segunda-feira, 18 de abril de 2016

MISERICÓRDIA!!!





MISERICÓRDIA!!!

Por: Marcos Inácio Fernandes*

“Pelos caminhos do mundo,
Nenhum destino se perde:
Há os grandes sonhos dos homens,
E a surda força dos vermes.”

(Fragmento do Romance XXIV, ou de Joaquim Silvério, do Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles)

Ontem acompanhando a votação do impeachment na Câmara dos Deputados, me lembrei muito desses versos da Cecília Meireles. Entretanto a palavra que sintetiza o que vimos ontem a noite é essa - M-I-S-E-R-I-C-Ó-R-D-i-A!!! – E veja quanta ironia. Ela foi proferida justamente pelo bandido/deputado que presidiu a sessão quando foi proferir o seu voto: “Que Deus tenha misericórdia do Brasil. Voto SIM”. Como diz o povo: “só mesmo Jesus na causa”. Faço como Chico Buarque e Vinicius de Moraes em Gente Humilde: “eu que não creio peço a Deus por minha gente”. Que ELE tenha misericórdia do nosso povo e interceda para que ele não seja governado por Cunha e Temer (nessa ordem mesmo).
A outra coisa que me chamou atenção foi constatar que Lula errou feio. Certa vez ele disse que havia 300 picaretas na Câmara. Agora sabemos o número exato. São 367 deputados entre picaretas, oportunistas, achacadores, propineiros, misóginos, racistas, intolerantes, homofóbicos, corruptos, torturadores e mais uma série de “qualidades” que o Código Penal tipifica.
Nunca havia visto uma densidade, tão grande, de cinismo e hipocrisia por metro quadrado, como o que presenciamos ontem no plenário Ulisses Guimarães, da Câmara. Apenas os dotados de bom estômago, nervos e coração em perfeito funcionamento foram capazes de assistir até o fim. Eu aguentei, mas, depois tive que tomar uma cachacinha (Samanaú de Caicó-RN) para suportar a derrota e poder dormir.
Agora o que mais me chocou e indignou nas declarações de voto, não foram os deboches do “tchau Dilma”, “tchau querida”, nem os votos destilando ódio das bancadas “BBB” (Boi, Bíblia e Bala), dos Bolsonaros, pai e filho, dos Franscischeli, dos Felicianos do nosso parlamento. Desses crápulas a gente pode esperar tudo, até mesmo uma boa ação. Não nos causa espanto nem surpresa. O que me entristeceu e indignou, foi o voto de José Silva do Solidariedade de Minas Gerais, meu colega e confrade da Academia Brasileira de Extensão Rural – ABER e da frente parlamentar da Extensão Rural. No seu voto ele votou SIM por Minas, pela Extensão Rural e pela agricultura familiar. Foi no mínimo uma injustiça e uma ingratidão com Lula e com Dilma, que tanto fizeram pela Extensão Rural e pela agricultura familiar, como ele bem conhece. Mas eu avivo a memória do Zé Silva. Lula e Dilma fizeram a PNATER a lei de ATER, a lei da ANATER, ampliou e colocou mais recursos no PRONAF e no Plano Safra, criaram o PAA e o PNAE, o Luz Para Todos, Habitação Rural, Brasil Sem Miséria e dezenas de outros programas. Você foi ingrato Zé.

Até que dá para entender o seu voto SIM, já que você está num partido de oposição ao governo, que fechou questão pelo impedimento de uma presidente honrada. Como eu sou da velha escola do partidão, entendo o “centralismo democrático”, quando se diverge internamente, mais uma vez o partido tomando uma posição, ou segue o partido ou sai do partido. Agora você tripudiou e usurpou indevidamente em falar em nome do nosso serviço e da agricultura familiar, que tenho certeza, majoritariamente, aprovam a permanência de Dilma e do nosso projeto político. Só lamento e deploro.

 No mais foi o que se viu. Votou-se SIM por Deus, pelos Estados, pelas cidades, pela família e os animais de estimação e até uma que me chamou atenção – a paz de Jerusalém. E cúmulo da ironia – contra a corrupção tendo um corrupto presidindo a sessão. Faltou apenas votar baseado na Constituição, que juraram defender. No mínimo cometeram perjúrio. É a surda força dos VERMES.

*Marcos Inácio Fernandes é professor aposentado e militante do PT

Nenhum comentário:

Postar um comentário