Michel de Montaigne
(1533-1592)
por: Marcos Inácio Fernandes
BAKEWELL,
Sara
– Como Viver ou Uma biografia de Montaigne em uma pergunta e vinte tentativas
de resposta / Sara Bakewell; tradução Clóvis Marques. – Rio de Janeiro:
Objetiva, 2012.
Nesses tempos sombrios de
crise onde as patologias sociais afloram e se manifestam através do ódio, da
intolerância, do fanatismo religioso e da injustiça, nada melhor do que
atualizar as nossas leituras com os pensadores e filósofos humanistas.
Por isso que comecei a
reler o meu exemplar da biografia de Montaigne da Sara Bakewell, que segundo o
jornal The Guardian é “um guia para a vida”.
Voltaire (1694-1778), um dos maiores nome do Iluminismo, dizia que:
“Perigoso não é o homem que lê, é o homem que relê”. Pretendo fazer essa
releitura, não com a pretensão de me tornar perigoso, mas de me tornar mais
resistente e preparado para o enfrentamento dos golpistas/fascistas, sem perder
a ternura, como disse o comandante Ernesto Guevara Arce – o “Che” e para
aprender COMO VIVER nesses tempos difíceis.
Eis uma pequena amostra do
que essa leitura nos reserva. Consta da orelha do livro: “Excêntrico,
preguiçoso, inconsistente, esquecido, Montaigne é o filósofo que quebrou um
tabu e falou de si mesmo em público. Mais de quatrocentos anos depois, sua
honestidade e seu charme continuam atraindo admiradores. Leitores o procuram em
busca de companhia, sabedoria, entretenimento e em busca de si mesmos.
Este livro é uma fonte
valiosa de pequenos conselhos: ler muito, mas manter a mente aberta; ser
sociável, mas nos reservar um “quartinho” só nosso; observar o mundo a partir
de ângulos diferentes, evitando assim rigidez nas crenças. Embora não tenha
encontrado uma resposta definitiva, Montaigne nunca deixou de fazer a pergunta
“como viver”, isto é: como equilibrar a necessidade de sentir-se seguro com a
necessidade de sentir-se livre? Como superar a perda de uma pessoa que você
ama? Como evitar discussões sem sentido? Como lidar com fanáticos? Como
aproveitar ao máximo cada momento, para que a vida não escorregue despercebida
por entre seus dedos?
O livro foi muito premiado
e foi eleito um dos dez melhores livros de 2010 pela Library Journal, que
disse: “o ensaio de Sarah Bakewell convida o leitor, na esteira de Flaubert, “a
ler não para se divertir, como fazem as crianças, ou para ser educado, como
fazem os ambiciosos. Ele nos convida a ler para viver”.
Pergunta: Como Viver?
Michel de Montaigne em uma
pergunta e vinte tentativas de resposta.
1 – Não se preocupe com a
morte;
2 – Preste atenção;
3 – Trate de nascer;
4 – Leia muito, esqueça
quase tudo que lê e raciocine com lentidão;
5 – Sobreviva ao amor e as
perdas;
6 – Recorra a pequenos
truques;
7 – Questione tudo. Só sei
que nada sei, e nem disso estou certo;
8 – Tenha um compartimento
privado nos fundos da loja;
9 – Seja sociável: viva
com os outros;
10 – Desperte do sono do
hábito;
11 – Viva com temperança;
elevando e baixando a temperatura;
12 – Preserve sua
humanidade;
13 – Faça algo que ninguém
nunca tenha feito;
14 – Conheça o mundo
(viajens);
15 – Faça um bom trabalho,
mas nem tão bom assim;
16 – Filosofe só por
acaso;
17 – Reflita sobre tudo;
não se arrependa de nada;
18 – Abra mão do controle;
19 – Seja comum e
imperfeito;
20 – Deixe a vida
responder por si mesma.
Observação final.
Montaigne foi contemporâneo e amigo de Étienne De La Boétie (1530-1563), o
autor do clássico da Ciência Política: Discurso da Servidão Voluntária, onde
ele analisa com profundidade o problema da tirania e da liberdade. La Boétie é
o teórico que primeiro aventou a possibilidade da desobediência civil contra
tirania e as injustiças. É outra leitura fundamental para esse tempo atual de
resistência a usurpação do poder no Brasil. (MIF)
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