sexta-feira, 26 de novembro de 2021

AGORA É CINZA

 

(09/09/1948 - 15/11/2021)


AGORA É CINZA

Por: Marcos Inácio Fernandes (Marquito)

Você partiu Saudades me deixou, eu chorei

O nosso amor foi uma chama

 Que o sopro do passado desfaz

 Agora é cinza

Tudo acabado e nada mais...”

 Você partiu...” (Samba Agora é cinza de Bide e Marçal. Sucesso do carnaval de 1934)

“Lembra-te que és pó e ao pó voltarás” (Gn 3,19)

Além dessa lembrança bíblica a qual, mais cedo ou mais tarde, todos nós haveremos de nos transformar, as lembranças que quero guardar do Eri Galvão são dos momentos felizes e prazerosos que compartilhamos nessa vida, desde os idos de 1975. Naquele ano conheci o Eri nas reuniões do Projeto Rondon e a amizade aconteceu por “combustão espontânea”, pois Eri possuía uma aura de luz e uma energia, que emanava bons fluídos e nos contagiava. Era dessas pessoas que gente gostava de cara e de graça e ficava querendo bem.

Depois do Rondon, nos encontramos por diversas vezes, quando das apresentações do “projeto Brasileirinho”, que ele coordenava no SESC do Rio, onde se radicou. Depois das apresentações de Paulinho da Viola, João Nogueira, Altamiro Carrilho, Martinho da Vila e João do Vale, do referido projeto, em Rio Branco, sempre saíamos para jogar conversa fora e cantar uns sambas. Muitos sambas ouvi, pela 1ª vez, na voz e violão do Eri, que cantava e contava sobre o contexto da criação de muitas músicas da MPB. Ele tinha uma memória prodigiosa!

Sempre que ia de férias em Natal, não poucas vezes, o Eri também estava por lá e nos encontrávamos para “atualizar a vida alheia” e passar o repertório das novidades da MPB. Estivemos na praia de Cajueiro, junto com seus irmãos (Erinalda, João e Galvão), no “Carinalda”, num carnaval de rua que a Erinalda promovia na Candelária e em Parnamirim, na casa dos meus pais e na minha casa.

Sempre que eu ia ao Rio, o nosso encontro era obrigatório. Em novembro de 1987, estive no bar “caras e Bocas” na Tijuca, onde Eri se apresentava. Foi lá que ele me apresentou o compositor Paulo Emílio, que estava “prá lá de marakechi”. Foi a 1ª vez que ouvi Valsa do Maracanã, que Paulo Emílio compôs com Aldir Blanc. Na oportunidade ele cantou sua composição acompanhado por Eri no seu violão. Depois ainda tivemos um encontro musical com a turma do Acre, no apartamento da amiga Mariza, que estava fazendo Mestrado no Rio.

Estive novamente no Rio na ECO-92 e fui prestigiar o Eri no seu Bar Brasileirinho, em Niterói, que ele administrava e também se apresentava. Alguns anos depois e, sempre que retornava ao Rio, ia ver o seu show no “Vinicius Piano Bar”, em Ipanema. A última vez que fui no “Vinicius” foi na companhia da nossa amiga comum e conterrânea, Arilza Soares. Nesse dia, o Eri ainda deu carona para Arilza, que mora em Copacabana e me levou prá dormir no seu apartamento em Niterói.

Quando assumi a direção do PT, em Rio Branco, em 2017, quis aproximar o partido da sociedade através da música. Fiz um projeto de Show “Política dá Samba” com um repertório que relacionava as músicas da MPB com fatos políticos e sociais. Convidei o Eri para vir pela bilheteria e ele topou. Mandei as passagens e o hospedei na minha casa. O Show foi maravilhoso, mas, foi um fiasco de bilheteria. Eri nem se incomodou (acho que só deu para arranjar mil reais). Ele ainda fez uma Oficina de Bossa Nova para alunos da escola de música da UFAC e um sarau na minha casa para um pequeno grupo de amigos.

A última vez que estive com Eri foi no apartamento de Didu Nogueira, no “subúrbio do Meier”, em janeiro de 2018. Estava de passagem para ir a Porto Alegre, acompanhar o julgamento do Lula no TRF-4. Fomos almoçar uma bacalhoada preparada pelo Didu e juntamente com Jorge Simas,(violão de 7) Didu (vóz) e Eri (violão de 6) o samba rolou até ser servido o almoço. Foi a primeira vez que ouvi o samba do Simas “No Tempo do Patropi”, que Eri e Simas cantaram na ocasião.

“... Andando pela cidade / O tempo volta pá mim/ E eu vou lendo a saudade / Como se fosse o Pasquim.”

Eri, você é saudade no meu coração. E nem existe mais o Pasquim.

As suas cinzas vão adubar uma Palmeira Imperial, que seu filho, Alexandre plantou. Você vai continuar vivendo nessa nova roupagem imperial. Vida longa!!

Vou mandar ficha véio. Cante aquela do Bide e Marçal.

Rio Branco (AC) 26 de novembro de 2021

Marcos Inácio Fernandes (Marquito)


Na praia de Cajueiro


No Vinicius Piano Bar


Na casa dos meus pais em Parnamirim-RN


Na minha casa em Rio Branco.



Eri na minha casa. Um dos maiores conhecedores de MPB

Um comentário:

  1. Que bela homenagem, Marcão !
    Texto bonito, sincero, justo e comovente, como convém aos que cultuam o verdadeiro amor fraterno, este, atemporal e sublime.
    Tive o privilégio de, também, conviver com Erí, bem mais no Rio, onde trabalhamos no SESC/DN e residimos no mesmo endereço, em Botafogo, do que em Natal, nossa cidade-mãe.
    De tudo que vivemos e vivenciamos, tivemos na música o elo principal. Muitas são as identificações: amamos samba, Carnaval, Aldir e cia., Martinho, João Nogueira, Paulinho da Viola, Bossa Nova, João Gilberto, fizemos shows juntos, enfim, guardo as melhores lembranças desse amigo encantado.
    Que a sua Nova Morada seja ao gosto do homem que aprendemos a admirar: que seja um lugar de paz e concórdia; que nunca falte música e violão; e que jamais lhe falte a companhia dos amigos e parceiros.
    Na sua plenitude humana e espiritual, Erí será sempre amado por nós, que desfrutamos da sua amizade.
    Com carinho e saudade.
    DIDI AVELINO

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