30
anos sem Mario Ribeiro (1956-1985)
É amanhã o aniversário de sua passagem. Num
final de uma manhã de sábado de 1985, seu irmão Manoel Ribeiro, (que também já
subiu), me telefonava e me dava a triste notícia do falecimento de seu irmão,
vítima de um aneurisma cerebral, no esplendor dos seus 29 anos. Naquela data me
tornei um acreano, pois nessa terra, começava a enterrar meus mortos. Mário
Ribeiro, amigo e irmão, foi o 1º deles. Um ano depois de sua prematura partida,
escrevi esse artigo, em sua reverência, que agira se acrescentam mais 29 anos.
Um
Ano Sem Mário Ribeiro
Marcos Inácio
Fernandes
“Duas
vezes se morre:
Primeiro na carne,
depois no nome.
A carne desaparece, o
nome persiste, mas
Esvaziando-se de seu
casto conteúdo
- Tantos gestos,
palavras, silêncios –
Até que um dia
sentimos,
Com uma pancada de
espanto (ou de remorso?)
Que o nome querido já
nos soa como os outros”.
(Fragmento do poema: Os
Nomes de Manuel Bandeira)
Faz um ano que Mário se
foi, mas o seu nome, os seus gestos, o seu sorriso infantil são lembranças
ardorosamente vivas e presentes.
A segunda morte, (a do
nome), ainda não aconteceu:MÁRIO RIBEIRO, esse nome querido, vai soar para os
seus familiares e amigos sempre diferente. Nunca será um simples nome do cadastro do contribuinte, da lista telefônica ou dos obituários dos jornais.
Mário Ribeiro, para
nós, será sempre sinônimo de vida, de amizade, de trabalho, de companheirismo,
de alegria, de honestidade, de afeição, de desprendimento, de coragem, de
ternura, enfim, de todas aquelas qualidades que caracterizam um homem bom.
Mário era um homem
bom.Talvez, por isso, ele tenha nos deixado tão prematuramente, porque um homem
bom, como disse um outro poeta, não serve para muita coisa, só serve para ser
bom.
Mário foi um dos
primeiros amigos que fiz no Acre, pois ele era daqueles pessoas que mal a gente
conhece já fica querendo bem, parecendo que a amizade que se inicia, já vem de
longas datas, como se fosse uma amizade de infância.
Através do Mário fui
introduzido na pelada do DPA, no campo da Embrapa, onde fiz outros grandes amigos.
Por causa do Mário comecei a torcer pelo Atlético Acreano (uma herança
dolorosa) mas, perfeitamente compreensível. É que as pessoas de coração largo
têm uma tendência natural de torcer e lutar pelos mais fracos.
E Mário tinha um
coração de animal pré-histórico. (Era grande demais e sem a poluição da era
industrial). Trabalhamos, bebemos, jogamos e nos divertimos juntos e, em todas
as atividades em que tive o privilégio de estar a seu lado, trago as mais
gratas e alegres recordações.
Hoje, passado 1 ano que
ficamos privados do seu convívio, de sua presença física, as lembranças se
avivam com grande intensidade em nossas mentes e em nossos corações. Vou sempre
me lembrar do “e aí meu” (palavras iniciais que ele usava quando me
telefonava). Vou sempre rir daquela frase na partida de buraco (Eu e seu primo,
ele e o Franklin) eu perguntei se ainda jogava e ele respondeu: “joga sim, mas
na outra” e bateu o jogo pegando a gente de mão cheia de cartas e soltou aquela
sua risada característica.
Lembro ainda do nosso
encontro na Bahia no Congresso de Veterinária, das cervejadas na Raimundinha,
das peladas na quadra da PM (com aquela camisa ridícula do Flamengo) e tantas
outras passagens que faz a gente lembrar do Mário sempre com ternura, com
alegria, com saudade.
Mário, está fazendo um
ano que nós também morremos um pouco, pois “o homem morre tantas vezes, quanta
vezes perde os seus” (1). Segundo Plauto, aqueles que os Deuses estima morre
jovem. Você, com certeza, era um estimado dos Deuses, por isso, Eles, divinamente
egoístas, o chamaram tão cedo.
Descanse em boa
companhia Mário, amigo e irmão.
Marcão (enfim um
acreano, pois nessa terra já enterrei os meus mortos).
Rio Branco, 28 de julho
de 1986
(1)
Frase de Públio Siro (Século I a.C)
Sentenças.