O timoneiro Lhé
TINHA MERMO!!!
Por:
Marcos Inácio Fernandes*
“Sei
que amanhã quando eu morrer os meus amigos vão dizer que eu tinha bom coração...”
(“Quando Eu Me Chamar Saudade” de Nelson
Cavaquinho e Guilherme de Brito)
Em
bom acreanês, “tinha mermo”!!! Não conheci um coração tão generoso como o do
Lhé. Nesses 72 anos que já vivi, encontrei muitas pessoas de “bom coração”,
cuja bondade se restringiam as relações familiares e pessoais. O nosso
companheiro Lhé tinha um coração mais amplo, mais eclético e diversificado. Era
um coração, magnânimo, carinhoso, clemente, bondoso, tolerante, afetuoso,
amável... UM BOM E GRANDE CORAÇÃO, que cabia todas as dores do mundo e, para
elas, procurava um lenitivo.
Como
disse nosso Presidente de honra, Nilson Mourão, no seu poema “Guerreiro da
Floresta”, Lhé era um homem de CAUSAS!!!. Ele abraçou muitas delas. Das causas
pela moradia em Rio Branco até a causa pelo território da Palestina, ele transitou
pela causa política, ambiental, cultural, sindical e cooperativista, da saúde
mental e dos Direitos Humanos. Era um HUMANISTA.
Tive
o privilégio de ter sido seu contemporâneo e ter convivido um pouco com ele e
posso dá um testemunho pessoal de sua solidariedade. Quando eu, Cacá, Monteiro,
Antônio Cesário e mais uns 10 colegas fomos demitidos da EMATER, em 1987, recebemos
o apoio e a solidariedade do Lhé e do Chico Mendes. Na época eu dirigia
Associação dos Servidores da Emater -
ASSEA e o Cesário, a Associação dos Técnicos Agrícolas. Em função dessa
demissão política, tive que passar um “exílio” forçado de 2 anos em
Salvador-BA. Depois de 21 meses de trâmites na Justiça do Trabalho, fomos todos
reintegrados a Emater e pagos os salários atrasados. Foi a única poupança que
fiz na minha vida.
Depois
disso tivemos encontros esporádicos, que ficaram mais constantes, quando assumi
a Presidência do Diretório Municipal do PT em Rio Branco, em 2017. A partir daí
recebia sempre telefonemas dele, que invariavelmente, começava assim “oi amor!”...
e lá vinha demandas de toda ordem e, nunca de caráter pessoal, era sempre para
ajudar alguém e por uma causa coletiva. Ele sempre nos cobrava a formação de um
coletivo no PT para discutir o cenário político internacional (ainda estamos
devendo essa ao Lhé); para a gente interceder junto aos Correios para o
lançamento de um selo comemorativo sobre os 120 anos do estado do Acre que faz
referência a Galvez.(1) Ele teve êxito
nessa demanda e depois, numa visita na sua casa, ele me presenteou com um
exemplar do selo.
Quando
promovi o show ‘POLÍTICA DÁ SAMBA”, na Usina de Arte, com o meu amigo cantor e
compositor Erivanaldo Galvão, levei o Eri para uma visita ao Lhé e o Eri fez
uma pequena apresentação musical, ao violão, de como seria o show e o Lhé dizia
belo!, lindo! Ele presenteou o Eri com um “Keffiyeh” (2) da palestina que a
Cibele entregou ao Eri após o show.
Em
fevereiro do ano passado fui na sua casa lhe presentear, com uma dedicatória de
uma poesia palestina, o meu livro “PT A EXPRESSÃO POLÍTICA DE AMOR AO ACRE”, que
registra os anos iniciais do nosso partido no Estado. No livro registro, inclusive, a foto
histórica do Nilson, Lhé, Valdir Nicácio e do Bezerrinha, num santinho em preto
e branco do batismo de fogo eleitoral do PT em 1982. Parecia aqueles cartazes
de “procurados” dos westerns americanos. E para minha surpresa, mesmo
debilitado ele compareceu a Livraria do Paim, com sua filha Cibele, para
prestigiar o lançamento do livro.
No
aniversário de 74 anos do Lula, celebrado em 27 de outubro do ano passado, (um
domingo) fomos comemorar, com um café compartilhado, na sua residência. Levamos
o bolo, velinhas, balões , cantamos os parabéns e ouvimos muitas histórias do
Lhé que sempre foi o anfitrião do Lula no
Acre. Estiveram presentes: Nilson, Sibá e Rose, Selma, Júlia Feitosa e
Marcos Jorge, Julinha, Marcão, Saldanha, Arlete
e Santiago, Nara Jucá, Lêda, Monteirinho, com seu acordeon, Elson Martins,
Pe. Luíz Ceppi, Maria Preta, Socorrinha e Sílvio Birolo, Cardoso e Eugênio,
entre outros. A Leda recitou poesias, O Monteirinho nos brindou com algumas de
suas composições a Selma recitou poemas do Bacurau e jogamos “muita conversa
fora”. Um dia para não esquecer.
No
PED-2017, quando fui eleito presidente do Dm de Rio Branco do PT, fomos a sua
casa e a casa do Elias Rozendo, candidato a vice do Nilson nas eleições de 1982,
recolher os votos dos dois. Tratava-se de um gesto simbólico para que aqueles
companheiros históricos participassem do nosso processo democrático da escolha
dos nossos dirigentes, que na época, já apontava para a necessidade da unidade do
partido.
Em
2019, na festa do PED, onde elegemos em chapas únicas o Cesário e a Selma, O
Lhé, compareceu sobre os cuidados da Zezé, pois seu estado de saúde nos
preocupava a todos. Sua energia e sua luz iluminou nossa festa. Essa foi sua
última participação política com seus companheiros do Partido das Trabalhadores,
uma de suas causas, talvez a maior.
O
Lhé, a bem da verdade, ganhou algumas “flores em vida”. Recebeu homenagens do
nosso partido, um tributo que lhe prestamos quando ainda estava na presidência;
da CUT, do CNS, dos Direitos Humanos, a Comenda da Volta da Empreza da
Prefeitura de Rio Branco, criada pelo prefeito Angelim, em 2008, o Lhé foi
agraciado em 2018. Ademais, muitos companheiros e outras personalidades, realçaram
as qualidades do Lhé, em muitos textos publicados nos periódicos de Rio Branco.
O Lhé fez por merecer todas as honrarias.
Agora,
que ele se encantou, a continuidade do seu legado se impõe. Precisamos cultivar
seus exemplos para que as próximas gerações, que não tiveram o privilégio de conhecê-lo
em vida, também possam se espelhar e beber nessa fonte, abundante e cristalina,
de humanidade – ABRAHIM FARAH NETO o LHÉ.
Lhé,
hoje você é saudade em nossos corações.
Rio
Branco (AC), 22 de maio (7º dia da sua partida) de 2020
*Marcos
Inácio Fernandes (Marcão), professor aposentado e Secretário de Formação do
DM/PT de Rio Banco.
(1) Na sessão solene na
ALE/AC, Abraim Farhat (Lhé),
falou da importância da criação do Selo Comemorativo em alusão aos 120 anos de
fundação do Estado Independente. “Quem não conhece sua história é uma mula sem
cabeça, por isso é tão importante fazermos hoje esse resgate. Temos tanta sorte
que os correios vão batizar o selo de “Gálvez 120 anos”, isso é maravilhoso.
Uma homenagem a esse espanhol “quixote” que foi tão importante para nós
acreanos”, salientou.
(2) O “Keffiyeh” é uma peça de
algodão de cores brancas e pretas que se usa na cabeça. Era usada por Yasser
Arafat e está associada ao movimento nacionalista da Palestina.
Presenteando o meu livro ao Lhé Lhé (Marcão, Lhé,e Sibá )
Café compartilhado de aniversário do Lula (Saldanha, Arlete, Vladimir(filho do Lhé), Nara Jucá, Sílvio Birolo, Socorrinha, Selma Neves, Marcão, Cardoso, Nilson Mourão, Eugênio, Lhé, Maria Preta, Elson Martins e Monteirinho com sua sanfona.)
PED - 2019 (Graça, Rose, Sibá, Elineyde, Junior, ? ,Lhé e Zezé)
PED - 2019 .(Tião, Saldanha, Lhé e Zezé)
Eri Galváo, Lhé e Marcão - junho de 2017
Lhé e Marcão (LULA LIVRE!)
Mutirão com a participação do Lhé, Matias e Chico Mendes e outros companheiros
PED - 2017 (Marcão, Sibá, Lhé votando e Ermício)
O Ateu mas Cristão que conheci
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