Os Autonomistas diziam que: "O Acre é o amor ao Brasil, que se tornou expressão jurídica." Acho maravilhosa essa definição do Acre. É uma expressão poética muito verdadeira. Na minha tese de Mestrado, abordo, inicialmente, como o Acre se constituiu como Estado brasileiro, o único que lutou para ser brasileiro. Confiram o que escrevi.(MIF)
. Na
minha tese de Mestrado, buscamos contextualizar os diversos momentos da vida do
PT acreano, estabelecendo as conexões e expondo os principais acontecimentos
sócio – políticos e econômicos que aconteceram, a nível nacional e até
internacional, conforme sugere a teoria gramsciana:
“A
história de um partido não poderá deixar de ser a história de um determinado
grupo social. Mas este grupo não é isolado tem amigos, afins, adversários,
inimigos. Só do quadro complexo de todo o conjunto social e estatal (e
frequentemente com interferências internacionais) resultará a história de um
determinado partido. Assim, pode-se dizer que, escrever a história de um
partido significa exatamente escrever a historia geral de um país, de um ponto
de vista monográfico, destacando um seu aspecto característico.” (GRAMSCI, 1989:24)
E escrevi no primeiro capítulo, que trata, em linhas
gerais, como se deu a ocupação do Acre e sua anexação ao Brasil, que se
consumou com o Tratado de Petrópolis, assinado no dia de hoje em 1903.
CAPITULO
I FULGE UM ASTRO NA NOSSA BANDEIRA1
Ate o
inicio do século XX, o Acre não existia enquanto região sócio-política.
Ele era apenas um afluente do rio Purus que os Apurinãs denominavam
de Aquiri.2
No
dialeto desses nossos ancestrais, Aquiri significava "rio dos jacarés".
Os desbravadores nordestinos, que começaram a povoar a região a partir de
meados do século XIX, chamavam-no de "rio campeão das mortes". No
dizer de SOUZA (1995), "era um triângulo de moléstias
tropicais e rios tortuosos encravado entre a Bolívia, Peru e o Brasil.
Enfim, um lugar que nenhum cristão procuraria para juntar seus trapos". (SOUZA,
1995:15)
"Toda
aquela imensa área geográfica, banhada pelos altos rios da Amazônia,
aparecia nas cartas bolivianas como 'tierras non descubiertas'" (CALIXTO,
1993:6). Com a exploração da borracha pelos brasileiros, oriundos do
Nordeste, essas terras passariam a ser chamada pelos bolivianos "region de
gomales" e posteriormente "território de Colônias". Era o Acre,
denominação
1 "Fulge um astro na nossa bandeira / Que foi tinto com sangue de
heróis / Adoremos na estrela altaneira
/ O mais belo e o melhor dos faróis" (Estribilho do Hino Acreano composto em 1903, em plena "Revolução Acreana" por Francisco Mangabeira, medico da Cruz Vermelha).
/ O mais belo e o melhor dos faróis" (Estribilho do Hino Acreano composto em 1903, em plena "Revolução Acreana" por Francisco Mangabeira, medico da Cruz Vermelha).
2 Cf. Jose
Moreira Brandão Castelo Branco "O nome que os exploradores brasileiros
encontraram provinha do dialeto Apurinã", falado
pelos índios que habitavam a região em que desembocava esse rio, nome este que foi se transformando ou corrompendo [...] de Uwakuru,
Aquiry, Aqri, Akre, Acri, até chegar a Acre". In
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Departamento de Imprensa
Nacional, Rio de Janeiro, 1950. Volume 196
(1947), p. 127 Apud CALIXTO, Valdir de Oliveira -
"Aquiri (1898-1909): Os Patrões e a Construção da Ordem". Tese de Doutorado, defendida na USP, sob orientação do Professor Dr. Ulysses Telles G. Neto. USP, 1993, p.78.
"Aquiri (1898-1909): Os Patrões e a Construção da Ordem". Tese de Doutorado, defendida na USP, sob orientação do Professor Dr. Ulysses Telles G. Neto. USP, 1993, p.78.
A
versão "folhetinesca" sobre a origem do nome "Acre" também
esta registrada em SOUZA (1995): "Os
Apurinãs chamavam aquele rio de Aquiri. O cearense (no caso o desbravador João
Gabriel Carvalho e Melo), pouco afeito a arte da
caligrafia, rabiscou este nome no envelope, remetendo-o ao Visconde de Santo Elias pedindo algumas mercadorias, que o Visconde
depois de muito trabalho, decifrou como ACRE. O Visconde começava a
fazer um bom negocio sem saber que batizara também um território". (SOUZA, Marcio - Galvez Imperador do Acre
(Folhetim) 17* Edifício. São Paulo: Marco Zero, 1995,
p. 15).
brasileira, se afirmando
enquanto região sócio-econômica e se constituindo num espaço de disputa no campo
diplomático e militar.³
Com
efeito, essa era uma área que, desde 1877, já estava não só descoberta,
mas povoada e explorada por milhares de nordestinos que para ela afluíram em
busca do "ouro negro" - a borracha - produto que, juntamente com o café,
representavam 84% das exportações brasileiras em 1895. (CALIXTO, 1993:139).
A
demanda por essa matéria-prima no mercado internacional vinha tendo um enorme
crescimento desde que Thomás Hancock, na Inglaterra e Charles Goodyear,
nos Estados Unidos, no mesmo ano de 1844, descobriram o processo de
vulcanizacão.4 Quando John Boyd Dunlop patenteou o pneumático em
1888, que "logo seria adaptado aos primeiros veículos auto-motores ao
final dos anos 90" (CALIXTO, 1993:44), o preço da borracha dispara no
mercado. "As duas primeiras décadas do século XX acompanhariam
a alta nos preços da goma elástica" (CALIXTO,
1993:75).
O
Acre, desde então, passou a ser uma "região geograficamente pouco
conhecida, mas economicamente ambicionada" (CALIXTO, 1993:46).
"Assim, entre 1899, ano em que, oficialmente, o Governo Supremo Boliviano decide
estabelecer a sua ordem na região de los gomales, e 1902, término do quatriênio
Campos Sales, toda a população do Aquiri passaria por momentos de grande
tensão e expectativa" (CALIXTO, 1993:159).
Em
que pese a crescente importância econômica da região acreana e as sucessivas investidas bolivianas para assegurar,
de fato e de direito, o domínio
3 "O
direito boliviano sobre as terras do Acre já estava reconhecido desde 1867,
pelo Tratado de Ayacucho. Mas o art. 2° do Tratado também
estabelecia aos brasileiros o uti possidetis. A fronteira não estava ainda determinada e somente em 1895 os dois governos iniciariam
negociações neste sentido. O Acre já estava
praticamente ocupado por cearenses desde 1877". (SOUZA, Marcio. Op. Cit.,
pp.28-29).
4 "Processo
químico que, por intermédio do enxofre, era capaz de tornar a borracha
insensível ao calor e ao frio, adquirindo maior consistência".
(TOCANTINS, Leandro - Estado do Acre: Geografia. Historia e Sociedade. (Cole?3o Redescobrimento do Brasil, vol.2, Philobiblion,
Governo do Estado do Acre, 1984, p.39).
no "Aquiri"5, a elite
dirigente da República, recém-promulgada, dava pouca importância
ao que estava acontecendo nesses confins da Amazônia. A nova ordem oligárquica
brasileira6 que construía a sua hegemonia em torno do Partido
Republicano Paulista, "ficou indiferente à questão do território
acreano habitado há duas décadas (1878-1898)
por brasileiros, que deste mesmo território, enviavam toneladas de borracha para exportação nos portos de Belém e Manaus". (CALIXTO, 1993:155)
Para
se ter uma idéia, mais ou menos aproximada, de como a República
oligárquica tratava a questão dos limites territoriais e dos brasileiros que
ocuparam essa região, basta lembrar que, em 1898, o Ministro das Relações Exteriores
do Brasil, Dionísio Cerqueira, declarava ser o Acre "incontestavelmente
boliviano". Diria ainda o ministro "com visível irritação":
“que
tais questões- as dos altos rios Acre, Junta, Purus, Iaco e Javari não deveriam embaraçar a marcha da Republica,
que precisava seguir seu caminho, sem ter que se incomodar com tais estrepes.” (CALIXTO,
1993:156)
Pois
enquanto a Republica seguia seu caminho, refestelada na política
do "café com leite" e não dando a mínima atenção para o Acre e para
os brasileiros que ali viviam, a Bolívia instalava a "sua ordem"
na região, estabelecendo
uma Delegação Nacional e uma Alfândega em Puerto Alonso, hoje Porto Acre.7
A
partir de então, começa todo um processo de resistência a nova ordem boliviana que
se instalava na região, estimulada,
inclusive, pelas
5 "Em 1894
o então Major-General Don Jose Manuel Pando [...] alertava o Governo de seu
pais para a importância verdadeira dos territórios
bolivianos ocupados por industriais brasileiros". (CALIXTO, Valdir de Oliveira. Op. Cit., p. 135)
6 SAES (1985),
refere-se a política do período da Republica Velha como "oligárquica"
ou "elitista", relacionando o fenômeno ao
"coronelismo", que subordinava a massa dos trabalhadores rurais [...]
e a uma estrutura política que reduzia as oposições
a dissidências no interior das classes dominantes".
(SAES, Decio. A Formação do Estado Burguês no Brasil (1888-1891). Rio de Janeiro: Paz e Terra,1985, p.353)
(SAES, Decio. A Formação do Estado Burguês no Brasil (1888-1891). Rio de Janeiro: Paz e Terra,1985, p.353)
7 "O
Ministro Plenipotenciário Jose Paravicini foi ao rio Acre, onde fundou o
povoado de Puerto Alonso, e lá estabeleceu a alfândega, a 3 de Janeiro
de 1899. [...] Dom Jose Paravicini baixou decretos de regulamentação de Justiça, de terra, de navegac3o". (TOCANTINS,
Leandro. Op. Cit., p.43)
oligarquias do Amazonas e do Pará que, ao
contrário das elites dirigentes nacionais, demonstravam grande interesse pela
região e não ficaram apáticas ao quadro géo-político que começava a se configurar com a hegemonia
boliviana.
A
questão acreana, em que pese se constituir num estorvo, um "estrepe" para a
República, como classificou o Ministro, estava na "ordem do dia" (para usar uma linguagem militar que, a partir de
então, iria substituir e superar o campo
diplomático). E nesse período que um "Manifesto Monarquista" convoca os "brasileiros as armas" e faz uma referenda
ao Acre: (...) O nosso exercito que triunfou no Humaitá, que se cobriu de glorias, com tantas batalhas, na
defesa da pátria, já não pode impedir
que a Bolívia nos tire o Acre, desintegrando o Território Nacional. "Neste
Manifesto, há de se destacar a surpreendente referenda, expressa em tom
solidário, aqueles que, naquele momento, nos confins dos altos rios amazônicos, aprontavam-se para o confronto armado com as
forças bolivianos, num claro desafio as determinações emanadas do governo
federal" (CAL1XTO,
1993:44-45).
A
insurgência contra a orientação republicana iria se tornar mais aguda
a partir do momento em que a Bolívia, abrindo mão de parte de sua soberania,
decidia compartilhá-la com uma Companhia de Carta (Chatered Company)8,
integrada, principalmente, por representantes do capital financeiro
norte-americano - o Bolivian Syndicate.9
Tal
acordo foi considerado "extremamente nocivo aos interesses nacionais"
ou, melhor dizendo, aos interesses das oligarquias Amazonenses e
8 "O processo das Companhias
de Carta vinha de longe. Desde o século XVI e XVII. Assim chamadas porque o rei, através de uma carta, estabelecia direitos e obrigações
recíprocas entre si e o protetorado com o qual assinava compromisso".
(TOCANTINS, Leandro. Op. Cit, p.47)
9 "O
artigo 1° da Lei criadora do Bolivian Syndicate dizia: "O Sindicato, com
sede na cidade de Nova York ficava com a administração"o fiscal
do Território do Acre, podendo assim, cobrar toda a espécie de impostos,
direitos alfandegários, usufruir rendas da terra, de conformidade com as leis
bolivianas".
No
artigo 12° constava: "Em caso de necessidade, a juízo do Governo
boliviano, o Sindicato podia equipar e manter uma forca armada de navios de
guerra, para a defesa dos rios ou a conservação da ordem interna, ou outros objetivos, em adição a forca de policia".
(CALIXTO, Valdir de Oliveira. Op. Cit., pp.
185-186-187)
Paraenses, conforme
denunciou Luiz Galvez Rodrigues de Alias, então repórter do jornal Província do
Pará.10
Luiz
Galvez, que ficaria celebre como o principal personagem do "folhetim"
de Marcio Souza11, iria protagonizar a primeira reação ao domínio
boliviano no Aquiri. Não foi, simplesmente, uma aventura burlesca, como poderia
se depreender de uma leitura apressada do "folhetim" acima referido.
Galvez interpretou a "alta vontade revoltada"12 dos
patrões seringalistas do Acre e da oligarquia Amazonense, cujo representante
maior, o governador Ramalho Junior, não mediu esforços para a realização da
expedição de Galvez.
Leandro
Tocantins registra que a atuação de Galvez no Acre foi positiva e que ele "teve
a intuição certa de desempenhar o papel histórico”. O seu "comportamento
lúcido, sua aventura no Acre veio estimular a opinião pública nacional a fazer
movimento de solidariedade aos brasileiros do Acre". (TOCANTINS,
1984:45)
Galvez não instalou um
"império nos trópicos" nem se proclamou "Imperador do
Acre". Em 14 de julho de 1899, menos de dois meses depois do lançamento do
"Manifesto dos Patrões" ao delegado boliviano em Puerto Alonso, ele
proclama o Estado Independente do Acre, ocupa o cargo de presidente e instala
um governo provisório. O seu 1° Decreto transforma "Puerto Alonso" em
"Cidade do Acre"; cria um dos símbolos do Estado: a Bandeira13;
emite um selo postal; ordena a convocação de uma Constituinte onde propõe o
sistema presidencialista de governo, mas com eleições indiretas; e decreta,
ainda, a fundação de centros agrícolas e pastoris medindo 25 ha., objetivando a cultura
de plantas alimentícias.
10 "Havia suspeitas de um acordo recente
entre a Bolívia e os Estados Unidos, com o objetivo de assegurar o domínio boliviano no Acre. [...] Luiz Galvez escrevera
reportagem nos jornais A Província do Para (Belém) e no Comercio do Amazonas
(Manaus), em que denunciava o suposto acordo". (TOCANTINS, Leandro. Op.
Cit., p.44)
11 11 GALVEZ IMPERADOR DO ACRE" do escritor
amazonense Marcio de Souza.
1 2 Trecho de um Manifesto dos Patrões (seringalistas) ao
delegado boliviano, D. Moises Santivanez, intimando-o a abandonar "o
governo ilegal que vos achais exercendo atualmente neste território,
desbravado, habitado e hoje defendido
por milhares de brasileiros...". O Manifesto e datado de 04/05/1899.
(CALIXTO, Valdir de Oliveira, p.206
Apud CARVALHO, Jose. A Primeira Insurreição Acreana (Documentada). Typ. de Gillet
& Comp. Para, Belém, 1904,
p.27.
13 A bandeira
do Acre deveria conter "dois triângulos retângulos ligados pela
hipotenusa, o superior de cor verde e o inferior de cor amarela, tendo no vértice superior uma estrela vermelha
solitária". (Decreto n° 2 de 16/07/1898) "A atual bandeira do Estado
do Acre preservou a figuração de 1899, destacando, entretanto, a cor verde para
a parte inferior, enquanto que a
amarela passou para a parte superior" (CALIXTO, Valdir de Oliveira. Op.
Cit., pp.221-264).
Em síntese, Galvez "organiza
o ministério, remete comunicações em francês
aos países importantes do mundo, lança proclamações patrióticas, executa obras
publicas. Propõe organizar e manter o Acre dentro da boa fidelidade brasileira, mas independente, e, depois
entregá-lo ao Brasil". (TOCANTINS,
1984:45). Mas, ainda não seria dessa vez que o Brasil iria querer o Acre. O Presidente Campos Sales continuaria
considerando o Acre boliviano e ordenou uma expedição naval da Marinha
brasileira que, em 15 de março de 1900, extinguiu, sem maiores
resistências, a efêmera "Republica do Acre" instituída por Galvez.
Após
esse episódio, as escaramuças continuaram. Houve a expedição
Floriano Peixoto, também chamada "Expedição dos poetas", pois muitos
dos seus integrantes eram poetas, literatos e jornalistas, os quais não possuíam
a mínima noção das artes da guerra. Apesar do "entusiasmo e ardor bélico",
eles fracassaram nas operações militares. (TOCANTINS, 1994:46)
Seguiu-se, então, o
movimento dos patrões seringalistas, encabeçado por José Plácido de Castro14 que formou um "exército de
seringueiros", muitos dos quais
convocados compulsoriamente e por métodos poucos convencionais, que a historiografia regional batizaria por
"Revolução Acreana"15 Esse processo "revolucionário"
teve inicio em 6 de agosto de 1902, coincidentemente aniversário da independência da Bolívia, quando as tropas de
Plácido de Castro tomam
14 José Plácido de Castro era gaúcho de São Gabriel, foi um ex-oficial do
Exército que participou da "revolução Federalista do Rio Grande do
Sul" do lado da facção derrotada (Os Maragatos). Ele chegou na Amazônia em 1899, pois havia recusado a anistia
proposta pelo governo Prudente de Moraes aos militares federalistas
vencidos.
Maiores
detalhes sobre a figura de Plácido de Castro, consultar a obra de seu irmão
Genesco de Castro: Estado Independente do Acre e J. Plácido de
Castro - Exércitos históricos. Rio de Janeiro, Typografia São Benedito, 1930.
15 O termo "Revolução" e uma forca de expressão, que atende
mais ao senso comum e a tradições que a sua verdadeira
significação conceitual, qual seja, de uma ruptura radical na sociedade. Em que
pese o fato dos trabalhadores extrativistas haverem pegado em armas e lutado
por um espaço que já ocupavam, em que
pese ainda, as paginas de heroísmo que escreveram,o que houve, realmente, foi
um processo de lutas onde a
oligarquia agro-mineradora boliviana foi substituída pela oligarquia
agro-exportadora brasileira, sendo que
ambas eram subalternas, e ate subservientes ao capital financeiro internacional.
Xapuri
e depõem o Intendente boliviano, D. Juan de Dios Barrientos, e termina com a vitória e tomada de Puerto Alonso, sede da
Delegação Nacional Boliviana, em 24 de
Janeiro de 1903.
Com a vitória militar, seguem-se as tratativas
diplomáticas que resultam na assinatura do Tratado de
Petrópolis em 17 de novembro de 1903.16 O Acre, enfim, se tomava brasileiro. Uma conquista dos seringueiros
nordestinos que, a serviço de seus
patrões e de armas em punho, "empurraram a fronteira com a própria miséria..." (SOUZA, 1995:44), dando os contornos definitivos ao
mapa do Brasil.
Com a sua anexação ao Brasil, o Acre foi organizado em Território Federal,
uma instituição político-jurídica inédita na historia brasileira, ficando subordinado, política e administrativamente, ao governo
federal.17 Esta foi a primeira de
um série de desilusões e desentendimentos entre os chefes "revolucionários", que esperavam que o Acre
fosse constituído como Estado autônomo e
que eles pudessem influir, decisivamente, nos mecanismos de poder.
16 O Tratado de Petrópolis rezava que o Brasil
pagaria 2 milhões de libras esterlinas como indenização a Bolívia e 110 mil libras ao Bolivian
Syndicate. O Brasil doava, ainda, um pedaço de área do Mato Grosso, comprometendo-se também na construc5o
da estrada de ferro Madeira-Mamoré.
17 A Lei 1181 de 25/02/1904 organiza o Acre em Território Federal
dividindo-o em três
Departamentos autônomos:
Departamento do Alto Acre, com sede em Rio Branco; Departamento do Alto Juruá, com sede em Cruzeiro do Sul; e Departamento do
Alto Purus, com sede em
Sena Madureira.
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