quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A BENÇÃO MEU PAI

Hoje meu pai, se vivo estivesse, completaria 92 anos. Há 30 anos que ele virou poeira de estrelas vagando pelo cosmos. Lembro dele com ternura e saudades. Foi um bom pai e era um homem bom. Essa poesia, que guardo comigo desde os anos 70, expressa co muita fididegnidade, o que foi em vida seu INÁCIO FERNANDES DESIDÉRIO (02/02/1925 - 28/07/1987) - Um homem bom!



Poema do Homem Bom

Roberto César Marques Lucena

"Para que serve um homem bom?
Um homem bom não serve para muita coisa
A não ser para ser bom.
Esse negócio de homem bom
Tornou-se com o tempo
Um objeto obsoleto
Abandonado,
Extremamente velho e ridículo
Totalmente dispensável
À sociedade.

Para que serve um homem bom?
Ninguém sabe
Eu acho que prá nada
Para ser bom.

Um homem bom nunca será um bom bispo
Um bom encanador
Um bom presidente
Um bancário bom
Ou um bom governador.

Não saberá se sair bem na vida
Fugir as situações
Tomar besteiras e whisky em grupos
Paquerar
Mentir ou adular
Em suma viver o que é hoje.

Prá que serve um homem bom?
Acho que para nada
Acho que para ser bom.

Um homem bom nunca terá uma mulher boa
Ou uma boa mulher
Nunca terá os chamados amigos
E carregará no olhar cansado
Nos gestos tristes
Nas mãos vazias
A descaradez e a senvergonhice de ser bom.

Um homem bom não se sentirá
Bem
Em sua casa
Nem na rua
Na sua
Ou na lua.

A cada negação
A cada dia
Morrerá mais e mais.

Um homem bom não serve mesmo para nada
Nem para ligar o botão da televisão.

Um homem bom
Já não lê jornais
Não vê televisão
E hoje é alguma coisa cansada
Com facilidades
Das facilidades.

Um homem bom já
Não fala
Já não pensa
Não tem opções
Não vota (não acha em quem)

O que faz a gente voltar à rotina
E perguntar de novo:
Para que serve...

Um homem bom é negação à vida
Uma companhia extremamente fastidiosa
Incompreensiva e chata.
Um homem bom não serve
 para ser guia de cego
para leiteiro,
pipoqueiro ou bicha.

Não tem aquele requinte da mentira
Aquela capa
Que esconde outra capa
Que esconde outra capa
Que esconde outra capa
E tantas capas
Como as caras
As idéias
E os desprincípios dos outros
Os homens
Virulentamente normais.

O homem bom
Sorri
Acredita
E fica nisso
Morto de doido
Morto de triste."

(Pinçado da revista Meio- Fio. 1971)

 Sua cédula de identificação.
.
 Meu pai soldado da Aeronáutica. Serviu no pós-guerra em Natal e Fernando de Noronha.

 A única foto que tenho junto com meu pai tirada em Fernando de Noronha no início dos anos 50. (Meu pai, D. Lia (mamãe), D, Ana Amélia (minha avó materna), eu e Ailton. O cachorro não lembro o nome.)

 A melhor foto do meu pai (tirada em Jorge Mário, um dos melhores fotógrafos de Natal dos anos 60)



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