Esse texto é de UTILIDAE PÚBLICA!!! Nos fornece informações valiosas para sabermos utilizar melhor os nossos celulares e menos dependentes dos ALGORÍTIMOS das Plataformas Digitais. (MIF)
Celular, uma arma de
distração em massa no bolso de cada um
Como o smartphone sequestra suas horas e sua
concentração – e um caminho para sair dessa relação abusiva
Marcelo Soares | 01 fev 2024_
Revista Piaui
Quando o editor me
convidou para escrever esta reportagem sobre o nosso vício em telas e as
medidas para se livrar dele, anotou algumas práticas testadas informalmente na
redação:
§
§ Usar os “filtros de cor” para deixar a tela do celular em preto e branco
(uma estratégia que será descrita na reportagem
abaixo) é um Ozempic para o vício em tela: tudo fica mais sem graça e você
perde a vontade de ficar “beliscando” o dia todo, vendo tanta besteira. Passa,
então, a usar o celular de forma mais utilitária e menos recreativa, por menos
tempo
§ Mover os aplicativos mais supérfluos para dentro de pastinhas na tela
exige dois cliques – e, assim, faz você pensar duas vezes antes de abrir as
portas para abrir o TikTok do nada, como quem, entediado, abre a geladeira para
ver o que tem de bom
§ Deletar o app da tela inicial ajuda ainda mais: você precisa fazer uma
busca para encontrar o que quer. É um micro trabalho, claro, mas que dá um
empurrãozinho para desautomatizar o clique
§ Melhor ainda é dificultar um pouquinho mais: apagar o aplicativo de rede
social e acessar do browser do celular, logando e deslogando a rede a cada vez
que usar. Se você tiver autenticação em dois fatores, vai bater uma preguiça de
digitar o código
§ Melhor ainda é se esforçar para manter a navegação no laptop, como
faziam os povos da Mesopotâmia, sempre que possível. A experiência é bem menos
viciante e você se afasta do risco de abrir a tela para checar a previsão do
tempo e cair, sabe-se lá como, em duas horas entretido nas tretas do X.
Parar para ler um texto menos ligeiro ajuda a
exercitar algo que os smartphones vem nos roubando: a concentração. A
reportagem abaixo, que pode ser lida no tempo dos stories da Silvia Braz, traça
um panorama científico sobre o tempo inútil de tela e ideias para ter uma
relação mais saudável com o aparelho.
O brasileiro
passa em média cinco horas por dia grudado na tela do celular, segundo o estudo
“State of Mobile 2024”, divulgado em dezembro.
Como essas cinco horas não são contínuas, e sim picotadas ao longo do dia,
vivemos distraídos e muitas vezes nem vemos o tempo passar. Daí muita gente ter
colocado como meta de Ano-Novo passar menos tempo online.
“A sensação de passagem
do tempo é muito vulnerável a distorções”, disse à piauí a pesquisadora
Ruth Ogden, professora de psicologia do tempo na Universidade John Moores de
Liverpool, no Reino Unido. Sua equipe ouviu trezentas pessoas em países
europeus sobre seus hábitos digitais. Quanto mais horas passavam conectadas,
pior era a percepção delas sobre o tempo livre. Embora estivessem muito mais
horas ocupadas, parecia que tinham produzido muito menos. Ogden não culpa
propriamente a tecnologia por isso, mas recomenda prestar atenção em como se
usa e se percebe o resultado dela.
Tempos atrás, quem
torcia para um time, ou era fã de uma banda, vivia cercado de pessoas que
raramente partilhavam do mesmo entusiasmo. Nos últimos quinze anos, o uso do
smartphone permite que alguém possa passar o dia todo falando do seu assunto
favorito com amigos, ídolos e desconhecidos – e, nisso, até as horas de sono
são prejudicadas.
Os algoritmos que
direcionam informação, lazer e interação são os principais atores nessa
situação. Um algoritmo é um modelo matemático, implementado por meio de códigos
de programação, que se alimenta de dados sobre o comportamento passado do
usuário para tentar prever e incentivar o que ele fará em seguida. As empresas
de redes sociais coletam toneladas de dados sobre características e
preferências de cada usuário visando prever melhor quais conteúdos mostrar para
mantê-lo colado na tela por mais tempo, mostrando assim mais anúncios e
aumentando suas receitas. Daí, o sucesso das plataformas depende da captura permanente
da atenção das pessoas. “Os usuários estão, ao mesmo tempo, sendo usados”,
escreve Justin E.H.Smith, autor de The Internet is Not What You Think it Is:
A History, a Philosophy, a Warning (A internet não é o que você pensa que
é: uma história, uma filosofia, um alerta, em tradução livre).
Na pandemia, quando
até as atividades mais básicas migraram para o celular, a apelação para caçar
cliques dominou as redes, com variações em torno de temas altamente
polarizantes, de política a comportamento. Nas plataformas de streaming, a
mesmice tomou conta. Além de todas as continuações de franquias de
super-heróis, há filmes feitos para o que o algoritmo calculou ser o gosto
médio do público, baseado no histórico de consumo de cada usuário. Na Netflix,
eles muitas vezes são estrelados por Adam Sandler e sempre parece que você já
viu o longa antes, de tanto que os roteiros se alimentam do que já deu certo
antes.
O jornalista
norte-americano Kyle Chayka, autor de Filterworld – how algorithms flattened
culture (Mundo com filtro – como os algoritmos achataram a cultura, em
tradução livre), lançado em 16 de janeiro nos Estados Unidos, avalia que esse
avanço dos algoritmos sobre o reino da criatividade deixou tudo mais chato – e
achatado. Ele empurra a cultura em duas direções só aparentemente diferentes –
com uma mão estimula a mesmice, com a outra, as bolhas; as duas atraem
engajamento, tempo gasto e compras online.
No X, o antigo
Twitter, o bilionário mimado Elon Musk adotou uma série de critérios de
visibilidade, especialmente paga, que aprofundam a cada dia a percepção de que
o que vale lá é a gritaria. Esse processo de deterioração da utilidade das
plataformas em busca de lucro é chamado de “enshittification”, ou
“bostificação”, pelo jornalista e escritor canadense Cory Doctorow.
Se você colocou
entre suas resoluções para 2024 a redução do tempo que passa no celular e nas
redes sociais, pode ter tido problemas para imaginar por onde começar. Sua
ideia tem mais chance de dar certo agora no início do ano, quando noves fora
alguma operação policial em Angra dos Reis (RJ), o noticiário político está um
pouco morno, os assuntos das redes sociais giram em torno de tretas entre
celebridades e, em alguns casos, você talvez possa pensar em passar uns dias
fora de casa antes que a quarta-feira de cinzas traga a correria de volta.
Para ajudar quem
deseja não estar mais tão alerta ao telefone, a piauí reuniu dicas
elaboradas em diversos livros publicados nos últimos anos sobre como enfrentar
os vícios comportamentais associados à tecnologia. Boa parte delas é dada por
engenheiros e designers que já trabalharam nas próprias plataformas que nos
viciam.
É difícil
fugir do smartphone porque ele de fato é útil. Já passou o tempo em que era
mais fácil concordar com Umberto Eco, que via o celular como útil apenas para
bombeiros, médicos, líderes mundiais com acesso à bomba atômica e adúlteros.
Hoje, da divisão do trabalho ao joguinho para passar o tempo, tudo está na
tela. E, com o crescimento do comércio eletrônico, ele também permite gastar
dinheiro até nos horários em que ninguém sairia à rua atrás de uma nova
geladeira.
O jornalista e
escritor escocês Johann Hari identificou a redução da capacidade coletiva de
concentração como um dos grandes problemas da atualidade. Segundo os especialistas
que ele entrevistou no livro Foco Roubado: os Ladrões de Atenção da Vida
Moderna, o uso do smartphone e das redes sociais fragmentou e acelerou a
circulação de informações que se processa a cada dia. E grande parte disso é de
baixa relevância ou de interesse perecível. Isso facilita um ambiente de
confusão.
Se as cinco horas
diárias no celular fossem ininterruptas, ele distrairia menos do que nas
dezenas de pequenos momentos que desviam a atenção de qualquer um. Essas
interrupções são estimuladas pelos alertas disparados por qualquer aplicativo,
seja de trabalho, conversa, comércio ou jogo. Voltar a prestar atenção no que
se estava fazendo antes de ser interrompido é o que mais toma tempo todo dia,
diz Cal Newport, autor de Trabalho Focado: Como ter Sucesso em um Mundo Distraído. Fora do escritório, ele sugere deixar o aparelho para carregar à noite
longe dos olhos e das mãos, especialmente na hora de dormir.
Para recobrar ao
menos parte dessas horas e dar melhor uso a elas, seria preciso antes de mais
nada ter uma ideia do quanto se usa o aparelho e os aplicativos.
Em alguns ambientes
de trabalho, é impossível ter uma conversa de cinco minutos ininterruptos sem
que ela seja quebrada algumas vezes por um alerta de celular. Às vezes essas
notificações até são pertinentes, mas dificilmente urgentes a ponto de precisar
interromper alguém.
Elas são
componentes das técnicas de “nudge” (cutucada), conceito proposto em 2009 pelos
economistas Cass Sunstein e Richard Thaler. No design de produtos e serviços,
embute-se elementos que direcionam os usuários às ações desejadas. Os autores
citavam objetivos nobres como estimular crianças a comer merendas saudáveis ao
colocar frutas mais à vista do que chocolates nas cantinas. Mas isso
rapidamente foi adaptado para maximizar a atenção dedicada pelos usuários a
sites de conteúdo.
Jake Knapp e John
Zeratsky, autores de Faça Tempo: 4 Passos para Definir suas Prioridades e
Não Adiar Mais Nada, conhecem bem esse ambiente. Já foram designers no
Google, projetando aspectos do Gmail e do YouTube. Segundo eles, reagir
imediatamente a qualquer demanda pela sua atenção é subordinar as suas próprias
prioridades às alheias.
Só que o cérebro
humano não foi feito para dar conta de tudo o que se tenta processar hoje em
dia. O pesquisador dinamarquês Sune Lehmann demonstrou que a cada ano tem se
aumentado a sobrecarga cognitiva das pessoas. “Parece que a atenção alocada em
nossas mentes tem um certo tamanho, mas os itens culturais que disputam essa
atenção se tornaram mais densamente agrupados”, escreveu. Segundo ele,
estaríamos chegando rapidamente ao limite da capacidade de cada um dar conta de
processar tantas informações. As principais hashtags do Twitter, segundo o
estudo, perderam mais de cinco horas de permanência nos trending topics, em
média, entre 2013 e 2016.
Para David Strayer,
professor de psicologia da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, ouvido por
Hari, o telefone distrai motoristas tanto quanto a bebida alcoólica, e ser
interrompido por notificações no trabalho atrapalha a concentração o dobro do
que ocorreria se a pessoa tivesse acabado de fumar maconha.
Uma pequena maneira
de reduzir as demandas pela sua atenção, portanto, é ser mais seletivo com as
notificações que você aceita em seu aparelho.
O ator, escritor e
apresentador Gregorio Duvivier anunciou em sua conta do Instagram, em novembro
de 2023, que abandonaria o X.
“Percebi (mais
tarde do que deveria) que aquela rede não estava trazendo nada de bom pra
ninguém (a não ser, talvez, pros acionistas)”, escreveu. “Não interessa ao
algoritmo nada que te tire da rede, ou seja: livro, filme, peça. Aquilo é um
ringue para se bater e apanhar, e nessa porradaria gerar lucro para poucos e
perder seu precioso tempo. Sua energia vital. Sua atenção.”
Se antes era
possível pensar em termos de “a notícia me encontra se for importante”, hoje
não dá mais. Ela só o encontrará nas redes sociais se for escandalosa,
polarizante, porque o algoritmo valoriza o que mais engaja. Novos assuntos e
personagens ganham altíssima importância muito mais rápido – e perdem no mesmo
ritmo. Já tentou lembrar todo mundo com quem você manifestou indignação na
semana passada?
Uma dieta de
informação balanceada depende de mais atenção à procedência do que se lê ou
assiste. Nas redes sociais, tudo tem a mesma aparência – seja uma reportagem
apurada por meses ou uma notinha que repercute uma treta; seja uma publicação
profissional, ou um site que vive de plagiar conteúdo alheio. No último
trimestre de 2023, para piorar, Elon Musk alterou o X para mostrar apenas a
imagem de links postados, piorando a identificação das fontes.
Por enquanto, a
maioria da mesmice ainda é produzida ou chupinhada por seres humanos, que têm
restrições de capacidade de escoar textos e imagens. Mas não falta praticamente
nada para que aplicações de IA (inteligência artificial) gerativa passem a
despejar uma quantidade ainda mais insana de textos, imagens e vídeos de baixa
qualidade nos feeds de redes sociais, visando apenas o clique fácil e engajado.
Em dezembro, a Amazon já precisou limitar a quantidade de livros digitais que
uma mesma pessoa poderia subir para o Kindle por dia, pois já existem malandros
criando obras inteiras de baixa qualidade via ChatGPT para vender baratinho em
edição digital. Por isso, vale a pena pensar em filtrar melhor de onde vem a
informação que se consome.
“O jogo não é
propriamente um vício: é o hábito que a gente adquire de perder”, escreveu o
cronista Leon Eliachar (1922-1987). Segundo o estudo “State of Mobile”, alguns
dos aplicativos de celular que mais cresceram no Brasil nos últimos dois anos
são os de apostas, que mesmo antes de terem sua regulamentação aprovada no
Congresso figuravam entre os maiores anunciantes da mídia brasileira.
Esses apps não
tinham nem de longe a receita daqueles coloridos e cheios de sons viciantes
especialmente para crianças e adolescentes. Você pode até argumentar que é algo
para relaxar, para desligar a cabeça depois de um dia cansativo. Mas a
psicóloga norte-americana Gloria Mark, autora do livro Attention Span: a
Groundbreaking Way to Restore Balance, Happiness and Productivity (Limiar
de Atenção: um jeito revolucionário de resgatar equilíbrio, felicidade e
produtividade, em tradução livre), discorda: atividades com tela consomem uma
fatia considerável da capacidade de atenção que você recarrega todo dia ao
dormir.
Tristan Harris, que
já trabalhou como eticista no Google, afirma que as redes sociais utilizam
técnicas semelhantes às dos caça-níqueis para capturar a atenção dos usuários.
Uma delas é arquitetar o mecanismo para facilitar que o jogo não acabe nunca.
Nas redes, o mecanismo que faz isso é a rolagem de tela infinita, criada há
cerca de dezoito anos por Aza Raskin, sócio de Harris no Centre for Humane
Technology (Centro para Tecnologia Humana), entidade sem fins lucrativos que
procura educar os usuários de tecnologia sobre seus efeitos adversos.
O problema é que a
lógica “gamificada” já se espalhou por todas as áreas da internet – e, assim
como nos cassinos tradicionais, quem ganha sempre é a casa. Já reparou como até
pra comprar remédio em farmácia você ganha pontos e recebe a proposta de
“cumprir missões”, sempre em aplicativos coloridos?
Redes sociais têm
todos os ingredientes de uma experiência viciante, segundo o psicólogo
australiano Adam Alter, autor de Irresistível: Por que você é viciado em
tecnologia e como lidar com ela. Elas oferecem metas que os seus usuários
podem seguir (chegar a um número alto de curtidas, por exemplo), dão feedback a
quem se mantém ligado, por meio de recompensas variáveis (postagens mais ou
menos engajantes, você nunca sabe o que vem a seguir) e alimentam a ilusão de
progresso, quando se obtém números crescentes de seguidores. Existem
“cliffhangers” como em séries, os famosos “ganchos”, porque dependendo do
assunto há um suspense sobre como ele vai se desenvolver. E, obviamente, elas
promovem uma certa interação social de baixa intensidade mas alta
frequência.
Entre os
aplicativos que mais enviam notificações que interrompem o usuário estão os de
mensagens instantâneas e de redes sociais. Por isso, vale pensar em desativar
no próprio telefone todos os avisos que eles possam querer enviar.
Nas redes sociais,
você pode selecionar quais alertas você aceita receber. Nos filtros avançados do X, antigo Twitter, dá para silenciar notificações de pessoas que você
provavelmente não conhece. Assim, se algum perfil apócrifo surgir para te
xingar, isso não aparecerá como algo que você precisa observar naquele
instante.
No Facebook, você
pode desativar notificações de alguns tipos de mensagens, como das publicações em que você já
comentou, ou de menções em lote, ou de grupos dos quais participa. Avalie caso
a caso o que faz mais sentido – ou experimente cancelar tudo de uma só vez,
reativando só o que fizer falta.
Dá para acionar o
mesmo recurso no Instagram e no LinkedIn.
No Whatsapp, você
pode desativar as notificações para novas mensagens, especialmente os sons. Se
a sua conta for convertida para Whatsapp Business, em que
você pode na prática atuar como uma empresa, você pode definir “horários de
funcionamento”, fora dos quais quem tentar lhe enviar uma mensagem recebe a
informação de que deveria voltar a te procurar no dia seguinte.
O smartphone
concentrou em si tarefas que demandavam inúmeros aparelhos, como ouvir música e
guardar os contatos das pessoas. Com as redes sociais, tornou-se a segunda tela
na sala de estar e no trabalho; hoje, pode-se considerar até que é a primeira.
Duas décadas atrás,
quem quisesse falar ao telefone e também ouvir música precisava carregar dois
aparelhos – o celular e um walkman, ou discman, ou talvez um iPod ou outro
tocador de MP3. Para consultar mapas, taxistas carregavam sob o banco um
volumoso guia da cidade e precisavam estacionar sempre que tivessem de
consultá-lo. Para quem precisasse acessar sua agenda ou atualizar planilhas
pela estrada, também havia assistentes digitais, os “PDAs”. Fotografar e fazer
vídeos dependia de carregar câmeras específicas; algumas cabiam no bolso. Há 23
anos, a Levi’s chegou a lançar uma calça cheia de bolsos discretos para
carregar todos os aparelhos.
Quem tem mais de 40
anos, como Johann Hari, cresceu nesse mundo. Quando foi pesquisar para seu
livro, ele se desconectou completamente e foi passar um tempo numa cidade
pequena. Sentiu um pouco de ansiedade no começo, mas fez as pazes com os
minutos de tédio. Descobriu que era justamente nesses momentos que surgiam
ótimas ideias. Quando se vive praticamente todas as horas que se passa acordado
apenas para trabalhar e consumir conteúdo, ouve-se pouco as próprias ideias,
percebeu. Só que, ao retomar a rotina, os hábitos digitais começaram a voltar
também.
Hari ouviu diversos
especialistas e concluiu que mudanças de atitude individuais ajudam, mas são
insuficientes. Não resolvem o problema maior: o foco da humanidade foi roubado
por um modelo de negócio. Esse modelo é o padrão atual, projetado pelos mais
capazes engenheiros do planeta para se tornar irresistível – e com a adoção
massiva da inteligência artificial pode se tornar ainda mais irresistível. Isso
é ruim, diz ele, porque apenas estando plenamente conscientes dos problemas que
nos cercam é que chegamos a soluções para eles. Distraídos, não sobra tempo
sequer para enxergá-los.
A piauí
tentou contato com Hari, mas recebeu resposta automática informando que ele
está até março de 2024 na região rural da Jamaica, longe do celular e do
laptop, checando seus e-mails apenas uma vez por semana. Sua assistente até
sabe como achá-lo no telefone fixo em caso de emergência, só que logo depois de
informar o e-mail dela, ele avisa: “mas vou te xingar por interromper minha
paz! 🥰”