeto político apenas do ex-comunista, agora no Solidariedade, Moisés Diniz;

e)   Agravando o baixo desempenho administrativo, paira sobre o governo fortes indício de corrupção, que estão sendo apurados pela Operação Ptolomeu da PF. Muita gente no 1º escalão do Governo e o próprio Governador, vão precisar de Advogados muito em breve;

f)    Pelo nosso campo tem a “força gravitacional” do Lula, mostrando-se favorito em todas as pesquisas, e jogando todas as suas fichas para liquidar a fatura logo no 1º turno. Se essa possibilidade se concretizar, ele se torna um eleitor privilegiado nas eleições dos candidatos do PT e da esquerda que forem ao 2º turno nos Estados;

g)   Por fim, o que nos resta fazer é continuar conversando com os companheiros do partido e com a sociedade, manter a nossa coesão interna, acompanhar a conjuntura nacional e o desfecho sobre a Federação partidária e a costura das alianças para eleger Lula e, no momento oportuno, tomar as decisões, coletivamente, sobre candidaturas, suplências e alianças locais para as eleições desse ano.

 

Desde já é ir preparando o “Kit eleição” (Gelol, querosene e isqueiro Bic) e preparar o corpo e o espírito para uma luta, que vai ser no corpo a corpo de baioneta escalada. Ninguém tenha dúvidas disso!!

O que está em jogo não é apenas uma eleição, mas o processo civilizatório!!

 

Rio Branco (AC), 20 de fevereiro de 2022.

 

*Marcos Inácio Fernandes (Marcão), é Secretário de Formação do PT/DM – Rio Branco - ÁC

 

 

 

 


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

PARABÉNS AOS 42 ANOS DO PT NO BRASIL E 41 ANOS NO ACRE!!

 



Amanhã o nosso Partido dos Trabalhadores - PT está aniversariando São 42 anos no Brasil e 41 anos no Acre, A minha homenagem e gratidão a todos que escreveram e estão escrevendo essa história. Deixo a minha pequena contribuição a memória do partido que sempre esteve ao lado do povo na sua trajetória gloriosa. Deixo aqui um pequeno registro da formação do PT no Acre. Vida longa ao Partido dos Trabalhadores. (MIF)


- A FORMAÇÃO DO PT NO ACRE**

Por: Marcos Inácio Fernandes*

CONTEXTO.

O processo de organização do Partido dos Trabalhadores iria se constituir na " lógica da diferença" em meio a mesmice e ao "arcaísmo político-partidário" brasileiro. No início dos anos 80, o Acre era governado por Joaquim Falcão Macedo (1979-1982), o ultimo da série de governadores nomeados pelo regime militar a partir de 64. O Estado, como já foi analisado anteriormente, vivia uma crise de transição na sua base produtiva. Durante toda a década de 80, o Acre se viu isolado, por via terrestre, do resto do país. Uma viagem pela BR-364 até o Estado, mais que uma aventura, era uma temeridade.

Naqueles primeiros anos da década, tanto o abastecimento de combustíveis como de gêneros alimentícios, principalmente dos horti-fruti-granjeiros, era muito precário. O frete aéreo tornava o preço dos produtos proibitivos para a grande maioria da população e o transporte fluvial sofria os condicionantes do tempo de percurso dos portos de Manaus e Belém ate o Acre e da capacidade de navegação dos rios, que tornavam-se intrafegáveis no verão.

Nos primeiros anos da década de 80, era comum a existência de filas para se comprar carne, principalmente no interior, e para se adquirir gasolina e gás de cozinha. O fornecimento de energia sofria constantes interrupções, a ponto da população apelidar a companhia de eletricidade estadual - ELETROACRE, de "ELETROVELA", pois era grande o consumo de velas naquele período.

Em resumo, o Estado amargava o transtorno da sua posição geográfica e da sua insignificância política no cenário nacional. No inverno, ficava isolado por via terrestre; no verão, por via fluvial e em ambos os períodos ficavam isolados das decisões políticas mais gerais, corroborando uma subalternidade política que remonta a sua formação histórica.

A indiferença do poder central, bem como a "indiferença e o desamor dos eternos forâneos em relação aos fatos, coisas e pessoas do Acre", iria amalgamar o sentimento de "acreanidade", fenômeno sócio-cultural que permanece até os dias atuais e que nos anos 70 e 80 era muito forte em relação aos empresários e especuladores do centro-sul do país, todos denominados de "paulistas".

O "acreanismo", com efeito, era fruto de uma motivação política que remontava aos anos 20.

O movimento nascido em 1924, com a criação do Centro Cívico Acreano, se insurgia contra essa indiferença do Poder Central que, depois do movimento armado entre o Acre e Bolívia, manifestava-se através de delegados da União com seus costumeiros séqüitos de apaniguados para dirigir os destinos do então Território do Acre. Os que tem vivido e sofrido no Acre, por largas dezenas de anos, sabem que a nossa terra sempre foi pasto das 'aves de arribação', explorada por indivíduos sem delicadeza moral nem consciência cívica, criminosamente indiferentes aos memoráveis fatos de nossa história.

O Centro Cívico Acreano se transformaria, mais tarde, na Legião Autonomista Acreana, que teve marcante atuação política em todo o Estado e que contava, inclusive, com um órgão de divulgação, o jornal "Renovação". Numa edição de fevereiro de 1954, o articulista, Mario de Oliveira, desse referido jornal, escrevia:

“O acreanismo era uma idéia-força, gerada no inconformismo contra atitude impatriótica do governo brasileiro (...) e argumentava que "o Acre nasceu de uma rebeldia ao conformismo. O Acre apareceu na historia brasileira como um fenômeno de ordem moral". (...) O acreanismo não se tratava de nenhum regionalismo estreito; o movimento e uma ação a serviço de uma idéia, que vem de longe, que tem raízes profundas.

Com o Golpe de 1964, o movimento "acreanista" ficou hibernando por quase duas décadas; porém, com a reformulação partidária de 1979, da qual emergiu o PT e outras forças políticas, essa questão e outras ligadas ao direito de permanência dos seringueiros a terra que haviam conquistado de "armas nas mãos", voltava a fazer parte do debate político.

A apatia dos "anos de chumbo" cedia lugar ao frenesi das novas organizações partidárias. A perspectiva de se eleger diretamente, em 1982, o governador do Estado, reacendia os brios dos acreanos e, particularmente, dos militantes do Partido dos Trabalhadores em processo de formação, mas que já se constituía na expressão política mais forte de resistência aos grupos forâneos e de contestação as tradicionais praticas dos caciques políticos locais.

- AS FORÇAS CONSTITUTIVAS DO PT NO ACRE.



No Acre, as idéias de um "novo sindicalismo" e da criação de um partido de trabalhadores também ecoam e ganham ressonância. O núcleo mais organizado e combativo dos trabalhadores acreanos era, sem dúvida, o sindicato rural. O Sindicalismo era uma experiência não apenas nova, mas também inédita na história das lutas de classes no Estado e o "novo sindicalismo", com os exemplos das lutas e resistências dos operários do ABC, encontrariam mais receptividade nas áreas de maiores conflitos - os seringais do vale do Acre, principalmente em Xapuri e Brasiléia.E a partir dos sindicatos rurais e das comunidades de base, tanto da área rural como da urbana, que se começa a tecer o encaminhamento para a formação do PT no Estado. A imbricação entre as comunidades de base, os sindicatos rurais e o PTé um fenômeno sui-gêneres do Acre. Era comum, no período, um grupo de pessoas num mesmo espaço físico realizarem, sucessivamente, uma reunião de "evangelização", outra para tratar dos assuntos do sindicato e, logo em seguida, uma outra para discutir a organização do PT.

Então você veja só! Numa só noite, ou numa tarde, fazíamos três reuniões diferentes com o mesmo povo e não tinha ordem para se começar primeiro por uma ou outra não?} Um dia se falava primeiro do PT, outro dia se falava primeiro do evangelho e, em outro, se falava primeiro do sindicato (...) Então fazia-se três reuniões diferentes, discutindo em cada uma delas sua pauta especifica (...) Nesse tempo as mesmas pessoas faziam, praticamente, três movimentos políticos distintos: o político / religioso, dentro do grupo de evangelização; o político / partidário, que era a discussão petista; e o político / sindical, que era a atividade do sindicato naquele momento ali. Isso era muito interessante, porque as pessoas, por mais que se achassem alheias a um daqueles assuntos, devagarinho, ela começava a se 'converter' a um deles. (...) Ocorreu isso demais nesse período (Marcos Montezuma)

Naqueles primeiros meses de 1980, as discussões sobre os rumos da "Frente Popular" no já constituído PMDB, que herdou a estrutura partidária do MDB, se intensificam e já se articulam as estratégias de intervenção dessa "Frente" para as eleições de 1982.

Entretanto, com a reforma partidária em pauta, as primeiras defecções da "Frente" não tardariam a aparecer. O primeiro dissidente foi Abel Rodrigues Alves, que havia se candidatado a deputado estadual em 1978 com apoio da "Frente Popular". Ele deixa a "Frente" para reorganizar o Partido Trabalhista Brasileiro — PTB no Acre, o que lhe valeu duras criticas de outros componentes da Frente como Manoel Pacifico, Nilson Mourão, Pascoal Muniz e Chico Mendes. Num debate promovido pelo jornal Varadouro, reunindo as pessoas citadas acima, Abel Alves, em meio as críticas dos companheiros, faz a defesa da sua posição:

“E difícil, em poucas palavras, condensar tudo o que se vinha discutindo, há muito tempo, com os vários companheiros - Pacifico, Suede, Aluízio Bezerra e tantos outros - as razões da minha saída do PMDB estão contidas na minha carta, Como frisei, não estou em primeiro lugar, obrigado a vestir uma 'camisa-de-força' imposta por Brasília. A verdade e que não se discutiu a realidade acreana, não se procurou as origens do movimento popular do Acre e essa historia de PTB viciado e das calendas gregas, por que há 16 anos que não existe mais PTB. O que importa e o novo PTB. Então, como disse, sacudi a 'camisa-de-força' do PMDB e o que se está vendo e o que eu previa: pelo próprio programa do PMDB, a gente não só vê as contradições do pessoal que está lá dentro, com a dubiedade de um programa (documento da bancada federal) que fala de seringueiros e seringalistas. Quando se fala de seringueiros, acredito que se exclui os seringalistas. Depois o que se vê dentro do PMDB e a caça ao voto, e a política eleitoreira do Nabor Junior, Geraldo Fleming, de Ruy Lino, e, a reboque, o companheiro Aluízio Bezerra, porque se quiser ser eleito, terá que fazer o jogo dos três. O que vai acontecer, então: Em praça publica, acontecerão as mesmas acusações: de que o Aluízio e comunista; de que Nabor e udenista; de que Ruy Lino viveu embriagado 16 anos na Câmara Federal. E a luta pelo povo, a luta em favor dos trabalhadores? Evidentemente que tudo isso me preocupou bastante e achei que não era possível continuar dentro de um parti do desses. Podem me acusar de que tomei uma atitude sem consultar, mas sempre discuti com os companheiros essa realidade do PTB aqui no Acre”.

Efetivamente, o PTB é reorganizado e iria participar com candidates próprios nas futuras eleições de 1982. Porém, a "luta em favor dos trabalhadores", como perguntava Abel Alves, quem a estava travando, naquele momento, eram os sindicalistas rurais e as lideranças populares das CEB's, pois, como bem frisou o sindicalista Raimundo Barros do STR de Xapuri, por ocasião da constituição da Comissão Regional Provisória do PT, em março de 1980: "O PT já começou há muito tempo, desde quando começamos a lutar pelo direito de ficar na terra, muito embora ele não tivesse esse nome ".(Raimundo Barros)

Os sindicalistas rurais, articulados por João Maia, delegado da CONTAG, portanto, protagonizavam as lutas dos trabalhadores e foram os primeiros e principais responsáveis pela organização do PT no Acre.

Segundo depoimento de João Maia, ele tomou a iniciativa de ir a São Bernardo conversar com o Lula e assumir o compromisso de organizar o partido no Estado. E importante observar que e somente no Acre que um dirigente da CONTAG faz a opção política partidária pelo PT. Nos outros Estados da federação, a posição que irá predominar na entidade será a de apoiar, embora não abertamente, o PMDB. (PAULA, 1991:166)

E a partir da articulação das lideranças sindicais que, efetivamente, em 12 de marco de 1980, acontece no colégio Meta, a reunião de lançamento do PT no Acre com as presenças de Jacó Bittar, então presidente do Sindicato dos Petroleiros de Paulínia/SP e da Comissão Nacional do PT; Antonio Carlos de Oliveira, deputado federal por Mato Grosso; João Maia, delegado da CONTAG; Chico Mendes, então vereador de Xapuri pelo MDB; Oséas Ferreira Lima, do STR de Cruzeiro do Sul; Raimundo Soares de Araújo (Raimundo "Trovoada"), do STR de Tarauacá; Luis Monteiro de Aguiar, do STR de Feijó; Adeli Bento da Silva, do STR de Sena Madureira; Raimundo Mendes de Barros (Raimundão), do STR de Xapuri; além das representações das associações das Lavadeiras de Rio Branco, dos professores do Acre (ASPAC), entre outras. Naquela oportunidade, todas as lideranças, citadas acima, se pronunciaram sobre o assunto. Para exemplificar a Tônica dos discursos, escolhemos o de Adeli Bento da Silva, do STR de Sena Madureira, que nos pareceu o mais emblemático daquela solenidade:

“Companheiros, nós não estamos começando com o partido dos trabalhadores, nós vamos continuar o nosso trabalho, pois, há tempo que viemos batalhando no sindicalismo. Nesse tempo todo, a gente vem enxergando muita coisa errada, mesmo como analfabetos (...) mas não somos cegos. Agora chegou esta oportunidade de criar o partido dos trabalhadores e nós vamos seguir em frente. Não podemos mais ficar esperando as soluções, as promessas dos políticos, porque  nem São Francisco das Chagas, que é o santo mais milagroso do Nordeste, está acreditando mais nesse tipo de promessa. (...) Nós já temos o sindicato, que e o nosso órgão de classe; agora precisamos nos unir dentro de um partido que será o nosso partido.”  (Adeli Bento da Silva)

Ainda nessa solenidade, Jacó Bittar advertia: "no PT não cabem oportunistas", ao mesmo tempo que contestava a insinuação de que o PT estaria dividindo a oposição.

“Os parlamentares do PMDB que pensam que não é o momento para a criação do PT não estão sabendo o nível de consciência que os trabalhadores vêm alcançando em quase todos os Estados. Esses parlamentares serão atropelados (Jacó Bittar)

Bittar disse ainda que:

“encontrou no Acre um nível muito elevado de organização e consciência de classe trabalhadora rural. Um modelo que precisa ser conhecido no sul, uma experiência que precisa ser divulgada em outros locais como prova da capacidade dos trabalhadores de se organizarem e lutarem por seus interesses

E a partir dessa tomada de consciência política que se intensificam as articulações no meio sindical e nos movimentos populares coordenados pelas lideranças das CEB's. Em pouco mais de um ano, o PT do Acre vai conseguir cumprir todas as exigências da legislação partidária, inclusive organizando diretórios municipais em 10 dos 12 municípios então existentes no Estado.

O Acre e um exemplo de estado onde os organizadores do PT tiveram um sucesso inicial maior em virtude de trabalharem com uma base mais homogênea, lá o grupo básico para a organização do partido era constituído, por um lado, pela rede das comunidades de base da Igreja e, por outro, pelos sindicatos rurais (que, na verdade, eram estreitamente vinculados as comunidades de base). O terreno político no Acre fora relativamente bem preparado para o surgimento de um partido como o PT. (KECK, 1991:119)

Em abril de 1980, Chico Mendes, então vereador do MDB de Xapuri, torna-se o primeiro político acreano a anunciar sua adesão ao Partido dos Trabalhadores que, segundo a sua opinião, era "uma real expressão para todos os explorados". Chico, um dos sindicalistas que gozava de muito prestigio junto aos seus companheiros e que já despontava como hábil articulador político, seria eleito presidente da Comissão Executiva Regional do partido e, juntamente com outras Iideranças sindicais e comunitárias, assumiria a tarefa de organizar o partido no Estado.

Em meio à luta sindical na sua área de atuação, Chico Mendes também se desdobrava na organização das Comissões Executivas Municipais do PT. A mobilização sindical e a organização do PT, naqueles primeiros meses de 1980, se processavam simultaneamente e faziam parte da mesma agenda política. Uma carta de Chico Mendes ao seu companheiro Wilson Pinheiro do STR de Brasiléia, datada de 24 de junho de 1980, nos possibilita visualizar com mais clareza como se processava essa articulação. Esse documento retrata fidedignamente o que estava ocorrendo naqueles dias; por isso e importante transcrevê-lo na Integra:

Companheiro Wilson,

Estive aqui a fim de falar com você, porem não foi possível. Olha, é o seguinte: as coisas em Xapuri estão quentes. Os posseiros estão botando pra quebrar. Então os fazendeiros fizeram uma reunião e estão afirmando que a única saída pra eles e matar o presidente do sindicato, o delegado da CONTAG, o Chico Mendes, os padres, e outros delegados sindicais. Diante desses acontecimentos o Dr. João Maia combinou comigo pra se organizar um ato público em Xapuri apoiado por várias entidades, inclusive com vários sindicalistas do Estado. E ficou acertado para eu vir falar com vocês aqui, a fim de que vocês saiam daqui pela manhã, levando um caminhão, com os posseiros da estrada que quiserem participar. Por sinal, o povo já está sendo avisado por toda área de Santa Fé. Sim, e bom lembrar que o ato será realizado a partir das nove horas da manhã, a fim de dar tempo do povo voltar para suas casas. Também quero te avisar que dia dois de julho eu estou aqui para nos organizarmos os documentos da Comissão Executiva Municipal do PT, neste município, para que seja encaminhado à Direção Nacional, para o registro do partido. Não sei se você já sabe que eu fui eleito, ou melhor, escolhido para presidente da Comissão Provisória Executiva Estadual, e agora tenho que me virar que só charuto em boca de bêbado, pois tenho que me deslocar para todos os municípios. Também quero te avisar que o partido já está praticamente organizado tranquilamente em vinte e dois Estados. Não tem mais dúvida os nossos adversários já não vão ter mais argumentos para mentir para o povo dizendo que o PT não é partido ainda. OIhe, dá um jeito de ir dar, ou melhor, levar seu apoio a nossos companheiros de Xapuri. Ok, a gente dá uma ajuda na despesa do caminhão. Tiau, um abraço petista. (Chico Mendes, in: SOUZA, 1986: 219)

A exemplo do processo nacional de organização partidária, o PT nascia no Acre do pólo mais combativo e organizado dos trabalhadores, no caso, os sindicatos rurais. A singularidade do PT acreano em relação ao PT nacional é que, no Acre, a formação inicial do partido não contou com o concurso de militantes de organizações marxistas que participaram da luta armada, nem recebeu adesões de políticos, com mandato, que atuavam na "tendência popular" do MDB e nem contou com o polimento acadêmico de intelectuais de esquerda, salvo a honrosa exceção do sociólogo Nilson Mourão, que logo depois entraria para a Universidade Federal do Acre.

A força aglutinadora e mobilizadora dos sindicatos rurais e das comunidades de base em torno do PT não impedia que a construção do partido se efetivasse em meio a pressões e conflitos. A nível nacional, a principal liderança do partido, Luis Inácio Lula da Silva, havia sido preso e enquadrado na Lei de Segurança Nacional e o sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, do qual era presidente, estava sob intervenção do Ministério do Trabalho.

No Acre, as principais Iideranças sindicais que articulavam o PT, Chico Mendes, presidente do STR de Xapuri e João Maia, delegado da CONTAG, também estavam sendo processados com base na Lei de Segurança Nacional, em face do episódio da chacina de Nilo Sérgio, em Brasiléia por ocasião do assassinato de Wilson Pinheiro, presidente do STR de Brasiléia e João Eduardo, líder de comunidade de base de Rio Branco, ambos membros do PT, haviam sido assassinados. Alguns trabalhadores rurais estavam presos, acusados pela morte do fazendeiro Nilo Sérgio e pairava, sobre muitos militantes ameaças de toda sorte.

Uma rápida folheada pelos jornais da época nos dá uma dimensão mais aproximada do clima em que se processava a organização do PT no Acre. Eis alguns exemplos:

PT x PMDB - Circulando uma nota do PT dando conta que alguns elementos do PMDB e entre os nomes citados se encontra o do ex-padre Pacifico, andam espalhando que o Partido dos Trabalhadores não tem possibilidades de sobreviver na atual conjuntura político. As divergências tendem a aumentar daqui pra frente, não enganem-se. (Jornal o Rio Branco n° 1.220, de 20/05/81, coluna: "Conversando Sobre Política" de Luis Carlos Moreira Jorge, p.4)

Juiz intima membros do PT para fazer especulação (chamada). O juiz Dr. Lourival Silva (de Brasiléia), em 9 de setembro intimou Jose Maria de Almeida e mais 10 pessoas para saber como foi e porque foi que eles haviam entrado para o PT. (Jornal Gazeta do Acre n° 920, de 15/09/81, p.2)

Prefeito chama seguidores de Lula de vagabundos (chamada). Esse tal de Lula e um comunista e os que o acompanham um bando de vagabundos. Foi o que afirmou o prefeito do município de Feijó, Romildo Magalhaes56 (Jornal Gazeta do Acre, n° 1.023, de 27/01/82, p.2)

Prefeito de Manoel Urbano Invade a Convenção do PT (chamada). O prefeito Edmilson Mendes de Araújo, invadiu a Câmara Municipal dizendo: eu quero a lista dos filiados no PT (...) ocasião em que tomou das mãos de Francisco Mendes, que dirigia o encontro, uma relação em que constava os nomes dos filiados ao PT em Manoel Urbano. A Comissão Regional do partido decidiu entrar com uma representação criminal contra o prefeito. (Jornal Gazeta do Acre, n° 1.024 de 28/01/82, p.2)

Presidente Regional do PT Ameaçado de Morte em Xapuri. (Jornal Gazeta do Acre, n° 1.084, de 24/04/82, manchete da la pagina)

CATECISMO: E o PT, como e que fica com essas defecções? Há quem diga que um certo grupo teria comentado: agora só falta extinguir a LIBELU. O que se articula nos bastidores, segundo os experts, e um partido que reze todo ele pela  mesma  cartilha. Alias,

Não só reze como também faça casamentos e batizados. (Jornal O Rio Branco, n° 1.184, de 31/03/81, coluna Conversando Sobre Política, de Luis Carlos Moreira Jorge, p.7)

Prefeito Persegue o PT (chamada). O Prefeito de Manoel Urbano demitiu a professora Maria Pereira da Costa, por ser a presidente do Diretório Municipal daquele município. O Prefeito confirmou que ela havia sido despedida porque estava filiada a um partido de comunistas. (Jornal Gazeta do Acre, n° 1.173, de 12/08/82, p.2)

Como se pode constatar, o PT se estruturava no Acre em meio a uma onda de boatos e de críticas de setores do PMDB que acusava o partido de "divisionista" e de que não se viabilizaria politicamente. Lideranças do movimento sindical e popular haviam sido assassinadas, enquanto outras sofriam ameaças de morte e simples militantes passavam por constrangimentos e perseguições de autoridades constituídas.

Foi através desse processo de lutas e mobilizações, além do sacrifício de algumas lideranças sindicais e populares, bem como da participação efetiva de centenas de trabalhadores anônimos, que o PT foi organizado no Acre.

Assim, em 27 de outubro de 1981, o Tribunal Regional Eleitoral do Acre - TRE/AC deferia o registro definitivo do Partido dos Trabalhadores no Estado. A legitimidade e a legalidade se mesclavam na conformação da "estrela" que despontava.

Rio Branco - (Ac), 09 de fevereiro de 2022

*Marcos Inácio Fernandes, é Secretário de Formação do DM/PT de Rio Branco - AC

**Texto resumido do livro: “PT: A Expressão Política de Amor ao Acre”. FERNANDES, Marcos Inácio. Natal-RN; Offset Editora, 2018