SAUDAÇÃO
AOS PARTICIPANTES DO II ENCUENTRO LATINOAMERICANO PAULO FREIRE.
Caros amigos e companheiros latino
americanos e colegas da Academia.
Sou MARCOS INÁCIO FERNANDES, professor
aposentado da Universidade Federal do Acre -UFAC. Na academia e no Partido dos Trabalhadores,
do qual sou militante, me tratam por PROFESSOR MARCÃO. Os familiares e os amigos mais diletos me
tratam por MARQUITO.
Venho nesse domingo, (24-11-2019),
deixar uma singela saudação aos participantes desse 2º Encontro Latino americano,
que discute os aportes de Paulo Freire para a educação.
Como disse o personagem Riobaldo, no
romance Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.”
Pois
bem: eu desconfio que esse Encontro, pela sua relevância, será um sucesso. Ele
ocorre em momento muito oportuno, quando a nossa volta vemos que “AS VEIAS
ABERTAS DA AMERICA LATINA”, de que nos falou Galeano, continuam a sangrar. É
golpe na Bolívia, repressão violenta no Chile, Equador e Colômbia e a Venezuela
resistindo ao cerco imperialista, coadjuvado pelo Brasil, que há pouco invadiu
a sua Embaixada em Brasília. O projeto neoliberal, implantado em nosso
continente, que oprime o povo, é um fracasso retumbante e a reação a esse
projeto tomam as ruas de nossos países. É A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO EM SUA
PRÁXIS!!
No
Brasil, os milicianos chegaram ao poder e como assinala Brecht: a “cadela do
fascismo está no cio.” Atacam primeiro a EDUCAÇÃO. As Universidades Públicas na
mira das privatizações sobre um disfarce de um projeto chamado “FUTURE-SE”, já
rejeitado por mais de 60 Universidades. Querem mercantilizar a educação, acabar
com o concurso público e contratar professores universitários através da CLT e
abolir um dispositivo constitucional. (Capítulo III- Seção I – Art,205 e
seguintes da CF/1988)
No
ensino médio tenta-se implantar a “Escola sem Partido” a pretexto de uma falsa
“doutrinação ideológica”, que dizem existir nas escolas. Querem transformar os alunos em “aprendizes
de delatores” e os professores, sem liberdade de ensino, estão sofrendo
censuras e, até agressões físicas, que se sucedem com bastante frequência. De
cerca de 2,2 milhões de professores, 13%
deles já sofreram algum tipo de agressão em sala de aula, seja física, verbal
ou discriminatória. O Brasil é líder no ranking mundial em agressões deste
tipo. Ademais, 66% (2 em cada 3 professores) já pediram afastamento por
problemas de saúde (como estresse, dor de cabeça, dores musculares e outras).
A crise
no nosso país é aguda e sua 1ª vítima é a EDUCAÇÃO.É nesse contexto que tentam
apagar e destruir o legado de Paulo Freire, cogitando, até mesmo, de cassar a
homenagem que lhe fizeram em 2012, como Patrono da Educação Brasileira ((Lei n° 12.612 / 2012).
Como disse Darcy Ribeiro, outro grande
educador brasileiro, “a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto.”
Contra esse projeto, Paulo Freire começou a se insurgir desde os anos 60. Foi precisamente em 1963, quando um
grupo de professores, sob sua liderança, ensinou 300 adultos a ler e escrever
em menos de 40 horas, na cidade de Angicos – RN, meu Estado de nascimento.
Também acompanhei pelo rádio o
programa: “De Pé no Chão Também se Aprende a Ler”, implantado pelo prefeito de
Natal, Djalma Maranhão, que foi cassado e exilado, a exemplo de Paulo Freire,
quando adveio o golpe militar de 1964 no Brasil. Djalma, teve menos sorte do
que o seu compatriota Freire. Ele morreu no exílio do Uruguai, enquanto Freire,
que voltou do exílio em 1980, faleceu e se enterrou em solo pátrio em1997.
Por
dever de ofício, na Academia e no Serviço de Extensão Rural do Brasil, onde
também trabalhei, tive algumas leituras desse grande pedagogo e tentei
aplicá-las no meu trabalho. Ainda não perdi a esperança de me transformar de
professor (como me tratam) em EDUCADOR. Desconfio que ainda tenho tempo.
Desconfio,
por fim, que uma brisa suave de esperanças, já começa a bafejar “nuestra
américa". Ler e lutar por uma Pedagogia da Esperança é fundamental. Manter a esperança viva é em si um ato revolucionário,
nos ensina Paulo Freire.
E a esperança é vermelha!!
No Brasil, Lula está livre participa do 7º Congresso
do Partido dos Trabalhadores, que Freire ajudou a criar em 1980;
Na Argentina, o
Peronismo, com Alberto Fernandez e Cristina Kirchener, impõe uma derrota
eleitoral acachapante ao projeto neoliberal de Maurício Macri;
No Uruguai,
José Mujica, aos 84 anos, se elege para o Senado;
Na Bolívia deram o golpe mais o colas, indígenas e
mineiros resistem e deve haver novas eleições;
No Chile, Equador e Colômbia as ruas são ocupadas e os
protestos continuam;
Como disse o poeta Alberto Cunha Melo, do Recife,
conterrâneo de Paulo Freire, no seu poema, "Aos Mestres Com Desrespeito":
“Dizem que o meu (nosso) povo
É alegre e pacífico.
Eu digo que o meu (nosso) povo
É uma grande força insultada.
(...)
Eu digo que o meu (nosso) povo
É uma pedra inflamada
Rolando e crescendo
Do interior para o mar.”
Bom Encontro a todos e que seus resultados possam
contribuir para a educação dos nossos povos.!!
Rio Branco (AC), 24 de novembro de 2019
Marcos Inácio Fernandes (Marcão/Marquito)