Os
Hunos Voltam Atacar!
Por: Marcos Inácio Fernandes*
“A erva não volta a crescer onde pisa meu
cavalo”. Átila (395 – 453 d.C)
Chamava-se Othar, o cavalo
de Átila, rei dos Hunos. Dizia-se que por onde ele passava não nascia grama,
tal a devastação que seu dono fazia com suas hostes bárbaras. O “flagelo de
Deus”, como era conhecido, Átila era temido, até mesmo, pelo Império Romano.
Era o mais selvagem e mais sanguinário dos povos bárbaros.
Quinze séculos depois, em
terras tropicais, surge outro personagem que se assemelha ao rei dos Hunos. É o
capitão Jair Bolsonaro e suas falanges bárbaras pós-moderna. Tudo definha e
nada cresce por onde ele passa com sua cavalaria de Othar’s. Pisoteiam tudo.
Desde a ética e a compostura, que o cargo exige, até as políticas sociais e a
soberania nacional.
Uma das suas últimas
investidas foi contra uma política pública, das mais generosas, do povo
brasileiro -o serviço de Extensão Rural –
Fiquei sabendo do ataque
através do meu amigo e confrade Hur Ben, agora em pleno carnaval. Transcrevo
seu texto de indignação que reflete o sentimento de todos nós extensionistas.
Diz ele:
“Hoje
foi extinto o DATER. O Decreto Nº 10.253 de 20 de fevereiro 2020, artigo 34º
cria o Departamento de Desenvolvimento Comunitário, responsável pela Política
Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural.
O DATER foi do MAPA e em 2003 passou
para o MDA, onde ganhou espaço importante de política pública. Sem dúvida foi
um exemplo de construção social de política pública que respondeu ao anseio dos
agricultores e das organizações de ATER públicas e privadas. Entre suas maiores
conquistas se destacam a PNATER, que virou lei em 2010, e os recursos diretos
de ATER, chegaram próximos R$ 1,0 bilhão por ano. Em torno de 50% do que
aplicam os governos estaduais.
Representa o último ciclo virtuoso da política
federal de ATER, antecedido pelos ciclos ABCAR e EMBRATER, e o ciclo negativo
da década de 90. Um novo departamento - desenvolvimento comunitário - significa
o início de um novo ciclo da Ater. Mas o que será este ciclo?
Os sinais não são animadores. Vejamos.
Atualmente a PNATER está sendo reelaborada. A política construída ao longo de
décadas com ampla participação dos segmentos envolvidos, passa por uma
releitura acadêmica e tecnocrática. Vai perder sua dimensão democrática, uma de
suas maiores virtudes, ao lado dos conceitos avançados e contemporâneos de
desenvolvimento sustentável. Como ficará?
Outro sinal importante. Os recursos de ATER
para 2020 são pífios. Não chegam a 1% dos recursos aplicados pelos governos
estaduais. Em 2019 o DATER alocou recursos para o SENAR num projeto no
semiárido o que sugere um modus operandi daqui pra frente.
Então, o novo departamento pode ser a volta
aos patamares da década de 90, quando o DATER era uma mera sala no MAPA sem
recurso e sem política. O que significará isso? Menor oferta de serviços de
Extensão Rural pra quem mais precisa. Justamente quem produz os alimentos da
cesta básica dos brasileiros: os agricultores familiares.
Aprendi que o que é bom deve ser
valorizado. Quem conhece e quem é atendido pela extensão rural sabe como esse
serviço é bom, importante e necessário. Então? DATER, tiraram o teu nome!
Porque?... Espero que não seja como aquele comercial do lançamento do barbeador
com três lâminas. Lembram? A primeira faz tchun! e lá se foram os recursos de ATER.
A segunda faz tchan! e lá se foi o DATER, e a terceira faz tchan tchan
tchannnnn.... o que vai sobrar pra cortar? Veremos!
Pois é caro
amigo Hur Ben, o que vai sobrar prá cortar? A grama já está seca e rala de
tanto que está sendo pisoteada pelo capitão montado em Othar com suas milícias
e suas falanges pentecostais. A grama de tão seca pode dá combustão para um
incêndio de grandes proporções.
Considero que
para se contrapor ao cavalo Othar e seu cavaleiro só os muitos cavalos de uma
retroescavadeira e outras máquinas de igual porte.
Marcos Inácio
Fernandes, é Secretário de Formação do DM/PT de Rio Branco.
Rio Branco
(AC) 23 de fevereiro (domingo de carnaval) de 2020