sábado, 5 de dezembro de 2015

6 DE DEZEMBRO - DIA DO EXTENSIONISTA

 

Amanhã é um dia especial para os que fazem a Extensão Rural Brasileira, pois comemoraremos o nosso dia, instituido em alusão a criação da ACAR - Minas Gerais, em 6 de dezembro de 1948. E lá se vão 67 anos sendo "a cara do governo no campo" implementando suas políticas. Quando completamos 60 anos, em 2008, fizemos uma bonita festa em Minas Gerais. Na oportunidade escrevi esse artigo, que considero continuar atual. Apenas atualizei a data e alguns nomes de colegas, que "subiram" depois de 2008. Compartilho.



PAIXÃO E EXTENSÃO

Marcos Inácio Fernandes*

“Sem paixão não dá nem para chupar um picolé”.
Nelson Rodrigues (1912 – 1980)

         A Extensão é isso. Uma paixão desenfreada, arrebatadora, prazerosa. Igualmente ao que se diz do Acre, a Extensão é um vício. Depois que você é contaminado ele não lhe larga mais, em que pese todas as dificuldades desse ofício de educar e de trabalhar com os produtores familiares mais humildes e descapitalizados. Agora, no dia 6 de dezembro, estaremos comemorando 60 anos de Extensão Rural no Brasil. Faremos uma festa no Estado que lhe serviu de berço, Minas Gerais, porque temos o que festejar e o que comemorar. Vamos celebrar, por exemplo, o fato de sermos uma Instituição Republicana, que sempre respeitou a coisa pública, que nunca se envolveu em corrupção, malversação de recursos públicos e outras falcatruas administrativas. E olhe que são quase 6 décadas de atuação em todos os Estados e em milhares de municípios. Iremos também comemorar a nossa RESISTÊNCIA (institucional e física).         Resistimos ao “milagre econômico” do Delfim (68-73); a 2 choques do petróleo (1973/79); 2 acordos com o FMI (83 e 98); 1 moratória sobre o pagamento da dívida (87); 3 crises cambiais; 3 reformas monetárias; 7 planos econômicos; 11 ministros da Fazenda (de Sarney a FHC) e os incontáveis (des)governos estaduais. Resistimos, sobretudo, ao cataclismo NEOLIBERAL de desmonte do Estado e o sucateamento dos serviços públicos, inclusive, da Extensão Rural. Resistimos e sobrevivemos. Ainda temos seqüelas da crise aguda que atravessamos a partir da extinção da EMBRATER, em 1988/1990. É bom lembrar que a EMBRATER foi extinta duas vezes. A primeira vez, por Decreto Presidencial do Sarney e, depois, por Medida Provisória do Collor.

         No primeiro caso, fizemos a MARCHA SOBRE BRASÍLIA e lançamos a Campanha SOS EXTENSÃO e o Congresso Nacional nos ressuscitou. Mas com Collor não teve jeito, o Sistema desmoronou sem “choro, sem vela e sem fita amarela” Agonizou, mas, não morreu, a exemplo de um samba antológico do Nelson Sargento (Agoniza Mas Não Morre).. Hoje, passados 3 lustros da canetada do caçador de marajás, estamos ativos e operantes, nos reencontrando com a nossa história e buscando um jeito novo de caminhar nos varadouros e meandros de uma nova Política Nacional de ATER. O PNATER, que foi elaborado de forma participativa, envolvendo a sociedade organizada com agentes governamentais e não governamentais, entidades de classe, comunidade acadêmica e inúmeros técnicos e extensionistas, nos coloca novos e enormes desafios, tanto no campo conceitual, operacional, institucional e político. Estamos estudando e aprendendo novos conceitos, tais como: sustentabilidade, agroecologia, territorialidade, empoderamento, governança, empreendedorismo e no caso do Acre o conceito de FLORESTANIA.

         Aqui no Acre estamos vivenciando uma transição do nosso serviço – da EXTENSÃO RURAL para a EXTENSÃO AGROFLORESTAL – temos a presunção e a pretensão de nos tornarmos “UM SERVIÇO EDUCATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL”. E a sustentabilidade para nós é sinônimo de FLORESTANIA, que incorpora as dimensões política, cultural, econômica, social, ambiental e ética. Florestania como a promoção do homem todo (na sua integralidade física e espiritual) e de todos os homens, que convivem nesse espaço de sociabilidade em interação com a natureza, que deve ser preservada e cuidada, para que as gerações futuras, também possam desfrutar desse patrimônio.

         A missão parece impossível? Para missionários com uma visão religiosa tradicional, que se conforma e se contenta com a perspectiva de uma vida melhor no outro mundo, pode ser. Para nós extensionistas, educadores, agentes políticos de transformação, temos a sensatez de querermos o IMPOSSÍVEL, porque quando você faz de início o necessário e em seguida o possível, em breve, estará fazendo o impossível como nos ensina São Francisco de Assis, (podia ser o padroeiro da Extensão).

         Aqui no Acre já começamos a fazer o IMPOSSÍVEL ou o que parecia ser impossível. Exemplos: desde 1999, pagamos mais de 34 milhões de dívidas; regularizamos 3 meses de salários atrasados e estamos pagando, religiosamente, dentro do mês e 13º salário, dentro do ano; implantamos o Plano de Carreira dos Servidores; construímos o Núcleo de Extensão Florestal e estamos concluindo a reforma da nossa sede central; saímos de 55 técnicos em campo, em 1998, para 183, em 2005; fizemos investimentos de mais de 3 milhões com compras de veículos, computadores, instalações físicas, etc.; instalamos 2 Unidades de Gestão Ambiental Integrada-UGAIs; disponibilizamos mais de 100 milhões de reais de crédito rural, em 7 anos, para os produtores familiares e elaboramos e publicamos a nossa proposta de Extensão Agroflorestal, que está balizando as nossas ações.

         E os “milagres” já começam a ser vislumbrados! Tem até extensionista veteranos, que estavam lotados no “central”, retornando para o interior e o trabalho de campo!! Isso só tem sido possível, por uma questão muito simples – COMPROMISSO POLÍTICO DO NOSSO GOVERNO ESTADUAL E FEDERAL. O Governador Jorge Viana, tirou o nosso serviço da sarjeta e colocou no primeiro plano das políticas públicas. Hoje nós somos uma SECRETARIA DE ESTADO, caso único e inédito no Brasil. A SEATER,(hoje SEAPROF), ademais, comanda 2 Empresa importantes a EMATER (que todos já conhecem) e a CAGEACRE (armazenamento, escoamento da produção). No plano nacional, os Presidentes Lula e Dilma, tem demonstrado, concretamente, seus compromissos de construir “UM PAÍS DE TODOS”. A Agricultura Familiar, com o PRONAF, vai disponibilizar 9 bilhões de reais para a safra 2005/2006; o Luz Para Todos; o Fome Zero; o Bolsa Família e tantos outros programas sociais avançam e apontam para um futuro melhor. Não há crise política que obscureça os números da economia e as conquistas do Governo Lula/Dilma. E nós, extensionistas, somos gratos. Queremos, por fim, compartilhar esse CICLO VIRTUOSO que estamos tendo o privilégio de desfrutar, com os que ajudaram a construir o nosso serviço no Acre e “já subiram”, são eles: Zaqueu Machado, Hélio Pimenta, Cezário Braga, Célio Artur, Lú e Janduí, Mota, Seu Assis, Casquinha, Aurélio, Adauto Cruz, Mocinha (que varria nossos pés quando a gente não “arretirava” pra ela varrer), Álvaro Rocha, Maria Roseli e Pedrinho Oliveira,Cartaxo, Frazão, Franklin, Jesus Noronha, Jesus (motorista), seu Henrique, Alves, Reginaldo e Nilson Josuá (“seu menino”). Eu não sou muito crente não, mas tenho certeza que a energia que vocês gastaram na Extensão do Acre, continua a circular por aqui e nos proporciona bons fluidos e muita disposição para seguir na caminhada com vontade, com ternura, com o apego e a sofreguidão que só a paixão proporciona.



Rio Branco-AC, 6 de dezembro de 2015

                                            *Marcos Inácio Fernandes
                                                   (Extensionista)


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