Na verdade uma amerissagem no rio Acre em Rio Branco. Conheça um pouco da história por quem foi testemunha ocular:
Hidroavião
Taquary
"Era o dia 5 de maio de 1936 quando eu, nos
meus 8 anos e 7 meses, gritou olhando para o horizonte: “Lá vem ele” e o
hidroavião Junker-W-34, monomotor, apelidado de Taquary, amerissou “com dois
botes de alumínio pendentes de seu delgado corpo e com asas largas e compridas
no Estirão de Bagé” relata o Alma Acreana. Seu prefixo era PP-CAP. Larguei a
mão de meu irmão Hechem e fui pulando até a beira do rio Acre e, moleque danado
– que surripiava (para mim era pedir emprestada para aprender a remar) canoas
dos seringueiros que vinham entregar borracha para seu pai - pulou em cima do
bote, antes mesmo de um soldado amarrar o avião num toco de madeira afundado à
margem. A impressão com a qual fiquei e guardo sempre, além obviamente do
avião, é como era gigante o piloto alemão Frederico Hoepken e como minúsculo
era eu com meus poucos palmos de estatura; comparo-me hoje ao Petit Nicolas de
frente para os adultos que fizeram parte de sua vida em casa, na rua e na
escola". (José Farhart – Blog Alma Acreana)
Saiba mais sobre a história da aviação acreana.
"Os
mais antigos acreanos conhecem bem as histórias de Martiniano Prado,
interventor duro porém pitoresco que governou o Território Federal do Acre
entre 1935 e 1937, e da vinda do Taquary, primeiro avião a pousar no Acre nos
idos de 1936.
Porém
as mais novas gerações nada sabem destes longínquos assuntos. É preciso pois
motiva-las para conhecer sua própria história e utilizar personagens históricos
para nomear espaços públicos é um dos melhores instrumentos para tanto.
Existem
histórias deliciosas ocultas no único século de existência histórica do Acre.
Mais do que isso, existem histórias fundamentais para a formação da consciência
e da cidadania de seus indivíduos. Essa história que veremos a seguir, apesar
de sua aparência pitoresca, é uma delas.
Era
o ano de 1935. O Brasil passava por grandes mudanças após a primeira fase da
Revolução de 30. O governo Getulio Vargas assumiu então um caráter constitucional.
Era ainda um governo provisório enquanto se preparavam eleições gerais para
1938, porém a legalização do regime trouxe a maior participação dos tenentistas
no governo de Getulio. Isso representava, apesar do caráter burguês do
tenentismo, um grande avanço para a até então, oligárquica sociedade
brasileira.
A
região amazônica conheceu a atuação de Juarez Távora, um dos líderes do
movimento tenentista, cognominado como o “Imperador do Norte”, tal seu poder
sobre a região. Era um forte golpe sobre as camadas mais conservadoras da
sociedade desta área.
Para
o Território Federal do Acre, foi nomeado, logo ao início de 1935, Manoel
Martiniano Prado, irmão de Newton Prado um dos “Dezoito do Forte” que tombaram
na Praia de Copacabana quando ousaram desafiar a Republica Oligárquica em 1922.
O
Acre passava ainda por aquela longa crise econômica que se estendeu entre o
primeiro e o segundo ciclos da borracha. A população acreana havia se
acostumado com os governadores indicados pelo Governo Federal. Por isso a
nomeação de um novo interventor desconhecido não surpreendeu ninguém. Essa era
mesmo a costumeira pratica federal.
Mas
logo de saída todos perceberam que Martiniano Prado era diferente dos
anteriores. Ele tinha um certo caráter autoritário, mas também um forte
conteúdo populista em suas ações. Além disso morria de medo de coruja e outros
bichos de mau agouro que teimavam em cantar em torno de sua residência, o
Palácio Rio Branco. Como nos conta em saborosa crônica Mario Maia em seu “Rios
e Barrancos”.
Mas
o que marcou mesmo sua passagem pelo Governo do Território foi a firme decisão
de trazer o progresso da aviação para as terras acreanas. Ele tinha motivos
para isso. Acreditava então que através da aviação o Acre poderia superar sua
longa história de isolamento das principais cidades do país e mesmo de seus
próprios municípios. Estradas não havia, sua construção, uma empreitada sequer
aventada naqueles tempos de crise técnica e financeira. Os rios continuavam
sendo a única via de transporte acreana, única e morosa diga-se de passagem.
Pelo menos quinze dias para Manaus, de um a três meses para Cruzeiro do Sul ou
para o Rio de Janeiro. Condição impossível para encontrar uma alternativa de
progresso para o Acre, abatido pela prolongada crise da borracha.
Entretanto,
Martiniano Prado não possuía recursos suficientes para viabilizar sua principal
proposta de governo, precisou por isso jogar todo seu prestígio em uma
arriscada empreitada.
Convocou
toda a população de Rio Branco, para no dia 1o de maio, dia do
trabalhador bem ao gosto do trabalhismo que se inaugurava com Getúlio Vargas,
realizar uma marcha até o Aprendizado Agrícola e ali dar início à construção da
primeira pista de pouso acreana. Afinal de contas Martiniano Prado já havia
estabelecido contato com empresas aéreas interessadas em vir para essa região,
o que tornava o campo de pouso uma necessidade imediata.
Por
incrível que possa parecer, a população atendeu ao chamamento oficial. Talvez
empolgada pela possibilidade de ter o transporte aéreo, talvez pela simples
necessidade de buscar alternativas à crise que a todos massacrava. O certo é
que naquele 1o de maio de 1935, lá estavam centenas de pessoas
portando enxadas, machados, enxadecos, etc. E tendo o Interventor em pessoa à
frente de todos, marcharam rumo à grande empreitada popular de construir o tal
Campo de Aviação.
Foi
uma grande festa, com ares de pique-nique, dada a presença de famílias
inteiras. A área prevista para ser transformada em pista foi toda loteada e
cada lote de 20 X 20 metros foi designado para uma família ou um morador de Rio
Branco. Evidentemente um dia de trabalho não seria suficiente para preparar o
terreno para o pouso de aeronaves. Por isso os lotes continuaram sendo
trabalhados na medida das possibilidades ou da vontade dos habitantes de Rio
Branco. Enquanto isso o Interventor fazia questão de acompanhar o andamento dos
trabalhos utilizando o jornal “O ACRE”. Todas as semanas era publicado nesse
jornal os lotes que estavam sendo concluídos, louvando-se os responsáveis por
isso. Da mesma forma como eram revelados os nomes dos que abandonaram seus
lotes e não mereciam mais do que a execração pública. Neste último caso, de
abandono dos lotes, a questão era solucionada passando os respectivos lotes para
a FPTA (Força Policial do Território do Acre) que se encarregava de sua
conclusão.
Desse
modo o trabalho se estendeu mais do que o previsto e nada do Campo de aviação
ficar pronto. Porém Martiniano Prado não se deu por vencido e manteve suas
negociações com as empresas aéreas interessadas em voar para o Acre.
Logo
configurou-se uma verdadeira disputa internacional entre as empresas aéreas
pretendentes a vir pela primeira vez ao Acre. De um lado a norte-americana
Panair que buscava consolidar a influencia política e econômica americana
frente aos países da América Latina. De outro o Sindicat Kondor, empresa alemã
criada nos anos de ascensão do nazismo para se infiltrar na América Latina e
enfraquecer a posição Norte-americana. Hoje sabemos que poucos anos mais tarde
Estados Unidos e Alemanha estariam lutando na Segunda Grande Guerra Mundial,
para os acreanos em geral nos meados dos 30 tudo não passava de uma divertida
corrida pelo, acreditem, céus do Acre.
Martiniano
Prado incansável em seus objetivos não cessava suas tratativas com o Ministério
da Aeronáutica e com empresários de ambas as companhias aéreas, no sentido de
viabilizar o mais rápido possível a vinda de aviões para o Acre.
Foram
longos dias de espera e notícias, ora animadoras, ora desestimulantes. Tantas
vezes foi anunciada a vinda do avião que o povo se cansou de olhar pra cima,
confundir urubu ao longe com avião, ouvir barulho de motores onde nada havia.
Até que, em meados de 1936, o grande dia finalmente chegou.
Diante
de todo o povo reunido no estirão do rio Acre, defronte do aprendizado
agrícola, próximo ao local onde estava sendo construído o campo de pouso,
pousou triunfante um pássaro de metal chamado Taquary. Esse Focker batizado com
nome indígena, pertencia ao Sindicat Kondor e era pilotado por um legitimo
alemão que soube cativar a população acreana, chamado Frederic Hopken. Era a
vitória alemã sobre o poderoso Estados Unidos da América.
Mas
para a população que estava às margens do rio Acre, isso era de somenos
importância. Era ora de festa, o avião havia chegado ao Acre. Era o progresso
nas asas do Taquary.
Porém,
a história não termina aí. Pelo contrário, se o Sindicat Kondor chegou
primeiro, a Panair fez questão de ser a primeira a estabelecer uma linha aérea
fixa, quinzenal, ligando o Acre ao resto do país, também utilizando-se de
hidroaviões que aquatizavam ao invés de aterrizar. Além do que os aviões
Taquary e Tietê continuaram a vir esporadicamente ao Acre, o que era sempre
motivo para renovadas festas, algumas até muito curiosas, como aquela onde
tremulou a bandeira nazista, em homenagem ao pioneiro e já querido Frederic
Hopken.
Não
satisfeito com o que havia obtido, Martiniano Prado ainda teve o cuidado de
mandar um acreano para o Rio de Janeiro, onde seria treinado como piloto João
Donato Filho, o primeiro acreano a ser sagrado piloto.
Ao
final de 1937, o Ministro da Justiça que havia nomeado Martiniano Prado para a
Interventoria do Acre foi demitido e este, em solidariedade ao seu amigo,
também se despediu do Acre, encerrando seu curto, porém movimentado, governo em
terras acreanas.
Quanto
ao “Nosso Primeiro Campo de Aviação” (como era carinhosamente tratado nas
páginas do jornal “O ACRE”), só ficou pronto durante o longo e duro governo do
Interventor Assis de Vasconcelos que sucedeu a Martiniano Prado.
Foi
nesse campo de pouso, agora batizado de “Santos Dumont”, que progrediu a
aviação no Acre, pelo estabelecimento de linhas aéreas da Panair, do Correio
Aéreo Nacional (CAN) e da Cruzeiro do Sul (a mesma Sindicat Kondor depois de
nacionalizada)
E
foi esse mesmo Campo de Aviação que, na segunda metade década de 40, depois de
recuperado por Guiomard Santos, foi ampliado e recebeu a construção da “Estação
de Passageiros Salgado Filho”, lembrado até hoje como o primeiro aeroporto acreano,
ou como o “Aeroporto Velho”.
Ou
seja, todo o desenvolvimento posterior da aviação no Acre esteve marcado por
aqueles tempos pioneiros inaugurados por Martiniano Prado. História ainda mais
significativa porque foi marcada por grande envolvimento popular, já que o
“Nosso primeiro Campo de Aviação” foi construído à custa do esforço pessoal e
quase espontâneo da sociedade acreana. Dar o nome de Martiniano Prado ao novo
aeroporto seria, nada mais nada menos, do que simples e justo reconhecimento à
história acreana.
No
dia 17 de novembro, Mario Maia, publicou um artigo no jornal A GAZETA, onde
emitiu a mesma opinião de que o aeroporto deveria ser chamado de Martiniano
Prado. Aliás, nem poderia ser diferente diante do conteúdo de seu livro que
possui vários capítulos sobre essa e outras histórias da aviação no Acre.
Portanto, se poderia evocar esta manifestação de antigos acreanos para
transformar a polêmica em mais um gesto de respeito do Governo em relação à sua
história
CRONOLOGIA DA AVIAÇÃO NO ACRE E AS HOMENAGENS AOS AVIADORES PIONEIROS.
01 DE MAIO DE 1935
O Interventor Federal Martiniano Prado
convoca a população de Rio Branco para construir o primeiro campo de aviação da
cidade em mutirão. Esta atitude repercute em vários pontos do pais.
24 DE MAIO DE 1935
Sorteio de lotes de 20 X 20 metros do
campo de aviação para serviço de destocamento e terraplenagem entre a
população.
09 DE JUNHO DE 1935
É inaugurada uma coluna no Jornal O ACRE
que tem como titulo "O NOSSO PRIMEIRO CAMPO DE AVIAÇÃO" que divulga o
andamento dos trabalhos nos lotes do campo de aviação.
05 DE JANEIRO DE 1936
Fenellon Muller anuncia o interesse da
Syndicato Condor, empresa aérea de origem alemã, em mandar um hidro-avião ao
Acre.
Estava ocorrendo uma disputa entre a
Condor e a Panair e o Interventor aproveitou isso.
05 DE MAIO DE 1936
Chega a Rio Branco, as 13 horas, o
hidro-avião Taquary, (fabricação alemã, << Junkers w 34 >>, monomotores, com a potencia de
635 H. P.) que aquatiza no estirão Bagé, pilotado por Frederico Hoepken que
antes de partir ganha duas bandeiras de presente uma brasileira e uma nazista.
04 DE OUTUBRO DE 1936
Martiniano Prado manda João Donato Filho
para se formar piloto no Rio de Janeiro.
15 DE DEZEMBRO DE 1936
Chega o hidro-avião Tiete, também da Sindicato
Condor. Na partida o Tiete leva o Interventor Martiniano Prado.
19 DE JANEIRO DE 1937
Tiete traz Martiniano Prado (já
apelidado de "O Bandeirante do Ar") que diz que o próprio Getulio
Vargas prometeu vir ao Acre. O filme do pouso do Taquary é passado na praça.
10 DE MARÇO DE 1937
Chega um hidro-avião da Panair, que
dessa vez pousa no estirão da cidade. Anuncia o estabelecimento de linha
regular semanal Manaus / Rio Branco.
03 DE JULHO DE 1937
O Governador Epaminondas de Oliveira
Martins anuncia o término do "Nosso Primeiro Campo de Aviação", com
direito a banquete e orquestra.
09 DE SETEMBRO DE 1937
Inauguração do Campo Santos Dumont e
pouso de aeronave da Panair.
30 DE SETEMBRO DE 1948
Término da construção da Estação de
Passageiros Salgado Filho.
23 DE MARÇO DE 1950
Inaugurada Estação de Passageiros
Salgado Filho. Baile oferecido à sociedade acreana pelo comando e oficialidade
da Guarda Territorial e que se realizou no espaçoso hall da Estação de
Passageiros
PERIÓDICO:O Acre - Orgão Official.
DATA: Anno 7 - Domingo, 21 de Abril de
1935 / N. 273.
LOCAL: Rio Branco Acre.
Pág. 1 Col. 1
O NOVO INTERVENTOR FEDERAL DO ACRE.
A Chegada de s.excia. a esta capital -
Num ambiente de sincera synpathia o novo gestor dos públicos negocios acreanos
assume o exercicio de suas elevadas funções - A
oração preferida por s.excia. - Referencias de um jornal carioca sobre a
personalidade do novo Interventor - Os primeiros actos da nova administração.
Consoantes estava esperado chegou as
manhã de 14 do corrente a esta capital, a bordo da chata Nictheroy. o novo Interventor Federal
no Território, exmo.sr.dr. Manoel Martiniano Prado, nomeado para esse
importante cargo por acto de 11 de fevereiro último, do exmo.sr. Presidente da
República...
...Descendente de duas das mais ilustres
familias paulistas, o sr. Manoel
Martiniano é neto do illustre engenheiro dr. Newton Bennaton, um dos principaes
engenheiros constructores da E.F. Central do Brasil, da antiga Minas e Rio e
das minas de Ouro Preto, já falecido. Por outro lado é da estirpe gloriosa da
grande familia de Esperidião Prado, no vizinho Estado Bandeirante. O sangue do
mais puro patriotismo lhe corre nas veias, pois é irmão de dois heróes
immortalizados na nossa história: Tenente Newton Bennaton Prado, um dos bravos
dos 18 do Forte de Copacabana, em 1922, e do capitão João Batista Bennaton
Prado, morto, heroicamente no Sector de Queluz, em 1932...
...O sr. Getulio Vargas não poderia ter
agido com maior acerto em escolhendo para êsse alto cargo de sacrificio, abnegação
e operosidade o sr. Manoel Martiniano Prado, nome de inteira confiança, que
dispensa maiores elogios...
PERIÓDICO: O ACRE - Semanario Official
do Governo do Territorio Federal do Acre
DATA: Anno 8º, Domingo, 10 de maio de
1936 - Nº 328
LOCAL: Rio Branco - Capital do
Território
Pag. 6 e 7 - Col. 1, 2, 3, 4, e 5
É UMA PALPITANTE REALIDADE A LINHA AÉREA
CORUMBÁ - ACRE
Concretiza-se um acalentado ideal
acreano com a chegada do hydro-avião "Taquary", da Syndicato Condor.
NOTICIARIO COMPLETO SOBRE ESSE MEMORAVEL
ACONTECIMENTO
HOMENAGEM
Até que afinal tornou-se uma explendida
realidade a aspiração dos habitantes deste Territorio, que sempre ardentemente
almejaram a sua ligação aérea com os grandes centros civilizados do paiz.
Após varios dias de espera, em que por
successivas vezes foi transferido por motivos varios, eis em fim realizado o
vôo victoroso do hidro-avião "Taquary" da Syndicato Condor, enchendo
de le- gitimo enthusiasmo a população desta capital e inscrevendo na historia
do Acre o nome dos seus arrojados e
competentes conductores.
Para esse estraordinario acontecimento
contribuiu decisivamente a energia moça e forte do Exmo. Sr. Dr. Manoel Martiniano Prado, preclaro
Interventor Federal, que, com a sua proverbial operosidade administrativa,
trabalhou intensamente junto às altas auctoridades da Republica e das
companhias de navegação aèrea, para a concretização desse anceio acreano.
Justo, portanto, se lhe consagre gratidão pelo grande beneficio, quiçà , um dos
maiores, conquistado graças ao seu esforço, patriotismo e amor por esta terra
que procura engrandecer, enveredando-a na senda larga do progresso.
Á S. Excia. o Sr. Dr. Manoel Martiniano
Prado, a nossa homenagem respeitosa, e effusivas congratulações pela execução
da promessa que solemnentemente assumiu perante os acreanos.
A CHEGADA
Terça-feira ultima, 5 do corrente, a
população riobranquense viveu instantes de um sentimento novo, mixto de
admiração e enthusiasmo, quando, cortando os ares virgens do céo acreano,
evoluia sobre a cidade o hydro-avião "TAQUARY" da Syndicato Condor,
que, em viagem de exploração e estudos para estabelecimento da navegação aérea
neste Território, chegava a esta Capital.
Momentos antes, ás 10 e 30 minutos, hora
local, a sereia da "Usina Central Electrica" e o espoucar de
foguetões, annunciavam a alviçareira nova da decollagem do "TAQUARY"
em Porto Velho, no visinho Estado do Amazonas, com destino ás paragens
acreanas.
O movimento da cidade era
indescriptivel; verdadeiro borborinho de uma multidão em azáfama, dominava o
ambiente. Não exaggeremos affirmando que cerca de duas mil pessoas enchiam as
ruas da nossa metropole demandando ao local escolhido para a aquatisagem do
apparelho.
Ás 13 horas, mais ou menos,
descortinava-se no horizonte o "TAQUARY" rumando em direcção á cidade
e depois ao estirão do "Bagé", onde airosamente aquatisou e veio
deslisando até o porto do Aprendizado Agricola.
O DESEMBARQUE
Após as manobras de atracação,
desembarcaram da garbosa aeronave os senhores Dr. Frederico Hoepken, technico e
engenheiro chefe da Companhia e da expedição, Guido Kleinat, pilto-mechanico e
Durval Barros, radiotelegraphista, que foram recebidos no porto pela comissão
composta dos senhores Raymundo Vieira de Sousa, director da educação e
representante do sr. Interventor Federal; Virgilio Esteves de Lima, prefeito
municipal, em comissão; Dr. Flávio Baptista, presidente da Ordem dos Advogados
no Acre; Dr. Achylles Peret, director do Aprendizado Agricola; Felippe Meninéa
Pereira, director da Impressa Official, em comissão; Nelson de Lemos Basto,
agente do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Maritimos; e capitão André
Anastacio de Queiróz, da Força Policial do Territorio.
Ao pisar em terra foram os bravos e
destemidos aviadores delirantemente acclamados pela grande massa de povo que
anciosamente os aguardava, e vivamente cumprimentados pelas auctoridades e
pessôas de destaque social que se achavam presentes, tendo, por essa occasião o
representante da Interventoria e o governador da cidade apresentando-lhes votos
de boas vindas com a affirmação de que passavam a ser hospedes da cidade.
Em seguida transportaram-se todos ao
Aprendizado Agricola onde demoraram cerca de uma hora enquanto, por gentileza
do director daquelle modelar estabelecimento, lhes foi servido um ligeiro
lunch.
A VIAGEM PARA A CIDADE
Acompanhados pelos membros da commissão
de recepção, auctoridades e algumas pessôas gradas, os illustres viajantes
tomaram a embarcação que os conduziu para a cidade. Durante o percurso vieram
trocando impressões sobre a viagem, dizendo da admiração que os dominou na
travessia da selva acreana quando, deixando
vale do Abunã navegaram mais de uma hora sobre um oceano verde-azulado
onde apenas divisavam, perdidas na sua vastidão, pequenas clareiras e grande
distancia uma das outras. Referiram-se ao facto de que, na carta geographica
que possuiam, acha-se assignalada uma serra no Estado de Matto grosso,
denominada Aguapehy com a altitude maxima de 800 a 900 metros, quando na
realidade constataram-se elevar-se a mais de 1.700 metros! Que durante toda a
viagem apenas avistaram uma única féra, uma onça nos campos, em Matto grosso,
fugindo amedrontada pelo ronco do apparelho em direcção a floresta densa.
Demonstraram tambem a satisfação que sentiam e de que se confessavam penhorados,
pela carinhosa acolhida e hospitalidade recebida em todos os pontos em que
escalaram. E nessa agradavel conversação chegaram ao ponto da cidade.
Desembarcados, dirigiram-se todos ao
"Palacio Rio Branco" onde os aguardava o Exmo. Sr. Tenente Coronel Manoel
Fontenelle de Castro, que responde pelo expediente da Interventoria Federal.
NO PALACIO RIO BRANCO
Acha-se S. Excia. o Sr. Tenente Coronel
Manoel Fontenelle de Castro, no salão de honra do "Palacio Rio
Branco", acompanhado dos senhores Desembarcador Limirio Celso, presidente
da Côrte de Apellação; Dr. Nembri de Britto, Juiz de Direito; Dr. Mario de
Oliveira, Procurador seccional da Republica; Dr. Uriel Salles de Araujo,
secretario da Côrte de Apellação; Manoel Quintino Bezerra de Araujo, secretario
geral do Governo, em comissão; Major Pedro de Vasconcellos Filho,
sub-commandante da F.P.T.A.; Alexandre dos Santos Leitão, chefe de policia, em
comissão; e muitas outras auctoridades que não nos foi possivel annotar, além
de grande número de senhoras e senhrinhas da nossa alta sociedade.
- Grande multidão acompanhava os
destemidos "azes" ao penetrarem no "Palacio Rio Branco"
onde foram recebidos pelo Exmo. Sr. Tenente-Coronel Manoel Fontenelle de Castro
que, sob calorosa salva de palmas, os saudou em nome do Exmo. Sr. Dr. Manoel
Martiniano Prado, conspicuo Interventor Federal, que se encontra em viagem para
esta capital, afim de reassumir as suas altas funcções.
Em seguida ás apresentações e
cumprimentos do estilo, usou da palavra, o sr. desembarcador Limirio Celso, que
em feliz improviso, saudou s illustres visitantes, dizendo ser a sua oração uma
saudação e um agradecimento. Saudação dirigida em nome do Governo do Acre aos
arrojados descobridores do caminho aéreo que traria ao Acre a força do
progresso e do engrandecimento; saudação pelo brilhante feito que acabavam de
realizar, aportando a este recanto longiquo da grande patria brasileira,
conquistado com o sangue do nordestino audaz, cuja enfibratura rija e
aventureira era irmã da coragem intrepida que demonstravam ao mundo civilizado
traçando, victoriosamente, por parabens desconhecidas uma nova róta; e
agradecimento, pelo beneficio que prestavam ao povo acreano tirando-o do
isolamento em que vive; agradecimento tão sincero e profundo, quanto a grandeza
do beneficio recebido. Finalisando, o eminente orador procurou traduzir o
sentimento d povo acreano dizendo que certa vez, em uma solemnidade, quando o
orador terminára seu brilhante discurso approximou-se um seringueiro e
disse-lhe: "doutor, as palavras que o senhor fallou eu sei todinhas, o que
não sei é juntar", assim elle, parodiando aquelle rustico sentimentalista,
sabia da emoção e do enthusiasmo que dominava o coração dos acreanos, que eram
os mesmos que elle sentia, porém, o que elle não sabia, não podia, era traduzir
a grandeza desse sentimento.
Estrondosa salva de palmas cobriu as
ultimas palavras do orador.
O Dr. Frederico Hoepken, agradecendo,
desculpou-se por não responder a bella oração pois encontrava difficuldade de
manejar o vernaculo, mas, no seu aperto de mão ia toda a eloquencia do
agradecimento.
Do "Palacio Rio Branco"
seguiram os hospedes da cidade para o Quartel da Força Policial do Territorio
onde ficaram alojados.
NO QUARTEL DA F.P.T.A.
Realizou-se ás 19 horas do dia 5, um
lauto jantar offerecido pela Força Policial, no qual, além dos homenageados,
tomaram logar o Exmo. Sr. Tenente-Coronel Manoel Fontenelle de Castro,
respondendo pelo expediente da Interventoria Federal, o Dr. Antonio Nembri de
Brito, Juiz de Direito da Comarca da Capital; os membros da commissão de
recepção e officialidade da F.P.T.A., decorrendo o repasto num ambiente animado
pela palestra alegre e intimidade de que se cercaram os comensaes.
O ALMOÇO OFFERECIDO PELA IMPRENSA
No dia seguinte, 6, em nome da imprensa,
representada pelo Dr. Achylles Peret, correspondente d' "A Noite",
Nelson de Lemos Basto, correspondente d' "O Globo" e o nosso
director, foi offerecido no "Restaurant Syrio" um almoço intimo aos
intrepidos argonautos do azul. Dessa manifestação participaram, além dos
homenageados, os srs. Tenente-Coronel Manoel Fontenelle de Castro, Dr. Mario de
Oliveira, Major Pedro de Vasconcellos Filho, Capitão André Anastacio de
Queiroz, Alexandre dos Santos Leitão, Raymundo Vieira de Sousa e os offertantes
da manifestação, que decorreu revestida da mais ampla cordialidade, sem a
minima parcella de etiqueta, que foi completamente banida, tornando a reunião
agradavel pela sua simplicidade.
Todos sahiram bem impressionados,
deixando transparecer a sua satisfação.
O BAILE OFFERECIDO PELA MUNICIPALIDADE
A Prefeitura Municipal de Rio Branco,
desejando significar o vivo enthusiasmo e a profunda sympathia do povo acreano
em geral e dos municipes riobranquenses em particular, offereceu aos destemidos
pilotos do espaço, um primoroso baile nos elegantes salões da "Sociedade
Recreativa Tentamen", em a noite de 6 do corrente.
Ás 21 horas mais ou menos, davam entrada
na "Tentamen", os illustres hospedes da cidade, na companhia do Exmo.
Sr. Ten. Cel. Interventor Federal e membros da commissão de recepção, recebidos
sob calorosas salvas de palmas e entre alas de senhoritas que lhes cobriram com
uma chuva de flores.
Antes de iniciarem-se as dansas foi
feito o offerecimento do baile, pelo Dr. Mario de Oliveira que, em bello
improviso, disse fallar, naquelle momento, em nome do sr. Prefeito da capital,
e, pois, em nome dos municipes riobranquenses; fazia-o, do mesmo passo, em nome
do povo acreano, que nestes dias de intenso regosijo por que está passando,
pelo memoravel feito aviatorio dos illustres pilotos, talvez considerado
simples por elles mesmos, porém de extraordinaria significação para o
Territorio, via com outros olhos a alta significação do commettimento dos
entrepidos "azes".
- E por certo não era tão somente o povo
acreano, mas a propria alma nacional, que acompanhara a viagem aérea do
"Taquary", a perlustrar céos jamais violados, que vibrava tambem de
enthusiasmo, sentindo que mais se fraternizava com s seus irmãos deste extremo
rincão do noroeste brasileiro, agora mais approximado do sul e assim mais
sujeito aos influxos da civilização da metropole.
- Para a alma acreana, entretanto, subia
de vulto o acontecimento, de vez que elle significava o inicio de uma nova era,
a madrugada de novas esperanças, o dealbar de novos horizontes que se lhe
abriam, rumo do destino, que de ha tanto tempo sonha.
- Ha tres quarteis de seculo eram
penetrados pela primeira vez os cursos d'agua da região acreana pela audacia do
bandeirante nordestino, plantador de povoados, semeador da civilisação, em plena
brenha florestal; já agora era a aza veloz do avião, num rithmo accelerado de
evolução, que desbravava os céos acreanos.
- Finalizando, disse o orador, que por
isso mesmo a capital acreana, representada por suas auctoridades e pelo escol
social riobranquense, mais que homenagear os illustres hospedes da cidade,
rendia-lhes, antes o testemunho de sua admiração e do seu reconhecimento,
formulando-lhes, por igual, a renovação dos seus melhores votos de bôas vindas
e de proveitosa e grata convivencia entre seus habitantes.
- Ao Dr. frederico Hoepken, foi
offertado lindo bouquet de flores naturaes, em nome do Municipio, pela
senhorinha Minervina Alves de Lima, funccionaria municipal.
As dansas prolongaram-se sempre animadas
até altas horas da madrugada deixando a todos agradavel impressão.
A FESTA DO COMMERCIO
- Foi, deverás, encantadora a festa que
o commercio desta capital levou a effeito quinta-feira ultima, 7 do corrente,
nos salões da "Sociedade Recreativa Tentamen", prestando homenagem
bem significativa e sincera aos nossos bemvindos hospedes Dr. Frederico
Hoepken, Guido Kleinat e Durval Barros.
Os lindos salões da "Tentamen"
regorgitavam de cnvidados, sobresahindo a graça donairosa do elemento feminino
que deu grande explendor a alegria das dansas, que se prolongaram por muitas
horas.
Cerca das 23 horas, foi dada a palavra
ao Dr. Amanajós Araujo que, em brilhante improviso, saudou os arrojados
aviadores assignalando que foram elles os primeiros aeronautas que, afrontando
as surprezas da Natureza, - traidora não raras vezes, escalaram, riscando espaço azul, pela cabeça das mattas verdes,
realizando notavel raid de exploração, como se fossem novos Cabraes a
descobrirem uma terra virgem e quasi desconhecida, até então, "largada de
Deus e dos homens" na phrase classica de Vieira.
- Fez em seguida considerações sobre as
vantagens que auferirá o commercio com a ligação rápida do Território aos
adiantados centros commerciaes, industriaes e intellectuaes do Paiz, - onde os
acreanos vão se surtir para satisfazerem as necessidades do corpo e da
intelligencia; demonstrou que a circulação dos produtos constitue a riqueza e a
vida das nações; enaltece a maravilhosa descoberta de Santos Dumont que morreu
amargurado por ter o seu invento servido para destruição e massacre dos
povos; terminou dizendo que em nome do
commercio, a grande força propulsora do progresso, offerecia aos ousados
"azes" da Syndicato Condor, aquella festa que era um agradecimento e
uma exaltação pelo notavel commenttimento que acabavam de realizar.
Estrondosos applausos cobriram as
ultimas palavras do orador.
Em seguida o poéta Juvenal Antunes,
recitou o seu sôneto "O TAQUARY", que reproduzimos nesta edição,
sendo muito applaudido e felicitado pela originalidade da sua ideia.
E assim, num ambiente expansivo e alegre
decorreram as dansas até avançadas horas da madrugada, quando terminaram.
A VIAGEM DO "TAQUARY"
Durante a visita com que nos
distinguiram o Dr. Frederico Hoepken e seus denodados companheiros piloto Guido
Kleinat e radiotelegraphista Durval Barros, tivemos opprtunidade de pedir
informações do "Taquary", para satisfazer a curiosidade dos nossos
leitores, no que fomos gentilmente attendidos pelo chefe da expedição.
Disse-nos o Dr. Frederico Hoepken:
- Partimos a 22 de abril ultimo, de Corumbá,
com destino a S. Luiz dos Carceres onde aquatisamos, depois de duas horas de
vôo, no estirão abaixo da cidade. Demoramos em Carceres um dia colhendo
informações sobre a zona entre esta e a cidade de Matto Grosso, em que a
Companhia pretende, por motivos de segurança de vôos e dados meteorologicos,
installar uma estação de radio, provavelmente em Porto Esperidião.
- A 24 de abril sahimos de S. Luiz dos
Carceres em vôo até a cidade de Matto Grosso, ajudados efficientemente pelo
Telegrapho Nacional, que tem uma linha de telegrapho e telephone entre as duas
cidades. Seguimos o rio Jahurú, encontrando, a esquerda do rumo, a serra de
Aguapehy de cerca de 1.700 metros de altitude; optimo ponto de referencia para
esse trajecto, que demorou uma hora e vinte minutos.
- Passamos o dia 24 na lancha da Empreza
de Navegação, hospedes do amavel Cel. Paulo Saldanha, que nos informou em
palestra, sobre os pontos de importancia nos rios Guaporé e Mamoré.
- No dia 25, seguimos para o Forte
Principe da Beira, fazendo uma affluviagem intermediaria em Rolim de Moura,
onde o Governo do Estado de Matto Grosso, mantem um posto fiscal sob os
cuidados do destacamento do Forte Principe da Beira, nosso ponto de pernoite e
onde admiramos a famosa obra daquella antiga e historica fortificação.
- Não podemos esquecer a compaixão que
nos dominou, pelo isolamento em que vive aquelle punhado heroico de bravos
soldados, castigados pela insalubridade da região.
- Na manhã seguinte, 26, partimos para
Guajara-Mirim, sendo acolhidos pela Empreza de Navegação, permanecendo alli
pelo espaço de oito dias colligindo informes sobre as relações desta zona com a
percorrida, com o Estado do Amazonas e com a da Republica da Bolivia.
- A 3 de maio, levantamos vôo com
destino á Porto Velho, fazendo uma affluviagem intermediaria em Presidente
Marques. Pernoitamos naquella cidade e no dia immediato trocamos ideias sobre a linha projectada, com o
Prefeito Municipal e Directores da Madeira Mamoré.
- Desde a sahida de Guajara-Mirim
trafegamos pelo radio com as estações do Telegrapho Nacional em Porto Velho e
Rio Branco. Tenho a agradecer a efficiente ajuda do Director Regional, Dr.
Sebastião Barros, em Manáos e do Inspector Moacyr Miranda.
- No dia 5, apezar de noticias de tempo
mau no começo do dia, decollamos mais ou menos ás 11 horas com destino a esta
capital onde chegamos após um vôo de duas horas e meia, em parte sobre a
floresta infinita desta zona.
Perguntando qual a impressão que levava
da visita que fez a nossa capital, respondeu:
- Magnifica. Vamos verdadeiramente
captivos das gentilezas que estamos sendo cumulados. O povo acreano sabe ser
hospitaleiro, quer no seu meio mais representativo, quer no seu elemento
rustico. Ainda hoje recebi agradavel convite para um almoço que nos offereciam
os colonistas, convite que me vi constrangido a não acceitar por motivo da
minha partida.
- Levamos da sociedade riobranquense a
mais viva impressão pelo modo carinhoso com que nos tratou. Quero destacar a
cordial camaradagem que nos dispensaram os Officiaes da Força Policial e seu
digno Commandante, que nos deu optima hspedagem da qual guardamos grata
saudade.
- Não posso deixar de esclarecer que a
nossa vinda a este Territorio foi impulsionada pelo Exmo. Sr. Dr. Vicente Ráo,
Ministro da Justiça, dada a efficaz interferencia do Dr. Manoel Martiniano
Prado, ajudado pela bôa vontade do Capitão Felinto Muller, que, em acção
conjugada, incitaram a Syndicato Condor a mandar effectuar o vôo.
- O nosso regresso será feito pelo mesmo
caminho, com apenas a differença da linha Rio Branco-Porto Velho, ser feita via
Labrea, onde provavelmente o avião se encontrará com o Interventor Dr.
Martiniano Prado, que vem de viagem para aqui.
- Posso affirmar que technicamente a
linha não apresenta difficuldades, dependendo a sua execução apenas, segundo
julgo, do contracto que o governo firme com a Companhia.
- Terminando pediu-nos o Dr. Frederico Hoepken que, em seu nome e no
dos seus companheiros de expedição, transmittissemos seus agradecimentos ás
auctoridades, ao commercio e ao povo em geral, e que esperam retribuir as
gentilezas recebidas empenhando esforços na regularização da linha dentro do
menor tempo, para o que necessitam transportar-se o mais breve possivel á
Capital da Republica, muito embora os seus desejos sejam de permanecer em nosso
meio.
O "TAQUARY"
O "TAQUARY" é um belo
hydro-avião typo Junkrs W. 34, de um motor de 600 H.P., deslocando uma
velocidade média de 190 kilometros por hora, com capacidade para dois
tripulantes, seis passageiros e 500 kilos de carga.
MENSAGEM DO PREFEITO DE PORTO VELHO
Pelo "Taquary", o Prefeito do
municipio de Porto Velho, no visinho Estado do Amazonas, enviou a seguinte
mensagem:
Porto Velho, 4 de maio de 1936.
Exmo. Sr. Dr. Manoel Martiniano Prado.
M.D. Interventor do Territorio do Acre.
Neste documento lhe ficam consignados os
mais sinceros parabens e um abraço de sertanejo
cearense e acreano da "Velha Guarda", que fui, pelo exito que
teve V. Excia., em conseguindo do Governo da Republica, se fizessem, agora, os
primeiros estudos, pelo avião "Taquary", da futura e proxima
installação da linha aérea Cuyabá-Acre.
O povo acreano, cujo coração justo,
grande e generoso V. Excia. de perto conhece, lhe saberá agradecer, para
sempre, esse inolvidavel serviço, esse alto gesto de civismo administrativo, em
pról dessa região, sei.
Com as minhas cordiaes e respeitosas
saudações.
(a) José Ferreira Sobrinho
Prefeito Municipal
TARDE ESPORTIVA
Entre as manifestações prestadas aos
expedicionarios da Syndicato Condor, registamos a que foi levava a effeito, na
tarde de sexta-feira ultima, 8 do corrente, pelos alumnos do Aprendizado
Agricola, com o comparecimento do Exmo. Sr. Interventor Federal, altas
auctoridades e grande numero de convidados.
O programa constou de innumeras provas
esportivas galhardamente realizadas pelos jovens athletas daquelle modelar
estabelecimento de ensino. Encerrando a tarde, os jovens concurrentes formaram
uma pyramide humana em cujo ápice foram desfraldadas duas bandeiras, uma
brasileira e outra contendo o emblema Nazista.
O Dr. Archylles Peret, director do
estabelecimento, encerrando o programma
das festas, offereceu, então, ao Dr. Frederico Hoepken o estandarte allemão, o
que o homenageado agradeceu dizendo só acceitar se fosse acompanhado do
pavilhão brasileiro, no que foi attendido.
A PARTIDA
Ás primeiras horas da manhã de hontem a
cidade movimentava-se, sendo grande a animação do povo que em romaria procurava
chegar ao Aprendizado Agricola para assistir a decollagem do
"TAQUARY", marcada para as 7,30 da manhã, segundo o convite feito
pela Interventoria Federal em boletim que foi distribuido na vespera, dia 8 do
corrente.
Ás 7 horas os nossos distinctos
hospedes, acompanhados do Exmo. Sr. Tenente-Coronel Manoel Fntenelle de Castro,
do sr. Secretario Geral do Governo, do sr. Major Sub-Commandante da F.P.T.A.,
do nosso director e officiaes da Força Policial, dirigiram-se de automovel para
o local onde se achava aquatisado o "TAQUARY", e onde se encontravam
já auctoridades e grande multidão.
Após as despedidas em que renovaram,
mais uma vez, os seus protestos de reconhecimento e admiração pelo povo
acreano, embarcaram s illustres viajantes e momentos depois levantava vôo o
"TAQUARY" entre delirantes acclamações dos que ficavam.
Tendo decollado ás 8,20 e após fazer
diversas evoluções sobre a cidade o lindo passaro metalico rumou com destino á
Labrea onde chegou, segundo communicação telegraphica, ás 9,50 do mesmo dia.
"O ACRE" deseja aos denodados
aviadores uma feliz viagem de regresso, pois na felicidade do seu vôo firma-se
a esperança do povo Acreano.
OUTRAS NOTAS
Muito concorreu para o brilho de todas
as homenagens e manifestações prestadas aos nossos distinctos hospedes, a
disciplinada banda de musica da Força Policial do Territorio, que esteve
presente a todas essas manifestações executando peças do seu variado
repertorio.
Durante o dia 8, o sr. Dr. Frederico
Hoepken, acompanhado dos seus companheiros de jornada, percorreu, honrado pela
companhia do Exmo. sr. Tenente-Coronel Manoel Fontenelle de Castro e Majr Pedro
Vasconcellos Filho, todas as repartições publicas do Territorio, e retribuiu as
visitas que recebeu das diversas auctoridades.
O Municipio do Purús fez-se representar
em as homenagens prestadas aos bravos aviadores, para o que nomeou uma
delegação composta dos doutores Amaro Damasceno Junior, José Lopes de Aguiar e
Nilo Bezerra, segundo telegramma que adiante publicamos.
O sr. Major Guilhermino Bastos pediu-nos
que transmitissemos ao commercio, o que fazemos aqui, os agradecimentos e
despedidas do Dr. Frederico Hepken e dos seus companheiros de jornada, feitos
por seu intermedio, no momento da partida, visto não lhes ser possivel, segundo
affirmaram, cumprir pessoalmente esse dever.
Os munícipes juruaenses, por intermedio
do sr. Cel. Mancio Lima, delegaram poderes ao sr. Dr. Flavio Baptista, para
represental-os na recepção dos bravos aviadores bem como nas hmenagens que lhe
fossem prestadas, as quaes se associavam de coração.
TELEGRAMMAS EXPEDIDOS
O Exmo. sr. Tenente-Coronel Manoel
Fontenelle de Castro, respondendo pelo expidiente da Interventoria Federal,
expeediu os seguintes telegramma:
Dia 5 - Exmo. sr. Dr. Vicente Ráo, D.
Ministro Justiça e Negocios Interiores, Rio - Tenho satisfação communicar
vossencia que hoje ás 13 horas aquatisou em águas do rio Acre, em frente
Aprendizado Agricola desta capital, avião "TAQUARY" da Syndicato
Condor, tripulado pelo engenheiro Chefe dessa Companhia Dr. Frederico Hoepken;
piloto mechanico Guido Kleinat e radiotelegraphista Durval Barros. População
acclamou-os delirantemente pelo victorioso raid inicial a esta região. Após
lunch no Aprendizado Agricola, os aviadores acompanhados grande massa popular,
se dirigiram ao Palacio do Governo, onde foram recebidos por altas auctridades
administrativas e judiciarias, discursando em saudação aos mesmos o
Desembargador Limirio Celso, Presidente da Côrte Appellação. Em seguida foram
os bravos aeronautas hospedados no Quartel Força Policial, onde lhes será
offerecido um jantar. Amanhã continuarão festejos devendo realizar-se á noite
baile salões "Sociedade Tentamen". Acre agradece o auxilio prestado
por vossencia ao Exmo. sr. Dr. Manoel Martiniano Prado, D. Interventor
effectivo nesse Territorio, que após formidaveis esforços tem a gloria de ver
concretizado em facto esse acalentado ideal da sua operosa administração, que
vem de rasgar novos horizontes para o progresso deste Territorio.
Dia 5 - Exmo. sr. Dr. Ruy Bennaton
Prado, D. Secretario Ministro Justiça, Rio - Communico vossencia que aquatisou
hoje ás 13 horas em águas rio Acre, em frente Aprendizado Agricola desta
capital, avião "TAQUARY" da Syndicato Condor, tripulado pelo
engenheiro chefe dessa Companhia Dr. Frederico Hoepken, pilto-mechanico Guido
Kleinat e radiotelegraphista Durval de Barros. Ppulação acclamou-os delirantemente
pelo victorioso raid inicial a esta região. Após lunch no Aprendizado Agricola,
os aviadores acompanhados grande massa popular, se dirigiram ao Palacio
Governo, onde foram recebidos altas auctoridades administrativas e judiciarias,
discursando em saudação aos mesmos o Desembargador Limirio Celso, Presidente
Côrte de Appellação. Em seguida foram os bravos e illustres aeronautas
hospedados Quartel Força Policial, onde lhes será offerecido um jantar. Amanhã
continuarão festejos devendo realizar-se á noite sumptuoso baile nos salões
"Sociedade Tentamen". Congratulo-me vossencia auspicioso
acontecimento que enche de gloria adminstração Exmo. sr. Dr. Manoel Martiniano
Prado, D. Interventor Federal, por ver concretizado em facto realizado seu
grande desejo acaba ser iniciado.
Dia 5 - Exmo. sr. Dr. Manoel Martiniano
Prado, D. Interventor Federal Acre. Bordo vapor "Republicano", Labrea
- Tenho prazer communicar vossencia, hoje ás 13 horas aquatisou rio Acre, em
frente Aprendizado Agricola desta cidade, avião "TAQUARY", da
Syndicato Condor, tripulado pelo Engenheiro Chefe dessa companhia Dr. Frederico
Hoepken; piloto-mechanico, Guido Kleinat e radiotelegraphista Durval Barros.
População acclamou-os delirantemente pelo victorioso raid inicial a esta
região. Após lunch no Aprendizado Agricola, os aviadores, acompanhados grande
massa popular, se dirigiram ao Palacio deste Governo, onde foram recebidos por
altas auctoridades administrativas e judiciarias, discursando em saudação aos
mesmos o Desembargador Limirio Celso, Presidente Côrte Appellação. Em seguida
foram os bravos e illustres aeronautas, hospedados Quartel Força Policial, onde
lhes será offerecido um jantar. Amanhã continuarão os festejos devendo
realizar-se á noite, sumptuoso baile salões "Sociedade Tentamen".
Agora que, após um anno inicio construcção Campo de Aviação, Territorio vê
concretizado em facto esse grande e acalentado ideal sua brilhante operosa
administração, nome este Governo, povo acreano e no meu proprio, envio a
vossencia enthusiasticas e effesivas congratulações. Bravos!
Dia 6 - Syncondor, Rio - Communico a
esse Syndicato que hontem ás 13 horas aquatizou rio Acre, em frente Aprendizado
Agricola, desta capital, avião "TAQUARY", dessa companhia, tripulado
pelo Engenheiro Chefe Dr. Frederico Hoepken, piloto-mechanico Guido Kleinat e
radiotelegraphista Durval Barros. População acclamou-os delirantemente pelo
victorioso raid inicial esta região. Após lunch no Aprendizado Agricola, os
aviadores acompanhados grande massa popular, se dirigiram ao Palacio deste
Governo, onde foram recebidos por altas auctoridades administrativas e
judiciarias, discursando em saudação aos mesmos o Desembargador Limirio Celso,
Presidente Côrte Appellação. Em seguida foram os bravos aeronautas, hospedados
no Quartel Força Policial, onde lhes foi offerecido um jantar. Hoje continuam
festejos. Congratulo-me com esse Syndicato por este notavel acontecimento que
demonstra o esforçado empenho com que essa Companhia afincadamente trabalha na
obra do engrandecimento e da civilização do Brasil. Acabo communicar todas
auctoridades esse memoravel feito, solicitando tenham na devida conta, a bôa
vontade manifestada por esse Syndicato, merecedor do amparo official.
Dia 6 - Exmo. sr. Dr. Getulio Dornelles
Vargas, D. Presidente Republica, Rio - Tenho honra communicar vossencia que
hontem ás 13 horas, aquatizou em aguas rio Acre, em frente Aprendizado Agricola
desta capital, avião "TAQUARY" da Syndicato Condor, tripulado pelo
Engenheiro Chefe dessa Companhia Dr. Frederico Hoepken, piloto mechanico Guido
Kleinat e radiotelegraphista Durval Barros. População acclamo-os delirantemente
pelo victorioso raid inicial a esta região. Após lunch no Aprendizado Agricola,
os aviadores acompanhados grande massa popular se dirigiram ao Palacio deste
Governo, onde foram recebidos por altas auctoridades administrativas e
judiciarias, discursando em saudação aos mesmos a Desembargador Limirio Celso,
Presidente da Côrte Appellação. Em seguida foram os bravos aeronautas
hospedados no Quartel Força Policial, onde lhes foi offerecido um jantar. Hoje
continuarão festejos devendo realizar-se á noite baile salões "Sociedade
Tentamen". Congratulo-me vossencia por esse auspicioso acontecimento que
veio possibilitar ao Acre sua rapida communicação com os centros civilizados do
Paiz e para o qual tão efficazmente contribuiu o desvelado e operoso Governo
vossencia.
TELEGRAMMAS RECEBIDOS
O Exmo. sr. Tenente-Coronel Manoel
Fontenelle de Castro, respondendo pelo expidiente da Interventoria Federal,
recebeu os seguintes telegrammas:
Senna Madureira, 1º - Prazer accusar
recebido telegramma circular vossencia de 29 abril findo no qual se dignou
retransmitir despachos referentes regresso Exmo. Interventor Dr. Prado assim
detalhes proxima chegada avião ahi. Nome Municipio Purús e meu proprio honra
felicitar povo acreano intermedio vossencia feliz evento. Respeitosas saudações
- Braulio Rocha, Prefeito.
Senna Madureira, 1º - Honra communicar
vossencia designei commissão representar Purús chegada primeiro avião essa capital, composta Drs.
Lopes Aguiar, Damasceno Junior e Nilo Bezerra. Respeitosas saudações - Braulio
Rocha, Prefeito.
Xapury, 1º - Tenho honra accusar
recebimento circular n. 1, retransmittindo-me alviçareiras novas, da chegada
Dr. Interventor Manoel Martiniano Prado em Manáos no dia 26 rumo ao Acre; e da
primeira viagem avião "TAQUARY", ligando pelo espaço este rincão aos
centros mais civilizados nossa Patria. Saudações - Oliveira Bastos, Prefeito.
Cruzeiro do Sul, 2 - Accusando recebida
hontem circular n. 1 da qual dei immediata publicidade, tenho satisfação
congratular-me vossencia povo acreano chegada hoje essa capital primeiro avião.
Importante acontecimento marcará nova phase progresso Territorio apprximando-o
Capital Republica num estreitamento indispensavel nossa desejada evolução.
Saudações - Raymundo Augusto Araujo, Prefeito, commissão.
Manáos, 2 - Apresento cumprimentos
vossencia, como tambem povo acreano, pela inauguração serviços aéreos que
tantos beneficios prestarão ao proprio Amazonas. Saudações attenciosas - Alvaro
Maia, Governador.
Tarauacá, 2 - Accuso recebimento hoje
circular n. 1 trazendo alviçareiras noticias regresso honrado Interventor Dr.
Martiniano Prado e grandioso surto progresso chegada avião essa capital.
Congratulo-me vossencia e municipes pelo arrojado feito navegação aérea
Territorio, congratulações extensivas intrepidos aviadores concretizando
esforço bravo heroico povo acreano alliado inexcedivel vontade Dr. Martiniano
Prado. Dei ampla divulgação publico todo conteúdo citado radio. Cordiaes
saudações - Marcolino Duarte Oliveira, Prefeito, interino.
Porto Velho, 3 - Trajecto daqui ou
Guajara-Mirim a essa capital necessita estudo minucioso por carecer ao meu ver
possibilidade aquatisagem forçada por máo tempo, resultando vôo fins estudos
somente em tempo bom. Sinto este motivo não poder dizer certeza dia hora
sahida. Vossencia immediatamente será communicado após decollagem. Respeitosas
saudações - Frederico Hoepken.
Tarauacá, 7 - Meu nome munícipes
felicito vossencia chegada primeira navegação aérea symbolo progresso plagas
acreana. Saudações - Marcolino Duarte, Prefeito, interino.
Xapury, 7 - Desvanecido accuso recepção
annuncio chegada essa capital avião "TAQUARY". Acceite vossencia
effusivas congratulações - Oliveira Bastos, Prefeito. (Acervo da Fundação Elias Mansour)
Era o dia 5 de maio de
1936 quando eu, nos meus 8 anos e 7 meses, gritou olhando para o
horizonte: “Lá vem ele” e o hidroavião Junker-W-34, monomotor, apelidado
de Taquary, amerissou “com dois botes de alumínio pendentes de seu
delgado corpo e com asas largas e compridas no Estirão de Bagé” relata o
Alma Acreana. Seu prefixo era PP-CAP. Larguei a mão de meu irmão Hechem
e fui pulando até a beira do rio Acre e, moleque danado – que
surripiava (para mim era pedir emprestada para aprender a remar) canoas
dos seringueiros que vinham entregar borracha para seu pai - pulou em
cima do bote, antes mesmo de um soldado amarrar o avião num toco de
madeira afundado à margem. A impressão com a qual fiquei e guardo
sempre, além obviamente do avião, é como era gigante o piloto alemão
Frederico Hoepken e como minúsculo era eu com meus poucos palmos de
estatura; comparo-me hoje ao Petit Nicolas de frente para os adultos que
fizeram parte de sua vida em casa, na rua e na escola.
A aventura aeronáutica acreana não ficou por aí e, junto com Otávio
Bonfim de Oliveira, exemplo de garoto bem comportado, construímos um
avião com duas caixas, nas quais eram importadas do outro Brasil para o
Acre as cervejas produzidas em Belém, e duas folhas de zinco formando as
asas. Otávio arrumou um quepe e se tornou o comandante. O avião
decolava voava, voltava amerissava ou pousava, para nós, enquanto não
saia do chão, nos baixos da residência de Dr. Mário de Oliveira.
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Era o dia 5 de maio de
1936 quando eu, nos meus 8 anos e 7 meses, gritou olhando para o
horizonte: “Lá vem ele” e o hidroavião Junker-W-34, monomotor, apelidado
de Taquary, amerissou “com dois botes de alumínio pendentes de seu
delgado corpo e com asas largas e compridas no Estirão de Bagé” relata o
Alma Acreana. Seu prefixo era PP-CAP. Larguei a mão de meu irmão Hechem
e fui pulando até a beira do rio Acre e, moleque danado – que
surripiava (para mim era pedir emprestada para aprender a remar) canoas
dos seringueiros que vinham entregar borracha para seu pai - pulou em
cima do bote, antes mesmo de um soldado amarrar o avião num toco de
madeira afundado à margem. A impressão com a qual fiquei e guardo
sempre, além obviamente do avião, é como era gigante o piloto alemão
Frederico Hoepken e como minúsculo era eu com meus poucos palmos de
estatura; comparo-me hoje ao Petit Nicolas de frente para os adultos que
fizeram parte de sua vida em casa, na rua e na escola.
A aventura aeronáutica acreana não ficou por aí e, junto com Otávio
Bonfim de Oliveira, exemplo de garoto bem comportado, construímos um
avião com duas caixas, nas quais eram importadas do outro Brasil para o
Acre as cervejas produzidas em Belém, e duas folhas de zinco formando as
asas. Otávio arrumou um quepe e se tornou o comandante. O avião
decolava voava, voltava amerissava ou pousava, para nós, enquanto não
saia do chão, nos baixos da residência de Dr. Mário de Oliveira.
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1936 quando eu, nos meus 8 anos e 7 meses, gritou olhando para o
horizonte: “Lá vem ele” e o hidroavião Junker-W-34, monomotor, apelidado
de Taquary, amerissou “com dois botes de alumínio pendentes de seu
delgado corpo e com asas largas e compridas no Estirão de Bagé” relata o
Alma Acreana. Seu prefixo era PP-CAP. Larguei a mão de meu irmão Hechem
e fui pulando até a beira do rio Acre e, moleque danado – que
surripiava (para mim era pedir emprestada para aprender a remar) canoas
dos seringueiros que vinham entregar borracha para seu pai - pulou em
cima do bote, antes mesmo de um soldado amarrar o avião num toco de
madeira afundado à margem. A impressão com a qual fiquei e guardo
sempre, além obviamente do avião, é como era gigante o piloto alemão
Frederico Hoepken e como minúsculo era eu com meus poucos palmos de
estatura; comparo-me hoje ao Petit Nicolas de frente para os adultos que
fizeram parte de sua vida em casa, na rua e na escola.
A aventura aeronáutica acreana não ficou por aí e, junto com Otávio
Bonfim de Oliveira, exemplo de garoto bem comportado, construímos um
avião com duas caixas, nas quais eram importadas do outro Brasil para o
Acre as cervejas produzidas em Belém, e duas folhas de zinco formando as
asas. Otávio arrumou um quepe e se tornou o comandante. O avião
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