quinta-feira, 17 de março de 2016

O 16 VENTOSO DE SÉRGIO MORO











 Moro é o novo Leviatã? Ou o Rei sol? Ou esses loucos que se proclamam de Napoleão?


16 Ventoso de Sérgio Moro*
Por: Marcos Inácio Fernandes*

“Todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes” (Hegel)...E esqueceu-se  de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa” (Marx)

Recorro aos meus apontamentos da disciplina de Ciência Política, que lecionei por muitos anos na UFAC, para tentar entender o “furacão político”, que se abateu sobre o Brasil no dia de ontem com mais um criminoso vazamento da operação Lava Jato. Dessa feita o Moro liberou para a Globo um grampo, tornando pública uma conversa da própria Presidenta da República com o Lula.
Esse fato me remeteu a lembrança de Aristóteles, Hobbes e seu Leviatã, o Estado absolutista de Luís XIV e ao18 Brumário de Luís Bonaparte, a obra clássica de Marx.
Em Aristóteles, o filósofo defendia que a virtude estava no meio termo e, nesse sentido, a CORAGEM era o meio temo entre a COVARDIA e a TEMERIDADE. Pergunta-se: Será que o Moro ontem comportou-se com coragem ou com temeridade, sem temer as consequências de seu ato?
Em Hobbes (1588-1679), ele preconizava um Estado Poderosíssimo, semelhante ao monstro bíblico do Leviatã, que no seu capítulo XXI, diz: “Um homem livre é aquele que, não é impedido de fazer o que tem vontade de fazer.” Ontem, o Moro mostrou para o mundo, que é o único homem livre do Brasil. Soberano. Igualmente ao Pelé na pequena área, quando formava com Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe aquela magistral linha atacante do Santos. Ninguém, nem o Supremo, lhe impede de fazer o que tem vontade. E o faz ao arrepio das leis. É o justo por natureza, o juz naturale, como gosta o pessoal da área jurídica.
No Estado Absolutista, que foi o Estado de transição entre o feudalismo e o capitalismo, a figura de Luís XIV (1638-1715), rei da França, encarnou esse Estado e cunhou a frase antológica: “O Estado sou eu.” Será que baixou o espírito do monarca francês no Moro, prá ele se sentir assim tão poderoso e acima das leis? Considero ainda que a atitude do Moro também pode ser explicada, em parte, por outra frase do rei francês Luís XV, que veio a suceder a Luís XIV. Ele disse: “Depois de mim, o dilúvio”. E realmente o dilúvio veio com a Revolução Francesa de 1789. Eu pergunto: é a guerra civil que o Moro está querendo?
Por fim, a postura de ontem do Moro, me faz lembrar do golpe do 18 Brumário de Luís Bonaparte – O Pequeno (não confundir com Napoleão Bonaparte). Esse Napoleão, o Luís, era sobrinho do grande Napoleão. Pois bem, a exemplo do seu tio ele também deu um golpe de Estado na França e usurpou o poder. O 1º golpe no processo revolucionário francês foi dado por Napoleão, que se auto-proclamou imperador em novembro de 1795, o mês das brumas na França, no calendário revolucionário** daí que, o 2º golpe do seu sobrinho, em dezembro de 1851, foi denominado por Marx, “O 18 Brumário de Luís Bonaparte. Nesse texto, o pensador alemão, analisa o poder político com acentuada autonomia. Um poder político personalizado. Um Estado Bonapartista, onde são poucos os controles sociais e políticos, tal qual, está acontecendo agora com esse Estado judicialesco/policialesco, onde o Moro redivive o Luís Napoleão – O pequeno, com o seu Bonapartismo.
A história nos dá conta que o Luís Napoleão, intitulado de Napoleão III, foi derrotado na batalha de Sedan, onde a França é derrotada pela Prússia e ele é feito prisioneiro. Isso foi em 1870. Em 1871, eclode a “Comuna de Paris”, que foi um grito libertário reprimido com muita violência.
Deixo a pergunta: quando o nosso “Napoleão III”, o Moro, será aprisionado ou colocado em camisa-de-força? Será que reviveremos os dias gloriosos da Comuna de Paris? O clima é tenso e comporta essas analogias. Fecho com outra frase de Marx, pinçada do 18 Brumário:
“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.” (Karl Marx – O 18 Brumário de Luís Bonaparte, pag. 17  )

*Marcos Inácio Fernandes é professor aposentado e militante do PT

** No processo revolucionário francês, em novembro de 1793, a Convenção estabeleceu um novo calendário para a França em substituição ao calendário Gregoriano. Cada ano começava no outono (22/09). O nome dos meses lembravam características do clima ou atividades agrícolas de cada época. Esse calendário foi abolido em 1806. Eis as denominações: o Outono ia de 22/09 a 20/12 e compreendia os meses do VINDIMÁRIO (mês da colheita das uvas),  BRUMÁRIO (mês das brumas, nevoeiros), FRIMÁRIO (mês da geada); o inverno ia de 02/12 a 20/03 e os meses se denominavam de NIVOSO (mês das neves), PLUVIOSO (mês das chuvas) e VENTOSO (mês dos ventos), que dá título ao artigo. A primavera ia de 21/03 a 18/06, com os meseas de GERMINAL (mês da germinação), FLOREAL (mês da flores) e PRAIRIAL (mês dos prados); o verão ia de 19/06 a 16/09) com os meses do MESSIDOR (mês da colheita), TERMIDOR (mês do calor) e FRUTIDOR (mês da frutas)

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