Amanhã o nosso Partido dos Trabalhadores - PT está aniversariando São 42 anos no Brasil e 41 anos no Acre, A minha homenagem e gratidão a todos que escreveram e estão escrevendo essa história. Deixo a minha pequena contribuição a memória do partido que sempre esteve ao lado do povo na sua trajetória gloriosa. Deixo aqui um pequeno registro da formação do PT no Acre. Vida longa ao Partido dos Trabalhadores. (MIF)
- A FORMAÇÃO DO PT NO ACRE**
Por:
Marcos Inácio Fernandes*
CONTEXTO.
O processo de organização do Partido dos Trabalhadores iria se constituir
na " lógica da diferença" em meio a mesmice e ao "arcaísmo
político-partidário" brasileiro. No início
dos anos 80, o Acre era governado por Joaquim Falcão Macedo (1979-1982), o ultimo da série de
governadores nomeados pelo regime militar
a partir de 64. O Estado, como já foi analisado anteriormente, vivia uma crise
de transição na sua base produtiva. Durante toda a década de 80, o Acre se viu
isolado, por via terrestre, do resto do país. Uma viagem pela BR-364 até o Estado,
mais que uma aventura, era uma temeridade.
Naqueles primeiros anos da década, tanto o abastecimento de combustíveis
como de gêneros alimentícios, principalmente dos horti-fruti-granjeiros, era muito precário. O frete aéreo tornava o preço dos
produtos proibitivos para a grande maioria da
população e o transporte fluvial sofria os condicionantes
do tempo de percurso dos portos de Manaus e Belém ate o Acre e da
capacidade de navegação dos rios, que tornavam-se intrafegáveis no verão.
Nos primeiros anos da década de 80, era comum a existência de filas para se
comprar carne, principalmente no interior, e para se adquirir gasolina e gás de cozinha. O fornecimento de energia sofria
constantes interrupções, a ponto da população apelidar a companhia de
eletricidade estadual - ELETROACRE, de "ELETROVELA",
pois era grande o consumo de velas naquele período.
Em resumo, o Estado amargava o transtorno da sua posição geográfica
e da sua insignificância política no cenário nacional. No inverno, ficava isolado por via terrestre; no verão, por via
fluvial e em ambos os períodos ficavam isolados
das decisões políticas mais gerais, corroborando uma subalternidade política
que remonta a sua formação histórica.
A indiferença do poder central, bem como a "indiferença e o desamor dos eternos forâneos em relação aos fatos, coisas e pessoas do
Acre", iria amalgamar o sentimento de
"acreanidade", fenômeno sócio-cultural que permanece
até os dias atuais e que nos anos 70 e 80 era muito forte em relação aos empresários e especuladores do centro-sul do país,
todos denominados de "paulistas".
O
"acreanismo", com efeito, era fruto de uma motivação política que remontava aos anos 20.
O movimento
nascido em 1924, com a criação do Centro Cívico Acreano, se insurgia contra
essa indiferença do Poder Central que, depois do movimento armado entre o Acre
e Bolívia, manifestava-se através de delegados da União com seus costumeiros
séqüitos de apaniguados para dirigir os destinos do então Território do Acre.
Os que tem vivido e sofrido no Acre, por largas dezenas de anos, sabem que a
nossa terra sempre foi pasto das 'aves de arribação', explorada por indivíduos
sem delicadeza moral nem consciência cívica, criminosamente indiferentes aos
memoráveis fatos de nossa história.
O Centro Cívico Acreano se transformaria, mais tarde, na Legião Autonomista
Acreana, que teve marcante atuação política em todo o Estado e que contava, inclusive, com um órgão de divulgação, o
jornal "Renovação". Numa edição de
fevereiro de 1954, o articulista, Mario de Oliveira, desse referido jornal, escrevia:
“O acreanismo era uma idéia-força, gerada no inconformismo contra atitude impatriótica do governo brasileiro (...) e argumentava que
"o Acre nasceu de uma rebeldia ao conformismo. O
Acre apareceu na historia brasileira como um fenômeno de ordem
moral". (...) O acreanismo não se tratava
de nenhum regionalismo estreito; o movimento e uma ação a serviço de uma idéia,
que vem de longe, que tem raízes profundas.
Com o Golpe de 1964, o movimento "acreanista" ficou hibernando por quase duas décadas; porém, com a reformulação partidária de 1979, da
qual emergiu o PT e outras forças políticas, essa questão e outras ligadas ao
direito de permanência dos seringueiros a terra que
haviam conquistado de "armas nas mãos", voltava a fazer parte
do debate político.
A apatia dos "anos de chumbo" cedia lugar ao frenesi das novas
organizações partidárias. A perspectiva de se eleger diretamente, em 1982, o governador do Estado, reacendia os brios dos acreanos e,
particularmente, dos militantes do Partido dos Trabalhadores em processo de
formação, mas que já se constituía na expressão política mais forte de resistência aos
grupos forâneos e de contestação as tradicionais praticas dos caciques
políticos locais.
- AS FORÇAS CONSTITUTIVAS DO PT NO ACRE.
No Acre, as idéias de um "novo sindicalismo" e da criação de um
partido
de trabalhadores também ecoam e ganham ressonância. O núcleo mais organizado e combativo dos trabalhadores acreanos
era, sem dúvida, o sindicato rural. O
Sindicalismo era uma experiência não apenas nova, mas também inédita na história das lutas de classes no Estado e o
"novo sindicalismo", com os exemplos
das lutas e resistências dos operários do ABC, encontrariam mais receptividade nas áreas de maiores conflitos - os
seringais do vale do Acre, principalmente
em Xapuri e Brasiléia.E a partir dos sindicatos rurais e das
comunidades de base, tanto da área rural como da urbana,
que se começa a tecer o encaminhamento para a formação
do PT no Estado. A imbricação entre as comunidades de base, os sindicatos rurais e o PTé um fenômeno
sui-gêneres do Acre. Era comum, no período, um
grupo de pessoas num mesmo espaço físico realizarem, sucessivamente,
uma reunião de "evangelização", outra para tratar dos assuntos do sindicato e, logo em seguida, uma outra para
discutir a organização do PT.
Então você veja só! Numa só noite, ou numa tarde, fazíamos três reuniões
diferentes com o mesmo povo e não tinha ordem para se começar primeiro por uma ou outra não?} Um dia se falava
primeiro do PT, outro dia se falava
primeiro do evangelho e, em outro, se falava primeiro do sindicato (...) Então
fazia-se três reuniões diferentes, discutindo em cada uma delas sua pauta especifica (...) Nesse tempo
as mesmas pessoas faziam,
praticamente, três movimentos políticos distintos: o político / religioso, dentro do grupo de evangelização; o
político / partidário, que era a
discussão petista; e o político / sindical, que era a atividade do sindicato naquele momento ali. Isso era muito
interessante, porque as pessoas, por
mais que se achassem alheias a um daqueles assuntos, devagarinho, ela começava a se 'converter' a um
deles. (...) Ocorreu isso demais
nesse período (Marcos
Montezuma)
Naqueles
primeiros meses de 1980, as discussões sobre os rumos da "Frente Popular" no já constituído PMDB,
que herdou a estrutura partidária do MDB,
se intensificam e já se articulam as estratégias de intervenção dessa "Frente" para as eleições de 1982.
Entretanto, com a reforma partidária em pauta, as primeiras defecções
da "Frente" não tardariam a aparecer. O primeiro dissidente foi Abel Rodrigues Alves, que havia se candidatado a
deputado estadual em 1978 com apoio
da "Frente Popular". Ele deixa a "Frente" para reorganizar
o Partido Trabalhista Brasileiro —
PTB no Acre, o que lhe valeu duras criticas de outros componentes da Frente como Manoel Pacifico, Nilson
Mourão, Pascoal Muniz e Chico Mendes.
Num debate promovido pelo jornal Varadouro, reunindo as pessoas citadas acima, Abel Alves, em meio as críticas
dos companheiros, faz a defesa da
sua posição:
“E difícil,
em poucas palavras, condensar tudo o que se vinha discutindo, há muito tempo,
com os vários companheiros - Pacifico, Suede, Aluízio Bezerra e tantos outros -
as razões da minha saída do PMDB estão contidas na minha carta, Como frisei,
não estou em primeiro lugar, obrigado a vestir uma 'camisa-de-força' imposta
por Brasília. A verdade e que não se discutiu a realidade acreana, não se
procurou as origens do movimento popular do Acre e essa historia de PTB viciado
e das calendas gregas, por que há 16 anos que não existe mais PTB. O que
importa e o novo PTB. Então, como disse, sacudi a 'camisa-de-força' do PMDB e o
que se está vendo e o que eu previa: pelo próprio programa do PMDB, a gente não
só vê as contradições do pessoal que está lá dentro, com a dubiedade de um
programa (documento da bancada federal) que fala de seringueiros e
seringalistas. Quando se fala de seringueiros, acredito que se exclui os
seringalistas. Depois o que se vê dentro do PMDB e a caça ao voto, e a política
eleitoreira do Nabor Junior, Geraldo Fleming, de Ruy Lino, e, a reboque, o
companheiro Aluízio Bezerra, porque se quiser ser eleito, terá que fazer o jogo
dos três. O que vai acontecer, então: Em praça publica, acontecerão as mesmas
acusações: de que o Aluízio e comunista; de que Nabor e udenista; de que Ruy
Lino viveu embriagado 16 anos na Câmara Federal. E a luta pelo povo, a luta em
favor dos trabalhadores? Evidentemente que tudo isso me preocupou bastante e
achei que não era possível continuar dentro de um parti do desses. Podem me
acusar de que tomei uma atitude sem consultar, mas sempre discuti com os
companheiros essa realidade do PTB aqui no Acre”.
Efetivamente, o PTB é reorganizado e iria participar com candidates próprios
nas futuras eleições de 1982. Porém, a "luta em favor dos
trabalhadores", como perguntava Abel
Alves, quem a estava travando, naquele momento, eram os sindicalistas rurais e as lideranças populares das
CEB's, pois, como bem frisou o sindicalista Raimundo Barros do STR de
Xapuri, por ocasião da constituição da Comissão
Regional Provisória do PT, em março de 1980: "O PT já começou há muito tempo, desde quando começamos a lutar pelo
direito de ficar na terra, muito
embora ele não tivesse esse nome ".(Raimundo Barros)
Os sindicalistas rurais,
articulados por João Maia, delegado da CONTAG,
portanto, protagonizavam as lutas dos trabalhadores e foram os primeiros e principais responsáveis pela
organização do PT no Acre.
Segundo
depoimento de João Maia, ele tomou a iniciativa de ir a São Bernardo conversar
com o Lula e assumir o compromisso de organizar o partido no Estado. E
importante observar que e somente no Acre que um dirigente da CONTAG faz a
opção política partidária pelo PT. Nos outros Estados da federação, a posição
que irá predominar na entidade será a de apoiar, embora não abertamente, o
PMDB. (PAULA, 1991:166)
E a partir da articulação das lideranças sindicais que, efetivamente, em
12 de marco de 1980, acontece no colégio Meta, a reunião de lançamento do PT no
Acre com as presenças de Jacó Bittar, então presidente do Sindicato dos Petroleiros de Paulínia/SP e da Comissão
Nacional do PT; Antonio Carlos de Oliveira, deputado federal por Mato Grosso; João Maia, delegado da
CONTAG; Chico Mendes, então vereador de Xapuri pelo
MDB; Oséas Ferreira Lima, do STR de
Cruzeiro do Sul; Raimundo Soares de Araújo (Raimundo "Trovoada"), do STR de Tarauacá; Luis Monteiro de Aguiar, do
STR de Feijó; Adeli Bento da Silva, do STR de Sena
Madureira; Raimundo Mendes de Barros (Raimundão), do STR de Xapuri; além das representações das associações das Lavadeiras de
Rio Branco, dos professores do Acre (ASPAC), entre outras. Naquela
oportunidade, todas as lideranças,
citadas acima, se pronunciaram sobre o assunto. Para exemplificar a Tônica dos discursos, escolhemos o
de Adeli Bento da Silva, do STR de
Sena Madureira, que nos pareceu o mais emblemático daquela solenidade:
“Companheiros,
nós não estamos começando com o partido dos trabalhadores, nós vamos continuar
o nosso trabalho, pois, há tempo que viemos batalhando no sindicalismo. Nesse
tempo todo, a gente vem enxergando muita coisa errada, mesmo como analfabetos
(...) mas não somos cegos. Agora chegou esta oportunidade de criar o partido
dos trabalhadores e nós vamos seguir em frente. Não podemos mais ficar esperando as
soluções, as promessas dos políticos, porque nem São Francisco das Chagas, que é o santo mais milagroso
do Nordeste, está acreditando mais nesse tipo de promessa. (...) Nós já temos o
sindicato, que e o nosso órgão de
classe; agora precisamos nos unir dentro de um partido que será o nosso partido.” (Adeli Bento da Silva)
Ainda nessa solenidade, Jacó Bittar advertia: "no PT não cabem oportunistas", ao mesmo tempo que contestava a insinuação de que o
PT estaria dividindo a oposição.
“Os parlamentares do PMDB que pensam que não é o momento para a criação do PT não estão sabendo o nível de consciência que os trabalhadores vêm alcançando em quase todos os Estados. Esses parlamentares serão atropelados (Jacó Bittar)
Bittar disse ainda que:
“encontrou no Acre um nível muito elevado de organização e consciência de classe trabalhadora rural. Um modelo que precisa ser conhecido no sul,
uma experiência que precisa ser divulgada em outros locais como prova da capacidade dos trabalhadores de se organizarem e lutarem por seus interesses”
E a partir dessa tomada de consciência política que se intensificam as articulações no meio sindical e nos movimentos populares coordenados
pelas lideranças das CEB's. Em pouco mais de um
ano, o PT do Acre vai conseguir cumprir todas
as exigências da legislação partidária, inclusive organizando diretórios
municipais em 10 dos 12 municípios então existentes no Estado.
O Acre e um exemplo de estado onde os organizadores do PT tiveram um sucesso inicial maior em virtude de trabalharem com uma base mais homogênea, lá o grupo básico para a organização do partido era constituído, por um lado, pela rede das comunidades de base da Igreja e,
por outro, pelos sindicatos rurais (que, na
verdade, eram estreitamente vinculados as
comunidades de base). O terreno político no Acre fora relativamente bem preparado para o surgimento de um partido como o PT. (KECK, 1991:119)
Em abril de 1980, Chico Mendes, então vereador do MDB de Xapuri, torna-se o primeiro político acreano a anunciar sua adesão ao
Partido dos Trabalhadores que, segundo a sua opinião, era
"uma real expressão para todos os explorados".
Chico, um dos sindicalistas que gozava de muito prestigio junto aos seus companheiros e que já despontava como hábil articulador político,
seria eleito presidente da Comissão Executiva
Regional do partido e, juntamente com outras Iideranças
sindicais e comunitárias, assumiria a tarefa de organizar o partido no Estado.
Em meio à luta sindical na sua área de atuação, Chico Mendes também se desdobrava na organização das Comissões Executivas Municipais
do PT. A mobilização sindical e a organização do PT, naqueles primeiros meses
de 1980, se processavam simultaneamente e faziam
parte da mesma agenda política. Uma carta de
Chico Mendes ao seu companheiro Wilson Pinheiro do STR de Brasiléia, datada de 24 de junho de 1980, nos possibilita visualizar com
mais clareza como se processava essa articulação.
Esse documento retrata fidedignamente o que estava ocorrendo naqueles
dias; por isso e importante transcrevê-lo na Integra:
Companheiro Wilson,
Estive aqui a
fim de falar com você, porem não foi possível. Olha, é o seguinte: as coisas em
Xapuri estão quentes. Os posseiros estão botando pra quebrar. Então os fazendeiros fizeram uma reunião e estão afirmando que a única saída pra eles e matar o presidente do sindicato, o
delegado da CONTAG, o Chico Mendes, os padres,
e outros delegados sindicais. Diante desses
acontecimentos o Dr. João Maia combinou comigo
pra se organizar um ato público em Xapuri apoiado por várias entidades,
inclusive com vários sindicalistas do Estado. E ficou acertado para eu vir
falar com vocês aqui, a fim de que vocês saiam daqui pela manhã, levando um caminhão, com os posseiros da estrada que quiserem participar. Por sinal, o povo já está sendo avisado por toda área de
Santa Fé. Sim, e bom lembrar que o ato será realizado a partir das nove horas da manhã, a fim de dar tempo do povo voltar para suas casas. Também quero te avisar que dia dois de julho eu estou aqui para nos organizarmos os documentos da Comissão Executiva Municipal do PT, neste
município, para que seja encaminhado à Direção Nacional, para o registro do partido. Não
sei se você já sabe que eu fui eleito, ou melhor, escolhido para presidente da Comissão Provisória Executiva Estadual, e agora tenho que me virar que só charuto em boca de bêbado, pois tenho que me deslocar para todos os municípios. Também quero te avisar que o partido já está praticamente organizado
tranquilamente em vinte e dois Estados. Não tem mais dúvida os nossos adversários já não vão ter mais argumentos para mentir para o povo dizendo que o PT não é partido ainda. OIhe, dá um jeito de ir dar, ou melhor,
levar seu apoio a nossos companheiros de Xapuri. Ok, a gente dá uma ajuda na despesa do caminhão. Tiau, um abraço petista. (Chico Mendes, in: SOUZA, 1986: 219)
A exemplo do processo nacional de organização partidária, o PT nascia no Acre do pólo mais combativo e organizado dos trabalhadores, no
caso, os sindicatos rurais. A singularidade do PT
acreano em relação ao PT nacional é que, no Acre,
a formação inicial do partido não contou com o concurso de militantes de
organizações marxistas que participaram da luta armada, nem recebeu adesões de políticos, com mandato, que atuavam na
"tendência popular" do MDB e nem contou com o
polimento acadêmico de intelectuais de esquerda, salvo a
honrosa exceção do sociólogo Nilson Mourão, que logo depois entraria para a
Universidade Federal do Acre.
A força aglutinadora e mobilizadora dos sindicatos rurais e das comunidades de base em torno do PT não impedia que a construção do partido
se efetivasse em meio a pressões e conflitos. A
nível nacional, a principal liderança do partido,
Luis Inácio Lula da Silva, havia sido preso e enquadrado na Lei de Segurança
Nacional e o sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, do qual era presidente,
estava sob intervenção do Ministério do Trabalho.
No Acre, as principais Iideranças sindicais que articulavam o PT, Chico
Mendes, presidente do STR de Xapuri e João Maia, delegado da CONTAG, também estavam sendo processados com base na Lei
de Segurança Nacional, em face do
episódio da chacina de Nilo Sérgio, em Brasiléia por ocasião do assassinato de Wilson
Pinheiro, presidente do STR de
Brasiléia e João Eduardo, líder de comunidade de base de Rio Branco, ambos
membros do PT, haviam sido assassinados. Alguns trabalhadores rurais estavam
presos, acusados pela morte do fazendeiro Nilo Sérgio e pairava, sobre muitos
militantes ameaças de toda sorte.
Uma rápida folheada pelos jornais da época nos dá uma dimensão mais
aproximada do clima em que se processava a organização do PT no Acre. Eis
alguns exemplos:
PT x PMDB - Circulando uma nota do PT dando conta que alguns elementos do PMDB e entre os nomes citados se encontra o do ex-padre
Pacifico, andam espalhando que o Partido dos Trabalhadores não tem possibilidades de sobreviver na atual conjuntura político. As
divergências tendem a aumentar daqui pra frente, não
enganem-se. (Jornal o Rio Branco
n° 1.220, de 20/05/81, coluna: "Conversando Sobre Política" de Luis Carlos Moreira Jorge, p.4)
Juiz intima membros do PT para fazer
especulação (chamada). O juiz Dr. Lourival Silva (de
Brasiléia), em 9 de setembro intimou Jose Maria de Almeida e mais 10 pessoas para saber como foi e porque foi que eles haviam entrado para o PT. (Jornal Gazeta
do Acre n° 920, de 15/09/81, p.2)
Prefeito chama seguidores de Lula de
vagabundos (chamada). Esse tal de Lula e um comunista e os que o acompanham um bando de vagabundos. Foi o que afirmou o prefeito do município de Feijó, Romildo Magalhaes56 (Jornal Gazeta
do Acre, n° 1.023, de 27/01/82, p.2)
Prefeito de Manoel Urbano Invade a Convenção
do PT (chamada). O prefeito Edmilson Mendes de Araújo, invadiu a Câmara Municipal dizendo: eu quero a lista dos filiados no PT (...) ocasião em que tomou das mãos de Francisco Mendes, que dirigia o encontro, uma relação em que constava os nomes dos filiados ao PT em Manoel Urbano. A Comissão Regional do partido decidiu entrar com uma representação criminal contra o prefeito. (Jornal Gazeta
do Acre, n° 1.024 de 28/01/82, p.2)
Presidente Regional do PT Ameaçado de Morte em
Xapuri. (Jornal Gazeta do
Acre, n° 1.084, de 24/04/82, manchete da la pagina)
CATECISMO: E o PT, como e que fica com essas
defecções? Há quem diga que um certo grupo
teria comentado: agora só falta extinguir a LIBELU. O que se articula nos bastidores, segundo os experts, e um partido que reze todo ele pela
mesma cartilha. Alias,
Não só reze
como também faça casamentos e batizados. (Jornal
O Rio Branco, n° 1.184, de 31/03/81, coluna
Conversando Sobre Política, de Luis Carlos Moreira Jorge, p.7)
Prefeito
Persegue o PT (chamada). O Prefeito de Manoel Urbano demitiu a professora Maria Pereira da Costa, por ser a presidente do Diretório Municipal daquele município. O Prefeito confirmou que ela havia sido despedida porque estava filiada a um partido de comunistas. (Jornal Gazeta do Acre, n° 1.173, de 12/08/82, p.2)
Como se pode constatar, o PT se estruturava no Acre em meio a uma onda de boatos e de críticas de setores do PMDB que acusava o
partido de "divisionista" e de que não se
viabilizaria politicamente. Lideranças do movimento sindical e popular haviam
sido assassinadas, enquanto outras sofriam ameaças
de morte e simples militantes passavam por constrangimentos e perseguições
de autoridades constituídas.
Foi através desse processo de lutas e mobilizações, além do sacrifício
de algumas lideranças sindicais e populares, bem como da participação efetiva
de centenas de trabalhadores anônimos, que o PT foi organizado no Acre.
Assim, em 27 de outubro de 1981, o Tribunal Regional Eleitoral do Acre - TRE/AC deferia o registro definitivo do Partido dos Trabalhadores
no Estado. A legitimidade e a legalidade se
mesclavam na conformação da "estrela" que
despontava.
Rio Branco - (Ac), 09 de fevereiro de 2022
*Marcos Inácio Fernandes, é Secretário de
Formação do DM/PT de Rio Branco - AC
**Texto
resumido do livro: “PT: A Expressão Política de Amor ao Acre”. FERNANDES,
Marcos Inácio. Natal-RN; Offset Editora, 2018