sexta-feira, 22 de maio de 2020

TINHA MERMO!!!




O timoneiro Lhé



TINHA MERMO!!!

Por: Marcos Inácio Fernandes*

“Sei que amanhã quando eu morrer os meus amigos vão dizer que eu tinha bom coração...”

 (“Quando Eu Me Chamar Saudade” de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito)

Em bom acreanês, “tinha mermo”!!! Não conheci um coração tão generoso como o do Lhé. Nesses 72 anos que já vivi, encontrei muitas pessoas de “bom coração”, cuja bondade se restringiam as relações familiares e pessoais. O nosso companheiro Lhé tinha um coração mais amplo, mais eclético e diversificado. Era um coração, magnânimo, carinhoso, clemente, bondoso, tolerante, afetuoso, amável... UM BOM E GRANDE CORAÇÃO, que cabia todas as dores do mundo e, para elas, procurava um lenitivo.

Como disse nosso Presidente de honra, Nilson Mourão, no seu poema “Guerreiro da Floresta”, Lhé era um homem de CAUSAS!!!. Ele abraçou muitas delas. Das causas pela moradia em Rio Branco até a causa pelo território da Palestina, ele transitou pela causa política, ambiental, cultural, sindical e cooperativista, da saúde mental e dos Direitos Humanos. Era um HUMANISTA.

Tive o privilégio de ter sido seu contemporâneo e ter convivido um pouco com ele e posso dá um testemunho pessoal de sua solidariedade. Quando eu, Cacá, Monteiro, Antônio Cesário e mais uns 10 colegas fomos demitidos da EMATER, em 1987, recebemos o apoio e a solidariedade do Lhé e do Chico Mendes. Na época eu dirigia Associação dos Servidores da Emater -  ASSEA e o Cesário, a Associação dos Técnicos Agrícolas. Em função dessa demissão política, tive que passar um “exílio” forçado de 2 anos em Salvador-BA. Depois de 21 meses de trâmites na Justiça do Trabalho, fomos todos reintegrados a Emater e pagos os salários atrasados. Foi a única poupança que fiz na minha vida.

Depois disso tivemos encontros esporádicos, que ficaram mais constantes, quando assumi a Presidência do Diretório Municipal do PT em Rio Branco, em 2017. A partir daí recebia sempre telefonemas dele, que invariavelmente, começava assim “oi amor!”... e lá vinha demandas de toda ordem e, nunca de caráter pessoal, era sempre para ajudar alguém e por uma causa coletiva. Ele sempre nos cobrava a formação de um coletivo no PT para discutir o cenário político internacional (ainda estamos devendo essa ao Lhé); para a gente interceder junto aos Correios para o lançamento de um selo comemorativo sobre os 120 anos do estado do Acre que faz referência a Galvez.(1)  Ele teve êxito nessa demanda e depois, numa visita na sua casa, ele me presenteou com um exemplar do selo.

Quando promovi o show ‘POLÍTICA DÁ SAMBA”, na Usina de Arte, com o meu amigo cantor e compositor Erivanaldo Galvão, levei o Eri para uma visita ao Lhé e o Eri fez uma pequena apresentação musical, ao violão, de como seria o show e o Lhé dizia belo!, lindo! Ele presenteou o Eri com um “Keffiyeh” (2) da palestina que a Cibele entregou ao Eri após o show.

Em fevereiro do ano passado fui na sua casa lhe presentear, com uma dedicatória de uma poesia palestina, o meu livro “PT A EXPRESSÃO POLÍTICA DE AMOR AO ACRE”, que registra os anos iniciais do nosso partido no Estado.  No livro registro, inclusive, a foto histórica do Nilson, Lhé, Valdir Nicácio e do Bezerrinha, num santinho em preto e branco do batismo de fogo eleitoral do PT em 1982. Parecia aqueles cartazes de “procurados” dos westerns americanos. E para minha surpresa, mesmo debilitado ele compareceu a Livraria do Paim, com sua filha Cibele, para prestigiar o lançamento do livro.

No aniversário de 74 anos do Lula, celebrado em 27 de outubro do ano passado, (um domingo) fomos comemorar, com um café compartilhado, na sua residência. Levamos o bolo, velinhas, balões , cantamos os parabéns e ouvimos muitas histórias do Lhé que sempre foi o anfitrião do Lula no  Acre. Estiveram presentes: Nilson, Sibá e Rose, Selma, Júlia Feitosa e Marcos Jorge, Julinha, Marcão, Saldanha,  Arlete  e Santiago, Nara Jucá,  Lêda,  Monteirinho, com seu acordeon, Elson Martins, Pe. Luíz Ceppi, Maria Preta, Socorrinha e Sílvio Birolo, Cardoso e Eugênio, entre outros. A Leda recitou poesias, O Monteirinho nos brindou com algumas de suas composições a Selma recitou poemas do Bacurau e jogamos “muita conversa fora”. Um dia para não esquecer.

No PED-2017, quando fui eleito presidente do Dm de Rio Branco do PT, fomos a sua casa e a casa do Elias Rozendo, candidato a vice do Nilson nas eleições de 1982, recolher os votos dos dois. Tratava-se de um gesto simbólico para que aqueles companheiros históricos participassem do nosso processo democrático da escolha dos nossos dirigentes, que na época, já apontava para a necessidade da unidade do partido.

Em 2019, na festa do PED, onde elegemos em chapas únicas o Cesário e a Selma, O Lhé, compareceu sobre os cuidados da Zezé, pois seu estado de saúde nos preocupava a todos. Sua energia e sua luz iluminou nossa festa. Essa foi sua última participação política com seus companheiros do Partido das Trabalhadores, uma de suas causas, talvez a maior.

O Lhé, a bem da verdade, ganhou algumas “flores em vida”. Recebeu homenagens do nosso partido, um tributo que lhe prestamos quando ainda estava na presidência; da CUT, do CNS, dos Direitos Humanos, a Comenda da Volta da Empreza da Prefeitura de Rio Branco, criada pelo prefeito Angelim, em 2008, o Lhé foi agraciado em 2018. Ademais, muitos companheiros e outras personalidades, realçaram as qualidades do Lhé, em muitos textos publicados nos periódicos de Rio Branco. O Lhé fez por merecer todas as honrarias.

Agora, que ele se encantou, a continuidade do seu legado se impõe. Precisamos cultivar seus exemplos para que as próximas gerações, que não tiveram o privilégio de conhecê-lo em vida, também possam se espelhar e beber nessa fonte, abundante e cristalina, de humanidade – ABRAHIM FARAH NETO o LHÉ.

Lhé, hoje você é saudade em nossos corações.

Rio Branco (AC), 22 de maio (7º dia da sua partida) de 2020

*Marcos Inácio Fernandes (Marcão), professor aposentado e Secretário de Formação do DM/PT de Rio Banco.

(1) Na sessão solene na ALE/AC, Abraim Farhat (Lhé), falou da importância da criação do Selo Comemorativo em alusão aos 120 anos de fundação do Estado Independente. “Quem não conhece sua história é uma mula sem cabeça, por isso é tão importante fazermos hoje esse resgate. Temos tanta sorte que os correios vão batizar o selo de “Gálvez 120 anos”, isso é maravilhoso. Uma homenagem a esse espanhol “quixote” que foi tão importante para nós acreanos”, salientou.

(2) O “Keffiyeh” é uma peça de algodão de cores brancas e pretas que se usa na cabeça. Era usada por Yasser Arafat e está associada ao movimento nacionalista da Palestina.


 Presenteando o meu livro ao Lhé Lhé (Marcão, Lhé,e Sibá )

 Café compartilhado de aniversário do  Lula (Saldanha, Arlete, Vladimir(filho do Lhé), Nara Jucá, Sílvio Birolo, Socorrinha, Selma Neves, Marcão, Cardoso, Nilson Mourão, Eugênio, Lhé, Maria Preta, Elson Martins e Monteirinho com sua sanfona.)


 PED - 2019 (Graça, Rose, Sibá, Elineyde, Junior, ? ,Lhé e Zezé)

 PED - 2019 .(Tião, Saldanha, Lhé e Zezé)

 Eri Galváo, Lhé e Marcão - junho de 2017

 Lhé e Marcão (LULA LIVRE!)

 Mutirão com a participação do Lhé, Matias e Chico Mendes e outros companheiros


PED - 2017 (Marcão, Sibá, Lhé votando e Ermício)

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