MEU PAI - INÁCIO FERNANDES DESIDÉRIO
(02/02/1925 – 29/07/1987)
Falar
do meu pai é muito fácil. Essa facilidade resulta de uma convivência afetiva
que tive com ele por muitas décadas. Nós nos queríamos bem. Eu, como filho
primogênito, recebi dele um tratamento especial, que a minha mãe questionava,
pois o xodó dela era o meu irmão Carlos, que já subiu. Eu apanhava de minha mãe
“por pouco mais ou nada” e também porque aprontava muito quando criança. Eu
lembro que sempre dizia: “amanhã eu não apanho que papai está em casa” e isso
era motivo de mais peia. Meu pai era taifeiro da Aeronáutica e trabalhava um
dia e folgava outro e, no seu dia de folga, ele me protegia das surras. Ele,
raramente, batia na gente, mas quando fazia era com o fio do ferro ou com o
cinturão da farda que tinha uns ilhoses. Doía pra danado!!
Ele,
foi o meu primeiro professor. Com paciência e carinho me ensinou o alfabeto e
as “operações de conta” e ao longo da nossa convivência aprendi o “ABC grande”
da escola da vida. Aprendi os valores da tolerância e do respeito as
diferenças, da solidariedade, da honestidade e dos demais valores humanistas.
Em
síntese, meu pai um homem semi-alfabetizado (pouco escrevia mas lia muito)
enveredou, a mim e meus irmão, pelo bom caminho. Nós nos tornamos cidadãos de
bem e do bem. Foi sua herança.
Certa vez, folheando uma revista, encontrei o
poema que transcrevo abaixo. Eu vejo meu pai nesse poema. É a imagem de UM
HOMEM BOM, que carrego na mente e no coração.
Poema do Homem Bom
Roberto César Marques Lucena
Para
que serve um homem bom?
Um
homem bom não serve para muita coisa
A
não ser para ser bom.
Esse
negócio de homem bom
Tornou-se
com o tempo
Um
objeto obsoleto
Abandonado,
Extremamente
velho e ridículo
Totalmente
dispensável
À
sociedade.
Para
que serve um homem bom?
Ninguém
sabe
Eu
acho que prá nada
Para
ser bom.
Um
homem bom nunca será um bom bispo
Um
bom encanador
Um
bom presidente
Um
bancário bom
Ou
um bom governador.
Não
saberá se sair bem na vida
Fugir
as situações
Tomar
besteiras e whisky em grupos
Paquerar
Mentir
ou adular
Em
suma viver o que é hoje.
Prá
que serve um homem bom?
Acho
que para nada
Acho
que para ser bom.
Um
homem bom nunca terá uma mulher boa
Ou
uma boa mulher
Nunca
terá os chamados amigos
E
carregará no olhar cansado
Nos
gestos tristes
Nas
mãos vazias
A
descaradez e a senvergonhice de ser bom.
Um
homem bom não se sentirá
Bem
Em
sua casa
Nem
na rua
Na
sua
Ou
na lua.
A
cada negação
A
cada dia
Morrerá
mais e mais.
Um
homem bom não serve mesmo para nada
Nem
para ligar o botão da televisão.
Um
homem bom
Já
não lê jornais
Não
vê televisão
E
hoje é alguma coisa cansada
Com
facilidades
Das
facilidades.
Um
homem bom já
Não
fala
Já
não pensa
Não
tem opções
Não
vota (não acha em quem)
O
que faz a gente voltar à rotina
E
perguntar de novo:
Para
que serve...
Um
homem bom é negação à vida
Uma
companhia extremamente fastidiosa
Incompreensiva
e chata.
Um
homem bom não serve
para ser guia de cego
para
leiteiro,
pipoqueiro
ou bicha.
Não
tem aquele requinte da mentira
Aquela
capa
Que
esconde outra capa
Que
esconde outra capa
Que
esconde outra capa
E
tantas capas
Como
as caras
As
idéias
E
os desprincípios dos outros
Os
homens
Virulentamente
normais.
O
homem bom
Sorri
Acredita
E
fica nisso
Morto
de doido
Morto
de triste.
(Pinçado
da revista Meio- Fio. 1971)
Marcos
Inácio Fernandes – filho primogênito de seu Desidério e D. Lia.
Rio
Branco (AC), 14 de agosto (dia dos pais) de 2022
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