Foto dos acadêmicos da ABER, após a posse. Dois dos colegas confrades não estão mais no nosso convívio. São os dois agachados nas duas extremas. Walmick Mendes Bezerra (1933-2009) de camisa azul e Mário Felipe de Melo (1952-2008) de camisa vermelha.
“Gratidão é a memória do coração.”
Antístenes (444 – 371ª a.C)
Quero
inicialmente saudar todos os membros da Academia através das três Marias. A
Maria José, da Emater Ceará; a Maria Helena da AGRAER de Mato Grosso do Sul e a
Maria Angélica, do DEAGRO de Sergipe. Vocês garantem a questão de gênero na
nossa Academia que, por pouco, não se transformou num clube do “Bolinha”,
personagem da revista em quadrinhos da nossa infância.
Meus
caros confrades.
Este
é um momento singular na história da extensão brasileira e nas nossas vidas. É
um privilégio estarmos aqui reunidos para tomar posse na nossa Academia – uma
idéia feliz da atual direção da ASBRAER – que articulou esse novo espaço para
afirmação e consolidação do nosso serviço, desse projeto educativo, que é um
patrimônio do povo brasileiro.
Somos
quase sexagenários, mas não ficamos decrépitos nem esclerosados.
Sessentões sim, mas com tudo
funcionando! E a nossa Academia é um exemplo de lucidez e de vitalidade da
extensão rural brasileira. Ela surge num momento histórico dos mais
alvissareiros e promissores do nosso país. Um momento onde se tem início um
ciclo virtuoso onde três fenômenos ocorrem concomitantes e simultaneamente. São
eles: Democracia, crescimento econômico com distribuição de renda, e inflação
baixa com equilíbrio fiscal. Esta é uma convergência raríssima na nossa
história, que devemos saudar como um verdadeiro milagre político, como
prenúncio de dias melhores para o nosso povo.
Apenas
para ilustrar esse bom momento que o país atravessa, quero compartilhar com os
companheiros a notícia que me chamou atenção na semana que passou. O 1º leilão
na Bolsa de Mercadorias e de futuros de São Paulo de seqüestro de carbono. Um
grupo europeu arrematou “o que não se jogou de fumaça e poluição na cidade de São
Paulo, por mais de 30 milhões de reais”. Pena que essa notícia não foi manchete
nos grandes jornais e não entrou na coluna do SOBE da revista Veja. Parece que
ela ficou restrita ao noticiário econômico da rede de TV a cabo da Globo News.
Nós
da extensão que protagonizamos a revolução verde e a penetração do capitalismo
no campo brasileiro levando as políticas públicas para a área rural, podemos e
devemos desempenhar um papel relevante nesse novo momento histórico, nessa nova
conjuntura política, quando se pretende que o desenvolvimento seja sustentável;
que o crescimento econômico seja com distribuição de renda e com respeito ao
meio ambiente.
Considero
que o nosso serviço é um serviço estratégico, que a extensão podia ser uma
carreira de Estado, pois lida com a questão de soberania nacional, que é a
segurança alimentar e a educação informal do nosso povo. Um povo onde muitos
“Severinos ainda morrem de velhice antes dos 30. De emboscada antes dos 20 e de
fome um pouco por dia”, como registra o poeta João Cabral de Melo Neto, no seu
Morte e Vida Severina.
Enquanto
essa chaga social continuar a existir no Brasil não podemos falar em democracia
plena, de cidadania, de desenvolvimento. Ademais, também não se poderá
prescindir do serviço de extensão rural pública oficial para atuar com outros
parceiros governamentais e não governamentais, no combate a fome, a miséria e a
exclusão social.
No
próximo ano, em 6 de dezembro, dia do extensionista, completaremos 60 anos de
existência e resistência. A nossa trajetória de vida tem sido uma trajetória
republicana de zelo e respeito com a coisa pública. Não temos nada que nos
desabone, que nos envergonhe como instituição. Entre nossos erros e acertos,
considero que o saldo é positivo e nos é favorável. Temos um passado que nos
orgulha, mas como disse o filósofo espanhol José Ortega y Gasset: “o passado
não nos dirá o que devemos fazer, mas o que devemos evitar.”
São
poucas as instituições que chegam a essa idade com tanta energia e vitalidade,
com um extraordinário portfólio de realizações e com ricas experiências no
campo das relações institucionais e humanas. Nós que agora fazemos parte da
Academia Brasileira de Extensão Rural, devemos adotar como compromisso o
resgate da nossa memória e da nossa história e pensar o nosso futuro exercendo
essa capacidade exclusiva dos seres humanos. “A mente humana é uma máquina de
previsões e fazer o futuro é a sua mais importante função. Esta é uma
característica que define nossa humanidade como ilustra Daniel Gilbert no seu
livro “O que nos faz felizes”.
Como
o personagem Henrique VI de Shakespeare, eu também “vejo a frente vitórias e
conquistas felizes”. Nossa felicidade está nas nossas mãos.
Concluindo,
queremos agradecer a generosidade dos extensionistas do Brasil que nos
indicaram para compor a Academia Brasileira de Extensão Rural. Sabemos que
muitos outros colegas desfrutam de qualidades e teriam condições mais do que
suficientes para fazer parte dessa Academia, mas, com toda humildade, nós
também fizemos por merecer.
Muito
obrigado.
Brasília
- DF, 3 de outubro de 2007.
*Marcos
Inácio Fernandes, é extensionista e membro eleito da Academia Brasileira de
Extensão Rural - ABER, pelo Acre, é professor aposentado da UFAC, com Mestrado
em Ciência Política e mantém o blog: euqueroesossego.blogspot.com
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