2º ATO
Currículo
Politizado
(10 min)
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Todo povo tem seus heróis. Alguns são
enaltecidos pela historiografia oficial, outros, no entanto, ficam à margem
dela, embora suas lutas não sejam menos importantes. Nesse último grupo
incluímos nossos ex Superintendente e colega Raimundo Cardoso de Freitas, que
depois de longos anos integrando a resistência contra a Ditadura Militar, e
assumir este nome para fugir da perseguição institucionalizada na época,
retoma mais uma vez sua identidade original como CARLOS AUGUSTO LIMA PAZ,
desta vez, versando essas e outras histórias em seu livro: “Parangaba: a luta
como destino”.
Parangaba foi um, dentre
vários atores, dos movimentos populares contra a repressão e as guerras nos
anos 60 e 70 que mudaram definitivamente a face do nosso planeta. De Paris a
Nova Iorque, de Praga ao Rio de Janeiro, jovens, como ele, deixaram seus
lares escolas e universidades, tomaram as ruas, ocuparam espaços públicos,
enfrentaram exércitos, foram presos e torturados. Alguns, pelo desígneo do
destino foram exilados, tiveram que trocar de nome e modo de vida. Outros,
cruelmente assassinados. Esses jovens ansiavam por direitos básicos como
liberdade, paz, respeito aos direitos individuais e ao meio ambiente, menos
corrupção e união entre os povos.
Carlos Augusto nasceu num
“clima quente” do sertão do Cariri no Ceará, no dia 10 de janeiro de 1941, no
mesmo ano que Wilson Batista e Marino Pinto compuseram o antológico samba
“Preconceito”. É um Capricorniano, signo que une o básico, o tradicional e o
elegante e costuma ser de uma pessoa madura, centrada, com senso de
responsabilidade extraordinário. Essas qualidades o acompanharam por toda
vida;
- É o 5º filho, dentre 11
irmãos. 9 se criaram e 2 (um casal de gêmeos) faleceram ainda “anjos”, que
ele não chegou a conhecer;
- Carlos, viveu a sua
primeira infância, no meio rural em contato direto com a natureza, nas
fazendas da família e se considerava um “filho do algodão” – a economia que
ditava os destinos do nordeste na época. Uma época conturbada, marcada pela
2ª Guerra Mundial. Ele é da geração do pós-guerra, da guerra fria, do tempo
que toda geladeira era branca e todo telefone era preto. É provável que a
temperatura do clima e da política, tenham contribuído para forjá-lo em um
resistente revolucionário;
Seus
Estudos:
- Carlos Augusto, aprendeu
as primeiras letras “o ABC grande” com sua tia Celsa na “CARTILHA DO POVO”.
Foi um aprendizado emblemático, que introjetou no seu comportamento, por toda
vida, respeitar e defender o nosso povo;
- Teve uma sólida educação
formal no Colégio 7 de setembro e no Liceu do Ceará, onde ganhou o apelido de
PARANGABA – Um nome que se tornou uma lenda no movimento estudantil do Ceará.
- Retoma seus estudos em 1976, onde
conclui o Supletivo de 2º Grau e ingressa no curso de Agronomia da UFAM,
concluindo o curso em 1980. Hoje ele se “queixa” que é AGRÔNOMO e tem duas
pós-gradução.
Militância
Política:
- Desde a adolescência Carlos Augusto,
optou por ser um indivíduo “gauche”, que no idioma francês, significa “de
esquerda”.
- Militou no PCB (Partidão), no PC do B
(Partido Comunista do Brasil), no PRC (Partido Revolucionário Comunista) e
continua militando no Partido dos Trabalhadores (PT), partido que ajudou a
construir no Acre;
- Amargou o seu primeiro cárcere, incurso
na LSN (lei de segurança nacional), nas primeiras horas do golpe militar de
64, no 23 BC de Fortaleza (..23º Batalhão de Caçadores de Fortaleza?)
- Após ser liberado no Inquérito policial,
entra na mais rigorosa clandestinidade por 15 anos, adotando os nomes de
MÁRIO ÂNGELO e JOSÉ ROBERTO e em 1972, consegue tirar documentos com o nome
de RAIMUNDO CARDOSO DE FREITAS – “O
CARDOSO”, como o conhecemos ainda hoje;
- Nesse período conhece o Brasil profundo,
se deslocando constantemente por Mato Grosso, Espírito Santo, Bahia, Minas
Gerais, Roraima, Amazonas e Acre.
Durante essa clandestinidade, só não foi
“guia de cego”, mas exerceu diversas atividades como: agrimensor, auxiliar de
enfermagem, retratista, peão de fazenda de cacau, sempre agitando e tentando
organizar o povo;
- Mesmo depois da Anistia política de
1979, continuou na semiclandestinidade por mais 28 anos, quando recupera, na
justiça, o direito de resgatar seu nome verdadeiro, CARLOS AUGUSTO LIMA PAZ,
em 2007;
Uma
frustração política:
- No início dos anos 60, tentou contribuir
com o processo revolucionário de Cuba, mas, foi deportado 2 vezes da ilha. Na
1ª, fugiu do navio a nado. Ficou em prisão domiciliar em Havana e foi
deportado pela 2ª vez para a Guiana Inglesa, onde amargou nova prisão. Agora,
passados 60 anos, com a publicação de suas memórias, vai poder mostrar para
as autoridades cubanas, que não era um “gusano”.
Duas
“balsas” para Manacapuru
- Entre as muitas balsas que o PT amargou
no Acre, em duas delas o Cardoso foi passageiro privilegiado. Pegou “balsa”
na eleição para Prefeito de Rio Branco, em 1985, e para Deputado Estadual, em
2010;
Virtude
e Fortuna:
O Carlos Augusto, o Parangaba, o Mário
Ângelo, o Zé Roberto e o CARDOSO, nomes de uma mesma pessoa, tem as
qualidades que Maquiavel considera que um príncipe deve possuir. Ele teve a
virtude da coragem no enfrentamento da ditadura, e de jagunços do latifúndio.
Teve virtude e competência para
driblar os órgãos de informações do regime militar (SNI, DOPS e outros órgãos
de inteligência), que nunca descobriram que Carlos Augusto e Raimundo
Cardoso, tratava-se da mesma pessoa.
A sorte também o bafejou (a sorte, é a
fortuna de que fala Maquiavel). Como dizem no nordeste, ele tem sorte do que
“achar dinheiro em calçada alta” (a pessoa nem precisa se baixar para
apanhar). Sobre essa sorte, basta dizer que amargou várias prisões, mas não foi
torturado, como muitos de seus companheiros. Escapou de ir para a guerrilha
do Araguaia, onde poucos revolucionários sobreviveram, como por exemplo, José
Genoíno o Prefaciador do livro.
- CARDOSO, hoje aos 83 anos, “já de meio
dia prá tarde” continua na luta, de onde nunca se retirou, e hoje, nos brinda
com suas memórias!!
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