Uma Arte
"A arte de perder não é nenhum
mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério."
(Elizabeth Bishop: tradução de Paulo Henriques
Brito)
A norte-americana Elizabeth Bishop nasceu em Massachusetts, em 8 de
fevereiro de 1911, e morreu 68 anos depois, em Boston. Em 1952, depois de uma
viagem pela costa brasileira, Elizabeth encantou-se pelas montanhas de
Petrópolis e lá permaneceu por longos quinze anos. Durante esse período,
escreveu numerosos registros e poemas, como o transcrito acima. O filme Flores Raras retrata a passagem da poetisa pelo Rio e seu romance homoafetivo com a arquiteta Lota de Macedo Soares. Um filme que merece ser visto. (MIF)
Existem perdas e perdas. Perda da esperança, perda de quem se ama, perda do pão de cada dia. Saber perder não considero uma arte, é um trabalho artesanal sem nenhuma beleza, mas que tem lá sua utilidade para a fisiologia humana.
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