quarta-feira, 28 de outubro de 2015

LULA 70 - PT 35



Lula a gente conhece de perto.O conheci pessoalmente na campanha de 1990, quando ele veio ao Acre ajudar o Jorge Viana na campanha para Governador, que perdemos para Edmundo Pinto. Considero aquela campanha memorável para o crescimento do PT no Acre. Depois veio a Prefeitura de Rio Branco e 5 governos consecutivos do PT no Acre, que mudaram, para melhor, a cara do nosso Estado. Por isso que eu digo que o PT é o amor ao Brasil e ao Acre, que se tornou expressão política. (MIF)

 Pe. Asfury, Jorge Viana, D. Moacir Grechy e Lula.

 Nossa grande Chica Marinheiro, ouvindo o pronunciamento do Lula

 Lula ouvindo o nosso fundador do PT/AC, Nilson Mourão, discursar.

Osmar Facundo (1º vereador do PT do  Acre), de Xapuri, conversando com Lula. Jorge Viana ao fundo,


Lula 70 – PT 35
Marcos Inácio Fernandes*
“Lula já não é mais, faz tempo, Luís Inácio da Silva. É Lula, a face da esperança que o povo brasileiro viu e não esquece.” (Fernando Brito do Tijolaço)
Ontem o nosso grande líder completou 70 voltas em torno do sol. Um feito para um retirante do nordeste, que se tornou liderança sindical, criou um partido e chegou a presidir seu país por 2 vezes por esse partido o PT, com metade de sua idade. Lula tornou-se uma referência mitológica no imaginário popular e uma liderança mundial. É um predestinado bafejado pelos Deuses. A melhor homenagem que lhe prestaram ontem, vindas do mundo inteiro, a que mais me encantou foi essa do Fernando Brito, que mantém o blog O Tijolaço. “Lula é a face da esperança”. O povo, que deixou de servir aos poderosos, como eleitor, desde 2002, viu,sentiu, aprovou e é grato. O povo é generoso!
O povo foi incluído, com uma migalha, no orçamento da República, com as políticas de transferência de renda e começou a ter um pouco mais de dignidade. Andar de cabeça erguida. Não se sujeitar a trabalhar por um prato de comida. Por isso são taxados de preguiçosos. Por isso o ódio e o preconceito contra o Bolsa Família e o seu famigerado cartão, que tirou milhões dos cabrestos dos coronéis do nordeste. Isso é imperdoável para as nossas elites, herdeiros legítimos, da Casa Grande, como bem observou um arguto leitor do Paulo Henrique Amorim do Conversa Afiada: "O que esse povo não suporta é o nordestino livre e dono do seu próprio destino...eles adoravam o tempo dos retirantes, que chegavam a São Paulo com uma trouxinha de roupa e serviam aos sinhozinhos como escravos, das pobres menininhas de 11 anos que lavavam, passavam e cozinhavam por 1/5 de um salário mínimo! O ódio ao Lula não tem razão, mas tem preço!"
Parte da classe média acompanha essa elite e estimula esse ódio. Tenho um amigo de face, onde trocamos algumas farpas e provocações, que me disse que está publicando 101 razões para não votar no PT e que poderiam ser 1001 razões e que Lula é um embusteiro e não lhe engana mais. Ele deve ter suas razões prá tantas desilusões. Eu também tenho as minhas com o PT e sua maior liderança. Entretanto, ressalto que o PT e Lula resgataram uma dívida secular do Brasil com o seu povo. A principal delas – a FOME. Eu tenho apenas 3 razões para continuar acreditando no PT e em Lula. Chama-se CAFÉ, ALMOÇO e JANTA. Três refeições ao dia para milhões de brasileiros. No seu 1º discurso, já eleito para o seu primeiro mandato, mas antes da posse, Lula colocou, corajosamente, o tema da FOME na agenda política. Ele disse que se sentiria satisfeito se ao deixar o governo todo brasileiro fizesse três refeições diárias. Foi bem sucedido. O pobre entrou pela 1ª vez no orçamento,  criou-se  programas sociais, que o mundo passou a copiar e o Brasil saiu do mapa da FOME. Isso me basta e me conforta. Mas o PT fez outras coisinhas, conforme assinalou uma militante petista nas quais fiz uns complementos.
O PT é a lei Maria da Penha; é trabalhadora doméstica com CTPS; criança alimentada e na escola; jovem pobre e preto na faculdade, em curso profissionalizante; é o pequeno agricultor vivendo com dignidade; é o pobre empreendedor tendo crédito e orientação para abrir seu negócio; é bebê nascendo e tendo certidão de nascimento; é as pessoas sorrindo sem faltar mais nenhum dente na boca; com a casa própria e mobiliada; é a mulher negra empoderada, cheia de orgulho de sua cor e seu cabelo; é o sertanejo com água fresca na cisterna; é o quilombola em suas terras regularizadas; é o índio na faculdade fortalecendo sua cultura; é a universidade federal no sertão do Cariri; é médico na aldeia, na roça, na periferia. São restaurantes populares pelo Brasil afora; é luz nos cafundós do Judas; é remédio gratuito nas Farmácias Populares, é pobre abrindo conta em bancos e viajando de avião; é a transposição do São Francisco; é o que fez a Copa e vai fazer as Olimpíadas; é o que ganhou 4 eleições consecutivas e renovou a esperança do povo brasileiro.
Agora reconheço que ainda falta muito a fazer. Isso pode ser visto a olho nu e nem precisa de estudos. Está na cara. Esse ano estive nas duas maiores megalópolis do país. Rio e São Paulo. Basta caminhar um pouco pelo centro histórico das duas cidades para ver a degradação humana de perto. Moradores de rua, dormindo e fazendo suas necessidades biológicas nas ruas (cheiro de mijo insuportável); pedintes, drogados e marginais disputando espaços onde poderia ser uma área nobre da cidade, com inúmeros prédios históricos e de beleza arquitetônica, abandonados e pichados e tudo isso com a ausência da segurança pública. Onde fiquei hospedado no Rio, na casa de um tio, que mora no complexo da Maré em Bonsucesso, que fica bem próximo a Av. Brasil, o poder paralelo do tráfico de drogas do Comando Vermelho é quem tem o controle da comunidade com sua milícias armadas. Vi jovens portando fuzis com escopeta e outras armas de grosso calibre, de forma ostensiva, pelas ruas onde crianças brincavam despreocupadamente. E os mais velhos achando tudo natural e normal, “que era assim mesmo, estavam acostumados”. Lembrei de minha avó que dizia: “a gente se acostuma com tudo que não presta”
Reconheço também que o PT se afastou da sua pregação da ética na política e cometeu crimes. Considero irrelevante a discussão se houve ou se não houve mensalão. O termo já foi incorporado ao vocabulário político e está associado ao PT. Vale lembrar que o “mensalão do PSDB”, nos mesmos moldes e com alguns atores envolvidos no mesmo escândalo, é tratado como “mensalão mineiro” e está para prescrever, embora tendo sido anterior ao do PT. O do PT foi pré-julgado, julgado e algumas de suas lideranças condenadas (algumas sem provas) e presas. Ler “A Outra História do Mensalão: as contradições de um julgamento político”. Do Paulo Moreira Leite. Geração Editorial, 2013.. Não perdoaram as faltas e os pecados do pregador – PT, entretanto, contemporizam com os crimes do Cunha, um desafeto do PT.
Considero que o maior erro do PT foi achar que, sendo governo, estava no PODER e podia se dá ao luxo de cometer as mesmas faltas e os mesmos crimes que os donos do poder sempre cometeram e ficaram impunes. Tiveram a ilusão de compartilhar o mesmo salão da Casa Grande como um dos seus iguais e não como serviçais conduzindo as baixelas de prata com licores finos. Faltou ao PT uma leitura mais acurada de Marx, Gramsci, Faoro e, até mesmo, Weber, para entender melhor os processos sociais, as relações de poder e de dominação, mormente no Brasil com uma tradição de mais de 3 séculos de escravidão. Só um exemplo. Lula não teve forças nem poder para enfrentar e expulsar do Brasil um correspondente do New York Times, um tal de Larry Rohter, que o chamou de cachaceiro e fez comentários desairosos e atentatórios a instituição da Presidência da Republica.
O Lula não teve poder, igualmente, para enfrentar a mídia. Esse latifúndio midiático controlado por  7 famílias (Marinho, Abravanel, Saady, Macedo, Frias, Mesquita, Civita ...) Que funciona ao arrepio das disposições Contitucionais desde 1988, que expressa claramente, que os meios de comunicação não podem ser monopolizados/ologopolizados. (o § 5º do artigo 220 da Constituição Federal: “Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”.) Lula e Dilma, não só deixaram de enfrentar a mídia como ainda pagam para apanhar todo dia nos jornais, revistas e noticiários de televisão. Esses veículos mantém uma pauta permanente de “o Brasil é uma merda”. São os correios das más notícias. Quando não podem esconder uma boa notícia , encaixam um “Mas”, “Porém”, “todavia”, “um não é bem assim”... Dá nojo e deixa a gente deprimido!
A outra coisa que Lula deixou de fazer foi não ter contratado uma Auditoria Internacional para apurar o processo de privatizações do Fernando Henrique, que considero um crime de lesa-pátria. Se tivesse feito isso, pelo menos com a Vale e as Teles, esses tucanos talvez não tivessem mais coragem de se insurgir contra a Petrobrás, como faz agora o Serra. Eles insistem em tirar os sapatos para os Estados Unidos.
Muita coisa o PT deixou de fazer e tem muita coisa que deve e, precisa, ser questionadas. Mas o PT não pode ser acusado por todos os males que afloram na sociedade em momentos de crises, nem por esse clima de ódio e intolerância. Eu digo que a sorte dessa oposição hidrófoba é Lula ser um líder de um espírito não rancoroso, amistoso, contemporizador e tolerante, com qualidades humanitárias extraordinárias. Acho que se Lula tivesse o temperamento de um João Pedro Stédile, ou mesmo de um Brizola (que certa vez deu uma surra no jornalista David Nasser no aeroporto do Galeão), o sangue de brasileiros, já estava correndo no meio da canela. Porque agüentar o que Lula e sua família vem agüentando, só para espíritos elevados. Tomara que nenhum insensato cometa algum atentado contra o Lula (lembrem-se de 54), porque a força do povo é incontrolável. Como disse o poeta Alberto Cunha Melo : “Dizem que meu povo é alegre e pacífico.../ Eu digo que meu povo /È uma grande força insultada.  /Eu digo que meu povo /É uma grande pedra inflamada / Rolando e crescendo/ Do interior para o mar.”

*Marcos Inácio Fernandes é professor aposentado e militante do PT

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