domingo, 26 de maio de 2019

ECOS DE STALINGRADO E O MITO DE PROMETEU







Ecos de Stalingrado e o mito de Prometeu*

Por: Marcos Inácio Fernandes

“Ele fica sentado em uma casa com telefones?
Seus pensamentos são secretos, suas decisões desconhecidas?
Quem é ele?
Nós somos ele.
Você, eu, vocês – nós todos. (...)

Não siga sem nós o caminho correto
Ele é sem nós
O mais errado.
Não se afaste de nós!
Podemos errar, e você pode ter razão, portanto
Não se afaste de nós!

Que caminho curto é melhor que o longo, ninguém nega
Mas quando alguém conhece
E não é capaz de mostrá-lo a nós, de que nos serve sua sabedoria?
Seja sábio conosco!
Não se afaste de nós!”

Mas Quem é o partido - Bertolt Brecht (1898-1956)

Na 2ª guerra mundial, a blitzkrieg nazista, dava um “passeio” na Europa. Hitler invadiu a Polônia, anexou a Áustria e ocupou a França. Só foi parado em Stalingrado, que resistiu ao cerco da elite do exército nazista por quase um ano. A região, que abrigava as reservas de petróleo da URSS, foi o palco mais dramático e violento da guerra. Apenas naquela cidade, vítimas do fogo alemão, da fome e do frio, morreram 2 milhões de russos**. Mas, “Stalingrado não caiu!”. Era assim que terminava os boletins informativos da guerra da BBC de Londres, amplificando e elevando a moral dos combatentes, para resistir e derrotar o nazismo. Registre-se que o exército vermelho foi o primeiro a entrar em Berlim.

Talvez seja despropositado estabelecermos uma analogia daqueles fatos históricos, do século passado, com a situação atual do nosso partido o Partido dos Trabalhadores – PT. O certo é que, guardadas as proporções e o contexto histórico, nós também estamos submetidos a bombardeios e uma artilharia de saturação, que recai há anos sobre nossas cabeças, também com baixas consideráveis.

As crises se sucedem. Mensalão, Petrolão, lava Jato, triplex, impeachment, sem crime de responsabilidade, condenações sem provas e prisões de nossas lideranças, inclusive a maior delas, Lula da Silva. Querem, a todo custo,  criminalizar o PT, cassar nossa sigla, como fizeram com o PCB em 1946, e extinguir a “nossa raça” e “acabar com a petralhada”.

Resistimos, porque temos compromisso com o nosso povo e, fomos gestados e forjados, ao longo desses 39 anos, no seio da classe trabalhadora, através de suas organizações e de suas lutas. Temos lastro, temos base social e ainda muita gordura prá queimar.

Hoje o partido tem 1,5 milhões de filiados, 2.975 vereadores, 256 prefeitos 85 deputados estaduais, 54 deputados federais, 6 senadores e 4 governadores, entre os quais a única mulher governadora no Brasil. É um ativo institucional considerável. Ressalte-se, ademais, as 4 vitórias presidenciais consecutivas, que possibilitou, pela 1ª vez na nossa história, abrir a “caixa preta” do orçamento e incluir uma pequena fatia para os pobres e deserdados desse país. Nunca nos perdoaram por isso.

Portanto companheir@s, nós não podemos nos dá a irresponsabilidade política de dilapidar esse patrimônio do povo brasileiro. Mormente agora, quando a luta de classes atinge um novo patamar no Brasil e o poder das milícias, das facções e dos fascistas ameaçam a democracia e o processo civilizatório.

Reconhecemos que a crise é profunda e solapa todas as instituições da sociedade. Nesses momentos alguns se prostram, outros se recolhem, alguns sugerem atalhos e soluções mágicas. É nesse quadro que partidos trocam de nome, ARENA, vira PDS; PFL, vira DEMOCRATAS; PCB, vira PPS; cria-se partidos sem o “P” (REDE, SOLIDARIEDADE, PODEMOS). Nós do PT não precisamos recorrer a esses artifícios.  A nossa, sigla, nossa estrela de 5 pontas e nossas cores vermelha e branca, são marcas consolidadas. Eu diria até que a exemplo dos grandes nomes comerciais, a nossa “marca” é maior que o produto. Na esquerda brasileira, somos o único partido de massas e de quadros.

Aqui no Acre, destroçados que fomos recentemente pela derrota eleitoral e política, já é tempo de sair do marasmo e do imobilismo, como dizia Sérgio Roberto, e encarar nossos desafios políticos. É imperativo unir, de fato, nossas forças, recompor nossas energias e reorganizar o partido.

O problema é que nenhuma das correntes internas dispõe de condições políticas para aglutinar e recompor o partido e conduzi-lo nessa conjuntura adversa, agora na oposição. Por sua vez, os “cardeais” (agora todos “ex”), ou os “4 mosqueteiros”, como dizem as fontes murmurantes (Jorge, Angelim Marcus Alexandre e Binho), fazem movimentos e conversas políticas ao largo do partido e parecem que querem manter uma certa equidistância das instâncias partidárias. Pelo que aconteceu no processo eleitoral, desconfio que algumas feridas ainda estão abertas e talvez os companheiros precisem de um antibiótico mais forte e de mais tempo para cicatriza-las.

Aos valorosos companheiros, que são quadros de expressão nacional do nosso partido, nós não queremos, não devemos e nem podemos abrir mão de seus protagonismos na vida do nosso partido e da sociedade acreana. “Não se afastem de nós”. Como diz a música: “É melhor se sofrer juntos do que ser feliz sozinho...” (“Tomara” de Toquinho e Vinicius de Morais).
A exemplo de Prometeu, todos os dias os abutres comem nosso fígado, mas a noite ele se regenera e a vida continua. Nós também RESISTIREMOS!

Marcos Inácio Fernandes, é militante do PT e responde pela Secretaria de Formação do DM/Rio Branco.

Rio Branco (AC), 26 de maio de 2019

PS - *Prometeu - "o que pensa antes" — era um dos titãs mitológicos. Ele roubou o fogo de Zeus e deu aos homens, por isso foi castigado. Ele foi condenado a ficar acorrentado por 30 mil anos, com uma águia a lhe comer o fígado diariamente e o fígado se recompunha a noite. Sua última palavra foi: RESISTO!

** Na 2ª guerra, todos os países envolvidos no conflito, entre soldados e civis, morreram 47 milhões de pessoas. 26 milhões foram soviéticos.


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