(09/09/1948 - 15/11/2021)
AGORA
É CINZA
Por: Marcos Inácio Fernandes
(Marquito)
“Você partiu Saudades me deixou, eu
chorei
O nosso amor foi uma chama
Que o sopro do
passado desfaz
Agora é cinza
Tudo acabado e nada mais...”
Você partiu...”
(Samba Agora é cinza de Bide e Marçal. Sucesso do carnaval de 1934)
“Lembra-te que és pó e ao pó voltarás” (Gn 3,19)
Além dessa lembrança bíblica a qual, mais cedo ou mais tarde, todos nós
haveremos de nos transformar, as lembranças que quero guardar do Eri Galvão são
dos momentos felizes e prazerosos que compartilhamos nessa vida, desde os idos
de 1975. Naquele ano conheci o Eri nas reuniões do Projeto Rondon e a amizade
aconteceu por “combustão espontânea”, pois Eri possuía uma aura de luz e uma
energia, que emanava bons fluídos e nos contagiava. Era dessas pessoas que
gente gostava de cara e de graça e ficava querendo bem.
Depois do Rondon, nos encontramos por diversas vezes, quando das apresentações
do “projeto Brasileirinho”, que ele coordenava no SESC do Rio, onde se radicou.
Depois das apresentações de Paulinho da Viola, João Nogueira, Altamiro
Carrilho, Martinho da Vila e João do Vale, do referido projeto, em Rio Branco,
sempre saíamos para jogar conversa fora e cantar uns sambas. Muitos sambas ouvi,
pela 1ª vez, na voz e violão do Eri, que cantava e contava sobre o contexto da
criação de muitas músicas da MPB. Ele tinha uma memória prodigiosa!
Sempre que ia de férias em Natal, não poucas vezes, o Eri também estava
por lá e nos encontrávamos para “atualizar a vida alheia” e passar o repertório
das novidades da MPB. Estivemos na praia de Cajueiro, junto com seus irmãos
(Erinalda, João e Galvão), no “Carinalda”, num carnaval de rua que a Erinalda
promovia na Candelária e em Parnamirim, na casa dos meus pais e na minha casa.
Sempre que eu ia ao Rio, o nosso encontro era obrigatório. Em novembro
de 1987, estive no bar “caras e Bocas” na Tijuca, onde Eri se apresentava. Foi
lá que ele me apresentou o compositor Paulo Emílio, que estava “prá lá de
marakechi”. Foi a 1ª vez que ouvi Valsa do Maracanã, que Paulo Emílio compôs
com Aldir Blanc. Na oportunidade ele cantou sua composição acompanhado por Eri
no seu violão. Depois ainda tivemos um encontro musical com a turma do Acre, no
apartamento da amiga Mariza, que estava fazendo Mestrado no Rio.
Estive novamente no Rio na ECO-92 e fui prestigiar o Eri no seu Bar
Brasileirinho, em Niterói, que ele administrava e também se apresentava. Alguns
anos depois e, sempre que retornava ao Rio, ia ver o seu show no “Vinicius
Piano Bar”, em Ipanema. A última vez que fui no “Vinicius” foi na companhia da
nossa amiga comum e conterrânea, Arilza Soares. Nesse dia, o Eri ainda deu
carona para Arilza, que mora em Copacabana e me levou prá dormir no seu
apartamento em Niterói.
Quando assumi a direção do PT, em Rio Branco, em 2017, quis aproximar o
partido da sociedade através da música. Fiz um projeto de Show “Política dá
Samba” com um repertório que relacionava as músicas da MPB com fatos políticos
e sociais. Convidei o Eri para vir pela bilheteria e ele topou. Mandei as
passagens e o hospedei na minha casa. O Show foi maravilhoso, mas, foi um
fiasco de bilheteria. Eri nem se incomodou (acho que só deu para arranjar mil
reais). Ele ainda fez uma Oficina de Bossa Nova para alunos da escola de música
da UFAC e um sarau na minha casa para um pequeno grupo de amigos.
A última vez que estive com Eri foi no apartamento de Didu Nogueira, no
“subúrbio do Meier”, em janeiro de 2018. Estava de passagem para ir a Porto
Alegre, acompanhar o julgamento do Lula no TRF-4. Fomos almoçar uma bacalhoada
preparada pelo Didu e juntamente com Jorge Simas,(violão de 7) Didu (vóz) e Eri
(violão de 6) o samba rolou até ser servido o almoço. Foi a primeira vez que
ouvi o samba do Simas “No Tempo do Patropi”, que Eri e Simas cantaram na
ocasião.
“... Andando pela cidade / O tempo volta pá mim/ E eu vou lendo a
saudade / Como se fosse o Pasquim.”
Eri, você é saudade no meu coração. E nem existe mais o Pasquim.
As suas cinzas vão adubar uma Palmeira Imperial, que seu filho,
Alexandre plantou. Você vai continuar vivendo nessa nova roupagem imperial.
Vida longa!!
Vou mandar ficha véio. Cante aquela do Bide e Marçal.
Rio Branco (AC) 26 de novembro de 2021
Marcos Inácio Fernandes (Marquito)