Tela de Eugène Delacroix - "A Liberdade conduzindo o povo"- 1830.
por Mouzar Benedito
Nós sociólogos (sic)
fazemos muitas atividades por aí, e sempre nos perguntam como é que o Saci
perdeu uma perna. Há várias versões. Conto a que prefiro.
Reza a lenda que o Saci era um
pequeno deus guarani – pequenino mesmo, um curumim. Os colonizadores, para facilitarem
o domínio dos povos indígenas, “transformaram” todos os seus deuses em
demônios. Para aumentar o preconceito contra o Saci, nos tempos de escravidão
negra, o transformaram em negro. E ele foi pego e escravizado por um
fazendeiro. À noite, ficava acorrentado por uma perna, preso a um cepo na
senzala. Uma noite, ele mesmo cortou a perna presa e fugiu. Preferiu ser um
perneta livre do que um escravo de duas pernas.
Nestes tempos em que tem gente
desprezando solenemente a liberdade, e aspirando a volta da ditadura, me
lembrei disso. E coletei um monte de frases sobre o tema. Aí vão.
Benjamin Franklin: “Aqueles que abrem
mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem
a liberdade nem a segurança”.
Benjamin Franklin, de novo: “Onde
mora a liberdade, ali está minha pátria”.
Graham Greene: “Heresia é apenas um
outro nome para liberdade de pensamento”.
Virginia Woolf: “Não há barreira,
fechadura ou ferrolho que possas impor à liberdade da minha mente”.
Jeanne Manon Roland: “Liberdade,
liberdade, os crimes que se cometem em teu nome”.
Machado de Assis: “A liberdade não é
surda-muda nem paralítica. Ela vive, ela fala, ela bate as mãos, ela ri, ela
assobia, ela clama, ela vive da vida”.
O gêmeo Paulo, no romance Esau
e Jacó, de Machado de Assis: “A abolição é a aurora da liberdade;
emancipado o preto, resta emancipar o branco”.
Bakunin: “A liberdade do outro
estende a minha ao infinito”.
Françoise Sagan: “Desejo tanto que
respeitem a minha liberdade que sou incapaz de não respeitar a dos outros”.
Clarice Lispector: “A liberdade é
pouco. O que eu quero ainda não tem nome”.
Clarice Lispector, de novo: “Acho que
devemos fazer coisa proibida, senão sufocamos. Mas sem sentimento de culpa e
sim como aviso de que somos livres”.
Clarice Lispector, mais uma vez: “Eu
tenho uma aparente liberdade, mas estou presa dentro de mim”.
Clarice Lispector, ainda: “Mas quero
a liberdade de dizer coisas sem nexo como profunda forma de te atingir. Só o
errado me atrai, e amo o pecado, a flor do pecado”.
E mais uma da Clarice Lispector: “A
liberdade ofende”.
Stanislaw Ponte Preta: “Política tem
esta desvantagem: de vez em quando, o sujeito vai preso, em nome da liberdade”.
Rubem Alves: “O desejo de liberdade é
mais forte que a paixão. Pássaro, eu não amaria quem me cortasse as asas.
Barco, eu não amaria quem me amarrasse no cais”.
Marina Tsvetayeva: “A liberdade é uma
puta bêbada esperneando contra um soldado que tenta dominá-la”.
Luís Freitas Rodrigues: “A liberdade
não evita que um indivíduo se torne hipócrita; é contudo, inegavelmente, uma
lei contra a hipocrisia”.
Marquês de Maricá: “O que ganhamos em
autoridade, perdemos em liberdade”.
Não sei quem: “Se você acha que a
liberdade não enche a barriga, tente passar dez anos na prisão com a barriga
cheia”.
Nietzsche: “Qual é o sinal da liberdade
realizada? Não sentir vergonha de si mesmo”.
Nietzsche, de novo: “O homem livre é
imoral, porque em todas as coisas quer depender de si mesmo e não de algo
estabelecido”.
Carlos Drummond de Andrade: “A
liberdade é defendida com discursos e atacada com metralhadoras”.
Balzac: “A liberdade leva à desordem,
a desordem à repressão, e a repressão novamente à liberdade”.
Juscelino Kubistchek: “Não consentirá
o governo que a liberdade seja utilizada para assassinar a própria liberdade”.
Juscelino, de novo: “A liberdade,
para nós, corresponde a uma série de conquistas econômicas, sociais e
políticas”.
D. Quixote: “Liberdade é o direito
que se tem de não permitir que os outros façam aquilo que querem”.
José Bonifácio: “O amor da liberdade
deve ser, na frase bíblica, invencível como é a morte; deve, como o apóstolo,
ter a sede do infinito; deve ser grande como o universo que o contém”.
Graça Aranha: “A liberdade é uma
relatividade humana, que forçamos à existência para a nossa ilusão criadora”.
Gustave Le Bon: “Muitos são os homens
que falam de liberdade, mas poucos são os que não passam a vida a construir
amarras”.
Jean-Jacques Rousseau: “O homem
nasceu livre e por toda a parte vive acorrentado”.
Rousseau, de novo: “Povos livres,
lembrai-vos desta máxima: a liberdade pode ser conquistada mas nunca
recuperada”.
Baruch Espinoza: “É aos escravos, e
não aos homes livres, que se dá um prêmio para os recompensar por terem se
comportado bem”.
Manuel de Barros: “Quem anda nos
trilhos é trem. Sou água que corre entre pedras – liberdade caça jeito”.
Guimarães Rosa: “A água de boa qualidade
é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quando acaba”.
Guimarães Rosa, de novo: “O
passarinho na gaiola pensa que uma árvore e o céu o prendem”.
Henrik Ibsen: “Nunca vista as suas
melhores calças quando sair para lutar pela liberdade e pela verdade”.
Millôr Fernandes: “A liberdade é um
cachorro vira-lata”.
Millôr, de novo: “Não existe
liberdade consentida. A liberdade é de baixo para cima, imposta
pelas reivindicações e pela consciência do indivíduo. As tiranias, por vontade
própria, jamais dãoliberdade. Apenas, à proporção em que se sentem
seguras, vão pondo elos na corrente que prende todos os cidadãos”.
Millôr, mais uma vez: “Ser livre, é
bom notar, não é ser libertado. ‘Eu te dou toda liberdade’ é a restrição
suprema”
Denis Diderot: “O homem só será livre
quando o último rei for enforcado com as tripas do último padre”.
Rui Barbosa: “Bem acanhado tino o dos
que preferem a coroa do terror que um sopro arrebata, à do contentamento
público na liberdade, que a gratidão perpetua”.
Montesquieu: “A liberdade é o direito
de fazer tudo que as leis permitem”.
Thomas Jefferson: “O preço da
liberdade é a eterna vigilância”
George Orwell: “Às vezes penso que o
preço da liberdade não é tanto a eterna vigilância, mas o eterno jogo sujo”.
Nelson Rodrigues: “A liberdade é mais
importante que o pão”.
Adão Myszak: “Na época atual, a
liberdade só existe para os fortes. Ninguém precisa dos fracos”.
Austregésilo: “Ser livre, para o
homem contemporâneo, é ser justo, é ser culto, é respeitar o direito alheio, o
direito individual, diante de si mesmo”.
Coelho Neto: “Nada mais livre do que
a natureza e, todavia, é regida por leis invariáveis”.
Heitor Moniz: “O liberalismo tem uma
bandeira bonita e aspectos exteriores que o tornam na verdade sedutor. É apenas
uma aparência enganosa”.
Heitor Moniz, de novo: “O liberalismo
tudo promete ao povo e dá tudo aos fortes e aos ricos”.
Vivaldo Coaraci: “O homem é tanto
mais livre quanto maior a sua capacidade de renúncia”.
Antônio Costa: “Liberdade! A natureza
toda é um espelho onde a tua grandeza se reflete”.
Leôncio Basbaum: “Liberdade quer
dizer vida e natureza, em toda sua exuberante, espontânea e livre
manifestação”.
Leoni Kaseff: “O fim último da vida
não é o progresso, nem mesmo a verdade, mas a liberdade”.
Wilson Chagas: “É livre quem aprendeu
a livrar-se daquilo que o impede justamente de ser livre”.
Albert Camus: “Julgavam-se livres e
nunca alguém será livre enquanto houver flagelos”.
Dei Bao: “A liberdade não é nada
senão a distância entre a caça e o caçador”.
Victor Hugo: “Tudo que aumenta a
liberdade, aumenta a responsabilidade”.
George Bernard Shaw: “Liberdade
significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem medo dela”.
Sigmund Freud: “A maioria das pessoas
não quer realmente a liberdade, pois a liberdade envolve responsabilidade, e a
maioria das pessoas tem medo da responsabilidade”.
George Orwell: “Se a liberdade
significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o
que elas não querem ouvir”.
Rabindranah Tagore: “É tão fácil
esmagar, em nome da liberdade exterior, a liberdade interior”.
Mahtma Gandhi: “A prisão não são as
grades, a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na
prisão. É uma questão de consciência”.
Goethe: “Ninguém é mais escravo do
que aquele que se julga livre sem o ser”.
Francis Bacon: “É um estranho desejo,
desejar o poder e perder a liberdade”.
Voltaire: “Se o homem nasceu livre,
deve governar-se; se ele tem tiranos, deve destroná-los”.
Madame de Staël: “A liberdade e o
amor são incompatíveis. Quem ama é sempre escravo”.
Malcolm X: “Não se pode separar paz
de liberdade, porque ninguém consegue estar em paz sem que tenha sua
liberdade”.
Pablo Neruda: “Você é libre para
fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências”.
Simone de Beauvoir: “Querer ser livre
é querer livres os outros”.
Simone de Beauvoir, de novo: “O homem
é livre. Para essa liberdade só há um caminho: o desprezo das coisas que não
dependem de nós”.
Benito Mussolini: “A verdade é que os
homens estão cansados de liberdade”.
Isaac Asimov: “A liberdade não tem
preço, a mera possibilidade de obtê-la já vale a pena”.
José Martí: “A liberdade custa muito
caro e temos que nos resignarmos a viver sem ela ou nos decidirmos a pagar seu
preço”.
Che Guevara: “Sonha e serás livre de
espírito… Luta e serás livre na vida”.
Gustave Le Bom: “Para os homens, a
liberdade, na maioria dos casos, não é outra coisa senão a faculdade de
escolherem a servidão que mais lhe convém”.
Nelson Mandela: “Nenhum poder na
Terra é capaz de deter um povo oprimido, determinado a conquistar a liberdade”.
John Lennon: “A mulher é o negro do
mundo. É a escrava dos escravos. Se ela tenta ser livre, tu dizes que ela não
te ama. Se ela pensa, tu dizes que ela quer ser homem”.
Hilda Hilst: “Sinto-me livre para
fracassar”.
Woody Allen: “A liberdade é o
oxigênio da alma”.
Henri Barbusse: “A liberdade e a
fraternidade são palavras, enquanto a igualdade é uma coisa”.
Bob Marley: “Acredito na liberdade
para todos, não apenas para os negros”.
Beethoven: “Os músicos utilizam todas
as liberdades que podem”.
Cecília Meireles: “Liberdade de voar
num horizonte qualquer, liberdade de pousar onde o coração quiser”.
Leon Tolstoi: “Não alcançamos a
liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim,
mas uma consequência”.
Lauro de Oliveira Lima: “Tudo está
fluindo. O homem está em permanente reconstrução; por isso é livre: liberdade é
o direito de transformar-se”.
Fernando Pessoa: “A liberdade é a
possibilidade de isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo”.
Jean Paul Sartre: “A pátria, a honra,
a liberdade… Nada disso! O Universo gira em torno de um par de nádegas e isso é
tudo…”.
Luís Fernando Veríssimo: “Mas eu
desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do
ridículo”.
Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946,
o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais
alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG,
Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em
São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela
Boitempo, Ousar Lutar(2000), em co-autoria com José Roberto
Rezende, Pequena enciclopédia sanitária(1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção
Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2017, e-book). Colabora
com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.
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