Missão da ASBRAER na França em 2006 (Mário Amorim, Sorrival, Raimundo, Marcão, Raimundo do CE, Romualdo (falecido) e Vizolli
Extensão e Felicidade ou Felicidade em Extensão!!
Por: Marcos
Inácio Fernandes*
“Todo homem quer ser feliz, inclusive o que vai se enforcar.”
Blaise Pascal (1623-1662)
Depois
que saí da Secretaria de Extensão Agroflorestal do Acre e retornei às minhas atividades
acadêmicas na UFAC, tenho tido mais tempo para desfrutar de coisas prazerosas.
Caminhar pela manhã no Horto Florestal; selecionar, com calma, as músicas do
meu programa semanal de rádio, “É Cantando Que a Gente Se Entende”; curtir uma
redinha depois do almoço; passar, de vez em quando, na livraria Nobel e folhear
as novidades literárias, tomando um cafezinho expresso ou um cappuccino gelado
delicioso; vez por outra, um chope prá distrair ou uma salada com sorvete, num
final de tarde no restaurante Água na Boca, entre outras coisas agradáveis. Em
síntese, uma vida mais ou menos, com viés de alta, como dizem os economistas.
Quando
me perguntam: como vai? Sempre respondo: “só não vou melhor porque não quero
mesmo”! Mas, mesmo sem querer e sem saber por que, coisas boas tem acontecido
na minha vida que me levam a desconfiar que tenho sorte e, sem querer ser
arrogante nem presunçoso, sou uma pessoa feliz.
O
tema da felicidade tem despertado minha curiosidade e tem sido objeto de minhas
leituras, extra-acadêmicas. Tem sido um deleite conhecer como os filósofos tem
tratado essa “obsessão contemporânea” que é a felicidade.
Na
antiguidade, a felicidade era uma prerrogativa dos Deuses; com os iluministas,
ela tornou-se um direito natural e, mais recentemente, um dever. “Somos
obrigados a ser feliz – viver como os Deuses ou, pelo menos, “se livrar dos
nossos demônios”, como disse Melissa Erico, citado por Darrin M. McMahon em
“Felicidade – Uma História, da Editora Globo.
Além
desse autor, também já li e fiz apontamentos das seguintes obras: “A Felicidade, desesperadamente”, de André
Comte-Sponville; “A Conquista da Felicidade”, de Bertrand Russel; “O Que Nos
Faz Felizes”, de Daniel Gilbert; “Aprender a Viver – Filosofia para os novos tempos”,
de Luc Ferry; “Viagem para a felicidade”, de Eduardo Punset; e “Felicidade no
trabalho”, Tese de Mestrado do nosso confrade da ABER, Mário Amorim que, entre
outras qualidades, também é meu amigo e conterrâneo.
Mário
Amorim, com a sua peculiar fidalguia, além de me presentear seu livro com
dedicatória, ainda me proporcionou um banquete de carne-de-sol, com feijão
verde e pirão de queijo com sobremesa de queijo de coalho com mel de engenho,
no restaurante do Bidoca, em Natal em abril de 2007. Foi uma refeição de
“juntar menino”, como dizem no nordeste. Mas como observou Platão num dos seus
livros mais famosos – O Banquete, “numa refeição entre amigos o principal
prazer não é a qualidade dos pratos, mas a qualidade da conversa.” Nós da
extensão, sempre tivemos muitos assuntos para discutir, muitas histórias para
contar e muitos “causos” para compartilhar. Com Mário a conversa fluiu e se
estendeu prazerosamente.
Agora,
confrades da ABER e companheiros da extensão, criamos esse espaço de “Encontros,
Achados e Descobertas” para a gente se reunir e se unir, cada vez mais, em
torno da Extensão Rural Pública Oficial – a Academia Brasileira de Extensão
Rural – ABER. Ela será um espaço privilegiado prá gente reavivar nossa memória,
a memória de um projeto educativo para o meio rural dos mais generosos que esse
país conheceu.
Estou
feliz por ter sido agraciado com a indicação do meu nome pelos meus colegas do
Acre para fazer parte dessa Academia. Confesso que, os melhores momentos de
minha vida, foi aqui no Acre e no serviço de extensão rural desde que entrei na
Emater/AC, em 1978, esse serviço foi uma escola profissional, de vida e cidadania.
A
Extensão Rural brasileira criou uma cultura de servidores cívicos, abnegados
servidores públicos. Ainda somos a presença mais avançada do Estado na
implementação de políticas públicas para o meio rural –“a cara do governo no
campo” – como disse Romeu Padilha, emérito extensionista, que presidiu a
saudosa EMBRATER.
Conheço
muitos extensionistas do Acre que comprometeram a saúde contraindo malária,
hepatite, doenças da pele, hérnia de disco e tantas outras, prestando seus
serviços nos lugares mais inóspitos e insalubres do Estado.
Orgulha-nos,
sobremaneira, fazer parte de uma instituição Republicana, que nos seus 72 anos
de existência, o vírus da corrupção, da malversação de recursos públicos, não a
atingiu. O nosso comportamento institucional é exemplar e nos envaidece.
Sou
feliz na extensão. Nela tive a oportunidade de viajar por “Oropa, França e
Bahia”, conhecer todo o Brasil, com exceção de Roraima. Conheci lugares
maravilhosos, como o Oiapoque, no Amapá e a ilha de Marajó, no norte; as
cidades do ciclo do ouro, de Minas; Foz de Iguaçu, no sul; as águas termais de
Caldas Novas, no centro-oeste; o semi-árido nordestino e também suas praias; a
esquina da Ipiranga com a avenida São João, em São Paulo; e os encantos mil do
Rio. Conheci também todos os 22 municípios do Acre e nossos vizinhos latinos,
Peru, Bolívia e Argentina. Estive nas
barrancas do rio Moa, em Marechal Thaumaturgo –Acre e nos boulevards do Sena,
em Paris. Fiz refeição no “Bico do urubu” no mercado de Cruzeiro do Sul/AC, mas
também desfrutei de um vinho com queijos e em boa companhia (Mário, Nivaldo,
Romualdo) num bistrô da Champs Elisées, num final de tarde em Paris. Agora mais importante do que conhecer lugares,
foi conhecer pessoas, fazer e cultivar amizades. Isso não tem preço!
Na
Extensão, estive dos dois lados da trincheira. Fui dirigente sindical e
dirigente institucional onde galguei o cargo de Secretário. Porém o título que
mais me envaidece e pelo qual sou mais grato aos companheiros da extensão foi o
de ter sido eleito para presidir o 1º Congresso da FASER, em Curitiba-PR, em
1987, estando demitido da Emater/AC. Agora, também sem vínculo institucional
com a extensão, embora continue extensionista, pois a extensão é uma cachaça
(daquelas de Minas), sou agraciado com a benemerência de Acadêmico da Extensão
Rural Brasileira. Como no samba de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, “eu
sei bem que mereço, mas não esperava tanto”. (Samba - Contentamento)
Dizer
mais o que? Dizer apenas que me sinto orgulhoso e estou feliz.
Para
Platão, “ser feliz é ter o que se deseja.
Segundo REISS(2001) são 16 os
desejos básicos que levam a felicidade (está no livro que o Mário me
presenteou). São eles: curiosidade, aceitação, ordem, atividade física, honra,
poder, independência, relacionamento social, família, status, idealismo,
vingança, romance, comida, economia e tranquilidade. Sartre diz: “o homem é fundamentalmente o desejo de ser”
e o “desejo é falta”. “O que não temos,
o que não somos, o que nos falta”. Ter o que desejamos é, numa primeira
aproximação, ser feliz. Esta idéia de felicidade se encontra em Platão,
Epicuro, Kant, Spinoza, Sartre e outros filósofos.
Agradeço,
por fim, aos companheiros que me distinguiram com a lembrança e a indicação. É
bom ser aceito e reconhecido. Sinto-me honrado em fazer parte dessa Academia.
Como disse Machado de Assis: “Essa é a glória que fica, eleva, honra e consola.”
Espero e desejo que o nosso convívio seja agradável e produtivo e que nas
reuniões sejam servidos um “café covarde” (café acompanhado), como diz o
Argileu Martins.
*Marcos
Inácio Fernandes, é extensionista, membro eleito da ABER, professor aposentado
da UFAC é Mestre em Ciência Política e mantém o blog:
euqueroesossego.blogspot.com2
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