Por: Carlos Augusto Lima Paz
(Parangaba/Cardoso)
e Marcos Inácio Fernandes. (Marcão)*
“O patriotismo é o último refúgio dos
canalhas”.
Samuel Johnson (1709-1784)
A questão militar no Brasil é um
assunto quase tabu. Ele é muito pouco abordado e discutido na sociedade. Mesmo
no meio acadêmico, a bibliografia existente é escassa, considerando o
protagonismo que os militares desempenharam em momentos cruciais da nossa
história. Então para que a gente entenda um pouco o papel degradante, que os
militares desempenham no atual governo do
tenente, que nem pro Exército serviu, mas que se tornou seu Comandante
em Chefe é necessário conhecer, minimamente, o papel que os militares
desempenharam ao longo da nossa história. Hoje ficamos escandalizados e
perplexos em ver um comandante em chefe das Forças Armadas bater continência
para bandeira americana, revelando todo servilismo e falta de soberania que o
gesto encerra e os militares nem coram pois são coniventes. Já não se fazem
militares nacionalistas como antigamente.
Então para entender, em parte, a
questão militar, iremos recorrer a história e mostrar, que o desvio de
finalidade das Forças Armadas, especialmente, do Exército Brasileiro, “vem de
longe”, como dizia o Brizola e como assinala o historiador Manoel Bonfim: “O
povo no Brasil sempre serviu aos poderosos, ou como jagunço, ou como soldado,
ou como eleitor.” Nesse texto vamos mostrar como os SOLDADOS,
serviram aos poderosos e talvez possamos entender e relativizar, que prestar
continência à bandeira americana é um gesto até banal, apesar do simbolismo que
ele encerra.
- AS DATAS DRAMÁTICAS E OS MILITARES
- 1838 a 1841: Revolução
dos Balaios
Nesse período entre os
anos de 1838 a 1841 eclodiu na Província do Maranhão a revolta dos BALAIOS
liderada pelo artesão Manoel Francisco Ferreira, apelidado de balaio porque
fazia cesto de cipó junto com a família. Foi uma revolta popular composta de
camponeses, trabalhadores livres, negros escravos fugitivos da opressão
agrária, pequenos comerciantes e gente do povo. Os revoltosos tomaram a cidade
de Caxias a segunda maior cidade depois da Capital São Luiz. O governo Imperial
designou o coronel do Exército Francisco Alves de Lima e Silva, para sufocar a
rebelião, o coronel com mais de 5.000 soldados bem armados travou vários
combates sangrentos ao longo de quatro anos de guerra, onde morreram mais de
12.000 pessoas, ao término da revolta com a vitória das forças imperiais
diga-se, do exército, o coronel Francisco Alves Lima e Silva, foi agraciado com
o título de Barão de Caxias e depois governador do Maranhão.
- 1864 a 1870: Guerra
do Paraguai
As
causas da guerra podem ser resumidas nas disputas territoriais na Bacia Platina
sobre a navegação dos rios Paraná e Paraguai nos países da região – Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai. As questões de navegação, econômicas e de
fronteiras que envolviam os países da região foram se agravando a partir de
1862, redundando na guerra, que teve início em dezembro de 1864 e se prolongou
até 870. Formou-se uma “Tríplice Aliança” com Brasil, Argentina e Uruguai para
combater o Paraguai. Foram 3 contra 1.
Essa
guerra é descrita pelo jornalista Júlio josé Chiavenato como “o GENOCÍDIO
AMERICANO”, pois estima-se que nela morreram cerca de 400 mil pessoas entre
militares e civis. Quase toda população masculina do Paraguai foi dizimada,
sofrendo as maiores baixas da guerra, de quase 300 mil pessoas. O Exército e a
Armada brasileira mobilizaram um efetivo de mais de 100 mil combatentes,
inclusive índios e negros escravizados. Com as baixas da guerra por deserção,
por combate e por doenças o Império teve que recorrer aos índios e negros
escravos no esforço de guerra. “Em
lei de 1866, o governo imperial concedia liberdade aos escravos da nação para
que servissem no exército, bem como estipulava a doação de prêmios honoríficos
a particulares que libertassem seus escravos para combater”. Em síntese, os senhores vendiam seus escravos para o governo fazer guerra.
Quem começou o genocídio contra o Paraguai foi o
Marechal Caxias, comandante das tropas brasileiras. O Patrono do Exército, em carta ao
Imperador Pedro II datada de 18 de novembro de 1867, teria afirmado que “para
vencer o Paraguai, o Império precisaria matar o último paraguaio no ventre de
sua mãe...” (CHIAVENATO, ). E assim foi feito. O Exército brasileiro cometeu um
genocídio contra o Paraguai, numa aliança com a Argentina e Uruguai. A guerra
da Tríplice Aliança jamais foi abraçada pelos soldados e marinheiros do Império
do Brasil, que fugiam quando chegavam os recrutadores e, mesmo depois de
alistados, desertavam às pencas, apesar das severas punições que lhe eram
impostas.
Ao fim e ao cabo, o
Conde D’Eu, casado com a Princesa Izabel, concluiu o que Caxias havia iniciado.
O Paraguai, que na época tinha cerca de 800 mil habitantes perdeu mais da
metade da população na guerra. Estima-se que morreram cerca de 600 mil,
restando uma população de menos de 200 mil pessoas, das quais 15.000 era do
sexo masculino e, destes cerca de 2/3 tinham menos de 10 anos de idade. O país
foi destroçado.
As perdas dos vencedores
também foram consideráveis. O Brasil, perdeu em combate e por doença, entre 60
e 100 mil homens e gastou a quantia de 614 mil contos de réis. “Esse alto
gasto gerou o endividamento do país com instituições bancárias da Inglaterra.”
(DORATIOTO, 2013). Em resumo pode-se dizer que quem lucrou com a guerra foi o
Imperialismo Inglês. O Exército sai fortalecido e cria a Escola Superior de
Guerra, pelo General Luís Maria Campos e a influência das teorias Positivistas
na tropa iria contribuir para a extinção da escravatura e o fim da Monarquia
com o 1º golpe militar do Exército proclamando a República.
- 1889: o 1º golpe ninguém esquece
Após a Guerra do Paraguai, as Forças
Armadas sofrem forte influência abolicionista e republicana. Vários pequenos
atritos incompatibilizam a corporação com a Monarquia. As punições contra
militares descontentes levam Benjamin Constant e outros líderes a apressar a
derrubada do regime Monárquico. A República, portanto, começa com uma
quartelada militar do Exército, encabeçada pelo Marechal Deodoro da Fonseca.
- 1896: Guerra de Canudos
Foi o 2º genocídio do Exército contra
seu próprio povo. Foi o conflito armado que aconteceu em Canudos no Estado da
Bahia com início em novembro de 1896 e término em outubro de 1897 com 25.000
pessoas mortas, massacradas pelo Exército. Existem várias versões sobre a causa
da Guerra de Canudos umas até tentando esconder a verdadeira causa. Hoje
sabemos por vários livros e pesquisadores que a causa foi a luta pela terra. Os
sem-terra daquela época encontraram imensas extensões de terra abandonadas às
margens do Rio Vaza Barris em Canudos - BA, foram trabalhando plantando
alimentos de subsistência e construindo moradias, com eles se assenta o guia
espiritual, Antônio Vicente Maciel, (Antônio Conselheiro) um Cearense de
Quixeramobim que sabia ler e escrever. Os sem- terra abandonados pelo estado,
analfabetos e com fome foram chegando à região e logo nasce uma vila depois um
grande arraial chegando a ser a segunda maior população da Bahia depois da
capital Salvador. Aparece um Barão. Barão de Jeremoabo, Cicero Dantas Martins,
reivindicando a posse da terra dizendo ser sua a propriedade e, por ser barão e
grande latifundiário, solicita providências ao governo da Bahia para acabar com
a invasão na sua propriedade, logo foi atendido de pronto, O governo da Bahia
autoriza um contingente policial à Canudos para despejar as famílias ali
residentes. Dos que foram para realizar o despejo, os policiais que escaparam,
evadiram-se pelas matas e lá não voltaram. Foi aí que o governo baiano solicita
apoio do governo federal, o Presidente Prudente de Morais o primeiro presidente
civil da república recém-nascida. De pronto entra o Exército com um batalhão
para desalojar os moradores de Canudos, o Exército foi derrotado por um povo
armado de ”espingardinha” de encher pela boca. A terceira expedição foi
comandada pelo coronel Moreira César, carrasco da Guerra do Paraguai, o coronel
que degolava seus prisioneiros, este morreu em Canudos com um tiro na barriga.
Com a derrota da terceira expedição o governo recua e se prepara para a quarta
expedição. Importa armas modernas da Alemanha, a metralhadora chega pela
primeira vez ao Brasil, para combater Canudos. O efetivo da quarta expedição
foi composta por vinte batalhões do exército cerca de vinte mil homens,
batalhões mobilizados do Estado do Amazonas ao Rio grande do Sul. A última
batalha de Canudos foi muito cruel, o Arraial cercado por grande contingente do
Exército, o povo de conselheiro resistiu até o último homem, foi praticamente,
o retorno do ser humano à barbárie o Exército degolou todos prisioneiros entre
homens mulheres e crianças. O massacre, a carnificina, foi no mês de outubro de
1897 final do Sec. XIX.
-1910: A Revolta da
Chibata
“Na noite de 22 de
novembro de 1910, no governo do presidente Hermes da Fonseca, recém empossado,
é surpreendido com a “Revolta da Chibata” na Marinha Brasileira. Os
marinheiros, amotinados, tomam o couraçado Minas Gerais e apontam seus canhões
contra a capital da República. Outros navios aderem ao motim liderado pelo
marinheiro João Cândido (denominado por Aldir Blanc e João Bosco, como o
“Almirante Negro” no samba “Mestre Sala dos Mares”, que retrata musicalmente o
episódio). Os marinheiros encaminham suas reinvindicações: “Não queremos a
volta da chibata. Isso pedimos ao presidente da República, ao Ministro da
Marinha. Queremos resposta já e já. Caso não tenhamos, bombardearemos a cidade
e os navios que não se revoltarem.” No dia 24, o Senador Rui Barbosa, que havia
perdido a eleição para Hermes da Fonseca, apresentou projeto de lei concedendo
anistia aos revoltosos. Ele dizia: “Extinguimos a escravidão sobre a raça
negra. Mantivemos, porém, a escravidão no Exército e na Armada, entre os
servidores da pátria, cujas condições tão simpáticas são todos brasileiros.” O
projeto foi aprovado na Câmara e no Senado. Entretanto o perdão durou pouco
tempo. Os rebelados foram expulsos da Marinha e centenas de marujos foram
presos, inclusive João Cândido. 16 presos em cárcere com cal jogados nas celas,
não resistiram e muitos outros foram deportados para a Amazônia. Em 1912, João
Cândido foi julgado e absolvido, mas não foi reintegrado à Marinha. Ao todo,
1.200 marujos foram expulsos, presos e desterrados e muitos perderam a vida,
mas os castigos corporais foram abolidos na Armada.
- 1912 a 1916: Guerra do Contestado
Contestado foi o nome dado numa disputa de
divisas entre os estados do Paraná e de Santa Catarina. A causa da guerra foi a
construção da Estrada de Ferro que ligava São Paulo a Rio Grande do Sul,
construída por um magnata americano Percival Farquar, o mesmo que construiu a
Ferrovia Madeira Mamoré (1912) a Ferrovia da morte ou a Ferrovia do desastre
que não funcionou. Para construir a ferrovia Percival Farquar negocia como
Governo Brasileiro, Presidente Venceslau Braz a doação das terras 15 Km de
largura em cada margem e ao longo da extensão da ferrovia projetada e o direito
de extrair e exportar toda a madeira. Para tanto tinha que “limpar” as terras,
isto é, expulsar os moradores. No início a polícia de ambos os estados passa a
pressionar os habitantes para buscarem outro lugar fora da área de construção
da ferrovia. Foi aí que começou a reação dos moradores da região, mobilizando o
povo para resistir, a resistência ganhou corpo a tal ponto que a polícia
tornou-se impotente para cumprir as ordens do governo.
O exército intervém e
então começa a guerra de fato, a guerra da contestação, de um lado o povo
simples desprovido de meios e de apoio governamental, do outro o Exército
lutando contra os compatriotas que devia protege-los, veja o Exército
defendendo os interesses de um magnata americano, foram quatro anos de guerra.
Com um resultado trágico de 20.000 mortos. Os generais Setembrino de Carvalho e
Carlos Frederico de Mesquita, foram os comandantes indicados pelo alto comando.
- 1930: Os tenentes
se sublevam contra as oligarquias
“Os tenentes estão
treinados e divididos. A rebelião dos tenentes conturba a década de 20. É a
revolta da pequena burguesia radical contra o domínio oligárquico. Seu ponto
alto é a Coluna Prestes (1924-1926), que percorre o Brasil, comandada pelo
“Cavaleiro da Esperança”, Luís Carlos Prestes, então capitão do Exército. Em
1930, alguns dos tenentes, como Juarez Távora, têm papel decisivo na
“revolução” que leva Getúlio ao poder.”
- 1937: O Estado Novo
“Os tenentes já são
pacatos generais. O tenentismo está dividido desde 1930: a ala esquerda aderiu
ao comunismo com Prestes; a ala direita – oligarquias dissidentes – sobe ao
poder com a revolução e se recompõe com as oligarquias tradicionais. A cúpula
militar encabeçada pelos generais Góes Monteiro e Dutra, participa da farsa do
“Plano Cohen”(1) e dá sustentação ao golpe de Getúlio, de 10 de novembro de
1937, implantando o Estado Novo.”
- 1945: Ares
democráticos, mas nem tanto!
“Os generais estão com a cabeça nos
Estados Unidos. Os generais da FEB (Força Expedicionária Brasileira) voltam da
Europa empolgados com os Estados Unidos. Também o ministro da Guerra de Vargas,
Góes Monteiro, está comprometido com os interesses americanos. Diante das
posições nacionalistas de Getulio, decide assumir as rédeas da transição e dá o
golpe em Vargas, que se recolhe a sua fazenda em São Borja, no Rio Grande do
Sul.”
-1954: A “República
do Galeão” da FAB
“Direita pró EUA vence
no Clube Militar. No Clube Militar havia vencido a chapa de direita, encabeçada
pelo general Etchegoyen. Militares pró americanos da “Cruzada Democrática”
fazem oposição implacável aos nacionalistas. Radicalização na FAB, após
atentado contra Lacerda e instaura-se a “República do Galeão”. Generais
preparam um golpe, frustrado pelo suicídio de Getúlio Vargas.”
-1964: O Golpe
Militar se consuma
“Cabos e sargentos
sonham coma revolução. Motim dos sargentos da Marinha e Aeronáutica em Brasília
(12-09-1963), revolta dos marinheiros no Rio 923-03-1964), e festa-comício na
Associação dos sargentos da Polícia carioca (30-03-1964), com a presença de
Jango, alarmam a cúpula militar. A agitação nas bases é a gota d’água: mesmo
oficiais legalistas aderem ao golpe militar de 31 de março de 1964.”
-1968: É o golpe
dentro do golpe com o AI-5
“A direita militar
domina e instaura-se o terror. Nacionalistas de extrema direita sem força
bastante para impor suas posições mantém, no entanto, espaços e barganhas. Com
tendências à radicalização, a média oficialidade é mantida sob controle pelos
altos oficiais. Está consolidado o poder militar e o regime assume caráter de
uma ditadura que não hesita em praticar terrorismo político. O AI-5
(10-12-1968) é instituído com suas graves consequências, tortura, assassinatos,
ocultação de cadáveres de presos políticos.”
- 1972: Guerrilha do
Araguaia
A Guerrilha do Araguaia – Foi um movimento guerrilheiro
armado que eclodiu em 1972, no Sul do Pará, seis anos após o inicio da
organização (1966), pelo PC do B, contra a ditadura militar que se instalou no
Brasil com o golpe militar de 1964, que suspendeu as garantias democráticas,
perseguiu estudantes, fechou universidades, prendeu lideranças, professores,
cientistas, artistas, trabalhadores, torturou, assassinou cometeu toda
perversidade com quem divergia. Como toda ditadura, campeia a arbitrariedade,
defende sempre o interesse de quem está por trás, de quem financiou, nesse caso
a elite capitalista brasileira e os Estados Unidos da América, através do
embaixador Lincoln Gordon. A guerrilha foi a causa e tudo isso. O PC do B, foi
organizando e deslocando para o Sul do Pará quadros da militância que se
dispuseram enfrentar a ditadura militar, esses guerrilheiros conseguiram adesão
de camponeses da região, mas o efetivo não atingiu a cem guerrilheiros, cem
pessoas entre homens e mulheres a maioria da classe média urbana (estudantes,
professores, médicos enfermeiros e dirigentes do P C do B. O ditador que estava
no governo de plantão general Garrastazu Médici, deu ordens expressa para
massacrar e não deixar sequer testemunha.
O governo do general
Médici, por sua vez mobilizou, Exército, Marinha, Aeronáutica, polícia do Pará,
Polícia do Maranhão e Polícia do Estado de Goiás, num total de 20.000 militares
para combater 100 guerrilheiros que portavam armas rústicas, o combate
propriamente dito, durou cerca de três anos, a guerrilha foi derrotada, os
prisioneiros foram todos fuzilados, alguns conseguiram sair do cerco, Eram patriotas,
jovens que sonhavam com um Brasil mais justo deram suas vidas por um sonho.
- 1984: A distensão,
lenta, segura e gradual
“Generais divididos na
questão sucessória. Os militares estão divididos: nas eleições no Clube
Militar, dissidentes e a oposição nacionalista-democrática obtém mais de 30%
dos votos. Na disputa pela sucessão, Médice apoia Maluf, Geisel apóia
Aureliano, Figueiredo diz apoiar Andreazza, mas anuncia oficialmente seu
desligamento da “coordenação” do processo sucessório.” O desfecho é a vitória
de Tancredo Neves sobre Paulo Maluf, no Colégio eleitoral, em 1985. A ditadura
militar de 1964, chega ao seu final e inicia-se a transição democrática.
- 2013 a 2016: Os
militares e as urdiduras do golpe
Em 29 de novembro de 2014, Jair Bolsonaro (ainda deputado pelo PP-RJ)
visita a cerimônia de formatura da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN),
centro de formação de aspirantes a oficiais do Exército. Em sua fala, Bolsonaro
se compromete a se candidatar em 2018 para: “seja o que Deus quiser, tentar
jogar à direita, esse país”. A partir de
então, os comandos militares franquearam a livre circulação de Bolsonaro nos
quartéis.
Em17 de Setembro de 2015, o então chefe do Comando Militar do Sul,
Hamilton Mourão, defendeu a deposição da Presidenta Dilma Rousseff, pois a
“vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, da má gestão e da
corrupção”. O general afirmou que carecia um despertar de uma luta patriótica
para a mudança”. A punição foi uma transferência de comando e posteriormente o
general Mourão iria compor a chapa com Bolsonaro.
-2015 -2016 - Michel Temer conspira com militares.
Michel
Temer narra em livro lançado em 2020, uma série de encontros que manteve com
militares antes do processo que levou à queda de Dilma Rousseff. O
ex-presidente destaca encontros com Eduardo Villas Bôas, então comandante do
Exército no governo de Dilma Rousseff, e Sérgio Etchegoyen. O primeiro, manteve
o posto no governo de Michel Temer. O segundo, como veremos a seguir, ocupou o
Gabinete de Segurança Institucional. Segundo Temer, havia temor dos militares
de que o Partido dos Trabalhadores alterasse a formação de acesso ao generalato
e a formação dos militares – ambas prerrogativas da Presidência da República.
-2018
– Ordem do dia por Twiter
Outro
episódico fatídico dos desdobramentos que evidenciam o golpe foi o
pronunciamento de Villas-Bôas, por meio de um tweet sobre o julgamento do habeas corpus de Lula da
Silva pelo STF em 2018. O oficial apesar de muito doente foi agraciado com alto
cargo no governo Bolsonaro, que manteve até pouco tempo. Eis o teor da pressão
do general sobre o Supremo: “Nessa situação que vive o Brasil, resta
perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país
e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”
E continuou: “Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o
anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à
Constituição, a paz social e à Democracia, bem como, se mantém atento às suas
missões institucionais.”
E
o STF não concedeu o habeas corpus ao Lula, que terminou preso e alijado de
participar das eleições de 2018, onde as pesquisas lhe apontavam como favorito.
-
2018 a 2022 – As Forças Armadas transformam-se em “PARTIDO MILITAR”
Embora
sem apresentar registro no TSE, as Forças Armadas foram cooptadas e aparelhadas
pelo governo do tenente, com milhares de cargos e benesses no 1º, 2º e 3º
escalão da esfera administrativa e transformaram-se no “partido militar” que dá
sustentação ao governo. O desastre do governo é “ferroviário”, como dizia Mino
Carta. A fome voltou, o desemprego continua e a inflação mostra a sua cara nos
supermercados e nos postos de gasolina e a imagem do país, perante a comunidade
internacional, nunca esteve tão abalada como agora. Enquanto isso os militares
se locupletam e até desfrutam de próteses penianas, porém a sua imagem e sua
“moral” perante a sociedade está definitivamente comprometida e não há prótese
que consiga levantar.
-
Reavivando a memória
Conhecendo um pouco dessa trajetória dos
militares, não nos surpreende que nos dias atuais exista essa enxurrada de
generais e coronéis apoiando e participando do pior governo da história do
Brasil. Governo corrupto, golpista, despreparado, entreguista, cometendo todo
tipo de absurdos político- administrativos contra os interesses nacionais sob a
aquiescência dos militares. Jair Bolsonaro, ex- tenente do exército,
indisciplinado imprestável para o serviço militar, depois de cometer uma série
de indisciplina, o comando do exército resolveu expulsá-lo e, para que ele não
saísse de mãos vazias, o comando deu o direito de ir para a reserva do exército
como capitão. Isto aconteceu no governo Geisel.
Jair Bolsonaro se lança a cargos
políticos no estado do Rio de Janeiro sendo eleito a deputado federal por
vários mandatos por mais de 23 anos sem nada de construtivo apresentar como
deputado, diga-se de passagem, que grande parte da sua votação veio de dentro
dos quartéis e da elite conservadora do Estado do Rio e milicianos que ele foi
apoiando ao longo dos anos.
Com o golpe parlamentar
contra a presidente Dilma, apoiado pelos generais e em seguida a exclusão do
ex-presidente Lula do processo eleitoral através de vários processos criminais julgado
e condenado por um Juiz parcial que resultou na sua prisão por 580 dias. Lula
preso, impedido de disputar a eleição para presidente da república, surge um
Bolsonaro apoiado pela elite capitalista, pela mídia , pelas forças armadas,
numa campanha porca, suja, mentirosa, campanha de ódio, tendo o Fake News
(noticias mentirosas) como arma principal da sua campanha, essa sujeira toda
foi apoiada pelos militares que infelizmente desbotaram a cor da farda que
vestem se misturando com um governo apátrida, se beneficiando dele com salários
acima do teto além de patentes antes abolidas, como é o caso da patente de
marechal que o governo Bolsonaro trouxe de volta para nomear alguns generais ao
posto de marechal que lhe dão sustentação, sem ter merecimento para tal
patente. Não posso generalizar tem algumas exceções, é minoria não pode se
manifestar se não é punida por indisciplina ou acusada de “comunista”, a besta
fera, que atraso.
Os Golpes Militares no Brasil
1- O primeiro golpe militar no Brasil,
foi feito pelo exército contra D Pedro II, chefiado pelo Marechal Deodoro e
arquitetado pelo tenente coronel Benjamin Constant, professor da escola militar
da Praia Vermelha No Estado do Rio de Janeiro, o principal efetivo era composto
por cadetes da escola militar.
2- O segundo golpe foi desencadeado pelo
Marechal Floriano Peixoto, que não entregou o cargo quando do término do
mandato de presidente, o que resultou na Revolução Federalista
3- O terceiro golpe – foi a deposição do
Presidente Washington Luiz pelo exército para impedir a posse de Júlio Prestes,
eleito presidente, para assumir o candidato derrotado Getúlio Vargas, em 1930.
4- O quarto Golpe - contra Getúlio Vargas –
agosto de 1954, que comete suicídio para não entregar o poder. A criação das
leis trabalhistas provocou a insatisfação das oligarquias e a criação da
Petrobrás em 1953 causou insatisfação do grande capital internacional
petrolífero contra o seu governo. O exército foi usado para cumprir a tarefa.
5- Golpe militar que depôs o Presidente
João Goulart, 1º de abril de 1964, financiado pelos grandes empresários
nacionais e o grosso do dinheiro veio da embaixada dos Estados Unidos no
Brasil, tendo como embaixador o Sr. Lincoln Gordon. A ditadura instalada durou
25 anos, governada por generais de quatro estrelas, perseguiu, prendeu,
torturou, matou muitos estudantes, professores, trabalhadores, profissionais liberais,
toda esta barbárie foi para defender os interesses do grande capital,
internacional (Estados Unidos) contra os interesses do Brasil.
6- Golpe Parlamentar (impeachment),
deposição da presidente Dilma Roussef, pelo congresso apoiado e pressionado
pelos generais que hoje servem ao governo Bolsonaro, uma ruma! e mais a embaixada americana.
7- Tentativa
de Golpe – Renúncia
do Presidente Jânio Quadros em agosto de 1961 o comando militar não aceitava a
posse do vice presidente o Sr João Goulart, eleito democraticamente, em eleição
direta. Leonel Brizola era governador do Rio Grande do Sul mobiliza o povo
gaúcho pela defesa da Constituição, pela posse do vice-presidente, cria a
campanha da legalidade. Comandava o III exército O general Machado Lopes, que
apoiou a posse de Jango, colocando o III exército de prontidão em respeito a
Constituição O movimento se espalhou ao longo do território brasileiro. Essa
atitude fez o comando militar recuar e Jango tomou posse. O comando das três
forças era, General Denys comandava o exército; Brigadeiro Grum Moss, comandava
a Aeronáutica e o almirante Sylvio Reck, comandava a marinha. Os golpistas
continuaram a conspirar e o golpe veio acontecer na madrugada de primeiro de
abril de 1964.
8- Tentativa de golpe por oficiais da
aeronáutica contra a posse de Juscelino Kubstchek, em 1955, movimento conhecido
como rebelião de Aragarças, comandada pelo major Veloso e pelo Capitão Lameirão
ambos da Aeronáutica. Comandava o 1º Exército, sediado no Rio de Janeiro o
General Henrique Lott, que de pronto colocou o Exército na rua acabou com a
gracinha da Aeronáutica e garantiu a posse de Juscelino.
Esta tentativa de golpe pela
aeronáutica foi a única fora da farda verde oliva,
que eu tenha conhecimento.
O exército
já teve em seus quadros bons militares, generais, coronéis, capitães, sargentos
e outras patentes nacionalistas defensores dos interesses nacionais. A melhor
safra de oficiais que deu dignidade e brio, surgiu com o movimento tenentista
nos anos 20 do Sec. XX. Esse movimento deixou para as gerações de militares
seguintes alguns exemplos como o enfrentamento com as oligarquias e o
compromisso com a defesa dos interesses nacionais. O movimento deu origem a
legendaria Coluna Prestes, comandada pelo também legendário capitão Luis Carlos
Prestes. Percorreram 25 000 km ao longo do território brasileiro a pé ou a
cavalo e nunca foram derrotados17. Foi quando os tenentes revolucionários
conheceram um Brasil agrário- latifundiário, baseado na grande propriedade da
terra e do outro lado um povo analfabeto escravizado sob os pés dos oligarcas.
A causa
defendida pelos tenentes tinha como bandeira: reforma agrária, saúde e
educação. Naquele período a porcentagem de analfabetos no Brasil era cerca de
80%, ficava difícil derrubar as oligarquias contando com um povo atrelado a
ela, pelo analfabetismo político. João Alberto, Estilac Leal, Juarez Távora,
Cordeiro de Farias, retornaram ao exército pelo governo Vargas, chegando ao
generalato, é bom que se diga que Cordeiro de Farias aderiu ao Golpe militar de
1964. Foram grandes defensores da criação da PETROBRAS e participaram da
campanha o Petróleo é Nosso ao contrário dos generais que estão no governo
Bolsonaro que defendem: o petróleo é deles.
Fazem falta ao Brasil de hoje,
generais do Exército que já se foram como Osvino Ferreira Alves, Henrique
Batista Teixeira Lott, Albuquerque Lima, Andrade Serpa, Machado Lopes, Ladário
Telles e outros.
Como
se vê, o exército sempre foi ao longo da sua existência, um braço armado do
Estado Brasileiro, dominado pelas oligarquias, que sempre se posicionou a
serviço desta e dos interesses do capital internacional, contra os reais
interesses do povo brasileiro. Atualmente no governo do ex tenente Bolsonaro
tem governado com ele cerca de 10.000 militares para lhe dar sustentação, ele
Bolsonaro chega ao descaramento de fazer continência para a bandeira dos
Estados Unidos, pedir ao presidente Biden para apoiá-lo na campanha da
reeleição porque o ex presidente Lula não é um amigo de confiança dos Estados
Unidos, esta aberração é assistida e apoiada pelos generais que estão no
governo e generais comandantes dos exércitos que silenciaram diante de tamanha
subserviência na mais descarada vassalagem. Que vergonha! A que ponto chegamos!
É preciso reformar as forças armadas para que estejam à altura de desempenhar o
seu papel como guardiã dos reais interesses do Brasil onde habita o povo
brasileiro, para tanto o próximo governo eleito deve começar a repensar a
questão militar devendo começar pela formação e reeducação da oficialidade.
- Reforma da Educação Militar
Mudar a grade curricular das forças armadas
proporcionar uma melhor educação aos militares, introduzir filosofia,
sociologia, história do Brasil (a verdadeira) para fazer esse pessoal pensar as
contradições na sociedade brasileira, pluralista, racista, concentradora da
renda e da terra para que não se eduque mais militares reacionários
antipatriotas como esses que afloraram no governo desastroso do tenente
indisciplinado Jair Messias Bolsonaro. Os militares precisam estudar para
compreender o Brasil. Eles terão que beber na fonte dos grandes teóricos e
romancistas que pensaram o Brasil como Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Otávio
Iani, Raimundo Faoro, Manoel Bonfim, Caio Prado Júnior, Euclides da Cunha
Milton Santos, Machado de Assis, Alberto Passos Guimarães, Guimarães Rosa,
Jorge Amado, Nelson Werneck Sodré, ...e tantos outros.
Considerações
finais:
Nas
corporações castrenses a DISCIPLINA e a HIERARQUIA são consideradas sagradas.
Diz-se que “antiguidade é posto” e “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.
Diz-se também que ordem se cumpre e não se discute.
Ao
final desse texto queremos externar a nossa gratidão e prestar o nosso tributo
aos militares que não cumpriram ordens extravagantes e salvaram muitas vidas e
um patrimônio cultural da humanidade. O nosso respeito e admiração
- Dietrich von
Choltitz (1894 – 1966), General Alemão
comandante da ocupação de Paris. Ele descumpriu a ordem de Hitler de queimar a
cidade Luz, quando os aliados estavam prestes a retomar a cidade. (Ver o filme:
Paris Está em Chamas?)
- Cel. Aviador
Alfeu de Alcântara Monteiro (1922 – 1964). Era o comandante da Base Aérea
de Canoas no Rio Grande do Sul, e desobedeceu a ordem dos militares golpistas
do Exército de bombardear a Palácio Piratini, onde Brizola instalou a “Cadeia
da Legalidade” na crise de 1962. O Coronel Alfeu foi uma das primeiras vítimas
do golpe de 64. Foi assassinado pelo coronel-aviador Roberto Hipólito da Costa,
sobrinho de Castelo Branco
- Capitão Sérgio Ribeiro
Miranda de Carvalho (1930 - 1994), conhecido como Sérgio Macaco.
Comandava uma tropa de elite da
Aeronáutica de busca e salvamento o PARA SAR. Ele não acatou a ordem do
Brigadeiro Burnier para utilização da unidade em uma escalada
de atos terroristas que seriam atribuídos à extremistas de esquerda. Tais atos
incluiriam a explosão do gasômetro do Rio de Janeiro na hora do rush e da
represa de Ribeirão das Lages. Sua insubordinação lhe custou uma reserva
compulsória e o ostracismo na força.
Em breve escreveremos um artigo mais detalhado sobre esses e outros
patriotas fardados que dignificam a instituição militar.
Aos militares do Brasil essa entrevista do general MARTIN ANTÔNIO
BALZA, da Argentina de abril de 1995.
“Nosso país viveu a década de 70, uma década assinalada
pela violência, pelo messianismo e pela ideologia. Sem buscar palavras
inovadoras, massa apelando aos velhos regulamentos militares, aproveito esta
oportunidade uma vez mais ao Exército, na presença de toda a sociedade ninguém
está obrigado a cumprir uma ordem imoral ou que se afaste das leis e dos
regulamentos militares. Quem o fizer incorre em conduta viciosa, digna de
sansão que sua gravidade requeira.
Sem eufemismo, digo claramente: delinque quem vulnera a
Constituição Nacional. Delinque quem para cumprir um fim que crê justo,
empregue meios injustos e imorais. A compreensão desse aspecto essencial faz a
vida republicana de um Estado.
Se não pudermos elaborar a dor e cicatrizar as feridas,
não teremos futuro. Não devemos mais negar o horror vivido e assim poder pensar
em nossa vida como sociedade que avança, superando pena e sofrimento. Em nome
da luta contra a subversão, o Exército derrubou o governo constitucional e se
instalou no poder em forma ilegítima, num golpe de Estado.
Venho pedir perdão por isso e assumir a responsabilidade
política pelo desatino cometido no passado. No poder, o Exército cometeu ainda
outros delitos. O Exército prendeu, sequestrou, torturou e assassinou tal qual
o fizeram os delinquentes subversivos – e muitos de seus membros viraram
delinquentes como eles.”
(Martin
Antônio Balza – Comandante Supremo do Exército Argentino. Entrevista concedida
ao jornalista Bernardo Neustadt, no programa Tiempo Novo da TV Argentina, em 25
de abril de 1995. Transcrito do texto “A força da palavra e a palavra da força”
do jornalista Luís Cláudio Cunha)
Quando
aparecerá um Balza por aqui?
Rio Branco
(AC), 01 de julho de 2022
Raimundo
Cardoso de Freitas e Marcos Inácio Fernandes, são militantes do Partido dos
Trabalhadores – PT/AC.
- Aportes
Bibliográficos
- CHIAVENATO,
Júlio José. Genocídio americano: a guerra do Paraguai. São Paulo: Brasiliense,
1979.
- DORATIOTO,
Francisco Fernando Monteoliva. O Conflito com o Paraguai: A grande guerra do
Brasil. São Paulo: Ática, 1996.
- Retratos
do Brasil Vol II- Da Monarquia ao Estado Militar: Diversos autores. Editora
POLÍTICA do Livro. São Paulo, 1984.
- PILAGALLO,
Oscar. O Brasil em sobressalto: 80 anos de história contados pela Folha. São
Paulo: Publifolha, 2002
(1) O Plano Cohen foi um suposto documento
atribuído aos comunistas, que conteria um projeto para a derrubada do governo
de Getúlio Vargas e a instauração de um regime comunista no Brasil. A farsa foi
montada pelo capitão Olímpio Mourão, que era chefe do Serviço Secreto da Ação Integralista
Brasileira. Mourão reconheceu a falsidade do plano e afirmou que era de uso
restrito à AIB (Ação Integralista Brasileira). A farsa desse plano foi o
pretexto para o golpe do Estado Novo de Vargas em 1937. Em 1964, o “capitão”
agora general Mourão, deu início ao golpe militar, que instalava outra ditadura
no país.
Esse texto muito bem escrito deveria se tornar um livro. ☝️
ResponderExcluirObrigado Leonina. Vamos abordar outras questões sobre os militares. Aguarde.
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