domingo, 15 de maio de 2016

UMA LEITURA PARA TEMPOS DE GUERRA





Michel de Montaigne (1533-1592)

por: Marcos Inácio Fernandes

BAKEWELL, Sara – Como Viver ou Uma biografia de Montaigne em uma pergunta e vinte tentativas de resposta / Sara Bakewell; tradução Clóvis Marques. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

Nesses tempos sombrios de crise onde as patologias sociais afloram e se manifestam através do ódio, da intolerância, do fanatismo religioso e da injustiça, nada melhor do que atualizar as nossas leituras com os pensadores e filósofos humanistas.

Por isso que comecei a reler o meu exemplar da biografia de Montaigne da Sara Bakewell, que segundo o jornal The Guardian é “um guia para a vida”.  Voltaire (1694-1778), um dos maiores nome do Iluminismo, dizia que: “Perigoso não é o homem que lê, é o homem que relê”. Pretendo fazer essa releitura, não com a pretensão de me tornar perigoso, mas de me tornar mais resistente e preparado para o enfrentamento dos golpistas/fascistas, sem perder a ternura, como disse o comandante Ernesto Guevara Arce – o “Che” e para aprender COMO VIVER nesses tempos difíceis.

Eis uma pequena amostra do que essa leitura nos reserva. Consta da orelha do livro: “Excêntrico, preguiçoso, inconsistente, esquecido, Montaigne é o filósofo que quebrou um tabu e falou de si mesmo em público. Mais de quatrocentos anos depois, sua honestidade e seu charme continuam atraindo admiradores. Leitores o procuram em busca de companhia, sabedoria, entretenimento e em busca de si mesmos.

Este livro é uma fonte valiosa de pequenos conselhos: ler muito, mas manter a mente aberta; ser sociável, mas nos reservar um “quartinho” só nosso; observar o mundo a partir de ângulos diferentes, evitando assim rigidez nas crenças. Embora não tenha encontrado uma resposta definitiva, Montaigne nunca deixou de fazer a pergunta “como viver”, isto é: como equilibrar a necessidade de sentir-se seguro com a necessidade de sentir-se livre? Como superar a perda de uma pessoa que você ama? Como evitar discussões sem sentido? Como lidar com fanáticos? Como aproveitar ao máximo cada momento, para que a vida não escorregue despercebida por entre seus dedos?

O livro foi muito premiado e foi eleito um dos dez melhores livros de 2010 pela Library Journal, que disse: “o ensaio de Sarah Bakewell convida o leitor, na esteira de Flaubert, “a ler não para se divertir, como fazem as crianças, ou para ser educado, como fazem os ambiciosos. Ele nos convida a ler para viver”.

Pergunta: Como Viver?

Michel de Montaigne em uma pergunta e vinte tentativas de resposta.

1 – Não se preocupe com a morte;
2 – Preste atenção;
3 – Trate de nascer;
4 – Leia muito, esqueça quase tudo que lê e raciocine com lentidão;
5 – Sobreviva ao amor e as perdas;
6 – Recorra a pequenos truques;
7 – Questione tudo. Só sei que nada sei, e nem disso estou certo;
8 – Tenha um compartimento privado nos fundos da loja;
9 – Seja sociável: viva com os outros;
10 – Desperte do sono do hábito;
11 – Viva com temperança; elevando e baixando a temperatura;
12 – Preserve sua humanidade;
13 – Faça algo que ninguém nunca tenha feito;
14 – Conheça o mundo (viajens);
15 – Faça um bom trabalho, mas nem tão bom assim;
16 – Filosofe só por acaso;
17 – Reflita sobre tudo; não se arrependa de nada;
18 – Abra mão do controle;
19 – Seja comum e imperfeito;
20 – Deixe a vida responder por si mesma.

Observação final. Montaigne foi contemporâneo e amigo de Étienne De La Boétie (1530-1563), o autor do clássico da Ciência Política: Discurso da Servidão Voluntária, onde ele analisa com profundidade o problema da tirania e da liberdade. La Boétie é o teórico que primeiro aventou a possibilidade da desobediência civil contra tirania e as injustiças. É outra leitura fundamental para esse tempo atual de resistência a usurpação do poder no Brasil. (MIF)

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