MISERICÓRDIA!!!
Por: Marcos Inácio
Fernandes*
“Pelos
caminhos do mundo,
Nenhum
destino se perde:
Há
os grandes sonhos dos homens,
E
a surda força dos vermes.”
(Fragmento do Romance XXIV,
ou de Joaquim Silvério, do Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles)
Ontem acompanhando a
votação do impeachment na Câmara dos Deputados, me lembrei muito desses versos
da Cecília Meireles. Entretanto a palavra que sintetiza o que vimos ontem a
noite é essa - M-I-S-E-R-I-C-Ó-R-D-i-A!!! – E veja quanta ironia. Ela foi
proferida justamente pelo bandido/deputado que presidiu a sessão quando foi
proferir o seu voto: “Que Deus tenha misericórdia do Brasil. Voto SIM”. Como
diz o povo: “só mesmo Jesus na causa”. Faço como Chico Buarque e Vinicius de
Moraes em Gente Humilde: “eu que não creio peço a Deus por minha gente”. Que
ELE tenha misericórdia do nosso povo e interceda para que ele não seja
governado por Cunha e Temer (nessa ordem mesmo).
A outra coisa que me
chamou atenção foi constatar que Lula errou feio. Certa vez ele disse que havia
300 picaretas na Câmara. Agora sabemos o número exato. São 367 deputados entre
picaretas, oportunistas, achacadores, propineiros, misóginos, racistas,
intolerantes, homofóbicos, corruptos, torturadores e mais uma série de “qualidades”
que o Código Penal tipifica.
Nunca havia visto uma
densidade, tão grande, de cinismo e hipocrisia por metro quadrado, como o que
presenciamos ontem no plenário Ulisses Guimarães, da Câmara. Apenas os dotados
de bom estômago, nervos e coração em perfeito funcionamento foram capazes de
assistir até o fim. Eu aguentei, mas, depois tive que tomar uma cachacinha
(Samanaú de Caicó-RN) para suportar a derrota e poder dormir.
Agora o que mais me chocou
e indignou nas declarações de voto, não foram os deboches do “tchau Dilma”, “tchau
querida”, nem os votos destilando ódio das bancadas “BBB” (Boi, Bíblia e Bala),
dos Bolsonaros, pai e filho, dos Franscischeli, dos Felicianos do nosso
parlamento. Desses crápulas a gente pode esperar tudo, até mesmo uma boa ação.
Não nos causa espanto nem surpresa. O que me entristeceu e indignou, foi o voto
de José Silva do Solidariedade de Minas Gerais, meu colega e confrade da
Academia Brasileira de Extensão Rural – ABER e da frente parlamentar da
Extensão Rural. No seu voto ele votou SIM por Minas, pela Extensão Rural e pela
agricultura familiar. Foi no mínimo uma injustiça e uma ingratidão com Lula e
com Dilma, que tanto fizeram pela Extensão Rural e pela agricultura familiar,
como ele bem conhece. Mas eu avivo a memória do Zé Silva. Lula e Dilma fizeram
a PNATER a lei de ATER, a lei da ANATER, ampliou e colocou mais recursos no
PRONAF e no Plano Safra, criaram o PAA e o PNAE, o Luz Para Todos, Habitação
Rural, Brasil Sem Miséria e dezenas de outros programas. Você foi ingrato Zé.
Até que dá para entender o
seu voto SIM, já que você está num partido de oposição ao governo, que fechou
questão pelo impedimento de uma presidente honrada. Como eu sou da velha escola
do partidão, entendo o “centralismo democrático”, quando se diverge internamente,
mais uma vez o partido tomando uma posição, ou segue o partido ou sai do partido.
Agora você tripudiou e usurpou indevidamente em falar em nome do nosso serviço
e da agricultura familiar, que tenho certeza, majoritariamente, aprovam a
permanência de Dilma e do nosso projeto político. Só lamento e deploro.
No mais foi o que se viu. Votou-se SIM por
Deus, pelos Estados, pelas cidades, pela família e os animais de estimação e
até uma que me chamou atenção – a paz de Jerusalém. E cúmulo da ironia – contra
a corrupção tendo um corrupto presidindo a sessão. Faltou apenas votar baseado
na Constituição, que juraram defender. No mínimo cometeram perjúrio. É a surda
força dos VERMES.
*Marcos Inácio Fernandes é
professor aposentado e militante do PT
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