Amanhã é um dia especial para os que fazem a Extensão Rural Brasileira, pois comemoraremos o nosso dia, instituido em alusão a criação da ACAR - Minas Gerais, em 6 de dezembro de 1948. E lá se vão 67 anos sendo "a cara do governo no campo" implementando suas políticas. Quando completamos 60 anos, em 2008, fizemos uma bonita festa em Minas Gerais. Na oportunidade escrevi esse artigo, que considero continuar atual. Apenas atualizei a data e alguns nomes de colegas, que "subiram" depois de 2008. Compartilho.
PAIXÃO E EXTENSÃO
Marcos Inácio Fernandes*
“Sem paixão não dá nem para chupar um picolé”.
Nelson Rodrigues (1912 – 1980)
A Extensão é isso. Uma paixão
desenfreada, arrebatadora, prazerosa. Igualmente ao que se diz do Acre, a
Extensão é um vício. Depois que você é contaminado ele não lhe larga mais, em
que pese todas as dificuldades desse ofício de educar e de trabalhar com os
produtores familiares mais humildes e descapitalizados. Agora, no dia 6 de dezembro,
estaremos comemorando 60 anos de Extensão Rural no Brasil. Faremos uma festa no
Estado que lhe serviu de berço, Minas Gerais, porque temos o que festejar e o
que comemorar. Vamos celebrar, por exemplo, o fato de sermos uma Instituição
Republicana, que sempre respeitou a coisa pública, que nunca se envolveu em
corrupção, malversação de recursos públicos e outras falcatruas
administrativas. E olhe que são quase 6 décadas de atuação em todos os Estados
e em milhares de municípios. Iremos também comemorar a nossa RESISTÊNCIA
(institucional e física). Resistimos
ao “milagre econômico” do Delfim (68-73); a 2 choques do petróleo (1973/79); 2
acordos com o FMI (83 e 98); 1 moratória sobre o pagamento da dívida (87); 3
crises cambiais; 3 reformas monetárias; 7 planos econômicos; 11 ministros da
Fazenda (de Sarney a FHC) e os incontáveis (des)governos estaduais. Resistimos,
sobretudo, ao cataclismo NEOLIBERAL de desmonte do Estado e o sucateamento dos
serviços públicos, inclusive, da Extensão Rural. Resistimos e sobrevivemos.
Ainda temos seqüelas da crise aguda que atravessamos a partir da extinção da
EMBRATER, em 1988/1990. É bom lembrar que a EMBRATER foi extinta duas vezes. A
primeira vez, por Decreto Presidencial do Sarney e, depois, por Medida
Provisória do Collor.
No primeiro caso, fizemos a MARCHA SOBRE
BRASÍLIA e lançamos a Campanha SOS EXTENSÃO e o Congresso Nacional nos
ressuscitou. Mas com Collor não teve jeito, o Sistema desmoronou sem “choro,
sem vela e sem fita amarela” Agonizou, mas, não morreu, a exemplo de um samba
antológico do Nelson Sargento (Agoniza Mas Não Morre).. Hoje, passados 3 lustros
da canetada do caçador de marajás, estamos ativos e operantes, nos
reencontrando com a nossa história e buscando um jeito novo de caminhar nos
varadouros e meandros de uma nova Política Nacional de ATER. O PNATER, que foi
elaborado de forma participativa, envolvendo a sociedade organizada com agentes
governamentais e não governamentais, entidades de classe, comunidade acadêmica
e inúmeros técnicos e extensionistas, nos coloca novos e enormes desafios, tanto
no campo conceitual, operacional, institucional e político. Estamos estudando e
aprendendo novos conceitos, tais como: sustentabilidade, agroecologia,
territorialidade, empoderamento, governança, empreendedorismo e no caso do Acre
o conceito de FLORESTANIA.
Aqui no Acre estamos vivenciando uma
transição do nosso serviço – da EXTENSÃO RURAL para a EXTENSÃO AGROFLORESTAL –
temos a presunção e a pretensão de nos tornarmos “UM SERVIÇO EDUCATIVO PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL”. E a sustentabilidade para nós é sinônimo de
FLORESTANIA, que incorpora as dimensões política,
cultural, econômica, social, ambiental e ética. Florestania como a promoção
do homem todo (na sua integralidade física e espiritual) e de todos os homens,
que convivem nesse espaço de sociabilidade em interação com a natureza, que
deve ser preservada e cuidada, para que as gerações futuras, também possam
desfrutar desse patrimônio.
A missão parece impossível? Para
missionários com uma visão religiosa tradicional, que se conforma e se contenta
com a perspectiva de uma vida melhor no outro mundo, pode ser. Para nós
extensionistas, educadores, agentes políticos de transformação, temos a
sensatez de querermos o IMPOSSÍVEL, porque quando você faz de início o necessário e em seguida o possível, em
breve, estará fazendo o impossível
como nos ensina São Francisco de Assis, (podia ser o padroeiro da Extensão).
Aqui no Acre já começamos a fazer o
IMPOSSÍVEL ou o que parecia ser impossível. Exemplos: desde 1999, pagamos mais
de 34 milhões de dívidas; regularizamos 3 meses de salários atrasados e estamos
pagando, religiosamente, dentro do mês e 13º salário, dentro do ano;
implantamos o Plano de Carreira dos Servidores; construímos o Núcleo de
Extensão Florestal e estamos concluindo a reforma da nossa sede central; saímos
de 55 técnicos em campo, em 1998, para 183, em 2005; fizemos investimentos de
mais de 3 milhões com compras de veículos, computadores, instalações físicas,
etc.; instalamos 2 Unidades de Gestão Ambiental Integrada-UGAIs; disponibilizamos
mais de 100 milhões de reais de crédito rural, em 7 anos, para os produtores
familiares e elaboramos e publicamos a nossa proposta de Extensão
Agroflorestal, que está balizando as nossas ações.
E os “milagres” já começam a ser
vislumbrados! Tem até extensionista veteranos, que estavam lotados no
“central”, retornando para o interior e o trabalho de campo!! Isso só tem sido
possível, por uma questão muito simples – COMPROMISSO POLÍTICO DO NOSSO GOVERNO
ESTADUAL E FEDERAL. O Governador Jorge Viana, tirou o nosso serviço da sarjeta
e colocou no primeiro plano das políticas públicas. Hoje nós somos uma
SECRETARIA DE ESTADO, caso único e inédito no Brasil. A SEATER,(hoje SEAPROF),
ademais, comanda 2 Empresa importantes a EMATER (que todos já conhecem) e a
CAGEACRE (armazenamento, escoamento da produção). No plano nacional, os
Presidentes Lula e Dilma, tem demonstrado, concretamente, seus compromissos de
construir “UM PAÍS DE TODOS”. A Agricultura Familiar, com o PRONAF, vai
disponibilizar 9 bilhões de reais para a safra 2005/2006; o Luz Para Todos; o
Fome Zero; o Bolsa Família e tantos outros programas sociais avançam e apontam
para um futuro melhor. Não há crise política que obscureça os números da
economia e as conquistas do Governo Lula/Dilma. E nós, extensionistas, somos
gratos. Queremos, por fim, compartilhar esse CICLO VIRTUOSO que estamos tendo o
privilégio de desfrutar, com os que ajudaram a construir o nosso serviço no
Acre e “já subiram”, são eles: Zaqueu Machado, Hélio Pimenta, Cezário Braga,
Célio Artur, Lú e Janduí, Mota, Seu Assis, Casquinha, Aurélio, Adauto Cruz,
Mocinha (que varria nossos pés quando a gente não “arretirava” pra ela varrer),
Álvaro Rocha, Maria Roseli e Pedrinho Oliveira,Cartaxo, Frazão, Franklin, Jesus Noronha, Jesus (motorista), seu Henrique, Alves,
Reginaldo e Nilson Josuá (“seu menino”). Eu não sou muito crente não, mas tenho
certeza que a energia que vocês gastaram na Extensão do Acre, continua a
circular por aqui e nos proporciona bons fluidos e muita disposição para seguir
na caminhada com vontade, com ternura, com o apego e a sofreguidão que só a
paixão proporciona.
Rio Branco-AC, 6 de dezembro de 2015
*Marcos Inácio Fernandes
(Extensionista)
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