Esse texto eu utilizei como justificativa para o projeto de curso POLÍTICA PARA PRINCIPIANTES. O curso pode ser presencial e virtual e está programado inicialmente para 40 hs/aulas. O texto também foi publicado no jornal Página 20 de hoje (08/02/17). Esta é a contribuição que pretendo disponibilizar para uma CIDADANIA mais consciente. (MIF)
Começar
de Novo
(Apontamentos
para um processo de formação cidadã)
Por: Marcos Inácio Fernandes*
“O
pior analfabeto é o analfabeto político”.
Bertolt Brecht (1898 – 1956)
“A
luz do Sol é o melhor desinfetante.” Louis Brandeis (1856 – 1941)
“Quem
fala mal de político é como quem chupa pitomba. Cansa os queixos, desbota os
dentes, amarrota a língua e não enche barriga.” José Cavalcanti
(1918 -1994)
No Brasil, desde a Proclamação da
República em 1889, até a presente data, tivemos espasmos de democracia. Nos 127
anos de República, apenas 57 anos de democracia.
Na República Velha, que durou 41 anos, não se
pode falar de democracia. Tinha restrições ao voto, eleições fraudulentas,
partidos únicos estaduais hegemonizados por São Paulo e Minas, que se revezaram
no poder, no que se convencionou chamar de “República do Café com Leite”. Teve
tantas sublevações e extravagâncias na República Velha, que quero apenas ilustrar
com duas, a saber: O 2º Presidente da nossa história, o Marechal Floriano
Peixoto, nomeou um médico e dois generais para compor o Supremo Tribunal
Federal. O Presidente Arthur Bernardes (1922-1926), governou todo o seu período
em Estado de Sítio.
Com
o advento da “Revolução de 30”,quando Vargas assume o poder, tivemos um espasmo
de democracia que dura apenas 6 anos. Em
1937, ele daria o golpe do Estado Novo, outorga uma Constituição com viés
fascista – A Polaca, implantando uma ditadura violenta até 1945.
A
redemocratização de 1946, com uma nova Constituição promulgada, pluralidade
partidária, Congresso funcionando, etc. mal chegou a adolescência. Foi morta
aos 18 anos, com o golpe político/militar de 1964, que jogaria o país numa
noite de terror por longos 21 anos.
Saímos dessa noite em 1985, e promulgamos a
Constituição, que Ulysses Guimarães, Presidente da Constituinte, chamou de
cidadã, em 1988. Ela ainda nem havia se tornado uma “mulher de 30”, uma
balzaquiana madura e foi novamente golpeada com o golpe parlamentar, apelidado
de impeachment, que retirou do governo a
presidente Dilma Rousseff, democraticamente reeleita com 54,5 milhões de votos.
E tudo isso aconteceu sem que a cidadania tivesse forças
suficientes para barrar mais um atentado à Constituição e a democracia.
Em todo esse processo, com a contribuição da mídia e do
judiciário, a política tem sido criminalizada e a atividade parlamentar
enxovalhada.
A política tem sido
judicializada e a justiça politizada.
A democracia está sendo atacada por diversos flancos.
E as instituições não conseguem debelar a crise que se
espraia por todo o tecido social.
É nesse quadro de crise aguda que afloram todas as
patologias sociais.
Os sintomas mais graves dessas patologias podem ser
ilustrados pela tragédia recente de um pai ter assassinado um filho por
participar de manifestações estudantis e depois ter se matado; pela recente
invasão da Câmara dos Deputados por manifestantes pedindo a volta dos militares
e, mais recentemente, pela destilação de ódio, que Lula e sua família sofreram
durante a agonia, que vitimou sua companheira Marisa Letícia.
São tempos sombrios. E para sair das sombras e da
escuridão se faz necessário mais luz.
É nesse sentido que se esboça o presente projeto –
POLÍTICA PARA PRINCIPIANTES – para se tentar resgatar os valores da POLÍTICA e
da CIDADANIA, principalmente, entre os jovens, para que eles abandonem o
preconceito e o senso comum contra a política e absorvam os conceitos e os
valores corretos que a atividade política enseja e comporta.
Acreditamos que só atuando na formação política podemos
construir cidadania e fortalecer a democracia para que ela não volte a ser
atacada nas próximas gerações.
Façamos, pois, como recomenda São Francisco de Assis
(1182-1226) ”Inicie por fazer o necessário, então o que é possível e, de
repente, você estará fazendo o impossível”.
Como diziam os jovens revolucionários de 1968: “Sejamos
sensatos, queiramos o impossível”!!
*Marcos Inácio Fernandes é professor aposentado e
militante do PT.
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