quarta-feira, 20 de novembro de 2019

VALEU ZUMBI!!



Nesse 20 de novembro, celebra-se o DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, em homenagem a Zumbi dos Palmares. No Brasil a escravidão perdurou por 388 anos e deixou sequelas que, até o presente,  são nocivas ao convívio civilizado num país pluri-racial.  Para entender um pouco esse processo, compartilho dois textos, que considero extraordinários. Confiram!!(MIF) 



RECORDAR É VIVER

No momento de partida para embarcar nos navios negreiros, africanos escravizados eram obrigados a dar várias voltas em torno do imenso Baobá, considerada a árvore do esquecimento, deixando ali sua memória, crenças, origens e história, para assim serem batizados com uma nova identidade cristão-ocidental e serem enviados à diversos países. Os primeiros escravos africanos chegaram ao Brasil em meados do século 16. Os negros trazidos da África foram destinados a trabalhos de acordo com as encomendas e as especialidades em seus países de origem, como a agromanufatura açucareira no Nordeste e à extração de metais preciosos em Minas Gerais.

BRASIL: DNA ÁFRICA

Brasil: Dna África é uma iniciativa sensível e de extrema importância para o povo brasileiro no que se refere ao resgate histórico e cultural necessário para construir ou reforçar as heranças negras de cada pessoa. Para que um indivíduo crie sua própria identidade é necessário que ele saiba de onde veio, que ele conheça suas raízes. Que o projeto inspire e prolifere para que seja maior o número de homens e mulheres negras conhecedores de sua ancestralidade.
A escravidão representou uma ruptura para os cerca de 12,5 milhões de africanos trazidos à força para as Américas entre os séculos XVI e XIX, 46% deles para o Brasil.

O desconhecimento sobre as etnias ancestrais, locais de origem e a imposição de nomes católicos aos africanos escravizados desconectaram África e Brasil. Os afro-brasileiros são, ainda hoje, identificados como filhos e descendentes de escravos, quando, na verdade, são filhos e descendentes de africanos.
A série Brasil: DNA África se propõe a colaborar no processo de resgate da origem de parte dos brasileiros ao contar a história de cinco cidadãos comuns que se submetem a um teste de DNA e descobrem suas origens na África.

Selecionados entre 150 pessoas que fizeram o exame nos cinco estados que mais receberam africanos escravizados (Bahia, Rio de Janeiro, Maranhão, Minas Gerais e Pernambuco), o baiano Zulu Araújo, a carioca Juliana Luna, o maranhense Raimundo Garrone, o mineiro Sérgio Pererê e o pernambucano Levi Lima embarcam numa jornada de autoconhecimento ao visitar os cinco países africanos de onde seus antepassados foram trazidos como escravos para o Brasil.

Ao longo de 10 semanas de filmagens em cinco estados brasileiros e cinco países africanos, a equipe do Brasil: DNA África registrou a emoção dos personagens ao encontrarem africanos de suas etnias.

Zulu saiu de Salvador para uma pequena comunidade tikar no interior da República do Cameroun. Do Rio de Janeiro para Lagos e Ilê Ifé, Juliana cruzou o Portão do Não Retorno, o portal que os iorubanos capturados na Nigéria atravessavam antes de serem embarcados para as Américas.

Em Bissau, Raimundo vivenciou as dificuldades que os conterrâneos da Guiné-Bissau ainda enfrentam depois de séculos de colonização portuguesa. O músico Pererê identificou em Angola a musicalidade do povo Mbundu em seu trabalho artístico. Em Moçambique, Levi se reconectou ao passado ao encontrar os makuas no norte do país.



O Preconceito Naturalizado

Quando expressões como “mulata” ou “a coisa tá preta” se tornam naturais, é indício do quanto a opressão e o preconceito estão incorporados à visão de mundo das pessoas.
Mais de 300 anos de passado escravista não se apagam facilmente. Sinal disso é a extensa lista de expressões das quais as pessoas nem percebem a conotação racista. São tantas que, em 2009, o professor de biologia Luiz Henrique Rosa fez um levantamento no Rio de Janeiro. Junto com seus alunos, contabilizou 360 termos de cunho racista, no projeto “Qual é a graça”. Isso só na escola em que ele leciona.
Palavras dizem muito sobre a história e a cultura de uma sociedade. Quando expressões como “mulata” ou “a coisa tá preta” se tornam naturais, é indício do quanto a opressão e o preconceito estão incorporados à visão de mundo das pessoas. Entre sutilezas, brincadeiras e aparentes elogios, a violência simbólica se amplia quando expressões como estas são repetidas:

“Cor de pele”

Aprende-se desde criança que “cor de pele” é aquele lápis meio rosado, meio bege. Mas é evidente que o tom não representa a pele de todas as pessoas, principalmente em um país como o Brasil. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014, realizada pelo IBGE, 53% dos brasileiros se declararam pardos ou negros.

“Doméstica”

Negros eram tratados como animais rebeldes e que precisavam de “corretivos”, para serem “domesticados”.

“Estampa étnica”

Estampa parece ser, no mundo da moda, apenas aquela criada pelo olhar eurocêntrico. Quando o desenho vem da África ou de outra parte do mundo considerada “exótica” segundo essa visão, torna-se “étnica”.

“A dar com pau”

Expressão originada nos navios negreiros. Muitos dos capturados preferiam morrer a serem escravizados e faziam greve de fome na travessia entre o continente africano e o Brasil. Para obrigá-los a se alimentar, um “pau de comer” foi criado para jogar angu, sopa e outras comidas pela boca.

“Meia tigela”

Os negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”. Quando isso acontecia, recebiam como punição apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela”, que hoje significa algo sem valor e medíocre.

“Mulata”

Na língua espanhola, referia-se ao filhote macho do cruzamento de cavalo com jumenta ou de jumento com égua. A enorme carga pejorativa é ainda maior quando se diz “mulata tipo exportação”, reiterando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria. A palavra remete à ideia de sedução, sensualidade.

“Cor do pecado”

Utilizada como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra sensualizada. A ideia de pecado também é ainda mais negativa em uma sociedade pautada na religião, como a brasileira.

“Samba do crioulo doido”

Título do samba que satirizava o ensino de História do Brasil nas escolas do país nos tempos da ditadura, composto por Sérgio Porto (ele assinava com o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta). No entanto, a expressão debochada, que significa confusão ou trapalhada, reafirma um estereótipo e a discriminação aos negros.

“Ter um pé na cozinha”

Forma racista de falar de uma pessoa com origem negra. Infeliz recordação do período da escravidão em que o único lugar permitido às mulheres negras era a cozinha da casa grande. Uma realidade ainda longe de mudar no Brasil.

“Moreno(a)”

Racistas acreditam que chamar alguém de negro é ofensivo. Falar de outra forma, como “morena” ou “mulata”, embranquecendo a pessoa, “amenizaria” o “incômodo”.

“Negro(a) de traços finos”

A mesma lógica do clareamento se aplica à “beleza exótica”, tratando o que está fora da estética branca e europeia como incomum.

“Cabelo ruim”

Fios “rebeldes”, “cabelo duro”, “carapinha”, “mafuá”, “piaçava” e outros tantos derivados depreciam o cabelo afro. Por vários séculos, causaram a negação do próprio corpo e a baixa autoestima entre as mulheres negras sem o “desejado” cabelo liso. Nem é preciso dizer o quanto as indústrias de cosméticos, muitas originárias de países europeus, se beneficiaram do padrão de beleza que excluía os negros.

“Não sou tuas negas”

A mulher negra como “qualquer uma” ou “de todo mundo” indica a forma como a sociedade a percebe: alguém com quem se pode fazer tudo. Escravas negras eram literalmente propriedade dos homens brancos e utilizadas para satisfazer desejos sexuais, em um tempo no qual assédios e estupros eram ainda mais recorrentes. Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo.

“Denegrir”

Sinônimo de difamar, possui na raiz o significado de “tornar negro”, como algo maldoso e ofensivo, “manchando” uma reputação antes “limpa”.

“A coisa tá preta”

A fala racista se reflete na associação entre “preto” e uma situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa.

“Serviço de preto”

Mais uma vez a palavra preto aparece como algo ruim. Desta vez, representa uma tarefa malfeita, realizada de forma errada, em uma associação racista ao trabalho que seria realizado pelo negro.
Existem ainda aquelas expressões que são utilizadas com tanta naturalidade que muita gente sequer percebe a conotação negativa que tem para o negro. Por exemplo:

“Mercado negro”, “magia negra”, “lista negra” e “ovelha negra”
Entre outras inúmeras expressões em que a palavra ‘negro’ representa algo pejorativo, prejudicial, ilegal.

“Inveja branca”

A ideia do branco como algo positivo é impregnada na expressão que reforça, ao mesmo tempo, a associação entre preto e comportamentos negativos.


O Negro na História (Memória Fotográfica):





















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