quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

COMEÇAR DE NOVO

Esse texto eu utilizei como justificativa para o projeto de curso POLÍTICA PARA PRINCIPIANTES. O curso pode ser presencial e virtual e está programado inicialmente  para 40 hs/aulas. O texto também foi publicado no jornal Página 20 de hoje (08/02/17). Esta é a contribuição que pretendo disponibilizar para uma CIDADANIA mais consciente. (MIF)




Começar de Novo
(Apontamentos para um processo de formação cidadã)

Por: Marcos Inácio Fernandes*

“O pior analfabeto é o analfabeto político”.  Bertolt Brecht  (1898 – 1956)

“A luz do Sol é o melhor desinfetante.” Louis Brandeis (1856 – 1941)

“Quem fala mal de político é como quem chupa pitomba. Cansa os queixos, desbota os dentes, amarrota a língua e não enche barriga.” José Cavalcanti (1918 -1994)                                                                                    
       No Brasil, desde a Proclamação da República em 1889, até a presente data, tivemos espasmos de democracia. Nos 127 anos de República, apenas 57 anos de democracia.
 Na República Velha, que durou 41 anos, não se pode falar de democracia. Tinha restrições ao voto, eleições fraudulentas, partidos únicos estaduais hegemonizados por São Paulo e Minas, que se revezaram no poder, no que se convencionou chamar de “República do Café com Leite”. Teve tantas sublevações e extravagâncias na República Velha, que quero apenas ilustrar com duas, a saber: O 2º Presidente da nossa história, o Marechal Floriano Peixoto, nomeou um médico e dois generais para compor o Supremo Tribunal Federal. O Presidente Arthur Bernardes (1922-1926), governou todo o seu período em Estado de Sítio.
Com o advento da “Revolução de 30”,quando Vargas assume o poder, tivemos um espasmo de democracia que dura apenas 6 anos.  Em 1937, ele daria o golpe do Estado Novo, outorga uma Constituição com viés fascista – A Polaca, implantando uma ditadura violenta até 1945.
A redemocratização de 1946, com uma nova Constituição promulgada, pluralidade partidária, Congresso funcionando, etc. mal chegou a adolescência. Foi morta aos 18 anos, com o golpe político/militar de 1964, que jogaria o país numa noite de terror por longos 21 anos.
 Saímos dessa noite em 1985, e promulgamos a Constituição, que Ulysses Guimarães, Presidente da Constituinte, chamou de cidadã, em 1988. Ela ainda nem havia se tornado uma “mulher de 30”, uma balzaquiana madura e foi novamente golpeada com o golpe parlamentar, apelidado de impeachment, que retirou do governo a presidente Dilma Rousseff, democraticamente reeleita com 54,5 milhões de votos.
E tudo isso aconteceu sem que a cidadania tivesse forças suficientes para barrar mais um atentado à Constituição e a democracia.
Em todo esse processo, com a contribuição da mídia e do judiciário, a política tem sido criminalizada e a atividade parlamentar enxovalhada.
 A política tem sido judicializada e a justiça politizada.
A democracia está sendo atacada por diversos flancos.
E as instituições não conseguem debelar a crise que se espraia por todo o tecido social.
É nesse quadro de crise aguda que afloram todas as patologias sociais.
Os sintomas mais graves dessas patologias podem ser ilustrados pela tragédia recente de um pai ter assassinado um filho por participar de manifestações estudantis e depois ter se matado; pela recente invasão da Câmara dos Deputados por manifestantes pedindo a volta dos militares e, mais recentemente, pela destilação de ódio, que Lula e sua família sofreram durante a agonia, que vitimou sua companheira Marisa Letícia.
São tempos sombrios. E para sair das sombras e da escuridão se faz necessário mais luz.
É nesse sentido que se esboça o presente projeto – POLÍTICA PARA PRINCIPIANTES – para se tentar resgatar os valores da POLÍTICA e da CIDADANIA, principalmente, entre os jovens, para que eles abandonem o preconceito e o senso comum contra a política e absorvam os conceitos e os valores corretos que a atividade política enseja e comporta.
Acreditamos que só atuando na formação política podemos construir cidadania e fortalecer a democracia para que ela não volte a ser atacada nas próximas gerações.
Façamos, pois, como recomenda São Francisco de Assis (1182-1226) ”Inicie por fazer o necessário, então o que é possível e, de repente, você estará fazendo o impossível”.
Como diziam os jovens revolucionários de 1968: “Sejamos sensatos, queiramos o impossível”!!  

*Marcos Inácio Fernandes é professor aposentado e militante do PT. 


  

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