terça-feira, 26 de novembro de 2019

SAUDAÇÃO AOS PARTICIPANTES DO II ECUENTRO LATINOAMERICANO- PAULO FREIRE




SAUDAÇÃO AOS PARTICIPANTES DO II ENCUENTRO LATINOAMERICANO PAULO FREIRE.

Caros amigos e companheiros latino americanos e colegas da Academia.
Sou MARCOS INÁCIO FERNANDES, professor aposentado da Universidade Federal do Acre -UFAC.  Na academia e no Partido dos Trabalhadores, do qual sou militante, me tratam por PROFESSOR MARCÃO.  Os familiares e os amigos mais diletos me tratam por MARQUITO.

Venho nesse domingo, (24-11-2019), deixar uma singela saudação aos participantes desse 2º Encontro Latino americano, que discute os aportes de Paulo Freire para a educação.
Como disse o personagem Riobaldo, no romance Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.”

Pois bem: eu desconfio que esse Encontro, pela sua relevância, será um sucesso. Ele ocorre em momento muito oportuno, quando a nossa volta vemos que “AS VEIAS ABERTAS DA AMERICA LATINA”, de que nos falou Galeano, continuam a sangrar. É golpe na Bolívia, repressão violenta no Chile, Equador e Colômbia e a Venezuela resistindo ao cerco imperialista, coadjuvado pelo Brasil, que há pouco invadiu a sua Embaixada em Brasília. O projeto neoliberal, implantado em nosso continente, que oprime o povo, é um fracasso retumbante e a reação a esse projeto tomam as ruas de nossos países. É A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO EM SUA PRÁXIS!!

No Brasil, os milicianos chegaram ao poder e como assinala Brecht: a “cadela do fascismo está no cio.” Atacam primeiro a EDUCAÇÃO. As Universidades Públicas na mira das privatizações sobre um disfarce de um projeto chamado “FUTURE-SE”, já rejeitado por mais de 60 Universidades. Querem mercantilizar a educação, acabar com o concurso público e contratar professores universitários através da CLT e abolir um dispositivo constitucional. (Capítulo III- Seção I – Art,205 e seguintes da CF/1988)

No ensino médio tenta-se implantar a “Escola sem Partido” a pretexto de uma falsa “doutrinação ideológica”, que dizem existir nas escolas.  Querem transformar os alunos em “aprendizes de delatores” e os professores, sem liberdade de ensino, estão sofrendo censuras e, até agressões físicas, que se sucedem com bastante frequência. De cerca de 2,2 milhões de professores, 13% deles já sofreram algum tipo de agressão em sala de aula, seja física, verbal ou discriminatória. O Brasil é líder no ranking mundial em agressões deste tipo. Ademais, 66% (2 em cada 3 professores) já pediram afastamento por problemas de saúde (como estresse, dor de cabeça, dores musculares e outras).

A crise no nosso país é aguda e sua 1ª vítima é a EDUCAÇÃO.É nesse contexto que tentam apagar e destruir o legado de Paulo Freire, cogitando, até mesmo, de cassar a homenagem que lhe fizeram em 2012, como Patrono da Educação Brasileira ((Lei n° 12.612 / 2012).

Como disse Darcy Ribeiro, outro grande educador brasileiro, a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto.” Contra esse projeto, Paulo Freire começou a se insurgir desde os anos 60. Foi precisamente em 1963, quando um grupo de professores, sob sua liderança, ensinou 300 adultos a ler e escrever em menos de 40 horas, na cidade de Angicos – RN, meu Estado de nascimento.

Também acompanhei pelo rádio o programa: “De Pé no Chão Também se Aprende a Ler”, implantado pelo prefeito de Natal, Djalma Maranhão, que foi cassado e exilado, a exemplo de Paulo Freire, quando adveio o golpe militar de 1964 no Brasil. Djalma, teve menos sorte do que o seu compatriota Freire. Ele morreu no exílio do Uruguai, enquanto Freire, que voltou do exílio em 1980, faleceu e se enterrou em solo pátrio em1997.

Por dever de ofício, na Academia e no Serviço de Extensão Rural do Brasil, onde também trabalhei, tive algumas leituras desse grande pedagogo e tentei aplicá-las no meu trabalho. Ainda não perdi a esperança de me transformar de professor (como me tratam) em EDUCADOR. Desconfio que ainda tenho tempo.

Desconfio, por fim, que uma brisa suave de esperanças, já começa a bafejar “nuestra américa". Ler e lutar por uma Pedagogia da Esperança é fundamental. Manter a esperança viva é em si um ato revolucionário, nos ensina Paulo Freire.

E a esperança é vermelha!!

No Brasil, Lula está livre participa do 7º Congresso do Partido dos Trabalhadores, que Freire ajudou a criar em 1980;

 Na Argentina, o Peronismo, com Alberto Fernandez e Cristina Kirchener, impõe uma derrota eleitoral acachapante ao projeto neoliberal de Maurício Macri;

 No Uruguai, José Mujica, aos 84 anos, se elege para o Senado;

Na Bolívia deram o golpe mais o colas, indígenas e mineiros resistem e deve haver novas eleições;

No Chile, Equador e Colômbia as ruas são ocupadas e os protestos continuam;

Como disse o poeta Alberto Cunha Melo, do Recife, conterrâneo de Paulo Freire, no seu poema, "Aos Mestres Com Desrespeito":

“Dizem que o meu (nosso) povo
É alegre e pacífico.
Eu digo que o meu (nosso) povo



É uma grande força insultada.
 (...)
Eu digo que o meu (nosso) povo
É uma pedra inflamada
Rolando e crescendo
Do interior para o mar.”

Bom Encontro a todos e que seus resultados possam contribuir para a educação dos nossos povos.!!

Rio Branco (AC), 24 de novembro de 2019

Marcos Inácio Fernandes (Marcão/Marquito)



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