Nessa guerra entre a Rússia x Ucrânia/OTAN/EUA, que já entra para 15 dias de conflito, a análise do Valério Oliveira, é a que, ao meu juizo, faz a melhor análise. Ele faz um bom contexto dos motivos que levaram a essa conflagração. Espero que termine antes do fim do mês quando entro de férias. (MIF)
RÚSSIA, UCRÂNIA E O JOGO DE XADREZ
Por Valério da C. Oliveira
“Der Krieg ist eine bloße Fortsetzung
der Politik mit anderen Mitteln”.*
Karl von Clausewitz
* A guerra é a continuação da
política por outros meios.
O jogo de xadrez foi criado, muito
provavelmente, no sul da Ásia pelos tempos em que Jesus pregava aos Galileus e
chegou às planícies dos rios Dnieper e Volga no alvorecer do séc. X, momento em
que o príncipe Vladimir, do Canato de Kyjevan, havia vencido seus oponentes
para, em seguida, converter-se ao cristianismo ortodoxo.
Nascia a Rússia que conhecemos hoje,
centralizada inicialmente na cidade de Kiev, atual Ucrânia. Desde então, o amor
pelo xadrez e a fé cristã contribuíram para formar o cimento da identidade
nacional do povo russo.
Na Rússia moderna o jogo de xadrez é
numa espécie de esporte “patriótico”, como o futebol no Brasil ou o badminton
na China, arrastando multidões a campeonatos e torneios. Há, inclusive, dezenas
de revistas e programas televisivos especializados.
Trata-se de um jogo de pura
estratégia, reconhecido mundialmente por desenvolver as faculdades cognitivas
de raciocínio lógico-matemático. Um jogador de xadrez tem suas habilidades, ou
a falta delas, reconhecidas já nas jogadas de abertura. Os russos são os
senhores absolutos em campeonatos mundo afora.
Faço esta pequena introdução para
alinhavar a seguir algumas nuances que tem escapado aos analistas da imprensa
independente e à boa parcela do campo progressista, os quais, nesta crise
ucraniana, comumente tem se revelado vítimas de análises equivocadas e
previsões das mais tresloucadas, por estarem contaminados pela máquina de
propaganda da imprensa hegemônica e por carência de um conhecimento mais
aprofundado da história e da alma/cultura russas.
I. Dos eventos
pregressos
A operação especial russa que está
ocorrendo na Ucrânia neste momento, e que tem nos eletrizado, está muito, mas
muito longe de ser a imagem monstruosa que a imprensa hegemônica vende. Seria
ela a ação prepotente de um oligarca malvado contra um povo indefeso, que
poderia arrastar a comunidade internacional para uma guerra de proporção
mundial? Nada mais inocente e maniqueísta, como veremos.
Para quem acompanha a trajetória de
Vladimir Putin, deve ter prestado atenção ao seu discurso na Assembleia Geral
da ONU, em 2000, ao nascer do novo século e logo após sua assunção ao cargo de
presidente da Rússia.
Para entendê-lo, devemos antes
lembrar da ação criminosa da OTAN na Iugoslávia, em 1999, um ano antes
portanto, e o pesado bombardeio por longos 57 dias da cidade de Belgrado,
inclusive com o uso de munição radioativa. Naquela ocasião, no glorioso país
dos “eslavos do sul”, o império levou a cabo sua segunda experiência de guerra
híbrida, hoje amplamente conhecida e que pode ser estudada nos manuais da RAND
Corporation.
Voltando ao discurso, Putin disse que
a ONU e seu Conselho de Segurança já não dispunham “de instrumentos jurídicos
suficientes e eficazes” que permitissem “superar adequadamente as crises
internacionais e regionais”. Para um bom ouvinte, suas preocupações com a
segurança coletiva da Europa e do mundo já se faziam ouvir.
Vieram, então, a invasão
norte-americana do Afeganistão (2001), do Iraque (2003), da Líbia (2006-2016),
da Síria (2014-2016), etc. No caso do Iraque, a coalizão liderada pelos
norte-americanos abusou até da boa-fé internacional ao lançar mão de uma
mentira descarada para justificar o ataque: o Iraque possuía armas de
destruição em massa.
Então, sem o consentimento do
Conselho de Segurança, invadiram o Iraque, destruíram toda sua infraestrutura,
bombardearam prédios de valor histórico incalculável, saquearam objetos
históricos, as reservas de ouro e mataram ou mutilaram mais de milhão e meio de
Iraquianos, a maioria civis.
Alguns anos depois, fomos brindados
pelo Wikileaks com imagens assustadoras, dentre outras, de adolescentes sendo
arrancados de dentro de suas casas e fuzilados na rua! Mas isso você não viu na
imprensa hegemônica.
Esse era o mundo unipolar que
assombrava Putin ao chegar à presidência. O mundo de McNamara, do fim da
história e do excepcionalismo branco norte-americano, a poder tudo, pouco temer
e nada ouvir. Era o mundo da nova OTAN, esse clubinho de escoteiros e bons
samaritanos, que ao longo dos últimos 25 anos vem avançando sua guerra híbrida
em direção das fronteiras russas.
Posteriormente, em 2003, 2006 e 2015
voltaria ele a discursar na ONU, sempre batendo no mesmo bordão, de que o mundo
precisava de um novo arranjo jurídico internacional que trouxesse segurança e
paz a todos, algo como um tratado de segurança coletiva. Nestas intervenções,
suas palavras foram claras: “Vocês não estão querendo nos ouvir. Vocês precisam
nos ouvir!”. Contudo, excepcionalistas egocêntricos costumam ser surdos.
A tina começou a transbordar quando a
guerra híbrida chegou à Ucrânia, em 2014, fomentando e financiando grupos de
extrema direita, alguns deles de caráter neofascista, a usar abertamente
símbolos nazistas e banderistas.
Tudo desaguou no golpe de estado
violento e no massacre sistemático de opositores e dos povos dos oblasts do
leste, do Donbass. Desde então, Putin tem se esforçado em apaziguar o país,
promovendo encontros e discussões que conduziram aos acordos de Minsk,
assinados, mas jamais honrados pelo regime fascista de Kiev.
Há que se dizer, a esta altura, que,
para qualquer conhecedor de um mínimo de história, a semelhança entre o que
estava acontecendo nestes últimos anos na Europa e o que acontecera nos anos
1930 estava saltando aos olhos.
Naquela época pré II Guerra Mundial,
preocupados com a ascensão de Hitler, os líderes da URSS se esforçaram demais
por um tratado de segurança coletiva para a Europa, sem sucesso.
Por mais violência que o regime
nazista impusesse, por mais que sua “obra prima”, o Mein Kampf” expusesse, por
mais que os discursos do ariano demente mostrassem, por mais que os discursos
de Stálin alertassem, eles não não ouviam, não queriam ouvir. Deu no que deu.
Coincide estranhamente que Stálin hoje seja mais demonizado que Hítler, assim
como Putin é o campeão que atrai toda sorte de difamação.
De 2014 até hoje, houve uma “limpeza
política” na Ucrânia, com a proibição dos partidos do campo democrático e
progressista e o assassinato de seus líderes. Os que não foram eliminados,
tiveram que se exilar. Igualmente, no Donbass, bombardeios e sabotagens eram
observados quase que diariamente, mormente sobre escolas e hospitais, algo que
jamais sensibilizou a imprensa, inclusive a independente.
Ao longo destes 8 anos, cerca de 15
mil civis foram massacrados, a maioria crianças e adolescentes. O ato inicial
desses crimes contra a humanidade teve lugar em Odessa, cidade histórica, palco
da rebelião do Encouraçado príncipe Potenkin, em 1917.
Durante o golpe de 2014, um protesto
pacífico contra os atos de exceção do novo governo foi reprimido por grupos
neofascistas, dentre eles o Pravvy Sektor e o Femmen. Muitos correram da
violência gratuita e se refugiaram na Sede dos Sindicatos, que foi
inclementemente incendiado, levando à morte dezenas de pessoas. Os que
escapavam pelas janelas, eram mortos a pauladas na rua. Uma cena de barbárie
digna dos filmes de Quentin Tarantino.
II. A Rússia se
preparando em silêncio
Voltando à trajetória de Putin,
chegamos ao ano de 2017. Neste ano, no discurso de final de ano à Duma, o líder
russo apresenta a nova geração de armas russas, entre elas os impressionantes
mísseis hipersônicos e o torpedo supercavitante, e escancara uma realidade
capaz de tirar o sono “de estado profundo” do estado profundo.
As primeira reações da imprensa
ocidental a esta apresentação foram de chacota, afirmando serem mentiras. Nada
mais infantil e patético. Para quem conhece a alma russa, sabe que eles não
blefam. Russos jogam xadrez e são os mestres da estratégia, norte-americanos
jogam pôquer e são os reis do blefe. Entretanto, a parte mais importante do seu
discurso e que passou batida aos ouvidos moucos do mundo foi esta, ao final:
“Vocês não queriam nos ouvir, agora, terão de ouvir”! O recado era claro:
a Rússia já estava preparada, detinha agora as peças brancas e Putin abria o
jogo: peão da dama em e4.
A partir daí, vieram as primeiras
imagens em ação dos hipermísseis Kinzhal, Tsírkon, Bulava, Sineva, Avangard, o
torpedo Burevestnik, os novos submarinos silenciosos, a modernização da aviação
e marinha, a nova doutrina militar, etc.
Um portfólio armamentista que parece
ter vindo do futuro ou de livros de ficção científica. Aquela Rússia em
escombros pós colapso soviético estava de volta ao jogo. O que não era nenhuma
surpresa para um observador atento.
Já na guerra da Síria, os russos
vinham testando seus armamentos e com eles exterminaram o Estado Islâmico. É
bom lembrar dos 22 mísseis de cruzeiro Kalibr, disparados de uma fragata no mar
Cáspio, a 2.000 km de distância, e que atingiram seus alvos com precisão
milimétrica.
Para que se tenha uma dimensão desse
feito, um ano depois, um cruzador norte-americano à costa israelense disparou
59 Tomahawks contra alvos na Síria, a 800 km de distância. 35 erraram seus
alvos por quilômetros, 18 se perderam e 5 atingiram os alvos errados, dentre
eles uma fábrica de medicamentos desativada.
A verdade que se materializa agora é
que o império cometeu um erro crasso. Após o colapso da URSS, sentiram-se tão
confortáveis com seu excepcionalismo narcisista que deixaram de investir em
tecnologia militar de ponta.
Com exceção dos caças F-22 e F-35 e
dos novos contratorpedeiros da classe Zumwalt e Independence, os quais apresentaram
tantos problemas que ficam mais em manutenção que em serviço, o armamento da
OTAN ficou muito defasado tecnologicamente.
Os mísseis balísticos Minuteman III e
Trident II, por exemplo, são da década de 70 e os russos já tem baterias
antimísseis capazes de detê-los: os S-400 Triumph e S-500 Prometey, este último
capaz de abater até mesmo satélites. A guerra nas estrelas de Reagan era um
blefe, a dos russos, não. O império ficou na poeira e Putin sabe disso.
Igualmente, no que tange à tecnologia
cibernética, devemos lembrar que tanto russos e chineses vem trabalhando com
afinco nesta área, eliminando os pontos fracos de seus próprios sistemas.
Desde 2014-2015, o sistema de
internet russo está completamente desvinculado do ocidental. E os chineses
foram mais longe ainda, restringiram fortemente a atuação das Five BigTechs.
Ainda, os sistemas operacionais dos PCs das empresas e instituições estatais
russas não são da Microsoft (algo que os governos do PT deveriam ter feito
aqui), foram por eles desenvolvidos, baseadas em derivações do GNU-Linux.
Até mesmo o navegador para PC é
russo, o Yandex. E, para quem não tem intimidade no assunto, basta dizer que o
melhor antivírus do mundo é da Bielorrússia, o Kaspersky, programa que foi
capaz de identificar e anular o vírus israelense Stuxnet, responsável pelo
ataque ao sistema operacional SCADA das centrífugas iranianas, em 2010.
Por isso, quando vejo reportagens
dizendo que o Anonimous, esse grupelho de adolescentes criminosos a serviço do
império, um verdadeiro lobo em pele de cordeiro, vai atacar os sistemas russos,
só me resta sorrir. Portanto, não tenham dúvidas, do ponto de vista cibernético
e militar, a Rússia e a China estão completamente blindadas.
III. O
fortalecimento econômico russo
Mas, para além do aspecto militar,
vamos examinar a questão econômica e de infraestrutura. Diferentemente dos EUA,
que na década de 70 deixou de lastrear o Dólar em ouro, russos e chineses vem
fazendo exatamente o contrário.
Nos últimos três anos apenas, o
tesouro russo comprou 1.570 T do metal no mercado internacional, sendo ainda o
terceiro maior produtor mundial, com a China na liderança. Calcula-se que as
reservas do país cheguem hoje a mais de 43 mil T, quantidade superior a de
países como França e Alemanha.
E o que dizer de outros metais
preciosos, como platina e titânio. No caso deste último, as maiores reservas
minerais do planeta estão na Sibéria, sendo a Rússia o maior exportador
mundial, exportam até para os EUA. E o titânio é material estratégico para a
indústria eletrônica e militar. Não nos demoraremos neste quesito, apenas
referiremos que as reservas cambiais russas estão hoje em cerca de U$ 1
trilhão, sendo 34 % superiores ao total da dívida externa. Traduzindo, o Rublo
está muito bem lastreado.
Ainda, há que considerar que a Rússia
possui a segunda maior reserva de petróleo e gás do planeta, sendo o maior
exportador mundial. E o petróleo russo é da melhor qualidade. De extrema
relevância à nossa análise também, o maior cliente russo são os… EUA, seguido
da Europa! Ainda, a economia russa é autossuficiente em alimentos, produzindo
quase 30% do milho, do trigo e do girassol do mundo, aliás, são os maiores
exportadores de trigo e de óleo de girassol e de milho.
Tudo isso num cenário em que estão
enfrentando um império com um PIB de cerca de U$ 24 trilhões, mas que possuem
uma dívida externa de mais U$ 30 trilhões e uma dívida pública superior U$ 87
trilhões.
Condicione-se nesta conta, ainda, um
exército de mais de 30 milhões de desempregados e quase 9 milhões de sem teto.
Como eles vão resolver essa conta, se já não tem mais condições de invadir e
saquear país nenhum? Então, a realidade que vemos agora nesta crise ucraniana é
bem diferente da realidade mostrada na TV. É um império em crise, que já não
tem mais condições de falar grosso com ninguém, tampouco pagar suas contas em
dia.
IV. As sanções
contra a Rússia
Já podemos, então, analisar as
sanções aplicadas à Rússia, o único instrumental de guerra, junto com os
ataques cibernéticos, à disposição do império anglo-saxão. Se não, vejamos.
Primeiramente, o desengajamento do
sistema SWIFT. Ora, praticamente todo o comércio entre a Rússia e os países da
ASSEAN (China, Rússia, Paquistão, Afeganistão, etc.) já é realizado pelo
sistema CIPS chinês. Até mesmo os países dos BRICS tem dado preferência a
transações bancárias diretamente em moedas próprias.
Cerca de 51 % do comércio
Rússia-Índia já é realizado em suas moedas, de forma bilateral. Neste mesmo
viés, a proibição das bandeiras Visa e Mastercard na Rússia teve como resultado
o acoplamento dos sistemas Sberbank/RedeMir com a chinesa UnionPay. Isso gerará
uma reação em cascata dos demais países da Nova Rota da Seda. Então, trata-se
tão somente de um tiro no pé!
Por outro lado, o cancelamento pela
Alemanha do gasoduto NordStream 2 pode parecer até um golpe decisivo na
economia russa, mas, na verdade, provocou um contragolpe, pois levou ao aumento
de venda de gás à China e ao Paquistão, com os três países assinando uma carta
de intenções para a compra de mais 30 bilhões de m3 nos
próximos 20 anos, através de um gasoduto a ser construído, o Soyuz-Vostok.
Tal quantidade é 40% superior ao
contrato com a Alemanha. Pelo contragolpe, os alemães ficaram sem o gás russo,
mais barato, e o preço do megawatt/hora duplicou em questão de dias. Tal efeito
cascata atingiu os demais países da UE. Vão começar as greves na Europa.
O resultado prático destas sanções
pode ser ilustrado pelo último ato deste bizarro teatro de estultices, com o
envio apressado de uma delegação norte-americana à Venezuela para iniciar
conversações sobre a compra de óleo. Já estão prevendo uma possível interrupção
de fornecimento por parte da Rússia, o que seria desastroso para uma economia
que já anda há anos na corda bamba. Pior, tiveram que se encontrar com um Maduro
cheio de si, a mais pura humilhação.
V. Da operação
especial na Ucrânia
Neste momento, já podemos falar da
operação especial que os russos estão implementando na Ucrânia. Para
compreendê-la, precisamos relembrar as principais palavras de Putin em seu
discurso à nação, com relação aos seus objetivos: primeiramente, proteger as populações
do Donbass e preservar vidas; na continuidade, desnazificar, desmilitarizar e
pacificar a Ucrânia. Para bom entendedor, meia palavra basta. Seu objetivo não
é a tomada do país, sua conquista territorial.
A operação especial começou com um
ataque massivo de mísseis de alta precisão à infraestrutura militar do país.
Depósitos de armas, blindados, aviões de combate, aeroportos, pátios de
manobra, centros de comando, rede de comunicações, etc., tudo foi posto abaixo
em 4 horas.
Quatro horas e sem baixas civis! Na
sequência, os grupamentos das forças das repúblicas de Donetsk e de Lughansk
moveram-se rapidamente até às bordas do oblast, quebrando possíveis focos de
resistência. A partir daí, de forma coordenada, tropas e grupamentos russos e
bielorrussos estacionados na Crimeia, Bielorrússia e flanco oeste da Rússia
adentraram na Ucrânia, lenta e decididamente, apoiados por esquadrões de
helicópteros.
Foi muito interessante e instrutivo
observar as táticas usadas nesta operação. Quando determinado grupamento
encontra resistência durante o avanço, ele para, recua e, então, realiza o
cercamento, estrangulando o inimigo gradualmente. Sequencialmente, abrem
corredores para refugiados. Após isso, o grupamento segue em frente. Tal tática
revela a preocupação em evitar baixas civis, algo nunca visto em guerras do
império, como no Iraque.
Outro aspecto que se destacou nesta
operação são as aberturas de corredores para refugiados, o que demonstra a
preocupação dos russos com a preservação dos civis. Em contrapartida, do outro
lado observamos ataques contra estes refugiados por parte das milícias
fascistas, sendo que Zelensky, o mais novo herói do ocidente, obrigou a
população civil masculina a lutar, armando até presidiários. O resultado:
saques a lojas e supermercados em Kiev. Numa coisa temos todos que concordar:
como presidente, Zelensky mostrou-se um trágico comediante!
A esta altura do conflito, tendo
ocupado as principais instalações militares, aeroportos e centrais nucleares, a
vitória da operação especial já começa a se delinear no horizonte, é questão de
tempo. E mais, de forma impecável.
Inexoravelmente, o plano do líder
russo está se desenrolando como planejado desde o início. A consequência é a
completa desmoralização da OTAN. Este era outro objetivo velado de Putin. A
tendência agora é que o bloco comece a ruir. A primeira defecção já surgiu, com
o húngaro Vítor Orban justificando a operação especial russa e o turco Receip
Erdogan fechando o estreito de Bósforo à passagem de navios de guerra.
Assim, não temo dizer que ele já
tinha tudo calculado, está várias jogadas à frente no tabuleiro. Basta observar
o ar de superior tranquilidade em suas entrevistas. O homem é um prodígio, como
há muito tempo não se via, um estadista que deixará sua marca indelével na história.
Se este líder é o “ditador, o oligarca totalitário” que a imprensa ocidental
decanta, gostaria que houvesse muitos como ele no Brasil.
VI. Conclusão
A crise ucraniana não desaguará em
uma guerra mundial de caráter bélico, como os alarmistas tem inconsequentemente
afirmado. O império já não tem mais poderio pra enfrentar a Rússia,
principalmente porque Putin está apoiado por Xi Jinping e outros grande
jogadores nesse tabuleiro.
Em realidade, a III guerra já vem
ocorrendo há muito tempo, sem que as pessoas tenham se dado conta. A guerra
agora é cibernética e econômica e se traduz nos constantes ataques do império
anglo-saxão a países emergentes e, em alguns casos, em países desenvolvidos,
como a França (vide caso Alstom).
É uma guerra silenciosa e tão
devastadora quanto a bélica, destrói da mesma maneira infraestruturas e vidas,
lançando legiões à pobreza e ao desespero, enquanto a elite imperial enriquece
às nossas custas. Os russos se cansaram disso e, por mais paradoxal que pareça,
deram o primeiro passo pra acabar com todas as guerras bélicas.
Para além das paixões volúveis, das
vicissitudes ideológicas ou do engajamento a um “time” ou outro, a lição mais
importante e pungente que precisamos tirar deste conflito é que ele encerra um
ciclo e começa um novo.
O fim da nova ordem mundial, ou,
melhor dizendo, da nova ordem criminal e sua globalização neoliberal forçada.
Um novo mundo multipolar, mais seguro e mais próspero, no qual a mesa de
negociações tomará o lugar dos canhões, está nascendo.
Pois bem, Putin avisou, avisou e
avisou, mas não quiseram ouvi-lo. Agora, vão ter que ouvir.
Xeque-mate!