A
Pedagogia do Golpe
Por: Marcos Inácio
Fernandes*
“O dinheiro, mais ainda do
que outras coisas agradáveis como a beleza, a eloquência e o charme, tende a
infiltrar-se pelas fronteiras e a comprar coisas que não deviam estar a venda:
dispensa do serviço militar; amor e amizade; os próprios cargos políticos.(...)
Quando fala o dinheiro, todo o resto está condenado a ouvir. Por esse motivo,
uma sociedade democrática não pode permitir acúmulos ilimitados.” (Cristopher
Laschi – A Rebelião das Elites e a traição da democracia. – 1985)
Os donos do dinheiro, que
são os donos do poder no Brasil, acabam de demonstrar toda a sordidez como
operam, acumulam e compram o “que não devia estar a venda”. As últimas delações
dos irmãos Batistas expõe as vísceras da nossa República. A “república das delações”.
Elas (as delações) foram alçadas a elemento, quase que exclusivo, de
investigações e são premiadas. E, essas últimas, premiadíssimas. Um escárnio!
Agora sabemos que o
“impeachment” da Dilma foi comprado e o golpe parlamentar/Jurídico/Midiático
foi consumado para instalar uma quadrilha no governo, que acaba de ser
defenestrado por essas mesmas forças poderosas.
Tivéssemos um Supremo
digno desse nome, seria anulado esse impeachment, com um pedido de desculpas, e
Dilma reconduzida a Presidência. Mas o Supremo sempre faltou a democracia e, em
especial, as forças de esquerda. Foi assim em 1937, quando chancelou a
deportação e entrega aos Nazista de Olga Benário Prestes, que estava grávida;
em 1946, quando referendou a cassação do registro do Partido Comunista
Brasileiro-PCB; e, mais recentemente, quando anistiou os torturadores do regime
militar de 1964. Portanto, não tenhamos ilusões com o nosso STF.
Mais esse golpe, que foi
tão doloroso para os cidadãos da esquerda e, especialmente, para nós do PT, que
detínhamos a presidência, foi também pedagógico. A pedagogia daquela velha
escola onde se dizia que “só se aprende apanhando”. E como temos apanhado!!
Particularmente o golpe
vem me possibilitando algumas reflexões:
1 - Que a democracia ainda
não foi consolidada no nosso território;
2 - Que o Brasil é
realmente forte e pujante, pois desde o 2º governo geral de Duarte da Costa,
que é dilapidado, sangrado, saqueado e ainda não chegou ao “fundo do poço”;
3 – Que temos a elite mais
bárbara do planeta. A burguesia que nos domina é perdulária, arrogante, inculta
e criminosa. Elas sonegam, corrompem, roubam, achacam, traficam influências e,
agora com as delações, desnudam toda a sua degradação moral e de caráter.
Cazuza a definiu bem poeticamente – “a burguesia fede”!
4 – O golpe também desnudou
a hipocrisia dos parlamentares, dos paneleiros e demais “indignados” seletivos
com a corrupção. O ódio dispensado ao PT não é em face da corrupção. É um ódio
de classe.
5 – Que a frase do Samuel
Johnson de que “o patriotismo é o último
refúgio dos canalhas” cabe perfeitamente nos “tenentes de toga” da Força
Tarefa da Lava Jato;
6- Que as últimas delações
“espontâneas” dos irmãos Batistas e seus “capitães do mato”, que aconteceu sem
alarde, de forma sigilosa e sem pirotecnia midiática, conseguiu produzir provas
robustas da delinquência institucional nos 3 poderes. Os “açougueiros” Batistas
compraram parlamentares e seus votos (até no impeachment), burocratas dos altos
escalões, Procuradores e juízes e, de forma sórdida, traíram a confiança do “amigo”
presidente numa emboscada na calada da noite nos porões do Jaburu. Nem a Máfia
age assim!
7 – As delações da Oldbrecht,
OAS, dos outros empreiteiros, altos burocratas do aparelho estatal e essa agora
do grupo JBS, desnudam e desmoralizam todos os órgãos de controle e
fiscalização (TCU, TCEs AGU, Receita Federal), a Bolsa de Valores e a CVM, os órgãos
de Inteligência e investigação (PF, DSI), a justiça Eleitoral (TSE e TREs) e,
principalmente a Força Tarefa da Lava Jato e seu método de obter as “delações”
mediante prisões “perpetuas” e a tortura. Com mais de 3 anos de investigações e
exposição na mídia, a “República de Curitiba, só conseguiu produzir CONVICÇÕES
em vez de PROVAS!!
8 – Fica duas reflexões
finais: Nós do PT precisamos disputar a hegemonia na sociedade para não ficar
refém de alianças espúrias. Segundo: fica a certeza que no Brasil O CRIME
COMPENSA e até merece prêmios. Os irmãos Batista que o digam lá de Nova York.
*Marcos Inácio Fernandes é
professor aposentado e Presidente Municipal de Rio Branco do PT.
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